Ponta d'ouro. Pela terceira vez em minha vida eu tive o privilégio de ter meus pés sujos por aquela areia fina, branca e salgada. Não sabia se existia estado gasoso do sal, mas o cheiro da praia o tinha como principal característica.
Meus óculos me permitiam ver meu pai e meu irmão naquelas águas azuis, que certamente conversavam sobre algo que não os permitiu ver a onda que desequilibrou por completo meu irmão.Soltei risos que se perderam no clima marino e por pura necessidade, me sentei na areia e minha camisete que ia até acima dos joelhos passou a cobri-los por completo quando dobrei minhas pernas. Numa mão, eu segurava o telefone do meu pai, sua carteira de dinheiro, as chaves do carro e do nosso quarto; noutra eu tentava impedir com que os raios solares atrapalhassem minha visão daquele cenário que estava gravado na minha mente.
Eram por aí 13 horas e eu já tinha comido muita merda, mas meu estômago ansiava por um prato cheio
31 de DezembroFormigueiro nos pés era oque eu sentia quando soprava com tudo oque tinha aqueles pedaços de carvão que se negavam a acender. Meus poros libertavam suor e minha cabeça doía imenso por conta das tranças que eu havia feito.Para mim, o último dia do ano tinha iniciado de forma muito cansativa. A volta para casa foi apressada demais e fez com que eu passasse mal. Vomitei, perdi ar, transpirei, me deitei, me levantei, me molhei até que finalmente deu para continuar com a viajem já com mais calma.Pelas 09 horas chegamos à casa e depois do sermão que meu pai ouviu da minha mãe, demos início aos preparativos.— Ainda não estás a conseguir? — minha mãe surgiu com uma bacia na mão e estreitou o olhar por conta do sol.
2 de janeiroMinha amiga estava o pânico em pessoa quando tentava me acalmar para que eu, pelo menos, conseguisse respirar como devia ser.— Oque se passa? Respira! — depositou suas mãos em meus ombros para me ajudar na buscava por ar de forma desesperada.O esforço enorme que eu fazia para respirar, condicionava meu equilíbrio. Estava com as mãos no peito e com uma tortura forte que inutilizava meus pés.— Evie, fala comigo! Oque se passa? — o cenho de Tânia estava franzido e eu sabia que sua vontade era de sair e pedir ajuda, mas não o fez exactamente por eu ter pedido que não o fizesse.Sabia que aquilo tinha haver com a gravidez e não queria correr riscos. Mesmo no meio de tudo aquilo, não me esquecia que meu pai estava em casa.— Me deixa regular a respiração, só. — falei com dificuldades.Busquei p
— Tânia, estás bem? — perguntei caminhando ao seu lado pela rua estreita que nos levaria até a clínica.Minha amiga me ignorou e continuou a cantar. Faziam exactas duas horas que eu tinha me encontrado com ela e de certeza não estava nos seus melhores dias.—"This is for my father, from the older brother of your children made of three(Isto é para meu pai, do irmão mais velho de suas crianças feitas de três)Yeah you’ve been so good to us and showed us how to live and taught us to be free(Sim,você tem sido tão bom para nós e nos mostrou como viver e nos ensinou a sermos livres)But when mother told you that she didn’t love you all these bridges hit the sea(Mas quando mãe lhe disse que ela não ti amava todas essas pontes caíram no oceano)So you built another one and helped us cross it even though you were in need(Então você construiu uma ou
— Hoje você fará a segunda ultrassonografia, que se chama "ultrassom com translucência nucal". Eu acho que o nome já permite entender o objectivo do mesmo, que é avaliar as primeiras estruturas fetais e um líquido que se acumula na região da nuca. — Qual é a necessidade de avaliar esse líquido? — perguntei já mais calma, pois era algo bom saber que primeiro seria um diálogo.— É necessário porque é através dele que se detectam anomalias cromossómicas como por exemplo Síndrome de Down. Isso quando o líquido está em excesso.— Quais são as chances de esse líquido estar em excesso? — me movi desconfortável com a revelação.Algo me fazia pensar que minha gravidez não seria normal ou saudável. Por eu ser nova, eu acreditava que, ou a gravidez teria algum risco, ou o bebé nasceria com alguma doença.— Talvez 1 em 300. Não é porque você é nova que seu bebé terá mais chances de desenvol
Os dias passavam e mesmo assim, eu ainda me perdia na estranheza que foi ter que reagir a aquela ultrassonografia. Parecia que ainda acreditava que não estava grávida e nem sabia, até que os batimentos do feto se fizeram sentir e o meu coração tinha também se esquecido de funcionar com normalidade.Depois da Clínica, eu e Tânia fomos para a escola renovar nossas matrículas, oque também me fez pensar como seria ir para escola com a barriga que parecia crescer mais a cada dia que passava. Para além disso, tinha a minha mãe que não suportava mais mentir para meu pai e tinha isso como o principal motivo da sua preocupação naqueles últimos dias.Por fim tinha o facto de ela querer procurar o Weben, alegando que tinha lhe dado tempo para pensar no que fez e voltar para assumir suas responsabilidades. Como não tinha feito, ela lhe obrigaria a fazer.Eu estava a confusão em pessoa. Para mim o ano tinha iniciado com um peso sobre minhas cost
11 de Fevereiro Tinha algo naquelas férias,—talvez um misto de aborrecimento com tensão, risadas, diversão, choros e com tristezas—que fez com que fossem contra todas minhas expectativas.Eu estava à um dia do início das aulas, com o uniforme limpo, novo e engomado, com o cabelo organizado, material escolar novo, talvez com o psicológico minimamente preparado para tudo oque vinha pela frente, só me faltava uma coisa: coragem e vontade para sair de casa.Naquele exacto dia eu completaria 4 meses, uma semana e um dia de gravidez. Seria chocante demais dizer que eu tinha começado a me familiarizar com tudo aquilo? Pois era isso que eu sentia. Estava no processo de aceitação e sem que eu mesma percebesse, fui criando uma relação
Segunda-feiraAquela gravidez me fazia pensar que eu era um cágado na vida anterior, pela forma tão lenta que eu funcionava. Estava de frente para o espelho, com os cotovelos doloridos porque tentava fazer um rabo de cavalo bonito havia aproximadamente 10 minutos. Ou saía de lado, ou de frente; ora saía de trás, ora da ponta, mas nunca do meio da cabeça. Se isso responde a uma possível pergunta: não, eu não consegui fazer um rabo de cavalo e estava quase atrasada.— Ah! — choraminguei e atirei o elástico para o chão com a pouca força que me restava.Ao olhar para o espelho, me deparei com uma Evie diferente. Ignorei o facto das mechas estarem a cobrir quase toda minha cara e me encantei com a minha organização. Não me via daquela forma desde a semana de avaliações finais.O cheiro de novo que meu uniforme exalava, se misturava com meu novo perfume com aroma de caramelo
5 de Março, Terça-feiraOs dias, como sempre, passavam na mesmíssima rotina. Nada digno de entusiasmo, excepto pelo facto do meu amor pelo feto só aumentar. Já não era algo tão novo, me perdia em situações que nunca me imaginei inserida. Estranhas, tão engraçadas quanto adoráveis.Por um lado aquilo era bom. Meus amigos e minha mãe ficavam mais aliviados por saber que a minha gravidez não era mais um peso para mim. Mas por outro, aquilo preocupava minha mãe. Preocupava porque eu já não me importava tanto em esconder.Acreditava que se não fosse pelas viagens frequentes que meu pai fazia, já estaria envolvida nas tristes consequências dos meus atos.Alguns dos meus colegas notaram a minha estranheza e se atreveram a perguntar oque acontecia, mas eu não dava nem um sim e nem um não. Apenas distribuía "talv