1 de Dezembro, sábado
Eu me encontrava, no fim da tarde, deitada na minha quente e desarrumada cama. Ainda tentava me conectar a tudo oque via, pois tinha acabado de acordar de mais um sono profundo e gostoso. Ao me acostumar com a luz alaranjada que entrava com pouca intensidade no meu quarto, cobri minha cabeça com o lençol e pude ver meu corpo vestido só de uma calcinha e uma camisete enorme do meu pai. Por eu estar deitada de costas, a camiseta detalhava um pequeno inchaço que tratou de me colocar em pânico.
Como se tivesse recebido um toque brusco de algo gelado na região da barriga, os arrepios partiram dali e percorreram todo meu corpo quente. Minha cara obteve traços de preocupação e meu peito não subia nem descia da forma como fazia antes que eu notasse aquilo.
Não tinha parado para me analisar durante todos aqueles dias. Sabia sim que aquilo aconteceria, mas não que seria tãoMais alguns quilos de comida foram parar na pia, depois que meu estômago e olfato se tornaram inimigos de Chouriço que eu tanto amava antes da gravidez.— Da até pena. Não é uma boa coisa te ver a sofrer assim. — minha mãe falava enquanto me olhava neutra e esperava que o balde enchesse de água.— Mas tinha que ser chouriço? Justamente chouriço? — resmunguei fraca e irritada ao mesmo tempo.— Gravidez nos faz detestar oque tanto gostamos de comer ou fazer, normalmente. Eu também odiava muito pai do teu pai, enquanto ele me mimava muito. Comprava frutas para mim e ia deixar em casa da minha mãe quando eu fiquei um tempo lá, mas eu estava nem aí para ele. Quando chegava eu dizia para minha mãe "adja yine lweyu? Aa muki kaya kwake, hikussa wani nhenhentsa". Minha mãe só ria porque sabia que era efeito da gravidez, ria mais ainda quando eu comia com todo gosto tudo oque ele trazia para mim enquanto murmurava qu
— Oque se passa? — pude perceber que ela seguiu meu olhar antes de falar — Oh shit!— Se não tiver uma faca me tira daqui, por favor. — senti meu corpo negar de se mover.Não tinha parado de olhar para ele um segundo se quer. Não me importava com oque iam pensar, eu só queria que ele tivesse certeza que eu lhe odiava desde os olhos até o fundo da minha alma. Agnes me puxou pelo braço para que eu a seguisse. Passamos pelo grupo de pessoas, no qual Weben estava, e ele ainda me olhava com lamentação e pena nos olhos, oque me deixou mais irritada ainda.— Olá, Cleyd! Olá, moço que não sei quem é. — minha prima parou e voltou para comprimentar, eu continuei a andar e parei um pouco a frente deles.— Olá! Esse aqui é meu enigma. Vou apresentar melhor quando todos estiverem aqui. — Olá. — pude ver que Weben sorriu para Agnes ao dizer isso, mas minha prima fez um belo trabalho ao ig
Ao som de Mr. Bow, as pessoas que ali estavam se uniram para cantar e dançar, num banho da luz da lua. O condomínio estava totalmente as escuras quando o relógio marcava 18:46.Estavam todos aos pares, menos Daniel, que corria sempre para o carro para trocar de música quando era preciso. Pelo que parecia, todos membros do grupo tinham convidado seus namorados ou suas namoradas como enigmas, com excepção de Agnes, que chamou a mim, e do dono da casa, que chamou sua tia mais nova. Tinha minha idade.Eu estava bem distante de todos. Observava serem felizes e acariciava minha barriga por baixo da camisola e blusa que usava. Tinha reparado que a lua estava cheia tal e qual estava na última noite que tive relações sexuais com Weben, detalhe esse que me fez procurar por ele no meio daquelas pessoas dançantes. Lá estava ele, certamente a se divertir com aquela linda e agradável companhia. Estavam abraçados e pareciam conversar em sussuros para q
21 de Dezembro, sexta-feiraMeu telefone tocou de forma repentina e alta, quase dentro do meu ouvido, me fazendo levantar num pulo. Imaginava qual imagem o espelho ofereceria para meus olhos e apalpava todo canto da cama, num ato desesperado de fazer com que o telefone parasse de fazer tanto barulho.Sem ver quem era, deslizei de forma desleixada o dedo pela tela e levei-o ao pé do ouvido.Chamada on— Alô, meu Deus! — choraminguei as palavras.—Desculpa atrapalhar teu sono de beleza diário, mas pautas já saíram. — Tânia anunciou e me fez esquecer o sono que sentia.
Naquele ano, Jesus Cristo renasceria numa terça-feira e nós festejaríamos seu nascimento com alguns membros da família, na casa dos meus falecidos avôs paternos.O céu estava super nublado e o vento estava gelado, mas nem isso impedia com que os preparativos para a ceia de Natal acontecessem na naturalidade.Cada um cumpria com sua tarefa. A minha era descascar um saco de batatas inteiro. Tinha começado até a sentir um certo desconforto na região da coluna e sentia minhas pernas doloridas.— Falta muito? — Tia Ofélia, gêmea do meu pai, surgiu na varanda com seu avental xadrez coberto de sangue.— Não, estou quase a terminar. — apontei para o saco de batatas quase vazio.— Posso trazer algumas cenouras para descascares, também? — perguntou com receio e eu sorri para não mostrar que queria atirar a faca para ela.— Sim, pode, Tia.Ela se virou e entrou na casa, me dei
A gravidez conseguiu me fazer sentir nojo de salada de beterraba. Aquilo me deixava frustrada porque mais uma das minhas comidas favoritas teria que ser sacrificada. Tinha acabado de vomitar quando alguém bateu na porta.— Está ocupada. — com a boca cheia de água, respondi as batidas na porta.— Sou eu! Abre a porta! — minha mãe insistiu, me fazendo cuspir a água no vaso sanitário, abrir a porta e voltar para frente do espelho. — Oque foi agora?— Salada de beterraba. Vomitei algo colorido dessa vez. — me virei para ela com meus óculos na mão.Com uma das mangas do blusão, limpei as lentes e recebi o olhar da minha mãe.— Eu disse que isso vai raspar as lentes dos teus óculos! Você não ouve porquê?Parei de limpar e coloquei no seu lugar antes se acenar e caminhar para fora da casa de banho. Assim que fechei a porta, olhei para os dois
Fui lentamente despertada do meu sono porque meu irmão me sacudia pelos ombros. Seu ato era tão forte que chegou até a irritar.— Oque foi? — murmurei e me virei. Assim que ia me cobrir melhor, meu irmão puxou o lençol.— Vamos! Estamos para matabichar.— Mmh! — meus olhos, que ainda estavam fechados, foram bruscamente abertos assim que ouvi a voz do meu pai.Me levantei e me comportei como quem estava ansiosa para descer do carro e dizer bom dia ao dia. Sim, eu havia dormido no carro e não sabia como tinha parado ali.— Vivi! Acorda e vai ajudar tuas tias a arrumar as coisas, temos que ir porque amanhã vamos viajar.— Viajar para onde? — franzi o cenho e me estiquei para alcançar os óculos que estavam no banco de motorista.— Ponta d'ouro. — meu pai vasculhava sua pasta de costas e meu irmão procurava por algo por baixo dos bancos — Era para irmos com
Ponta d'ouro. Pela terceira vez em minha vida eu tive o privilégio de ter meus pés sujos por aquela areia fina, branca e salgada. Não sabia se existia estado gasoso do sal, mas o cheiro da praia o tinha como principal característica.Meus óculos me permitiam ver meu pai e meu irmão naquelas águas azuis, que certamente conversavam sobre algo que não os permitiu ver a onda que desequilibrou por completo meu irmão.Soltei risos que se perderam no clima marino e por pura necessidade, me sentei na areia e minha camisete que ia até acima dos joelhos passou a cobri-los por completo quando dobrei minhas pernas. Numa mão, eu segurava o telefone do meu pai, sua carteira de dinheiro, as chaves do carro e do nosso quarto; noutra eu tentava impedir com que os raios solares atrapalhassem minha visão daquele cenário que estava gravado na minha mente.Eram por aí 13 horas e eu já tinha comido muita merda, mas meu estômago ansiava por um prato cheio