Estilhaços De Mentiras
Estilhaços De Mentiras
Por: Dayse Ruas
PRÓLOGO

Olhei diretamente para o rosto do homem: ele estava com os olhos entreabertos e lágrimas desciam lentamente por sua pele pálida. Quanto mais ele tentava, sem forças, me tirar de cima do seu corpo, mais eu apertava as minhas mãos em volta do seu pescoço. Eu o queria morto e em breve ele estaria.

Mantive a frieza. Nunca havia sentido tanta raiva por alguém.

— Por favor, eu tenho uma filha. Pare! Por favor, ela não pode me perder. — O homem insistia em falar, com a voz entrecortada, falha, sem fôlego. Mas isso não me abalou. Falando com sinceridade, aumentou ainda mais o meu ódio.

Ela não... Não vai conseguir viver sem mim. Eu...

Ele não conseguiu completar a última frase. Não parei de esganar até vê-lo sem vida sob as minhas mãos, sob o meu corpo.

— Você a ama? — Perguntei para o nada, após vê-lo falecer. Levantei, calmamente, ainda o olhando imóvel no chão. — Enquanto retirava as luvas pensei o quanto ele era desprezível.

Respirei fundo e olhei em volta. Eu tinha que terminar o que havia começado. Matá-lo não era suficiente, mas eu não sabia ao certo o que mais ele merecia.

Quando fui ao seu encontro só tinha em mente cumprir a minha promessa, mas, ao vê-lo, a minha ira aumentou. Eu queria torturá-lo por vários dias, porém não seria viável e eu estava sem tempo. Poderia, apenas, ter atirado, mas seria pouco e não iria me satisfazer. Então, eu o estrangulei, entretanto, isso também não estava sendo o bastante. Quando ele mencionou sobre ter uma filha, minha mente abriu um leque de possibilidades.

— Vou destruir a sua família. Deveria ter deixado você vivo para ver. — Sussurrei, com um sorriso maléfico, olhando novamente para o corpo.

Eu estava no seu escritório em plena madrugada. Não tive problemas para entrar e nem para sair. Fiz tudo o que precisava e o que eu tinha improvisado o mais rápido possível. Tudo ocorreu como eu havia planejado. Para não sobrar evidências, provoquei um incêndio que aos olhos das autoridades seria apenas um acidente.

Enquanto o fogo começava a consumir tudo, saí da sala em direção ao elevador. Desci até o estacionamento subterrâneo, que estava praticamente vazio, com exceção de três carros estacionados. As câmeras de segurança já tinham sido todas sabotadas antecipadamente, portanto, não havia motivos para correr.

Consegui ouvir os meus passos, tamanho era o silêncio. Andei tranquilamente até me aproximar de uma porta que dava acesso à rua. Alguns metros depois, fora do edifício, alcancei a minha moto. Respirei fundo, coloquei o capacete, montei e dei a partida. Enquanto ia embora, olhando pelo retrovisor, sorri em triunfo vendo o prédio em chamas.

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