Casey acabou dormindo em minha casa após sairmos da desastrosa festa de halloween e decidiu passar o fim de semana comigo. No dia seguinte, ela lembrou sobre a linda mulher e eu precisei repetir algumas vezes que não havia acontecido nada entre a gente. Depois disso, fiz o possível para não tocar mais no assunto.
Na segunda-feira, antes de irmos para o trabalho, Brenda apareceu em minha casa e elas tiveram outra discussão. Eu não interferi, apesar de conseguir ouvir palavras soltas, mesmo estando dentro do quarto com a porta fechada. Casey só tocou no assunto quando estávamos a caminho do escritório:
— Brenda disse que está namorando. — Ela relatou, quebrando o silêncio, e eu senti meu estômago revirar.
Suspirei, apertando com força o volante, mas não disse nada. Ela estava visivelmente chateada e não percebeu o quanto aquela frase havia me incomodado.
Ainda olhando para a cidade pela janela do carro, Casey perguntou se eu acreditava nas palavras de Brenda. Desejei profundamente que não fosse verdade, e era isso o que eu queria responder, mas então, eu teria que explicar o motivo. E como esclarecer algo que não entendemos? Casey a conhecia tão bem quanto eu, e a julgar pelo estado em que ela se encontrava naquele momento ao meu lado, ela acreditava, sim, em Brenda. Então, comecei a me questionar: o que diabos eu estava realmente sentindo?
Outra vez, a cena do beijo entre elas e aqueles malditos olhos verdes me encarando passaram por minha cabeça. Eu não encontrava lógica para ter ficado tão mal. Insultei Casey mentalmente diversas vezes desde a saída da boate até o presente momento, por ela ser tão covarde e não ter se declarado logo para Brenda. E me detestei por isso e por estar naquela bagunça emocional. Inferno, eu nem mesmo poderia desabafar com alguém!
Casey olhou para mim e insistiu mais uma vez, perguntando se eu não estava mesmo chateada com toda aquela história. E, obviamente, neguei, afinal, não havia motivo algum para isso, não é verdade? Antes de tentar encerrar novamente o assunto, consegui convencê-la de que Brenda não precisava saber que eu já tinha visto a nova namorada dela.
Namorada dela! Ofeguei. Não era verdade que eu nunca havia me interessado por uma mulher antes, só não comentava com ninguém.
Sempre fui mais reservada com a minha vida íntima, e apesar de dizer para as minhas amigas que nunca tinha beijado uma mulher, isso não era verdade. Não contei para elas que conheci uma garota nos primeiros dias da faculdade e que acabamos transando no quarto dela depois de uma noite de farra. Eu não tinha problemas em falar sobre isso, só não me parecia necessário. Nunca entendi o motivo das pessoas quererem tanto expor a vida íntima.
O fato é que eu conheci outra pessoa, e essa, por algum motivo desconhecido, criou um caos em minha mente. Com tantas mulheres naquela festa, ela estava justamente com uma das minhas melhores amigas. Isso sim era um grande infortúnio. Namoradas. Suspirei repetindo a palavra mentalmente para me convencer.
Casey parou de insistir no assunto. A única coisa que ela sabia era que eu havia ficado curiosa sobre o motivo daquela mulher ter me encarado, aparentemente, com raiva. Eu não contei para ela sobre a dança e o beijo, e dei graças a Deus por ela não ter se lembrado do Chris gritando sobre isso. E pelo o que eu havia entendido, Brenda estava distraída, ou bêbada demais naquela noite, e não notou nossa presença enquanto beijava a mulher.
***
Sentada na confortável poltrona em meu escritório, com os olhos fechados e os cotovelos apoiados sobre a mesa, eu massageava as minhas têmporas, lembrando outra vez as palavras de Casey:
— "Brenda disse que está namorando".
Já haviam passado duas semanas desde aquela conversa. Duas semanas em que eu não houvera conseguido esquecer aqueles olhos verdes. Não sabia explicar o motivo de não parar de pensar naquela mulher. Para ser sincera, estava acontecendo muita coisa que não tinha explicação, como, por exemplo: por que eu não conseguia olhar para minha amiga desde que soube sobre seu namoro?
Ela percebeu meu comportamento estranho e eu desconversei todas as vezes que fui questionada. Recusei, também, saber qualquer coisa sobre o seu relacionamento. Chegamos a um ponto em que só falávamos sobre trabalho. O clima entre nós ficou péssimo graças a isso.
Eu jamais revelaria a Brenda os meus sentimentos. Primeiro, por eu não saber ao certo o que sentia, e segundo, porque a minha índole não me permitia qualquer tipo de traição. E eu estava me condenando apenas pelo fato de pensar na namorada dela.
Ouvi batidas na porta e a mesma abriu em seguida. Brenda entrou sem ser anunciada.
Entre os vários problemas que eu tinha, mudar de assistente acabava de se tornar uma prioridade. Eu iria reclamar mais uma vez, mas, como já era fim de tarde, provavelmente, Janet já havia ido embora.
— Então, Sarah, já tomou uma decisão? — Ela perguntou enquanto andava e acomodou-se na cadeira a minha frente. Eu abaixei a cabeça.
Quando voltei a trabalhar na JKM, mudei praticamente todos os funcionários. Eu confiava nos meus amigos e foram eles que se tornaram a minha nova equipe. Brenda era a chefe do setor financeiro. Ela havia me entregado os gráficos e tabelas contendo a vida financeira da empresa.
Nos últimos dias eu andava receosa e mesmo após uma semana lendo e relendo as planilhas, eu ainda não tinha tomado uma decisão. A princípio eu queria manter a empresa aberta por meu pai, mas, definitivamente, não era a minha área. Agora, eu não via motivos para continuar ali, principalmente depois dos resultados apresentados por Brenda. O fato era que tínhamos um impasse: eu precisava decidir entre vender a empresa ou tentar uma fusão. Quando me entregou as planilhas apresentando um problema maior do que eu esperava, ela também trouxe uma possível solução: a fusão com outra empresa parecia ser a melhor alternativa. Na semana passada, eu ainda não estava considerando as opções, mas, agora, não tinha mais como adiar.
— Ainda não. Fale mais sobre essa empresa que também quer a fusão. — Respondi, mais uma vez, sem a olhar.
Levantei e fui para a janela, ficando de costas para ela.
O clima estava tão pesado entre a gente que era quase palpável. Eu a ouvi respirando fundo algumas vezes, como se tentasse controlar as próximas palavras.
— Eu sabia! Sabia que não tinha decidido ainda. Sarah olha para mim! Eu sei que tem algo errado! Mas que merda! — Ela aproximou-se de mim. — Não sei o que fiz a você, mas podemos resolver isso. Mas que droga ficar desse jeito! Não vê que está atrapalhando o nosso trabalho? — Ela disse irritada.
Brenda pensar que o problema era com ela me deixava ainda pior.
Engoli em seco. Ela estava certa. Apesar de ser a mais brincalhona entre nós três, ela era a que, na maioria das vezes, tinha razão. Continuei na mesma posição, eu ainda não estava pronta para encará-la. Eu estava sendo injusta.
O que eu não fazia ideia era como resolver isso tudo. Decidi, temporariamente, não contestar nada sobre o que ela dissesse, até entender o que estava acontecendo.
— Que seja! — Ela arfou
Então, disse tudo de uma só vez, sem me dar tempo para pensar:
— A empresa é do mesmo ramo que a nossa. O interesse pela fusão é porque eles estão com problemas no setor de produção e é justamente o que temos para oferecer. Como eles não estão com dificuldades na parte financeira, então, eu pensei em juntar as coisas, entende? Eu estava conversando com a dona dessa empresa sobre negócios e as coisas foram acontecendo, sabe? Ela comentou sobre o assunto de produção e imediatamente lembrei daqui. Apenas associei uma coisa à outra. Depois disso, fiz as planilhas para você.
— Bem, isso parece ser o melhor a fazer. Eu preciso de mais tempo, essa é uma decisão difícil. — Olhei finalmente para ela.
—Haamm... Eu receio que não seja possível. — Brenda disse com uma careta.
— Por quê?
Brenda me deu um sorriso um tanto quanto sem graça, e eu comecei a temer pelo o que ela havia aprontado dessa vez.
— Como eu disse, eu sabia que você não tinha decidido, então, tomei a liberdade de marcar uma reunião com a proprietária da empresa. Ela está aqui.
— Marcou uma reunião sem o meu consentimento? — Nesse momento, eu consegui olhar dentro de seus olhos.
Que audácia! Eu precisava, com urgência, retomar o controle da minha vida pessoal e profissional.
Enquanto eu a olhava, incrédula, Brenda revelava o nome da empresa: AYERS SYSTEMS. Explicou, rapidamente, como havia conhecido a proprietária que estava prestes a entrar em minha sala:
— Eu a conheci naquela festa do halloween. Acredita que acordei na casa dela sem saber onde estava, de tão embriagada que fiquei? — Ela disse, rindo.
Eu cresci os olhos quando ela mencionou sobre a fantasia. Eu, prevenidamente, temi por ser a namorada dela, por ser a pessoa em quem eu não parava de pensar.
— O quê? Ela está aqui? — Pensei sem saber o que fazer.
Brenda se dirigiu à porta.
— Deus, não deixe ser ela, por favor, ela não, ela não... — Implorei baixinho com o coração acelerado.
Mas era ela! E foi inacreditável o estado em que eu fiquei quando a mulher entrou. Praguejei repetidas vezes por dentro.
Ela veio em minha direção ao lado da Brenda. Obviamente sem fantasia e sem máscara, mas eu reconheceria aqueles olhos verdes de qualquer maneira. Eu procurei desesperadamente o ar para respirar. Aquilo não poderia estar acontecendo! Controlei minha respiração e tentei me acalmar.
Brenda havia dito que ia nos apresentar e nesse momento não tive mais nenhuma dúvida de que ela não sabia que nós já nos conhecíamos. Tentei ficar imparcial.
— Sarah Mitchell, essa é a Alexandra Ayers.
Brenda mantinha um enorme sorriso e, durante a apresentação, ficou nítido que Alexandra estava tão surpresa quanto eu. Eu apertei a sua mão, dando um leve sorriso e, mesmo que ela sendo discreta, eu pude perceber quando me olhou por inteira.
Um silêncio constrangedor se instalou entre nós. Eu estava concentrada em seus olhos verdes, mas, mesmo assim, consegui ouvir Brenda quando pediu para que Alexandra passasse em sua sala antes de ir embora.
Atentei por ela ter usado o primeiro nome. Aceitei que isso era normal, já que elas eram íntimas. Alexandra deu um sorriso de lado, antes de responder para Brenda que sim, e voltou a me encarar. Só percebi que Brenda não estava mais presente quando ouvir o som da porta sendo fechada.
Fiquei a sós com ela, e não fazia ideia por onde começar. Várias dúvidas surgiram em minha cabeça: Ela não se lembra de mim? Ela não falou nada para Brenda? Por que diabos Brenda não me disse que a empresa era a da namorada dela? Ela sabia que eu e Brenda nos conhecíamos?
Queria perguntar tudo ao mesmo tempo, mas sequer consegui pronunciar uma sílaba.Ela não desviava o olhar do meu e eu o sustentei. A princípio, ela me olhava como se estivesse surpresa, depois, com raiva, e agora, ela parecia estar curiosa.
— Por favor. — Gesticulando com a mão, a convidei para o sofá.
Ela encaminhou-se para se acomodar e eu a segui.
— Aceita algo para beber? Água, café, suco? — Ofereci.
— Não, agradeço! — O tom dela firme soou tão neutro quanto o meu.
Sentadas uma de frente a outra, optei por iniciar a conversa conduzindo para os negócios. Eu era uma mulher e não uma adolescente e precisava manter meu foco, o que estava sendo difícil com ela me olhando daquela forma.
Ela ouviu atentamente quando relatei os motivos para querer uma fusão. Quando perguntei sobre suas razões, ela levantou-se antes de responder.
— Foi muito sincera, Senhorita Mitchell. Devo dizer que preciso pensar a respeito. Afinal, você está oferecendo apenas uma boa equipe de produção e isso, para uma fusão, é pouco.
Ela falava andando vagarosamente de um lado para o outro, segurando as mãos atrás das costas, demonstrando que estava realmente analisando toda a situação. Enquanto ela respondia, eu a observei: estava com uma calça preta e blusa branca, que me permitiu à visão do seu colo e ombros, com os cabelos soltos jogados em um só lado. Só então notei que tinha uma tatuagem em seu braço direito. O desenho tribal não parecia com nada que eu conhecia.
Ela percebeu que eu a examinava.
— Está distraída, Senhorita Mitchell? — Perguntou, com um sorriso quase imperceptível no canto esquerdo da boca.
Fechei os olhos por meio segundo antes de responder.
— Não, não estou. — Engoli em seco.
Voltei a me concentrar na conversa.
— Bom, não é apenas uma "boa equipe", é a melhor, posso assegurar. — Eu disse, mantendo o tom neutro. — E não é só o que estou oferecendo. As finanças atualmente não estão em seu melhor momento, mas isso não significa que não tenho como injetar dinheiro em uma nova empresa. E para finalizar, Senhorita Ayers, eu tenho um projeto que pretendo compartilhar, caso firmarmos o acordo.
— Interessante. — Ela disse apenas isso arqueando as sobrancelhas.
Eu aguardei enquanto ela ainda estudava a proposta.
Voltou a falar com maestria sobre o mundo da tecnologia e sobre a AYERS estar procurando por algo inovador. Acrescentou, ainda, o fato de sua equipe estar defasada e como isso acabou dando vantagens para a concorrência.
Tecnologia não era a minha área, mas eu conhecia o suficiente para saber que ela entendia muito sobre o assunto. Eu a ouvi atentamente, mesmo precisando desviar o olhar quando ela passava a língua nos lábios para umedecê-los entre uma fala e outra.
Depois de concluir o seu discurso, sentou-se ao meu lado e duas coisas aconteceram: fiquei aliviada por ela ter parado de andar de um lado para o outro, o que estava me incomodando e fiquei completamente desconcertada.
O tom de voz dela mudou, tornando mais baixo e afetivo. Ela virou-se para me fitar, e aquela aproximação fez meu coração voltar a acelerar. Ficamos alguns segundos em silêncio e finalmente ela disse:
— Parece que o nosso desejo é o mesmo, Senhorita Mitchell. — Ela me fitava ofegante, alternando entre meus olhos e a minha boca.
— Nosso desejo? — Estávamos sussurrando.
— Sim, o nosso desejo é o mesmo, ou não é?
Eu estava ciente que precisava sair daquela posição. Minha consciência gritava que era errado, mas meu corpo me traiu e eu a desejei. Deus, o que ela está fazendo comigo?
A essa altura, não sabia mais sobre o que estávamos conversando.Fechei os olhos, mordendo o lábio inferior. Minha respiração estava descompassada. Ela aproximou-se ainda mais e colocou a mão sobre minha coxa. Ergui-me num sobressalto.
— Se está falando sobre a fusão, Senhorita Ayers, a resposta é sim. É o que desejo também. — Respondei.
Lembrar que ela namorava a minha amiga me deu forças para levantar.
Precisei sair de perto dela, pois não queria trair a Brenda. Fui até o frigobar, dando a desculpa para mim mesma de que precisava tomar um copo com água. Precisei de tempo para me recompor.
Ela permaneceu sentada. Não olhou para mim e não fez nenhum movimento. Todos os meus questionamentos voltaram e eu queria respostas.
Na festa, não conversamos o suficiente e agora, com ela namorando, provavelmente, eu não teria outra oportunidade como esta. Tudo bem se ela havia escolhido a Brenda, mas eu não entendia o porquê daquele olhar. Era como se ela me desejasse. Eu estava ficando louca ou minutos atrás quase nos beijamos novamente?
Precisava acabar logo com isso, precisava tocar no assunto. Estava há duas semanas com as dúvidas me consumindo. Pensei que não iria mais vê-la, mas quando soube do relacionamento delas, imaginei que, em algum momento nos encontraríamos. E se o momento acabou sendo este, dane-se! Eu não iria perder mais tempo.
— Há algo que quero saber. — Eu disse, quebrando o silêncio.
— Sim... — Ela respondeu sem olhar para mim.
— Sabia quem eu era quando veio para a reunião? — Perguntei diretamente.
— Como eu poderia? — Levantou-se e me olhou. Ela parecia confusa.
— Brenda. — Esclareci.
— Bem, ela mencionou o nome da empresa e o seu. Mas não presumir você ser... Você. — Explicou calmamente vindo em minha direção.
— Mas você me viu na festa... Quero dizer, naquela noite você me viu enquanto a bei... Enquanto estava com ela... — Gaguejei.
— Eu vi muitas pessoas naquela noite, Senhorita Mitchell, isso não quer dizer nada.
— Ela não falou nada sobre mim?
— Não naquela noite.
Não fazia sentindo. Analisei para ver se ela estava mentindo, mas, aparentemente, parecia ser muito sincera.
Ela parou a minha frente. O olhar voltou a ficar intenso e eu precisei desviar. De onde estava, olhei pela janela e reparei que já era noite. Estávamos conversando há quase duas horas, no mínimo, e eu simplesmente não queria parar. Não queria que ela fosse embora. Sabia que era errado me sentir dessa forma, porém, não conseguia evitar.
O silêncio voltou a se instalar, mas não de uma forma ruim. Fitei-a novamente. Parecíamos conversar mais com o olhar do que verbalizando. Sabíamos que o assunto já havia terminado e que precisávamos ir embora, mas não nos movemos.
Esperei ela dizer que estava indo, mas ela permanecia como eu, encarando sem proferir. Aquele silêncio e a forma como ela me observava deu abertura para todos os pensamentos levianos que eu jamais deveria ter. Eu não iria resistir a qualquer tentativa dela, caso acontecesse, e eu já pedia aos céus para que ela fosse embora, pois eu a desejava tanto que estava a ponto de cometer uma loucura. Mas ela não foi.
— Sarah... — Pronunciou meu nome e meus sentidos se perderam.
Ela deu mais um passo para frente e eu não recuei.
— Eu não comentei nada com ela sobre nós, respondendo o que você realmente quer saber. — A voz dela era um doce sussurro.
Ficamos ofegantes.
"Sobre nós”. Gostei de como isso soou. No instante em que pensei, ela colocou as mãos em meus quadris e aproximou nossos corpos. Com as nossas testas encostadas, eu ainda encarava aquela imensidão verde. A boca dela estava tão perto da minha que pude sentir o seu hálito. Eu não teria forças para resistir aquilo. Constatei e fechei os olhos.
Ela se inclinou, roçando sua boca na minha e eu parei de respirar. Sugou meu lábio inferior e depois, passou a língua lentamente, como se pedisse permissão para adentrar. Eu abri a boca. Nossas línguas se encontraram num beijo morno e doce. Ela me beijava com delicadeza, eu tremia de prazer. Meu cérebro me repreendia, alertando o erro. Eu estava sendo mau-caráter, mas eu não a impedi. Eu a queria. Eu desejei tanto aquela boca que o único esforço que fiz foi de colocar meus braços em volta do seu pescoço.
Cedi completamente ao beijo. Passei as mãos em seus cabelos, descendo até a nuca, e a puxei ainda mais para mim enquanto chupava sua língua. Ela gemeu dentro da minha boca e o beijo se tornou sôfrego. Apertou meu quadril com furor e eu o ofereci para ela. Aprofundamos mais o beijo. Em seguida, levou a mão esquerda até o meu seio e acariciou, por cima da blusa, meu mamilo enrijecido, e então, foi a minha vez de gemer. Ela afastou nossos lábios e fez uma trilha de beijos até o meu pescoço, indo até o lóbulo, mordendo e passando a língua vagarosamente.
— Oh, Lexa! — Meu corpo tremeu e eu gemi, dizendo o nome dela da forma que fui capaz.
Afastando-se e me olhando, percebi que estava tão absorta quanto eu. Talvez, não tenha apreciado a forma como disse o seu nome, ou talvez sim, pois ela uniu mais uma vez nossos lábios, mudando o beijo para voraz.
Senti minha intimidade pulsar e a minha calcinha ficar encharcada. Como um beijo poderia me deixar naquele estado? Quanto mais ela me puxava, mais eu me oferecia, esfregando meus quadris nos dela. Estávamos ofegantes. Pude sentir o seu coração batendo forte no peito. Eu interrompi por alguns segundos, precisando de ar, mas não demorei em encaixar nossas bocas num beijo urgente e quase violento. Precisava parar, minha consciência alertava. Eu ia parar, mas antes, enterrei minhas mãos em seus cabelos e puxei com força. Eu queria mais e ela não estava diferente.
Entregamo-nos completamente. Senti-me novamente segura entre seus braços. Era como se eu pertencesse aquele lugar. Eu quis pertencer a ela. Contudo, ciente de que esse seria nosso último beijo, fiquei angustiada. Mordia seus lábios, apertava seu corpo, sugava sua língua com força, e ela permitia tudo, sentindo tanto prazer quanto eu.
E então, eu senti raiva. Raiva por ela estar namorando a minha amiga, raiva de mim por desejá-la tanto, raiva por querer pertencer a ela. Eu tive raiva por ela estar sendo tão cretina, deliciosamente cretina, e de mim, por ser uma traidora hipócrita.
— Sarah, eu... — Ela ia dizer alguma coisa, mas eu a interrompi.
— Não, Lexa! — Comecei a impelir, quebrando o beijo. Ela me olhou confusa.
— Não? — Perguntou ainda ofegante.
— Não. Basta! Não podemos fazer... Eu não posso fazer isso... Por favor, é melhor você ir...
Ela afastou-se. Ambas tentando controlar a respiração ainda com o olhar fixo. Ficamos nos encarando por alguns minutos. Ela parecia totalmente confusa e eu não entendia o porquê. Não era minha culpa se ela havia escolhido Brenda! Eu já tinha ultrapassado todos os limites e teria que aceitar as consequências.
O olhar dela passou de confuso para irritado. Era impressionante como conseguíamos conversar sem dizer absolutamente nada! Também demonstrei a raiva que estava sentindo. E esse tipo de sentimento, misturado ao desejo, nunca terminava bem. De repente, lembrei o motivo de ela estar ali. Estávamos negociando. Quando foi que perdi o controle? Recordei-me, também, de Brenda pedindo para ela ir até a sua sala e minha consciência pesou ainda mais.
Alexandra, agora, tinha um olhar coberto de dúvidas, porém, não fez nenhuma pergunta. Em silêncio, andou de modo majestoso, apanhou a sua bolsa que estava em um canto do sofá e foi em direção à porta. Abriu, olhou para trás por um breve momento e me deixou sozinha.
Jogando a cabeça para trás e fechando os olhos, permiti a entrada de ar nos meus pulmões. Eu precisava dele mais do que imaginava. Não encontrei palavras para explicar meus sentimentos naquele momento. Levei a mão até a boca, acariciando, ainda sentindo o gosto doce do beijo dela e o gosto amargo do erro causado por minha fraqueza.
— Eu traí a minha amiga. Deus, o que foi que eu fiz? Como pude fazer isso? — Me questionei.
O celular vibrou me tirando dos meus devaneios. Era uma mensagem da Brenda:
"Ei... Então, deu tudo certo na reunião? A Alexandra não passou na minha sala, ela ainda está com você? Espero que vocês duas tenham se entendido. Bj."
Não respondi. Como eu poderia?
Sentindo-me exausta, deitei no sofá e fechei os olhos. O perfume de Alexandra ainda permanecia no lugar e eu me permiti divagar sobre o beijo. Meu corpo tremeu e eu a desejei intensamente.
— Alexandra... Eu odeio você...
Acordei no sofá do escritório com Brenda me chacoalhando e repetindo meu nome diversas vezes. Enquanto ela reclamava sobre eu ter deixado todos preocupados por não ter ido para casa e meu celular estar desligado, eu tentava, a todo custo, me recompor. Recordando a noite anterior, me senti envergonhada diante de minha amiga que demonstrava tanta preocupação. Amaldiçoei Alexandra por me beijar e a mim por desejar que ela o fizesse.Sentei atordoada, tentando organizar os pensamentos. Brenda, ao meu lado, me olhava curiosa e espantada. Ela esperava por respostas que eu não daria.O telefone tocava sem parar e sem dizer absolutamente nada fui até ele.— Alô! — Atendi de forma rude.— Bom dia! Por gentileza, a Senhorita Sarah Mitchell está? — Uma voz feminina e nasalada perguntou do outro lado da linha.— De onde fala? — Perguntei pronta par
Vingar-se de alguém nos traz aquele sentimento de poder, de superioridade, ou só pensamos estar dando uma lição para aquele que nos causou algum mal. Eu não tinha motivo para me vingar da Casey. Nem mesmo Brenda ficou chateada com ela, mas não nego que fiquei um tanto irritada por ter recebido uma informação falsa. Informação essa que me fez passar por ridícula. Até aceito que eu deveria ter sido um pouco mais atenta e não ter me deixado ir pelas ideias da Casey, afinal, eu também conhecia bem a Brenda e obviamente ela não iria namorar outra pessoa que não fosse a Riley. Assumi minha parcela de culpa pelo enorme desentendimento e assumi que queria, sim, dar o troco na Casey, que estava, nesse exato momento em minha frente, largada no sofá, com fones de ouvido sobre seus cabelos castanhos e perdida em outro mundo.Espiei de longe pela janela da minha sala e pu
Alexandra entregou a chave do carro para o manobrista em frente ao Scalini Fedeli. Assim que nos acomodamos, ela decidia, com paciência, qual vinho seria melhor para acompanhar nossos pedidos e eu observava o aconchegante restaurante. Ela havia escolhido a parte mais reservada do lugar. Apenas mais duas pessoas estavam em outra mesa, ao que parecia, um casal, e pelo o que pude ver, já tinham a conta em mãos. Calculei mentalmente que, em mais alguns minutos, seriam apenas eu e ela.As mesas, impecavelmente arrumadas com toalhas brancas, taças, velas e uma rosa no centro, deixava tudo ainda mais charmoso. Definitivamente, era o tipo de ambiente que combinava com ela, e claramente, não tinha nada a ver comigo! Sempre gostei de lugares mais agitados e, de preferência, com uma pista de dança, como a boate Lavo, o lugar onde nos conhecemos.— É calmo aqui. — Comentei assim que o maî
Despertei com o barulho de um trovão. Apertei os olhos por causa da claridade que invadia meu quarto por uma fresta da cortina mal fechada. Parecia que o céu estava desabando na cidade de Nova York. Olhei para o relógio sobre o criado mudo: 09:43am.— Droga. Estou atrasada! —Comentei. Respirei fundo e virei para o outro lado.Sorri de leve ao ver uma Alexandra esparramada na cama, nua, com os cabelos bagunçados e a boca entreaberta. Ela ressonava tranquilamente, coberta apenas até a cintura. Mordi meu lábio inferior e a toquei levemente com o indicador, admirando a tatuagem negra que descia por suas costas, iniciando com algum desenho tribal e finalizando com círculos. Retirei cuidadosamente seus cabelos para observar outro desenho na nuca. Era o símbolo do infinito.Eu tinha visualizado tudo isso na noite passada, mas não tive tempo para apreciar. Durante
Depois de um fim de semana perfeito com Alexandra, voltei ao trabalho mais disposta. Sendo sincera, voltei para a vida mais disposta! Comecei a resolver todas as pendências e, no meio da semana, faltava apenas uma coisa: o encerramento da empresa. Não queria fechar a JKM, mas, infelizmente, não tive opção.Eu tinha dois objetivos importantes: o primeiro era descobrir a verdade sobre a morte do meu pai. O segundo era colocar em prática um dos seus maiores desejos que era o projeto com o qual ele estava trabalhando há anos. E para esse, comecei a dar início imediatamente.Saí do meu escritório e passei calada por minha assistente. Como eu esperava, ela me seguiu pelo corredor. Paramos de frente ao elevador e, assim que a porta abriu, entramos. Ela me olhou da cabeça aos pés, sem nenhum disfarce. Eu ainda não saberia dizer se esse era o jeito de ser dela ou se realmente ela tentava,
ALEXANDRAHenry Russell, um de homem de 45 anos de idade, era calmo e calculista. Os olhos negros penetrantes passavam confiança em todas as suas palavras proferidas. A barba sempre feita permitia a visão do seu rosto quadrado. A cor jambo de sua pele harmonizava com os lábios carnudos e nariz afilado. O corpo definido em 1,83 metros de altura e o semblante fechado intimidava a maioria das pessoas, mas não a mim. Filho de um dos caseiros ficou órfão aos dois anos de idade e fora adotado por minha família. Era o melhor amigo do meu pai e ele o considerava como um irmão. Amante das artes marciais, ele fazia questão de treinar comigo quase todos os dias. Sendo filha única e após a morte dos meus pais, ele era o mais próximo do que eu tinha de uma família.Henry havia deixado claro que seria uma burrice fazer a fusão. Ignorei, mais uma vez, os seus conselhos n
SARAH— Meu Deus! Você está um desastre!Eu ouvi as palavras da minha sincera amiga Brenda, enquanto descia a escada enrolada em um fino cobertor. Ignorando a presença dela e de Casey, fui direto para a cozinha. Precisava de um café antes da conversa, pois me sentia mesmo um desastre! Preparei o néctar dos deuses, conhecido como cappuccino e voltei para a sala.— O que diabos aconteceu com você? — Ela insistiu.— Alexandra Ayers, a cretina! Foi isso o que aconteceu comigo.— Ai meu Deus, ela está no seu quarto?— Não, sua idiota! — Atirei uma almofada nas duas e ouvi um protesto de Casey.— Ué! Com essa cara de pós-sexo, pensei que ela tivesse destruído você! — Brenda gargalhou.Acordei sozinha em plena madrugada, no sofá da sala, com minha intimidade coberta apenas com u
ALEXANDRAO primeiro comportamento agressivo que tive foi na escola, aos treze anos. Um carinha imbecil, durante uma discussão, jogou refrigerante em uma das minhas amigas, e nem mesmo vi o momento em que dei um soco nele. Logo, formou-se uma roda com vários adolescentes, gritando e incentivando a briga. O moleque ficou sem um dos dentes e eu acabei sendo expulsa.Naquele ano começaram os ataques e na maioria das vezes eram incontroláveis, afetando assim a minha e a vida de outras pessoas. Por esse motivo, meus pais me levaram a um psicólogo. Com o passar do tempo, comecei a me entender e a controlar minha raiva. Entretanto, quando aconteciam coisas mais graves eu precisava de ajuda para me acalmar.Após a tentativa falha da ioga, Henry me apresentou as artes marciais e assim tive uma melhora considerável. Em momentos de crise eu ia para o meu salão de lutas e descontava toda a fúria