A quase três meses, Siena sequer tinha para onde ir, e agora entrava em uma mansão adornada do mais puro luxo. Nada naquele lugar parecia familiar, embora ela tentasse fingir que o conhecia perfeitamente.
Os nomes das pessoas que surgiam no ambiente foram ditos com educação, mas ela nem sequer os conhecia de verdade. Ela nem mesmo sabia quem seria seu marido, ou como ele tratava sua esposa verdadeira. Esperava apenas que ele se mantivesse desinteressado o bastante para que ela não fosse obrigada a se deitar com ele toda noite.Mas as mulheres frenéticas ainda insistiam em arruma-la como uma princesa em sua primeira noite de núpcias, e naquele momento, Siena sentiu o coração acelerar ainda mais. Como entregar-se para um homem que sequer viu? Tanto tempo guardando-se para a pessoa certa e agora entregaria seu maior tesouro a um completo desconhecido.A sensação de estar naquela situação a deixava tensa e magoada. Ela ainda não havia superado a primeira traição do noivo com sua mãe, e as contas do hospital passaram a acumular com muita rapidez. Ela não teve escolha. E no momento em que uma mulher a abordou, propondo que assumisse o lugar de sua filha no casamento, ela não recuou. O que mais Siena poderia fazer? Já estava a beira da falência e tinha certeza de que não poderia fazer o tratamento se continuasse a gastar tanto dinheiro. Tudo que ela tinha certeza era de que queria viver com toda a sua força de vontade.Ela se encarou de frente para o espelho, ansiando pelo momento em que aquele homem a deixaria plantada, a esperando como uma boba durante toda a noite. E Siena torceu por isso com cada musculo do seu corpo.A porta se abriu, e o homem alto e imponente surgiu, rompendo as barreiras do quarto . Ele já estava sem camisa quando invadiu o ambiente, forçando a para junto de si. Era um marido apaixonado? Provavelmente não.Embora ela tentasse manter as esperanças em seus olhos confusos, ele a agarrou pelas bochechas e a encarou com firmeza. O olhar penetrante era tão frio que quase a congelou por dentro.Ela teve certeza de que um homem poderoso como aquele pretendia exercer poder em tudo que fazia, e ela sabia que ele não seria delicado. Tentando ser firme, ela evitou que as lágrimas caíssem, maculando a roupa branca, mas os olhos ainda estavam marejados.Ele não sorriu, ele não demonstrou felicidade. Nada no rosto impassível se alterou. Ele era como um cubo de gelo imenso que estava pronto para feri-la ferozmente. A forma séria com a qual ele a encarava a deixou em estado de alerta. – O que foi? Por que você está tão assustada? – Ele pareceu bravo.Siena não sabia o que pensar enquanto o encarava. Ele ainda era lindo como um anjo e cruel como o diabo em pessoa. – Eu não sei. Eu só estou com medo.- Medo de mim? – Ele ainda manteve os lábios sérios colados um ao outro. – Por que?A voz grossa como a de um leão rugindo a deixava apavorada e tudo que ele dizia para ela parecia cruel, ainda que não fosse a intenção.- Eu não sei. É a nossa primeira noite, e eu...Ele contorceu o rosto, cheio de indignação. – Primeira? Você só pode estar de sacanagem comigo, Pax.- N-Não. É que eu... – A doce mulher passou a gaguejar o desespero por estar tão perto ao homem. O coração acelerado a deixava completamente trêmula, e por pouco Siena não fugiu pela única janela aberta do quarto.- Esqueça! Apenas tire a roupa e deite na cama.- O que? – Os olhos se arregalaram, em desespero.- É uma ordem! Vai agora!- Eu não sou sua escrava, Sr...Foi a primeira vez que aquele homem sorriu para ela, mas de alguma forma, pareceu diabólico, e ela teve a certeza de que odiava a visão daqueles dentes brancos perfeitos exibidos para ela.- Você atormentou a minha vida para se casar. E você sabia que droga encontraria comigo. Mesmo diante das minhas propostas, você foi uma desgraçada, e quis se casar. Então, agora, meu amor, você vai pagar todo o martírio que o seu pai me fez por anos.- Meu pai? O que o meu pai fez, eu... – Ela tateou para trás, temendo os passos que o homem dava em direção a ela.Sebastian ainda conseguia sentir cada uma das torturas do maldito velho que lhe custaram uma vida realmente miserável por bastante tempo. E agora, rico, aquela mulher estava tentando aplicar um golpe a ele? Ela jamais sairia livre disso. Pax merecia uma lição, e ele estava pronto para dar a ela das piores formas.- Se você é inútil até para me obedecer, então de que me serviu casar com você? – Ele nem mesmo piscou ao revelar as palavras duras para ela.Siena sentiu-se tonta de tanto medo, mas ainda era atrevida demais para ficar calada. – Se você acha que mulheres servem apenas para isso, então nem deveria mesmo se casar! – Ela percebeu o erro logo depois.Lá está. A expressão de ódio disfarçado de um sorriso sinistro no rosto daquele homem, que a apavorava mais uma vez. Siena sentiu cada membro do corpo se contrair em um medo genuíno, e ela já nem sabia mais se estava sentindo mau estar da doença ou do pavor que percorria pelas veias cansadas.- Ótimo. Você gosta de me desafiar, pequena. Vamos jogar.- Jogar? – Ela sentiu um súbito alivio, e por dois segundos, chegou a exibir um breve sorriso, mas logo o desfez. Ele não falava sobre uma brincadeira real, e ela só conseguiu lamentar por perceber tarde demais. – Do que você está falando?- Eu vou ser um pouco mais cruel a cada segundo que você continuar usando as roupas. É escolha sua.- Não quero isso! – Ela afirmou, tremendo de medo.- Então tire a roupa e deite na cama! – Ele ordenou mais uma vez, e apesar do rosto não ter se modificado, havia uma clara falta de paciência. – Um, dois, três, quatro... – Ele começou a contar. As lembranças das chicotadas que a Pax deu nele apenas para zombar, ainda estavam vividas na memória daquele homem enorme.Os números foram pausados quando Sienna, lentamente ergueu as mãos trêmulas e deslizou a alça da camisola pelo ombro delicado. Os olhos marejados eram orgulhosos demais para deixar escapar as lágrimas que a pobre mulher tentava esconder. O orgulho ainda fazia parte da forma como ela olhava e até como se portava diante dele.Mas ela não era uma rainha. O Sebastian Black, no entanto, poderia se considerar o rei. Ele era dono daquela cidade, e mandava em todo o estado em que morava.- Agora deite na cama. De bruços! – Ele parecia levemente divertido ao falar aquelas palavras.Siena sentiu um zumbido no ouvido a atingir com brutalidade, e lamentou a própria sorte no mundo. Para que nasceu em um destino tão cruel, onde sua vida parecia recém-saída de um roteiro de terror?- Mas...- Tudo que você tem que dizer é: sim senhor!Siena ainda não havia se recuperado o suficiente dos infortúnios passados, mas lá estava ela, se magoando outra vez. O corpo debruçado na cama parecia mais um prelúdio de pesadelo, e tudo nela a ordenava para que fugisse. Ela deveria correr daquele lugar, e desistir da proposta absurda que aquela m*****a velha havia feito para ela, mas talvez fosse tarde demais. As mãos se agarraram a vida tanto quanto ao lençol branco e macio abaixo dela. O rosto encostado de lado podia ver a silhueta se aproximar. Ele nem mesmo tirou a roupa quando andou até ela, debruçada e vulnerável sobre a cama do casal. Não havia um único som emitido por aquele homem, o que serviu apenas para tornar tudo ainda mais assustador. As mãos já estavam formigando de tão forte que ela apertava os punhos serrados, e os dentes pressionando uns aos outros não permitia que ela pudesse relaxar. A mandíbula já parecia dolorida quando ele finalmente se debruçou sobre ela. Ainda sem um único som. Mas a cama se abaixou lev
Siena ainda podia escutar os sons da madeira batendo vigorosamente contra a parede. Era como um assombro da noite anterior, que sempre voltava a atormentar os sonhos de uma noite que ela quase não dormiu. Ainda debruçada sobre a poça de sangue seco da cama, que fora jogada brutalmente em meio a madrugada longa, siena embarcou em um sono profundo. Ela ainda conseguiu ouvir o momento em que o monstro ordenou que ela se limpasse e saísse do quarto, mas estava incapaz de mexer as pernas. O som da porta se arrastando no tapete luxuoso a alertou. Ela rapidamente ergueu o corpo, temendo que tudo se iniciasse mais uma vez. Os olhos dela caíram de vergonha quando a empregada a observou. Os olhos frios nem mesmo pareciam surpresos pela visão desastrosa da garota de olhos azuis meigos, mas havia uma certa pena na forma como a senhora olhava para ela. – É melhor você comer um pouco. – A senhora foi ríspida. Siena não conseguia entender o porque, embora tentasse imaginar todas as teorias poss
Siena forçou a abertura da porta, mas estava trancada. Ainda assim, ela não podia desistir. A mulher não ficaria parada, esperando que aquele homem a usasse como um animal no cio mais uma vez. Então, os olhos aflitos focaram na única janela aberta para o lado de fora da mansão. Não havia qualquer roupa capaz de esconder a sua nudez, mas ela buscou pela camisa do homem que a odiava, e repudiou o cheiro. Em qualquer circunstância, a jovem preferiria a morte a ter o perfume daquele homem exalando tão próximo ao corpo dela mais uma vez, mas naquele instante, ela aceitaria qualquer coisa se pudesse impedi-la de sentir o toque das mãos ásperas. O coração dela já antecipava que a queda doeria mais do que ela esperava, mas não seria tão terrível quanto as estocadas que aquele monstro daria nela, se a encontrasse tentando escapar. Então, ela olhou aflita para baixo, esperando que se aquilo a machucasse, que ao menos ele a deixasse em paz por algum tempo. Siena fechou os olhos e pulou. Ela e
O corpo inteiro se estremeceu de medo. ‘Vamos ver como é sentir a carne se partir’, ainda ecoava sob a mente atormentada da jovem mulher. Se ela ao menos soubesse quem era a Pax, jamais teria se envolvido naquela situação, mas agora era tarde demais. Ela já não podia fugir do próprio pesadelo. Siena não poderia fugir do destino que a aguardava, como um tormento que parecia nunca acabar, e Siena não poderia fugir do destino reservado a Pax. O que aquela mulher havia feito na cidade para que fosse odiada com tamanha intensidade? Siena não obteve respostas, embora seus olhos clamassem por elas. Mesmo assim, foi amarrada pelos pulsos e arrastada até a cidade. A notícia de que a jovem havia mentido sobre a gravidez havia se espalhado por todos os lugares, e ninguém sentiria pena dela. Os risos dos homens que a arrastavam como um animal pareciam ofensivos, e ela temia a própria sorte. Foi a primeira vez que ela realmente pensou sobre a proposta absurda do antigo noivo. Foi a primeira vez
Siena ainda manteve os olhos suplicantes, mas não parecia surtir qualquer efeito. Aquele homem de ferro não transmitia emoção alguma. Os olhos cor do mar profundo continuavam parados, a encarando. As pessoas ocupadas nem mesmo pareciam tê-lo notado ali, mas de toda forma, Siena sabia que ele nunca a ajudaria. Mais um golpe, e ela não reagiu. Ela não podia sentir mais nada. Estava completamente imersa na frieza dos olhos daquele homem para perceber qualquer coisa ao redor. Ela não sentia nada, nem mesmo a forma como o maldito agressor colocava um dedo nela. Não havia nada se passando por sua mente além do pensamento repetitivo do qual ela não podia entender: Como um homem seria capaz de permitir que sua esposa fosse usada por outro homem? Sebastian havia sido o primeiro a tocar nela, e as lembranças daquela noite ainda causavam dor ao coração como queimaduras recentes. Ele ainda não esboçava qualquer reação, e por isso, a jovem interrompeu o contato. Ela não podia ver o momento em q
– Não entendo por que ainda continua ao lado dela, Sebastian. Deveríamos ser nós dois agora. Eu deveria estar vivendo isso com você, não ela.Ele estava extremamente impaciente, passando as mãos pelo cabelo perfeitamente liso. – Eu sei disso. – Os olhos levemente puxados a encararam com severidade. Ele sentia dor, e não podia explicar o porque. Aquele sentimento que parecia ter sido superado voltou com toda a brutalidade, pronto para soca-lo um milhão de vezes no mesmo lugar. – Eu não teria me casado se soubesse que... – Que o que? – A mulher arregalou os olhos. – O que aquela m*****a mulher fez agora? Ela te acusou outra vez? Sebastian a encarou. Toda a severidade dos anos em que passou na cadeia ainda ardiam como brasas em chamas, prontas para incendiar tudo ao redor mais uma vez. O peito ardia em uma dor que jamais seria curada. – Ela era virgem! – Ela é virgem... Sebastian, isso é maravilhoso. Agora você pode se separar da m*****a e ainda vai ser inocentado. Nós podemos ficar ju
Ela abriu os olhos. A dor lancinante fez a pobre Siena Robins desejar ainda estar dormindo. Ela deslizou o corpo contra os lençóis macios da cama e instantaneamente arregalou os olhos. O coração parecia desesperado. Ela levantou o lençol colocado cuidadosamente sobre suas costas e encarou a nudez que estava escondida por baixo das cobertas. Um calafrio violento percorreu o corpo inteiro da Siena Robins. Ela ainda sentia fraqueza e sabia que não deveria demorar para começar a tomar os remédios receitados pelo médico, mas nem mesmo poderia compra-los. Como sair de casa se todo o mundo parecia odiá-la? Ela rastreou todo o quarto, buscando pelo marido. Ele não estava em lugar algum. Siena respirou aliviada, embora não saiba como havia chegado até aquele quarto. Tudo na memória dela parecia ter se apagado completamente. Quem se arriscou para ajuda-la? Alguém havia conseguido abusar dela quando ainda estava inconsciente? Havia tantas dúvidas que precisavam de respostas. Uma senhora invadi
Sebastian Black terminou de assinar os papéis. Ele ainda precisava revisar tantas contas da propriedade, mas não podia se concentrar em nada. Os olhos ainda viajavam para a figura bela e ruiva, deitada em sua cama. O que ela estaria fazendo longe dele? No que estava pensando? Desejava fugir mais uma vez? Não, ele não devia estar pensando nela daquela forma tão inocente. Ele deveria desejar trucidar cada pedaço daquele corpo, e destruir sua alma em um milhão de pedaços, como ela havia feito com ele a tempos atrás. O gosto amargo ainda surgia em sua boca toda vez que fechava os olhos. Os gritos de pavor naquele lugar maldito, e os dias em que passou nas solitárias, temendo que nunca mais saísse de la, ainda o atormentava. Toda vez que ele tentava dormir, sua mente passava a acreditar que ele ainda estava naquele poço escuro e úmido em que havia sido colocado sem nenhuma distração, e tudo que podia fazer foi riscar a parede com as unhas machucadas ou dormir. Dormir... Ele não sabia se c