O que há com você, Pax?

Siena ainda manteve os olhos suplicantes, mas não parecia surtir qualquer efeito. Aquele homem de ferro não transmitia emoção alguma.

Os olhos cor do mar profundo continuavam parados, a encarando. As pessoas ocupadas nem mesmo pareciam tê-lo notado ali, mas de toda forma, Siena sabia que ele nunca a ajudaria.

Mais um golpe, e ela não reagiu. Ela não podia sentir mais nada. Estava completamente imersa na frieza dos olhos daquele homem para perceber qualquer coisa ao redor. Ela não sentia nada, nem mesmo a forma como o maldito agressor colocava um dedo nela. Não havia nada se passando por sua mente além do pensamento repetitivo do qual ela não podia entender: Como um homem seria capaz de permitir que sua esposa fosse usada por outro homem? Sebastian havia sido o primeiro a tocar nela, e as lembranças daquela noite ainda causavam dor ao coração como queimaduras recentes.

Ele ainda não esboçava qualquer reação, e por isso, a jovem interrompeu o contato. Ela não podia ver o momento em que seria violada daquela forma. Ela não podia mais olhar para ele, e por isso fechou os lindos olhos tristes.

Um som estridente fez eco por todo o ambiente, e ainda assim ela não abriu os olhos. Não poderia mesmo que quisesse. As emoções a tinham tirado da estabilidade, e ela sabia que pioraria sua doença terrível. Não havia nada a ser feito, mas talvez, se pudesse se entregar a morte, fosse melhor assim.

Sebastian Black invadiu o ambiente com sua postura impecável de realeza, alcançando a esposa completamente exposta. Os olhos dele pareciam brilhar de ódio, mas o rosto continuava impecável, sem qualquer emoção. Depois de tudo que havia passado por causa dela, não havia restado um único traço de amor no coração, e ele ainda não entendia o motivo para ter impedido aquela atrocidade.

Ele sabia que deixar aquilo acontecer iria contra os próprios princípios, mas como recusar a aqueles homens quando muitos haviam passado pelo mesmo que tentavam fazer a ela? Como fazer alguém entender?

– S-Sr. Black! Nós só... Nós só estávamos...

Mas um olhar cruel o interrompeu. – Poupe-me dos seus argumentos.

– Nós sentimos muito. Achávamos que o Sr não se importaria com ela! – Um deles afirmou. Os olhos cheios de medo e respeito.

Sebastian sabia bem que não eram pessoas ruins, mas o que esperar de pessoas que foram tratadas como animais? Como pedir que se comportem diferente agora?

– Já basta! – Ele revelou. – Não quero explicações.

Havia uma repulsa clara no rosto dele. Mesmo assim, ele ainda a envolveu em seu blazer caro, cobrindo-a de sentir ainda mais vergonha da exposição terrível a que a obrigaram. Um nojo havia estampado o rosto duro, quando ele a pegou no colo, mas ela ainda parecia a mais frágil das mulheres. Foram longos minutos até chegar ao carro, e em cada passo, ele se imaginou a jogando no chão.

A cicatriz no meio do peito não havia chegado ao coração, mas parecia tê-lo ferido de outra maneira, por que a sensação causava-lhe dor. A cabeça daquela m*****a mulher encostada no meio do peito dele... Era como estar em um pesadelo que o envolvia em lembranças que ele odiava recordar.

Pax abraçada a ele, para logo depois a sensação terrível de ser levado para longe de sua casa, da sua vida, e de tudo que amava. Ele nem mesmo pôde proteger... O nó se formou em sua garganta quando lembrou daquela noite horrível. Sebastian sabia que queria machuca-la. Ele só conseguia sentir seu ódio aumentando.

Quando o carro começou a seguir o seu curso, ele olhou o rosto sereno. Era como se ela não tivesse culpa alguma, e ele pensou no quanto ela poderia ser mentirosa, mesmo dormindo. M*****a mulher. M*****A. Ele poderia facilmente tê-la matado se quisesse, mas não... Pax não merecia a morte. O sofrimento deveria ser uma constante na vida dela.

O Sr. Black a encarou com frieza, e ele sabia bem que ela deveria ter uma vida muito diferente do que conhecia. Ela deveria sentir o que ele sentiu, e deveria sofrer o que as mulheres da região também sofreram. As sensações de pânico e terror, o medo, e a sensação de que não havia justiça no mundo deveriam acompanha-la para sempre, em sua vida miserável.

Aquela nunca foi a intenção do Sr. Sebastian Black, mas quando ele descobriu que a mulher mentiu, soube que não deveria tê-la perdoado por tudo. Para que inventar a m*****a história? Por que dar a ele a esperança de um filho? M*****a, m*****a. Mil vezes m*****a.

Quando o carro parou, ele a pegou no colo. Parecia ofensivo que dormissem na mesma cama, e ele jurou a si mesmo que não se descontrolaria mais. Ele não deveria toca-la nunca mais, mas sabia que mentiu para si mesmo.

Ele a jogou na cama, e embora não tenha sido cuidadoso, o peito ardeu como um arrependimento instantâneo. Ela era uma m*****a, mas ainda era linda como um anjo. Ele não conseguia entender como ela havia conseguido mudar tanto a forma como olhava. Ele não podia entender como alguém mudou tão rápido. Ela parecia mais linda, mais jovem, mais inocente... Ela parecia angelical. Uma droga de mulher!

Ele saiu do quarto. A fúria tomava conta de cada músculo. Ele cerrou os punhos, contendo a força, mas a vontade de socar o atingiu, e ele bateu violentamente contra a parede. Como Pax conseguiu destruir uma amizade sincera... Ele nunca a... Eram realmente muito diferentes em idade, e ele jamais seria capaz de fazer o que foi acusado injustamente, mas ainda assim, naquela vida injusta, ele pagou pelos erros que nunca havia cometido. A virgindade dela era uma prova, e se o pai da m*****a mulher ao menos estivesse viva, Sebastian o faria sentir o arrependimento da acusação. Faria a todos. Mas naquele momento já era tarde demais. Todos haviam morrido.

– O que há com você, meu bem? – Uma mulher alta como um gazela perguntou, surgindo no corredor.

– O de sempre. A droga da minha esposa!

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