Com um estalo, Roberto agarrou o pulso dela. — Não vá. Por alguma razão, ele sentiu uma súbita insegurança no coração, um desejo intenso de que ela ficasse. Não importava o quanto ele tivesse sido teimoso antes, naquele momento, parecia uma criança indefesa. A dor podia enlouquecer uma pessoa, mas também podia torná-la vulnerável. Às vezes, o que doía mais do que o corpo era o coração. Jaqueline baixou os olhos e olhou para a mão do homem. Mesmo enquanto ele segurava o pulso dela, suas mãos tremiam. Ele certamente estava com muita dor, isso não era algo que pudesse ser fingido. O rosto dele estava pálido, e gotas de suor escorriam pela testa. — Vou te levar ao hospital agora. — Disse Jaqueline. — Eu dirijo, tudo bem? Sua voz soava como se estivesse tentando acalmá-lo. — Eu não quero ir ao hospital. — Roberto levantou os olhos, tão escuros quanto a noite, sem fundo. — Esse remédio foi receitado pelo médico. Em poucos dias vai melhorar, não preciso ir ao hospital. Jaq
— Eu... Jaqueline percebeu, de repente, que aquele homem realmente sabia como distorcer as palavras, a deixando sem resposta. Em vez de chamá-lo de manipulador, talvez fosse mais justo admitir que ela própria não tinha sido cuidadosa com suas palavras. De fato, ela mesma havia dito: "Se doer, me avise." Se ela não tivesse dito isso, nada disso teria acontecido. O que Jaqueline não esperava, no entanto, era que Roberto reclamasse de dor o tempo todo, como uma criança. — Então aguente firme. Preciso enrolar a gaze, ou o ferimento vai ficar exposto, o que não é seguro. Ela estava sentada atrás dele, enrolando a gaze ao redor do seu corpo, camada por camada. Sua respiração estava tão próxima que parecia envolver os ouvidos dele, ora se afastando, ora se aproximando. Quando suas mãos tocaram novamente o peito de Roberto, seu corpo se inclinou ligeiramente para a frente. Ela precisou usar a mão esquerda para ajustar a gaze que segurava com a direita. Naquele momento, Roberto de r
— Se você me disser isso mais uma vez, eu acredito. — Roberto fixou o olhar nela, seus olhos calmos carregavam uma pitada de expectativa sutil. Jaqueline permaneceu em silêncio por um longo tempo. Uma onda de emoções complexas e indescritíveis a invadiu. Ela deu um sorriso forçado, com um toque de resignação, e respondeu: — É isso mesmo, eu e ele somos apenas amigos. Roberto soltou um longo suspiro, como se estivesse tirando um peso dos ombros. Pelo seu rosto, era evidente que ele não escondia suas emoções. Eles já estavam divorciados, e Jaqueline não tinha motivo para mentir para ele. Mas, ao pensar no fato de que estavam divorciados, ele sentiu como se algo perfurasse seu coração. "De que adianta acreditar agora que ela e George são apenas amigos?" Mesmo que ele tivesse acreditado nela antes, isso não teria mudado o fato de que o divórcio aconteceria. Jaqueline o olhou com desconfiança. Talvez fosse impressão sua, mas ela parecia perceber um misto de alívio e tristeza
Às vezes, a vida é assim: Cheia de surpresas, sempre trazendo acontecimentos que você jamais imaginaria. O relacionamento dela com Roberto era como uma montanha-russa, repleto de altos e baixos, tanto antes como depois do divórcio. Ela não sabia dizer se aquilo era algo que simplesmente não conseguia cortar e resolver, ou se estava de alguma forma escrito no destino que eles permaneceriam entrelaçados daquela maneira. Jaqueline estava deitada nos braços dele, com os pensamentos embaralhados. Levantou a mão mais uma vez e limpou o suor da testa de Roberto. A respiração pesada dele foi se acalmando aos poucos. Roberto abaixou a cabeça, inalando avidamente o cheiro único que vinha da mulher frágil em seus braços. Aquele aroma tão familiar e reconfortante, que antes parecia estar sempre ao alcance, agora havia se tornado um luxo. Uma oportunidade como aquela não se repetiria. Naquele momento, ele parecia decidido a se permitir ir além. Seria a última vez que daria a si mesmo
— Não é o que vocês estão pensando! Este lenço realmente está molhado, mas é de suor. Se não acreditam, podem tocar! Jaqueline deu um passo à frente, estendendo o lenço encharcado para eles. Roberto abaixou a cabeça, massageando a testa dolorida, balançando repetidamente em um gesto de frustração. — Não se aproxime. — Fábio puxou Nádia para trás de si com um movimento rápido. O casal parecia ter visto uma fera selvagem. Com uma expressão séria, Fábio levantou a mão e declarou com firmeza: — Os assuntos pessoais de vocês dois, resolvam entre vocês. Não precisam nos contar. Nós vamos sair agora. — Não é isso! Nós realmente não fizemos nada! — Jaqueline tentou se explicar, ansiosa, enquanto dava mais um passo à frente. — Toquem e verão! É água, não tem nada pegajoso! Se ainda duvidam, olhem as calças do Roberto. Ele ainda está vestido, não tirou nada! Roberto parou por um instante. Ele queria desaparecer naquele momento, encontrar um buraco onde pudesse enfiar a cabeça. Nã
Fábio recuou a mão, constrangido e, ao avistar Jaqueline ao longe, esboçou um sorriso forçado, se afastando de Nádia. Jaqueline se aproximou e disse: — Presidente Fábio, Sra. Nádia, vocês vieram. Nádia franziu a testa, colocando a xícara de café sobre a mesa: — Que história é essa de Presidente Fábio e Sra. Nádia? Só porque não nos vimos por alguns dias, você já não nos reconhece mais? Jaqueline hesitou por um momento antes de responder: — Eu e Roberto nos divorciamos, então... Ao ouvir a palavra "divórcio", Fábio e Nádia trocaram olhares. Não havia muito espanto em suas expressões, como se já soubessem de antemão. — Já fiquei sabendo disso pela sua avó. — Comentou Nádia com indiferença. — Mas, mesmo divorciada, você continua chamando a Dona Catarina de avó. Por que, quando se trata de nós, a coisa muda? Está sendo parcial, é isso? — Ah? Eu... — Jaqueline ficou atônita. Vendo que Nádia parecia irritada, tentou se justificar apressadamente. — Não foi isso, eu não quis
— Eu e o Roberto, de fato, nos separamos. Não moro mais aqui. Hoje só vim buscar minhas coisas e, de passagem, ver como ele está. — Explicou Jaqueline. Nádia ergueu uma sobrancelha. — É mesmo? Veio "de passagem" ver ele e, de quebra, deixou a porta aberta para algo mais... Íntimo com ele? O rosto de Jaqueline ficou vermelho. — Sogro, sogra realmente não é o que parece. Eu... — Chega, não precisa explicar. — Nádia a interrompeu, ríspida. — Seja como for, o que vimos foi vocês dois bem próximos. Já que não conseguem se largar, por que se divorciaram? — Eu... O tom de Nádia era levemente agressivo, deixando Jaqueline sem saber como responder de forma pacífica. — Por que ficou sem palavras? Ou será que gosta de adrenalina? Depois do divórcio, está livre para se divertir fora, enquanto ainda brinca com o Roberto? A entonação de Nádia carregava sarcasmo e ironia. Jaqueline se sentiu desconfortável. Franziu levemente a testa, se esforçando para manter a calma e a educação.
Jaqueline cerrou os punhos. — Eu não tenho a intenção de destruir a relação entre você e seu filho. Por que eu faria isso? Não sei o que aconteceu com você hoje, se está de mau humor ou se alguém te ofendeu, mas eu não fiz nada de errado, e acho que você não deveria falar comigo com essa atitude.— Então quer dizer que a culpa é minha? — Nádia se levantou e, com passos firmes em seus saltos altos, se aproximou de Jaqueline. Nádia já era um pouco mais alta que Jaqueline e, com os saltos de dez centímetros, parecia muito mais imponente. De cima para baixo, olhou friamente para ela e declarou: — Agora que está divorciada, acha que pode me desrespeitar como sua ex-sogra? É isso? Jaqueline mordeu os lábios, ergueu a cabeça e devolveu o olhar com firmeza, sem recuar: — Eu nunca pensei assim. Peço que fale comigo com respeito. — Com respeito? — Nádia deu uma risada irônica, como se estivesse incrédula. — Você está me ensinando como devo falar? Jaqueline, parece que você foi muito