Fraqueza.
Por Marina Allen.
Normalmente se espera que a certa idade saibamos o quanto está ruim o suficiente para abandonarmos o barco, mas e quando nos damos conta disso depois de naufragados?
O que nos resta são dois caminhos, pedir ajuda ou nadar sozinho até a costa.
A escolha da maioria sempre será pedir ajuda, porém se adicionarmos o medo e a frustração a essa equação, escolhemos nadar à costa sozinhos.
Eu sou Marina Allen, secretária pessoal de um dos mais cobiçados homem de negócios, Aaron D'Angelo.
Meu chefe, como de se esperar, é o pior que um classe alta pode ser. Com sua beleza e inteligência de berço, ele espera que todos os demais se comportem sem falhas e com ele não há segundas chances.
Nunca imaginei que acabaria presa a ele por tanto tempo, pois tão logo entrei na empresa, cometi tantos erros de uma vez só no primeiro dia, que mal pude olhá-lo nos olhos por um ano todo.
Bem, talvez eu tenha sido a exceção — lembro-me de ter pensado. Hoje imploro aos céus que ele me demita.
Há um segredo e um erro do qual não posso permitir que ele saiba e também não posso me arriscar pedindo demissão.
Então devo lhes dizer que esta história se inicia aqui...
No trabalho, às sete da manhã de segunda-feira.
— Srta. Allen... — Sua voz chamou-me pelo interfone ao lado de meu cotovelo apoiado na escrivaninha.
— Sim senhor, em que sou útil? — Exibi a mesma prontidão de sempre, mas devo dizê-los, é apenas na frente do chefe.
— Traga os informes sobre o progresso do projeto Aurora. — Ordenou secamente.
As palavrinhas mágicas eram um mundo estranho para ele, não existiam "por favor" ou "obrigada".
— Sim, senhor.
Deixei o quê fazia antes de lado, agarrei todas as pastas sobre minha mesa e repassei-as antes de levantar-me para entregá-las a ele.
Bati fracamente na porta, apenas por costume.
— Entre. — A voz fria e desconfortável de sempre.
— Senhor, aqui estão. — Deixei-as sobre o espaço vazio no canto esquerdo da mesa de meu chefe. — Ordenadas dos dias mais recentes para os mais antigos.
— Pode se retirar.
— Descerei para pegar as correspondências, o senhor gostaria de mais alguma coisa? — Perguntei por cortesia.
— Traga dois cafés negros sem açúcar e mande Amélia Moore subir. — O incômodo em dizer o nome da mulher era nítido, para mim que já completava dois anos trabalhando ao seu lado.
Como eu lhes disse antes, os classe alta costumam a conseguir tudo o que quer, mas e quando lhes dizem "não"?
— Trarei uma torta para o café da manhã com a Sra. Moore, ela ficará mais à vontade.
— Como queira. — Respondeu-me como se pouco importasse.
Já estava de saída da sala, dois passos e minhas pernas falham. Tudo o quê não podia acontecer na frente dele, naquele momento aconteceu.
— Marina. — Mesmo com meus sentidos atordoados ainda pude ouvi-lo dizer meu nome. — Você... — Sua boca e seus olhos focados em mim daquela forma parecia mentira ou imaginação.
— Eu... e-eu... — As palavras não saíam e as minhas forças também não voltavam.
Senti os braços dele me pegarem.
— Se-senhor, me coloque... — Antes que pudesse dizer algo ele me olhou tão de perto que perdi a fala novamente.
Colocou-me cuidadosamente no sofá do escritório, e encarou-me antes de dizer:
— Srta. Allen, está doente? — As palavras dele foram em parte mais acusatórias do quê uma pergunta em si.
Sim, ficar doente era proibido. Assim como pedir folga pela manhã ou chegar um minuto que fosse mais tarde. A regra geral era, estar vinte e quatro horas disponível para Aaron D'Angelo.
— Não, não eu... — Tinha de inventar uma explicação plausível e rápida. — Não tomei o café da manhã ainda, só isso. — Sorri fraco.
Sem lhe dar chance de me questionar, tão rápido senti que podia firmar minhas pernas, pedi licença e saí do escritório.
Eu sabia o que tinha causado a fraqueza momentânea, e com certeza não estava doente, mas também não era capaz de admitir a mim mesma onde tinha chegado.
— Três meses em... — Resmunguei para mim mesma, acariciando a barriga.
Logo seria tão óbvio.
Como esconderia?
Por Marina Allen.Em casa, às três da madrugada. Quatro semanas depois.As coisas parecem estar tranquilas, e de repente meu sono é perturbado. Me movo na cama e tento me aconchegar na almofada que para nada me ajuda com a barriga incômoda.— Esse menino não deixa as coisas fáceis. — Digo afagando o ventre assim que o sinto se mover.Abro a geladeira e penso que o bolo de cenoura com calda de chocolate cairá bem. Sento-me à mesa, e não demora nem cinco minutos para quê eu o devore todo.— Céus, não é suficiente. — Olho horrorizada para o prato vazio à minha frente.Nunca fui de ter muito apetite e em parte culpa de minha mãe, que me traumatizou com sua falta de atenção à comida.Lembro-me de muitos perus de natal em cinzas, sopas secas e feijão queimado. Pelo menos o arroz parecia ser mais fácil para ela, mas isso não a impedia de trocar o sal pelo açú
Por Marina Allen.As cinco e vinte da mesma madrugada. No corredor de meu condomínio com meu chefe.— Você quer o quê? — Pouco me importou as formalidades.Se ele estivesse brincando, me usando ou qualquer coisa do tipo, não sairia barato, mas meu chefe nunca foi do tipo que brinca.Talvez naquele momento, saber que ele não brincava era o que mais me assustava.— Preciso que finjamos um relacionamento até que a Sra. Moore feche a venda da casa. — E esse pedido me fez engasgar.Ele já tinha um plano, ele até mesmo já havia dito à ela sobre "nós", um nós imaginário.— Sr. D'Angelo, não está indo longe demais?Ele deu dois passos à frente, encurtando a distância entre nós.— Como minha secretária, você mais do que ninguém deveria saber que aquela propriedade é a única coisa nos impedindo de colocar a construção do Resort Au
Por Aaron D'AngeloNunca antes uma viagem a negócios pareceu tão complicada. Ter de usar os métodos que eu precisava não era a coisa mais legal do mundo, mas acreditava que minha secretária não dificultaria.Isso até que eu perguntei e lhe disse minhas artimanhas para conseguir a compra do terreno de Amélia Moore.Houve relutância, uma viagem de carro difícil e nunca imaginei que chegaria até a senhora com minha "esposa" carregando-a em meus braços.Nos últimos meses a Srta. Allen andava estranha, os estilos que ela vestia antes e as roupas dos últimos meses tinham discrepâncias assustadoras, porém, que não poderiam servir de prova contra a pessoa dela.Agora cá estou eu, com o corpo de Marina Allen desacordado à minha frente.— Como pode estar tão doente? Me negou tantas da vezes em quê perguntei, só para acabar desacordada em meus braços... — Dizia para mim mesmo baixinho, estava
Por Aaron D'AngeloJá passavam das oito da noite. A temperatura de minha secretária havia baixado consideravelmente e a Sra. Moore fazia questão de estar sempre pendente dela.Olhei para a janela com a visão da lua lá fora, o clima no ar estava fresco e minha mente nebulosa.Os pensamentos um atrás outro me atormentando um pouco mais a cada minuto.O quê ela tem haver comigo? Ela é livre em seu tempo fora do trabalho.Mas quanto tempo ainda temos?Me interrogava sem sossego.Marina parecia ter apenas alguns meses antes de dar à luz.Como acharei outra secretária? Não quero dores de cabeça de novo, odeio treiná-las.Tínhamos uma viagem importante no fim de semana, a empresa estava na fase final de um projeto que viajamos para assinar a mais ou menos cinco meses.— Céus, aquele cliente me fez perder a cabeça... — Di
Por Marina Allen.Abrir os olhos nunca foi tão angustiante, eu não tinha ideia do quê havia acontecido. De pronto o foco de minha vista era ele, meu chefe, Aaron D'Angelo, tão próximo a mim.Estava tonta e confusa, demorou um tempo até que me achasse na situação. Tentei me comunicar, mas ele me interrompeu em todas as vezes.Percebo então a conversa entre ele e a Sra. Moore, procurando entender o que era dito me foquei e de repente eu soube ser eu mesma o assunto em discussão."Não chamar a atenção", era meu principal método de defesa contra a curiosidade alheia, mas naquele momento não estava funcionando.As sensações e o controle de meu corpo voltavam aos poucos, e eu subitamente me dei conta de que me encontrava em seu colo.Droga!Pensei.Isso até a Sra. Moore perguntar se eu tinha febre, pois do nada recebi um beijo
Por Marina Allen.Iluminado pelo abajur oposto a mim, podia vê-lo mais ou menos. Desfez o nó da gravata, retirou os sapatos e as abotoaduras.— O quê isso significa? — Questionei-o ao vê-lo levantar parte da coberta na cama.— Estou indo dormir.— Aqui?— Sim. Onde mais seria? — Ele continuou se sentando na cama e em seguida enfiando-se em baixo das cobertas.— Mas eu estou aqui! — Disse esticando meus braços impedindo-o de se ajeitar.— Nesta cama cabem dois. — Ele me fez encolher os braços. — Além do mais, há uma senhora lá fora que acredita em que somos marido e mulher.— Mas senhor...A cara furiosa de meu chefe por eu ter usado o " Senhor" de novo foi o suficiente para me calar.— É Aaron. A partir de agora use meu nome Marina. — Ele disse e desligou o abajur.
Por Aaron D'AngeloEra no mínimo estranho dividir a cama com alguém, mas com Marina foi mais confortável do que eu pensava.Quando acordamos pela manhã, fui o primeiro e por alguns minutos não pude evitar acariciar sua cabeça.Vê-la dormir ali, tão serena e calma, não parecia a mesma secretária que eu tinha no escritório.Em certo momento ela já não dormia mais tão pesado e achei melhor parar de mexer com o cabelo dela.Seus olhos se abriam aos pouquinhos e ela me surpreendeu com um " bom dia" acompanhado de um meigo sorriso, mas logo voltou a si e se afastou.Desci da cama e me espreguicei de pé.De repente Marina tampou a boca com a mão e se curvou pra frente.Preocupado atravessei a cama e me coloquei ao seu lado.— O quê foi?— Nada, apenas enjoos matinais. — Ela sorriu amarga.
Por Marina Allen.Nunca consegui dormir por tanto tempo, e tão bem, em toda a minha vida. No entanto, naquele dia foi diferente e acordei pela tarde abraçada meu chefe que me encarava sem expressão alguma em seu rosto.— Descansou bem?Eu não conseguia acreditar na pergunta dele.Saltei da cama, não devia estar tão próximo de meu chefe, não devia esquecer de me proteger dele.— Sim. Obrigada. — Respondi.Abri minha mala no canto do quarto, retirei algumas peças de roupas para tomar um banho e percebi uma sacola com peças minhas dentro.— Eu... eu estava vestindo essas daqui ontem, agora me lembro.— A Sra. Moore disse que era melhor dar um banho em você para abaixar a febre, por isso não está usando as mesmas. — Ele respondeu saindo da cama.— Pobre senhora, como ela conseguiu me dar banho s