CLARAMinha mãe se despediu dos seus colegas de trabalho e assim que eles saíram, ela fechou a porta, dando um longo suspiro e logo me encarou séria.- Não me olha assim! - Cruzei os braços - Eu só sai! - Fui para a cozinha e ela me seguiu.- Sem a minha permissão - Falou me olhando. Sua expressão ainda era séria, como quando acordava com problemas no batalhão.- A senhora age como se todos quisessem me matar - Falei revirando os olhos e abri a geladeira, tirando uma garrafa de água.Peguei um copo no armário e coloquei água, bebendo alguns goles logo em seguida.- Clara, você sabe que sim! - Ela falou cansada e sentou em um dos bancos perto do balcão.Coloquei a garrafa e o copo sobre a pia e virei para encara-lá.- Eu não tenho culpa das suas escolhas ou ações, mãe - Falei olhando para ela.- Prender o chefe de uma facção criminosa não foi uma escolha, foi um dever. - Ela disse prendendo os seus longos cabelos negros em um rabo de cavalo.Assenti.- Ser policial também foi um dever?
NEGUINHO- Porra, Martinha! - Reclamei entre o beijo, enquanto afastava as mãos dela do zíper da minha calça - Não quero fazer isso com você agora, quero que seja um bagulho maneiro. Especial, tendeu. - Falei sério.Segurei as mãos dela e ela fechou a cara na hora. Foguenta do caralho.- Quando que você vai falar com o meu pai? - Perguntou séria, colocando as mãos na cintura.Só de pensar em ter que ir falar com o Talibã já bate um nervoso, pô. Papo de frio na espinha, dá até medo. - Pô cara, tu sabe que é complicado - Cocei a cabeça e ela me olhou debochada.- O seu medo que é complicado, né amor? - Riu sem humor - Agora pra tu tá se exibindo com fuzil em esquina e as piranha tudo jogando pra você, a coragem é nível hard - Fez gestos com a mão.- Quem falou essa porra pra tu, cara? Estou nem vendo isso, tu sabe que eu trabalho na tua porta todo dia. Quem me viu mentiu - Falei, e a raiva já estava ficando presente. - Eu não quero saber, Dário. Ou você fala com o meu pai, ou acabamos
CLARISSAA Clara foi fruto de um amor de Carnaval. Na época eu tinha apenas dezessete anos e havia viajado com a minha irmã mais velha para o curtir o carnaval do Rio.Nos primeiros dias, ficamos apenas pelos arredores do hotel pegando alguns bloquinhos de rua e fazendo novas amizades. E foi por meio dessas que eu conheci o tão famoso baile de favela.Faltava apenas algumas semanas para irmos embora quando minha irmã, por influência de nossos novos amigos decidiu ir curtir um baile de carnaval em uma comunidade próxima ao hotel.Eu tinha achado um máximo, porque não era famliar para mim. No nordeste não existia essas coisas e eu amava uma novidade.No dia seguinte, saimos apenas para comprarmos novas fantasias e logo voltamos para o hotel. Precisávamos descansar, pois a noite prometia.E prometia mesmo.Acordamos por volta de umas dez horas da noite e fomos nos arrumar. Saimos do hotel à meia-noite e pegamos um táxi até a entrada da comunidade, onde os nossos amigos nos esperavam para
2 semanas depois.RAEL- Papai, quando vamos ver a Clara de novo? Tô com saudades dela - Falou brincando com a pulseirinha, enquanto eu amarrava seus longos cabelos.Fazia exatamente duas semanas depois do aniversário da minha princesa, e depois dessa nunca mais vi a Clara. Ela me deu um perdido bonito e eu não tava nem entendendo qual era dessa.Só queria ver ela de novo, assim como minha filha também.- Não sei, gatinha. Mas espero que logo - Levantei da cama e coloquei o pente sobre a cômoda - Vai lá buscar tua lancheira, quem vai te deixar hoje na escola é o Sorriso - Falei pegando o meu boné e ela assentiu correndo até a cozinha.Abri o guarda-roupa e peguei uma camisa branca, jogando a mesma no ombro.Fechei a janela do quarto e saí indo pra cozinha.- Vai querer tomar café aqui ou na escola? - Perguntei abrindo a geladeira.- Aqui - Ela disse sentando na cadeira.Peguei umas laranjas e as passei no espremedor. Tirei as sementes e passei o suco na peneira, colocando açúcar e col
CLARADuas semanas se passaram depois do aniversário da Rita, e eu não pude mais sair de casa. Estava ficando tudo perigoso demais e segundo a minha mãe, era mais seguro pra mim não sair mais de casa.Fiquei chateada demais com ela, eu não tinha nada a ver com tudo isso. Eu só queria ver o Rael e Rita mais uma vez.- Me leva lá, Lis - Pedi mais uma vez enquanto a Lis abria a geladeira e pegava uma garrafa de água.- Não vou te levar a lugar nenhum, cara. Sua mãe te proibiu de sair, esqueceu? E isso é pro seu bem - Falou pegando um copo no armário.Bufei vendo ela colocar a água no copo e beber. Revirei os olhos. Deixei ela sozinha na cozinha e fui para a sala pegar o meu celular. Havia duas ligações perdidas da minha mãe. Desde cedo que eu estava na casa da Lis e ela sabia disso, mas insistia em me ligar.Retornei a ligação e não demorou muito para ela atender.- Oi mãe - Falei enquanto sentava no sofá em posição de índio. - Ainda está na casa da Lis? - Ela perguntou e um pouco afl
RAELPô, cara depois da conversa com o Talibã eu meti o pé. Desci o morro a milhão, só na intenção de ver a Clara outra vez.Assim que cheguei no asfalto fui logo enrolando a esquina da rua 20. E assim que dobrei vi uma movimentação estranha lá. Apertei mais os meus olhos e vi a Clara ser arrastada pelos cabelos até o meio da rua. Meu coração ficou pequeno, só de pensar na possibilidade de perder ela e só aí eu tive alguma reação para intervir no que estava prestes a acontecer.Saquei a pistola e atirei várias e várias vezes contra o fdp que estava com a Clara acertando bem em cheio no braço dele e também contra o carro, e logo vi o homem cair no chão ao lado da Clara.O carro que estava mais a frente saiu cantando pneu e eu olhei ao redor, guardando a arma e indo até a Clara.Puxei ela para um abraço e foi aí que ela chorou pra valer. Papo de molhar minha camisa toda.- Calma, eu tô aqui. Não vão te fazer nenhum mal - Eu disse a apertando em meus braços.Depois de alguns minutos de
TALIBÃTerminei todas as pendências que eu tinha pra resolver na boca e fui saindo lá pra fora ajeitando o fuzil na bandoleira. - Eu quero é que se foda, o bagulho é ficar bem! Meu pau não tem contrato assinado com ninguém - O Neguinho cantava enquanto fazia uma dancinha escrota pra caralho, e os outros davam risada da cara de viado dele.- Isso não é o que a minha filha diz - Falei e ele parou na hora me encarando. Moleque de nego, ficou branco pô.Tava sabendo desse rolo deles a maior cota, a Martinha fez questão de me contar, e eu tava só esperando o frouxo vir me pedir um bagulho sério.De início eu fiquei bolado, mas depois fui aceitando. Se não ia ser papo de se tu não deixa, faz escondido. Então é melhor sabendo, do quê eu ser o último a saber.- Que isso, chefe... - Começou e eu cortei logo assim que vi um carro desconhecido subir o morro.- Depois quero ter uma conversa com você - Meti um tapão nas costas dele que engoliu o seco e me saí, ouvindo os meus crias darem risada e
TALIBÃ- Eu preciso te contar uma coisa - Ela sussurrou entre o beijo e encerrou o mesmo com alguns selinhos, me olhando nos olhos - Me promete que não vai ficar com raiva, e que vai tentar entender o meu lado? - Pediu e eu assenti.Ela segurou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos, andando a minha frente e eu segui ela.O Rael estava a nossa frente com a Clara, seguiu até a porta e assim ele abriu a mesma entrando na casa, entramos logo em seguida.Sentei no sofá e a Clarissa sentou ao meu lado, ainda segurando a minha mão. Enquanto o Rael sentou no outro sofá com a Clara no colo.Era muito grude esses dois.Ela começou a falar e eu tava perdidão. Alheio mesmo, nem ligando pro que estava acontecendo ao meu redor. Única coisa que tava martelando na minha cabeça era isso, eu não tava entendendo o motivo do Rael e da Clara estarem junto dela, e nem de onde se conheciam até ela chegar em um ponto que me chamou a atenção.- Um mês depois da minha volta pra casa, eu descobri que estava