Mordi o lábio, tentando organizar meus pensamentos. Como eu poderia expressar o que sentia de forma clara, sem me perder nas palavras?— O que mais? — Ryuu me incentivou, percebendo minha hesitação.— Você perguntou ao Mateo sobre minha mãe e Suniza?A expressão de Ryuu endureceu de imediato, e eu me senti compelida a continuar:— Sei que nada vai mudar o passado, mas… ela era minha mãe. E eu já fui enganada demais sobre isso. Eu mereço saber a verdade.Esse assunto me corroía por dentro. Após descobrir o engano do meu pai, eu precisava entender tudo o que pudesse sobre minha mãe. A imagem dela era um pilar para mim, e a ideia de mais mentiras manchando essa memória me doía profundamente.— Perguntei, sim. — Ele suspirou, pesando as palavras. — Sua mãe sabia do caso do seu pai. Enquanto acontecia. Suniza a provocava, mandando bilhetes e fazendo ligações. Não me surpreende, ela sempre foi egoísta e mesquinha. Se não tivesse engravidado de Fukui, meu pai nunca teria se casado com ela.M
&Ryuu&Eu estava acordado, deitado na cama com o braço dobrado atrás da cabeça, esperando Beatrice voltar. O quarto estava mergulhado no silêncio, exceto pelos meus pensamentos. Não ouvi quando ela saiu, mas notei sua ausência logo que acordei. Tenho o sono leve, algo que a vida me ensinou a ter, então qualquer movimento dela não passa despercebido. Eu só não sabia para onde ela tinha ido, e, honestamente, esperava que não tivesse fugido da mansão de novo.Não vou atrás dela desta vez, não quando sei que no Vincenzo ela está segura. Mas, droga, mexeria com meu orgulho se ela tivesse me deixado de novo. Se minha mulher precisasse escapar de mim duas vezes no meio da noite, o problema seria comigo, e isso é inaceitável. Uma vez já foi humilhante o bastante.Felizmente, ela não demorou. Eu mal tinha começado a me perder em pensamentos quando ouvi o leve clique da porta. Os passos suaves no assoalho confirmaram sua chegada. Beatrice atravessou o quarto até o lado da cama, e senti o colchã
— Fukui, querido — Suniza me recebeu com um beijo firme na bochecha e um abraço que quase sufocou o ar dos meus pulmões. Por cima do ombro dele, vi seus olhos pousarem sobre mim com uma careta sutil ao notar meu jeans e camiseta. Ela, claro, estava impecável em um vestido de gola alta, sempre altiva e exagerada. — Vejo que trouxe alguém… inesperado.Seu sorriso sarcástico deixava claro que Fukui não havia mencionado todos os detalhes do encontro. Se tivesse, com certeza eu não estaria aqui agora.Fukui se afastou da mãe, suspirando pesadamente enquanto a segurava pelos ombros.— Você conhece Beatrice, mãe. Beatrice Carbone Morunaga. — O nome soou como uma formalidade pesada, como se Fukui tentasse lembrar Suniza que eu, queira ela ou não, era a esposa de Ryuu.— Ah, claro… — Suniza cantarolou, com um toque de desdém na voz, permitindo-me entrar na suíte com uma expressão mal disfarçada de repulsa. Olhei ao redor. Eu esperava um quarto modesto, talvez com um banheiro anexo. Quanta ing
— Como foi? — A voz de Ryuu me pegou de surpresa assim que pisei no foyer.Pisquei algumas vezes, cansada demais para processar sua presença tão cedo. Esperava encontrá-lo mergulhado no trabalho, não aqui, me esperando. A conversa com Suniza, apesar de curta, havia drenado minhas energias. E agora, Ryuu estava diante de mim, seus olhos avaliando cada mínimo detalhe.Ele parecia calmo, mas havia algo tenso em seu tom, uma rigidez em seus ombros que me fez perceber que ele sabia exatamente onde eu estivera. Talvez Fukui tivesse contado. — Foi tão… produtivo quanto você provavelmente imaginava — respondi, cautelosa. Sabia que ele não queria que eu me aproximasse de Suniza, e desobedeci. Uma parte de mim já se preparava para o sermão que, há algumas semanas, seria inevitável.Ryuu avançou até ficar bem diante de mim.— Está satisfeita? — A pergunta veio carregada de algo mais. Seu olhar não se desviava.Fukui passou por nós em silêncio, com o rosto fechado, caminhando direto para a cozin
— É assim que você realmente se sente? — Ryuu perguntou em um sussurro, enquanto afastava delicadamente meu cabelo da testa, ajeitando-o atrás da orelha. Seu rosto se inclinou em minha direção, e os cantos de seus lábios curvados para baixo mostravam uma preocupação genuína.— Morei com eles por três anos. Eu estava mais próxima deles do que do meu próprio pai naquele tempo. Mas, depois do nosso casamento, eles sumiram. Nenhuma despedida, nenhuma palavra. Só Dario apareceu, e nós dois sabemos o que ele realmente queria. — Meu tom amargo carregava mais mágoa do que eu gostaria de admitir.— Por que não ligou para eles, então? Se sentia tanta falta, por que não fez isso? — A pergunta de Ryuu era simples, mas direta.Dei de ombros, sentindo a tolice da minha resposta antes mesmo de pronunciá-la.— Eu estava magoada. Me sentia mesquinha, como se fosse obrigação deles me procurar. Depois percebi o quão infantil isso era e tentei falar com Dario… mas ele ignorou todas as minhas mensagens.R
Senti um toque suave no meu braço. Era Ryuu, sacudindo-me levemente para acordar, quando chegamos à casa da família Carbone. Pisquei algumas vezes, os olhos ainda embaçados de sono, enquanto ele me ajudava a sair do carro. Apertei sua mão, tentando suprimir os bocejos. Meu foco estava disperso, mas, mesmo assim, a familiaridade daquela casa de estilo italiano diante de mim trouxe uma onda de nostalgia. O telhado baixo, as janelas amplas, tudo ainda do jeito que eu lembrava. Nada havia mudado.As plantas no pátio continuavam desgastadas pelo tempo, a cesta pendurada sob a janela da frente ainda estava quebrada, e a velha fonte de pedra, que nunca funcionou enquanto vivi aqui, continuava tão inoperante quanto antes.— Morunaga — disse Bion, com sua voz grave, assim que atravessamos a porta atrás de Loretta. Ele nos esperava com Anton e Lex, os braços cruzados e a expressão tensa. Só Dario estava ausente.— Rapazes, ponham a mesa. Vou preparar o jantar e fazer algumas bebidas. Café, Ryuu
— É lamentável que tenha demorado tanto para alguém assim pagar por seus crimes — disse Ryuu, sua voz firme, mas serena. — Você tem trabalhado nesse ramo por décadas. Seria cruel da minha parte tomar isso de você por causa dos erros de seu irmão. Não sou um monstro.O leve sorriso de Loretta revelou que ela apreciava a gentileza nas palavras, mas eu não deixei de notar o olhar de Ryuu se desviando discretamente para Bion. A última frase parecia ter sido dita mais para ele.Depois de terminarmos os drinques, Loretta nos guiou apressadamente até a sala de jantar. A mesa estava posta com um capricho incomum. Ela até acendeu velas como peça central.— Estamos comemorando alguma coisa? — perguntei, enquanto observava a disposição cuidadosa das melhores louças e taças, além da garrafa de champanhe ainda fechada no centro.— Você está aqui na Itália conosco. Não é motivo suficiente para comemorar? — Bion falou da cabeceira da mesa, sua voz baixa, porém carregada de significado. Ele permanece
A manhã começou como muitas antes do casamento. Eu e tia Loretta estávamos sentadas no jardim, dividindo um bule de chá e saboreando os cornettos caseiros que ela sempre preparava. Cada mordida doce parecia me reconectar com a Itália, mesmo que a viagem fosse curta.Ryuu ainda estava no quarto, ao telefone com os irmãos, garantindo que tudo estivesse em ordem em Los Angeles. Não havíamos sequer completado vinte e quatro horas fora, mas ele não podia se desconectar completamente. Se essa era a condição para a viagem, eu não me importava — desde que ele estivesse aqui.— Me diga, honestamente, como estão as coisas desde o... incidente? — perguntou tia Loretta, pousando o garfo e me lançando um olhar preocupado.— Incidente? — Fiz uma pausa, mexendo distraída no meu chá. — A invasão — ela esclareceu, com uma expressão carregada de irritação. — Dario só nos avisou pouco antes de Ryuu aparecer. Não contou muitos detalhes, mas sei que está ajudando Ryuu a encontrar os responsáveis. Eu o re