— Merda! — soltei em italiano, saltando da cadeira enquanto a dor irradiava pelas minhas mãos. — Inferno, isso está fervendo!— Porra! Você está bem? — Lex praticamente pulou por cima de Anton, que ainda estava no chão, para se aproximar de mim.— O que diabos aconteceu aqui? — A voz de Ryuu soou repentinamente do outro lado do jardim. Em um piscar de olhos, ele estava ao meu lado, pegando um pano úmido para examinar minhas mãos, agora vermelhas. Seus olhos, normalmente calmos, estavam arregalados de preocupação. — Está doendo muito? — Ele perguntou, lançando um olhar fulminante para os primos, como se estivesse pronto para culpá-los pela minha situação. — Você precisa lavar isso com água fria.— Avisei que isso ia acontecer, idiotas! — Tia Loretta ralhou, enquanto juntava os pedaços da mesa derrubada e olhava para seus filhos como se fossem crianças travessas.— Sério, não foi nada — tentei minimizar, mesmo enquanto Ryuu me puxava em direção à cozinha, ignorando meu protesto. — Foi m
O café que Ryuu havia escolhido era pequeno, tranquilo, quase escondido entre as pedras antigas de uma rua estreita. Àquela hora do dia, os cafés costumavam estar lotados, com pessoas desfrutando de longos almoços ao sol. Mas aquele lugar tinha uma paz diferente, uma privacidade que, por um momento, me fez suspirar aliviada. Era claro que ele escolheu aquele ambiente para que pudéssemos escapar dos olhares curiosos, e eu silenciosamente agradeci.Seguimos para uma pequena cabine de couro desgastado no fundo do café, onde ele me deixou de costas para a sala enquanto mantinha uma visão perfeita de tudo ao redor. Notei como seus olhos varriam o ambiente a cada minuto, sempre vigilantes, como se estivessem à espera de algo. O silêncio que nos acompanhava desde que saímos da casa da minha tia parecia mais pesado ali, e eu não sabia como quebrá-lo. Ainda me perguntava por que ele me chamou para almoçar, porque esse café.O garçom logo trouxe nossas bebidas. Ryuu pediu um expresso, enquanto
A expressão de Ryuu mudou, seus olhos se arregalaram levemente, como se uma compreensão tardia finalmente o alcançasse. — Eu não tinha percebido o quanto o ataque te afetou — ele murmurou, quase como se estivesse falando consigo mesmo.Dei de ombros, sem saber o que mais poderia dizer. As palavras pareciam pequenas diante da enormidade do que eu sentia.Ryuu então estendeu a mão, pegando a minha com uma suavidade que contrastava com o peso da conversa. Ele virou minha palma na dele, os dedos traçando lentamente as linhas que ele parecia querer decorar. Seu toque era firme, mas o olhar fixo em mim me fez engolir em seco. Sentia minha boca seca, enquanto meu coração batia forte contra o peito.— Não é estúpido querer confiar nas pessoas. Não é estúpido querer confiar em mim — disse ele, com uma vulnerabilidade que me surpreendeu.Eu desviei o olhar, soltando um suspiro frustrado.— Talvez não seja estúpido, mas foi ingênuo. Eu esperei demais de você.— Não, você não foi ingênua — sua v
&Ryuu& Eu a observei se afastar, acomodando-se na cama com aquele jeito tranquilo que sempre me deixava à deriva. Eu não queria dormir, ainda não. Meus olhos ardiam de cansaço, mas minha mente estava em alerta. Queria... mais. O toque dela, a preocupação que sempre via em seus olhos. O silêncio entre nós estava me matando, sufocante. Ela podia estar ali, ao meu lado, mas parecia tão distante que doía. O pior é que eu sabia que a culpa era minha. Estive ocupando minha mente com cada palavra que trocamos nas últimas semanas. Cada gesto. Beatrice se importava, era óbvio. Ela queria que eu fizesse parte da vida dela, que eu fosse aceito por sua família. Mas será que o que tínhamos podia mesmo ser chamado de "relacionamento"? Eu já tive muitas mulheres, mas nada parecido com isso. Nunca me importei com o que elas sentiam, nunca quis saber. Mas Beatrice... ela mexia com algo que eu nem sabia que existia em mim.Era um orgulho estranho, quase incômodo, que eu sentia ao pensar nisso. Como s
Suspirei profundamente, fitando Bion com uma expressão carregada antes de me dirigir à porta. Eu precisava descansar; caso contrário, estaria exausta na manhã seguinte. No entanto, ao dar o primeiro passo para sair, a voz dele me deteve.— Conheci Mateo quando eu tinha vinte e dois. Ele tinha dezenove. Nós… — Bion fez uma pausa, sua cabeça pendendo como se o peso das palavras fosse demais para carregar. Me virei, o coração acelerando. — Começamos a namorar um ano depois.As peças finalmente se encaixaram. A aversão de Mateo pela nossa família… Não era o rancor entre rivais, mas algo muito mais profundo: um desgosto nascido de um rompimento. Eu jamais teria adivinhado isso. Para alguém como Bion, com sua posição e cercado pelas tradições da nossa cultura, admitir algo assim não devia ser fácil. Me perguntei quantas pessoas sabiam, e logo percebi que deviam ser poucas. O fato de que ele estava confiando essa informação a mim agora… me deixou surpresa.— Ficamos juntos por dois anos — el
— Você está bem? — Anton me segurou pelos ombros assim que entrei na cozinha, forçando-me a parar. Seus olhos vasculhavam meu rosto, a testa franzida ao notar o inchaço dos meus olhos. — Parece que você estava chorando.Tentei sorrir, mas minha voz rouca me traiu. — Estou bem.Sabia que minha aparência contava uma história diferente. Havia passado a última hora soluçando no meu quarto, com minha tia ao meu lado, murmurando palavras de conforto. Se ela não estivesse ali, provavelmente eu ainda estaria à beira de um ataque de pânico.— Foi só uma manhã… agitada com tia Loretta.Anton não pareceu convencido. Ele estreitou os olhos, me estudando com uma intensidade que me incomodava. Meu sorriso tenso não era suficiente para afastar suas suspeitas.— Bea…— Eu disse que estou bem, Anton! — Minha paciência estava no limite, e a exaustão me fez elevar o tom mais do que pretendia. Ele deu um passo para trás, as mãos cerrando-se em punhos. Vi o músculo de sua mandíbula tremer, um sinal claro
Meia hora depois, eu estava afundada numa poltrona de madeira esculpida, sentindo a almofada de seda felpuda ceder sob minhas costas. Minhas mãos, quase trêmulas, apertavam uma delicada xícara de chá. Os dedos estavam tão firmes em torno da porcelana fina que temi quebrá-la a qualquer momento. Diante de mim, Espósito, silencioso, observava-me do outro lado da mesa. O quarto do hotel, amplo e luxuosamente mobiliado, era digno de um Lorde, mas não me importava. Não conseguia sequer pensar em saborear o chá à minha frente. Tudo que meus olhos enxergavam era a porcelana branca com detalhes dourados, o vapor subindo da bebida e... a aliança prateada em meu dedo.Viajei até aqui sozinha, sem Ryuu, sem meus primos. Precisava desesperadamente de privacidade. Mesmo assim, fui escoltada pelos guardas de minha tia, que agora esperavam do lado de fora. Não permiti que entrassem, apesar dos protestos. Ninguém mais poderia ouvir o que eu estava prestes a revelar.Senti as bochechas molhadas, mas nã
Eu evitava falar com Ryuu desde que voltei da visita a Espósito. Não sabia o que dizer, muito menos como encará-lo sem que o peso do que eu escondia me esmagasse. Contar a ele sobre a possível gravidez? Nem pensar. Não até eu ter certeza… não enquanto ainda rezava para que o teste positivo fosse um engano.Mas era difícil evitar Ryuu, especialmente quando ele estava à minha espera. Sentado entre meus primos na sala da tia Loretta, com uma bebida na mão, ele observava em silêncio, alheio à conversa. Parecia que ele preferia assim, o que era bom, já que seu foco parecia estar totalmente em mim. Sentei-me do outro lado da sala, enrolada em uma poltrona, respondendo às mensagens de Sophia. Eu ainda não havia contado nada a ela sobre a gravidez, e não contaria até ter falado com Ryuu primeiro. Não era algo que se compartilha por telefone, e sabia que, quando o fizesse, haveria muitas lágrimas.— Você está quieta, Beatrice — a voz de Bion cortou o silêncio, calando seus irmãos.Ergui os ol