Quando subi as escadas, passei pela porta entreaberta do quarto de Loretta e parei, hesitante. Minha tia estava sentada sobre a cama, com as pernas cruzadas sobre os lençóis impecáveis, o cabelo preso em um nó frouxo na nuca e o rosto limpo de maquiagem. Ela segurava um livro, mas seus olhos não revelavam qualquer traço de cansaço. Eu, por outro lado, lutei para conter um bocejo.— Entre, sente-se — disse Loretta, levantando o olhar para mim assim que percebeu minha presença. Seus lábios esboçaram um sorriso irônico. Ela deu um leve tapinha no colchão ao seu lado. Sem precisar de um segundo convite, me aproximei e afundei na cama macia. Minhas pálpebras estavam pesadas, e por um momento me perguntei se teria forças para voltar ao meu próprio quarto depois disso.— Seu avô está organizando um evento amanhã à noite na casa dele.— Ele sabe que estou aqui? — perguntei, empurrando o cabelo para trás das orelhas. As mechas soltas caíam de forma irritante sobre minhas bochechas, cócegas qu
&Ryuu&Ao entrar no quarto de Loretta, o som dos meus passos parecia estranhamente alto no silêncio. A luz suave das lâmpadas iluminava o pequeno espaço, deixando sombras tremularem pelas paredes decoradas com fotos antigas. Meus olhos caíram sobre Beatrice, deitada na cama ao lado de sua tia, o rosto sereno e adormecido. Ela estava completamente vestida, como se o peso do dia a tivesse derrubado antes que conseguisse voltar para nosso quarto.— Ela adormeceu há pouco. Não tive coragem de acordá-la — Loretta disse em voz baixa, seus olhos seguindo os meus. — Imagino que veio levá-la de volta. Entre.Entrei, mas cada passo me parecia invasivo. Eu raramente me permitia invadir o espaço dos outros, assim como nunca deixava que invadissem o meu. A sensação de desconforto se espalhava, algo que não era comum para mim. Mas com Loretta era diferente. Não era apenas a história entre ela e Beatrice que me deixava em alerta, era também o fato de que a mulher à minha frente me observava com olhos
O número de convidados me surpreendia. Nunca havia sido incluída em um desses eventos de meu avô antes, então não sabia ao certo o que esperar. Quando era mais jovem, costumava ficar em casa com minha tia Loretta, presumindo que ela preferia minha companhia. O que eu não sabia na época é que ela, na verdade, evitava esses encontros por conta do relacionamento tenso que tinha com ele.Todos estavam impecáveis, envoltos em smokings e vestidos luxuosos que pareciam ter sido feitos sob medida. Até Ryuu, que geralmente preferia roupas mais discretas, exibia um smoking preto que acentuava perfeitamente seu corpo esguio e musculoso. Eu não tinha ideia de como ele teve a previsão de trazer uma roupa tão sofisticada para uma viagem tão curta, mas agradeci internamente por isso. Ele dominava o espaço, mesmo sem esforço, e essa presença era tanto um consolo quanto um lembrete de onde estávamos.Embora eu nunca tivesse participado de uma das festas noturnas de Giorgio, a mansão não era estranha pa
— Até mesmo seus primos? — Ryuu apertou o braço ao redor da minha cintura, como se quisesse me proteger da ameaça velada em meus próprios pensamentos. Sua presença era reconfortante, mas o turbilhão dentro de mim estava longe de se acalmar. Meus olhos procuraram meus primos no meio da multidão. Lex já flertava com alguém, enquanto os outros rapazes riam entre si, imersos nas próprias conversas. Tão sociáveis quanto eu e Ryuu, ignorando o restante da festa como se tudo estivesse sob controle.— Não, ainda não… — hesitei, sentindo um nó na garganta que ameaçava apertar cada vez mais. Era doloroso admitir em voz alta que eu temia que, um dia, meus primos seguissem o mesmo caminho sombrio dos homens da nossa família. Ryuu ficou em silêncio por alguns segundos, ponderando, talvez escolhendo com cuidado o que dizer a seguir.— Você acha que eles poderiam ser assim? — sua voz soou cautelosa, como se a própria ideia o incomodasse.Suspirei, cansada. — Eles trabalham para o meu avô. Sabem muit
Ryuu estava sentado em uma das imponentes cadeiras, com os joelhos afastados em uma postura deliberadamente desafiadora, quase exibindo a arrogância que só homens extremamente poderosos demonstram sem medo. Ele encarnava o papel de mafioso intocável, o homem que ninguém ousava confrontar. Se não fosse meu marido, eu provavelmente o teria evitado naquela noite.Ele me puxou suavemente, posicionando-me entre suas pernas e fazendo-me sentar em uma de suas coxas. Aquele gesto parecia íntimo demais para um ambiente público, uma clara demonstração de proximidade, deixando evidente para todos na sala o quão conectados estávamos. Senti meu corpo tenso, o coração acelerado no peito. A mão de Ryuu repousava firme sobre meu joelho exposto pela fenda do meu vestido, enquanto eu me inclinava ligeiramente contra ele.Os olhares se arrastaram sobre nós, acompanhados de sussurros abafados, mas claramente audíveis. — Talvez devêssemos ir embora — sussurrei, sem o encarar diretamente, mantendo meu olha
Logo nos juntamos a Bion e Ryuu. Não vi sinal dos meus primos mais novos, o que me deu um breve alívio. Como sempre, Ryuu se aproximou rapidamente, posicionando-se estrategicamente atrás de mim, tão perto que senti o tecido do seu smoking roçar minhas costas e seu queixo tocar de leve o meu cabelo. Sabia que ele fazia aquilo de propósito. Giorgio, no entanto, não demonstrou surpresa. Talvez estivesse acostumado à minha postura desafiadora, mas Ryuu queria garantir que ele soubesse que eu não era uma esposa submissa.Bion estava ao nosso lado, à frente de Giorgio, como se quisesse se colocar entre nós. Seja lá o que eles discutiram a portas fechadas, Bion não estava ali para apoiar vovô. Um garçom apareceu com uma bebida — um copo de suco de laranja. Peguei o copo sem pensar muito, mas senti o olhar aguçado de Giorgio enquanto observava cada movimento entre mim e Ryuu.— Não está bebendo? — A voz de Giorgio, ainda que calma, carregava um tom zombeteiro, e uma pergunta oculta que provav
&Beatrice&Estávamos frente a frente na cama, tão próximos que eu podia sentir o calor do corpo de Ryuu, mas ainda assim uma distância insistente nos separava. Cada fibra do meu corpo clamava por encurtar aquele espaço. Ele parecia diferente ali, deitado ao meu lado. Não havia as habituais arestas afiadas; seu olhar estava suave, atento, sem as barreiras de costume. Nos últimos dias, ele tinha sido tão… presente. Atencioso. E, apesar de tudo, eu estava começando a gostar daquilo.— Se preferir ficar um tempo sozinha com a sua família, posso manter distância até partirmos — disse ele, a voz baixa, como se tentasse decifrar minhas emoções.Minhas mãos descansavam no colchão, os dedos inquietos. Eu queria tocá-lo, diminuir aquela m*****a distância, mas não me atrevia.— Não precisa — sussurrei, sem conseguir olhar diretamente para ele. — Estou gostando da sua companhia.Foi um milagre eu ter conseguido dizer aquilo. Era a coisa mais honesta que já havia saído da minha boca em relação a Ry
Eu me ajeitei na cadeira de metal desconfortável, cruzando as pernas enquanto pegava o copo de limonada que acabara de ser colocado na mesa à minha frente. O sol castigava, e o calor me envolvia como uma segunda pele, grudenta e sufocante, mas eu sabia disfarçar. Ryuu, no entanto, parecia imune. Mesmo no calor, em seus ternos impecáveis, ele permanecia inabalável, como se o calor fosse um detalhe insignificante. Como ele conseguia manter aquele ar de superioridade até em situações banais?— Ouvi dizer que esteve na festa do seu avô ontem à noite — Espósito murmurou, os dedos rígidos ao redor do copo de suco. Ele nem tocava no bule de chá que esperava no centro da mesa, como se a bebida estivesse ali apenas para cumprir um protocolo.Ryuu zombou com seu café expresso. Ele estava de costas para mim, mal cabendo naquela mesa minúscula ao ar livre, cercada pelo barulho do café movimentado. Não era o tipo de lugar que ele escolheria, mas estávamos ali porque Espósito havia pedido. Sempre po