Logo nos juntamos a Bion e Ryuu. Não vi sinal dos meus primos mais novos, o que me deu um breve alívio. Como sempre, Ryuu se aproximou rapidamente, posicionando-se estrategicamente atrás de mim, tão perto que senti o tecido do seu smoking roçar minhas costas e seu queixo tocar de leve o meu cabelo. Sabia que ele fazia aquilo de propósito. Giorgio, no entanto, não demonstrou surpresa. Talvez estivesse acostumado à minha postura desafiadora, mas Ryuu queria garantir que ele soubesse que eu não era uma esposa submissa.Bion estava ao nosso lado, à frente de Giorgio, como se quisesse se colocar entre nós. Seja lá o que eles discutiram a portas fechadas, Bion não estava ali para apoiar vovô. Um garçom apareceu com uma bebida — um copo de suco de laranja. Peguei o copo sem pensar muito, mas senti o olhar aguçado de Giorgio enquanto observava cada movimento entre mim e Ryuu.— Não está bebendo? — A voz de Giorgio, ainda que calma, carregava um tom zombeteiro, e uma pergunta oculta que provav
&Beatrice&Estávamos frente a frente na cama, tão próximos que eu podia sentir o calor do corpo de Ryuu, mas ainda assim uma distância insistente nos separava. Cada fibra do meu corpo clamava por encurtar aquele espaço. Ele parecia diferente ali, deitado ao meu lado. Não havia as habituais arestas afiadas; seu olhar estava suave, atento, sem as barreiras de costume. Nos últimos dias, ele tinha sido tão… presente. Atencioso. E, apesar de tudo, eu estava começando a gostar daquilo.— Se preferir ficar um tempo sozinha com a sua família, posso manter distância até partirmos — disse ele, a voz baixa, como se tentasse decifrar minhas emoções.Minhas mãos descansavam no colchão, os dedos inquietos. Eu queria tocá-lo, diminuir aquela m*****a distância, mas não me atrevia.— Não precisa — sussurrei, sem conseguir olhar diretamente para ele. — Estou gostando da sua companhia.Foi um milagre eu ter conseguido dizer aquilo. Era a coisa mais honesta que já havia saído da minha boca em relação a Ry
Eu me ajeitei na cadeira de metal desconfortável, cruzando as pernas enquanto pegava o copo de limonada que acabara de ser colocado na mesa à minha frente. O sol castigava, e o calor me envolvia como uma segunda pele, grudenta e sufocante, mas eu sabia disfarçar. Ryuu, no entanto, parecia imune. Mesmo no calor, em seus ternos impecáveis, ele permanecia inabalável, como se o calor fosse um detalhe insignificante. Como ele conseguia manter aquele ar de superioridade até em situações banais?— Ouvi dizer que esteve na festa do seu avô ontem à noite — Espósito murmurou, os dedos rígidos ao redor do copo de suco. Ele nem tocava no bule de chá que esperava no centro da mesa, como se a bebida estivesse ali apenas para cumprir um protocolo.Ryuu zombou com seu café expresso. Ele estava de costas para mim, mal cabendo naquela mesa minúscula ao ar livre, cercada pelo barulho do café movimentado. Não era o tipo de lugar que ele escolheria, mas estávamos ali porque Espósito havia pedido. Sempre po
— Você está procurando algo, Vincenzo? — Ryuu se inclinou para frente, apoiando os antebraços na mesa de metal. Seu olhar ficou mais estreito, desconfiado, como se tentasse prever os próximos movimentos do avô.— Por favor, me chame de avô — Espósito respondeu com uma risada leve, ignorando a tensão de Ryuu. Eu não consegui evitar um sorriso quando vi Ryuu revirar os olhos, seu corpo relaxando um pouco diante do humor compartilhado. — Mas já que insiste… posso aceitar sua resposta como um não.Os olhos de Espósito voltaram para mim, e eu senti o peso daquele olhar. Não havia como negar o que ele estava realmente perguntando, mesmo que suas palavras fossem envoltas em uma leveza calculada.Eu deveria estar preocupada. Talvez fosse o caso de temer que Espósito entregasse tudo a Ryuu antes de eu estar pronta para contar. Mas o velho tinha uma maneira única de lidar com as coisas — sempre falando em enigmas, às vezes só para nos confundir. E, por mais que ele insinuasse, eu esperava que aq
Eu não conseguia me afastar dele, mesmo enquanto o sangue encharcava sua camisa e a sala ao nosso redor girava com as ordens de Loretta. O médico estava a caminho, mas isso pouco importava. Tudo o que eu conseguia fazer era me agarrar à mão de Ryuu, sentindo a tensão de seus dedos enquanto ele apertava os meus. Não conseguia pensar em mais nada, nem mesmo em mim. Apenas nele.— Beatrice, vá se lavar, pegue algumas roupas limpas para ele — a voz de Loretta soou distante, quase como se ela estivesse falando com outra pessoa. Minha mente estava presa na imagem de Ryuu ali, o sangue manchando sua camisa uma vez impecável, o rosto pálido como nunca havia visto antes.Balancei a cabeça, sem coragem de soltá-lo, mesmo que por um segundo. Não me importava com a roupa suja ou com o sangue. Eu precisava estar ali. Precisava vê-lo. Ele não trocaria de roupa ali, diante de todos, e eu sabia disso.— Suas mãos estão tremendo — murmurei, minha voz saindo entrecortada, ao entrelaçar meus dedos nos de
&Beatrice&Ryuu estava limpo, costurado e enfaixado, mas a tensão em seu rosto permanecia como uma sombra. A médica tirou as luvas com um gesto cuidadoso, recolhendo sua bolsa antes de se erguer. Ao se dirigir à porta, seus olhos se voltaram para mim, como se quisesse garantir que eu ainda estava de pé.— Há mais alguém que eu precise atender? Como você está? — sua voz soou suave, mas o olhar atento denunciava sua preocupação.— Estou bem. Não estou ferida — murmurei, engolindo em seco ao evitar pronunciar o nome de Espósito. — Foi apenas Ryuu quem foi atingido.Ela franziu o cenho, avaliando-me.— Nenhum outro problema? Sem sangramentos ou dores? — A médica direcionou o olhar para a minha barriga, e eu senti o coração acelerar. — É possível que traumas emocionais e estresse aumentem os riscos de… A frase ficou suspensa no ar, e eu percebi que ela hesitava, notando a presença de mais pessoas na sala. Um frio na barriga me fez estremecer, mas não consegui desviar o olhar. — Você preci
O silêncio se instalou entre nós, um peso tangível que parecia me sufocar. Minha mão continuava a acariciar os cabelos escuros de Ryuu, um gesto quase automático, tentando acalmá-lo, mesmo que meu coração estivesse acelerado, quase descontrolado. A cada passada dos meus dedos por seu cabelo grosso, sentia suas dores como se fossem minhas.Em um impulso, embalei a cabeça dele em meu estômago, um reflexo de carinho e proteção. Meu estômago se revirou, e percebi o quanto minhas mãos tremiam enquanto as afundava repetidamente nos fios de Ryuu. Ele ainda não havia falado. Queria sacudi-lo pelos ombros, fazê-lo voltar a si, mas sabia que ele precisava de tempo para se recompor. Muita coisa havia acontecido em tão pouco tempo, e era compreensível que ele estivesse sobrecarregado.As lágrimas deslizavam pelo rosto dele, seu colete ainda ensanguentado absorvendo a umidade de sua bochecha pressionada contra mim. Eu não poderia forçá-lo a discutir agora, sabendo que ele tinha tanto a processar. A
— Como você está se sentindo? — Ryuu murmurou, enterrando o rosto em meu cabelo. Eu havia amarrado o emaranhado enquanto o médico estava aqui, uma tentativa inútil de manter as aparências.— Como estou me sentindo? — questionei, incredulidade se misturando à frustração. Não era eu quem havia levado um tiro; a minha condição parecia insignificante diante da dor que ele carregava. O luto pela morte do avô e a realidade da minha gravidez pesavam como uma tempestade entre nós. Como se isso não bastasse, a dor que ele sentia devido aos ferimentos, era uma sombra constante em nosso silêncio. Eu sabia que, por conta de seu trabalho, ele enfrentava feridas como aquelas, mas isso não o tornava imune à dor.— Sobre a gravidez. Você está com raiva? — ele esclareceu, a tensão em seu braço ao redor de mim era palpável. Eu me virei para encará-lo, mas ele evitou meu olhar, fixando os olhos no chão ao nosso lado. O peso daquela conversa me incomodava. Como ele podia estar tão preocupado com a gravid