Eu não conseguia me afastar dele, mesmo enquanto o sangue encharcava sua camisa e a sala ao nosso redor girava com as ordens de Loretta. O médico estava a caminho, mas isso pouco importava. Tudo o que eu conseguia fazer era me agarrar à mão de Ryuu, sentindo a tensão de seus dedos enquanto ele apertava os meus. Não conseguia pensar em mais nada, nem mesmo em mim. Apenas nele.— Beatrice, vá se lavar, pegue algumas roupas limpas para ele — a voz de Loretta soou distante, quase como se ela estivesse falando com outra pessoa. Minha mente estava presa na imagem de Ryuu ali, o sangue manchando sua camisa uma vez impecável, o rosto pálido como nunca havia visto antes.Balancei a cabeça, sem coragem de soltá-lo, mesmo que por um segundo. Não me importava com a roupa suja ou com o sangue. Eu precisava estar ali. Precisava vê-lo. Ele não trocaria de roupa ali, diante de todos, e eu sabia disso.— Suas mãos estão tremendo — murmurei, minha voz saindo entrecortada, ao entrelaçar meus dedos nos de
&Beatrice&Ryuu estava limpo, costurado e enfaixado, mas a tensão em seu rosto permanecia como uma sombra. A médica tirou as luvas com um gesto cuidadoso, recolhendo sua bolsa antes de se erguer. Ao se dirigir à porta, seus olhos se voltaram para mim, como se quisesse garantir que eu ainda estava de pé.— Há mais alguém que eu precise atender? Como você está? — sua voz soou suave, mas o olhar atento denunciava sua preocupação.— Estou bem. Não estou ferida — murmurei, engolindo em seco ao evitar pronunciar o nome de Espósito. — Foi apenas Ryuu quem foi atingido.Ela franziu o cenho, avaliando-me.— Nenhum outro problema? Sem sangramentos ou dores? — A médica direcionou o olhar para a minha barriga, e eu senti o coração acelerar. — É possível que traumas emocionais e estresse aumentem os riscos de… A frase ficou suspensa no ar, e eu percebi que ela hesitava, notando a presença de mais pessoas na sala. Um frio na barriga me fez estremecer, mas não consegui desviar o olhar. — Você preci
O silêncio se instalou entre nós, um peso tangível que parecia me sufocar. Minha mão continuava a acariciar os cabelos escuros de Ryuu, um gesto quase automático, tentando acalmá-lo, mesmo que meu coração estivesse acelerado, quase descontrolado. A cada passada dos meus dedos por seu cabelo grosso, sentia suas dores como se fossem minhas.Em um impulso, embalei a cabeça dele em meu estômago, um reflexo de carinho e proteção. Meu estômago se revirou, e percebi o quanto minhas mãos tremiam enquanto as afundava repetidamente nos fios de Ryuu. Ele ainda não havia falado. Queria sacudi-lo pelos ombros, fazê-lo voltar a si, mas sabia que ele precisava de tempo para se recompor. Muita coisa havia acontecido em tão pouco tempo, e era compreensível que ele estivesse sobrecarregado.As lágrimas deslizavam pelo rosto dele, seu colete ainda ensanguentado absorvendo a umidade de sua bochecha pressionada contra mim. Eu não poderia forçá-lo a discutir agora, sabendo que ele tinha tanto a processar. A
— Como você está se sentindo? — Ryuu murmurou, enterrando o rosto em meu cabelo. Eu havia amarrado o emaranhado enquanto o médico estava aqui, uma tentativa inútil de manter as aparências.— Como estou me sentindo? — questionei, incredulidade se misturando à frustração. Não era eu quem havia levado um tiro; a minha condição parecia insignificante diante da dor que ele carregava. O luto pela morte do avô e a realidade da minha gravidez pesavam como uma tempestade entre nós. Como se isso não bastasse, a dor que ele sentia devido aos ferimentos, era uma sombra constante em nosso silêncio. Eu sabia que, por conta de seu trabalho, ele enfrentava feridas como aquelas, mas isso não o tornava imune à dor.— Sobre a gravidez. Você está com raiva? — ele esclareceu, a tensão em seu braço ao redor de mim era palpável. Eu me virei para encará-lo, mas ele evitou meu olhar, fixando os olhos no chão ao nosso lado. O peso daquela conversa me incomodava. Como ele podia estar tão preocupado com a gravid
Não percebi antes o quanto era libertador falar abertamente com Ryuu. A preocupação em seu olhar agora se transformava em palavras que ecoavam de forma clara, como se estivéssemos, finalmente, desvelando o que havia entre nós. Se ao menos tivéssemos nos expressado com mais honestidade desde o começo. Mas ali estávamos, presos em teimosias, irritados um com o outro, resquícios de um relacionamento enredado pelas circunstâncias.— Obrigado — disse Ryuu, seu sorriso se espelhando no meu.Eu não podia negar o quanto ele estava atraente naquele instante. Ryuu tinha um charme oculto que, quando despertado, era quase irresistível. Com um sorriso como aquele, era inacreditável que nunca tivesse se relacionado com ninguém antes de mim. Nitta se divertia ao compartilhar esse fato durante as primeiras semanas de nosso casamento.— Pelo que você está me agradecendo? — perguntei, inclinando a cabeça.— Por estar aqui comigo — respondeu ele, a seriedade em sua voz ressoando em mim. — Por não ter ido
Mal havia pisado na pista quando Nitta surgiu, abrindo os braços em direção a mim, o nome que ele me dava saindo de seus lábios como um feitiço. Seus músculos se apertaram ao meu redor, mas eu permaneci paralisada, incapaz de retribuir a euforia que ele exibia. Quando finalmente se afastou, suas mãos repousaram em meus ombros, e a preocupação estampada em seu rosto era inegável.— O que há de errado? — ele perguntou, a testa franzida.Além do óbvio? A ironia da pergunta fez ecoar um riso amargo em meu peito. — Eu não sei… Seu entusiasmo é... você está sendo… — murmurei, sem encontrar as palavras. O que eu poderia dizer? Nossas interações haviam se tornado um campo minado após o que aconteceu. Após a reconciliação superficial com Ryuu, a descoberta do relacionamento entre Nitta e Mateo pairava como uma sombra sobre nós. As últimas conversas que tivemos estavam carregadas de tensão, e eu sabia que Nitta se sentia desconfortável com a consciência de que eu sabia do seu caso íntimo com o
Acomodei-me na poltrona de couro com encosto alto, observando os irmãos Morunaga no sofá à minha frente. Senti uma rigidez percorrer meu corpo enquanto a caixa embrulhada repousava em meu colo. Meus dedos agarraram a fita, hesitando. Deveria eu abrir um pacote anônimo endereçado a mim, especialmente considerando as ameaças que eu e Ryuu estávamos enfrentando? Abrir o cartão correspondente primeiro poderia ser uma ideia mais prudente.— Abra — disse Ryuu, sua voz áspera cortando o silêncio.Virei-me em direção ao meu marido, apenas para encontrar seus olhos impacientes fixos no pacote. Com um puxão firme, a fita se soltou, e comecei a rasgar as bordas do papel, tomando cuidado para não danificá-lo. Era um desperdício destruir algo tão bonito, pensava, embora, na verdade, eu quisesse adiar a descoberta do que estava por vir.— E se for… sei lá… uma bomba? — perguntei, mordendo o lábio, sentindo-me um tanto idiota. Minha paranoia parecia justificada, considerando os eventos recentes.— Fo
&Ryuu&Eu não costumava admitir que me sentia ansioso. Nunca. Mas sentado ali, ao lado de Beatrice, minha esposa grávida, lendo aquela palavra m*****a repetidamente, o aperto no meu estômago era inegável. *Parabéns.* Uma simples palavra, mas pesada como chumbo. Beatrice estava imóvel, olhos fixos no vazio, mas eu conhecia aquele olhar. Lágrimas não tardariam.O dia havia sido uma confusão de emoções, e eu, sinceramente, não me surpreenderia se desmoronasse. Mas não era assim que eu lidava com as coisas. A raiva sempre foi meu refúgio, meu combustível. Era a raiva que fazia de mim o homem temido por todos. Mas, naquele momento, não havia fogo. Apenas um vazio. Um buraco negro no lugar onde antes existia algo que me movia. Eu estava cansado. Cansado e perto de quebrar.— Você acha que isso significa… — a voz de Beatrice quebrou o silêncio, um sussurro horrorizado enquanto suas mãos repousavam protetoramente sobre o estômago.Olhei para ela, incapaz de falar. Eu sabia o que aquilo signifi