Acomodei-me na poltrona de couro com encosto alto, observando os irmãos Morunaga no sofá à minha frente. Senti uma rigidez percorrer meu corpo enquanto a caixa embrulhada repousava em meu colo. Meus dedos agarraram a fita, hesitando. Deveria eu abrir um pacote anônimo endereçado a mim, especialmente considerando as ameaças que eu e Ryuu estávamos enfrentando? Abrir o cartão correspondente primeiro poderia ser uma ideia mais prudente.— Abra — disse Ryuu, sua voz áspera cortando o silêncio.Virei-me em direção ao meu marido, apenas para encontrar seus olhos impacientes fixos no pacote. Com um puxão firme, a fita se soltou, e comecei a rasgar as bordas do papel, tomando cuidado para não danificá-lo. Era um desperdício destruir algo tão bonito, pensava, embora, na verdade, eu quisesse adiar a descoberta do que estava por vir.— E se for… sei lá… uma bomba? — perguntei, mordendo o lábio, sentindo-me um tanto idiota. Minha paranoia parecia justificada, considerando os eventos recentes.— Fo
&Ryuu&Eu não costumava admitir que me sentia ansioso. Nunca. Mas sentado ali, ao lado de Beatrice, minha esposa grávida, lendo aquela palavra m*****a repetidamente, o aperto no meu estômago era inegável. *Parabéns.* Uma simples palavra, mas pesada como chumbo. Beatrice estava imóvel, olhos fixos no vazio, mas eu conhecia aquele olhar. Lágrimas não tardariam.O dia havia sido uma confusão de emoções, e eu, sinceramente, não me surpreenderia se desmoronasse. Mas não era assim que eu lidava com as coisas. A raiva sempre foi meu refúgio, meu combustível. Era a raiva que fazia de mim o homem temido por todos. Mas, naquele momento, não havia fogo. Apenas um vazio. Um buraco negro no lugar onde antes existia algo que me movia. Eu estava cansado. Cansado e perto de quebrar.— Você acha que isso significa… — a voz de Beatrice quebrou o silêncio, um sussurro horrorizado enquanto suas mãos repousavam protetoramente sobre o estômago.Olhei para ela, incapaz de falar. Eu sabia o que aquilo signifi
— Chegamos — Ryuu murmurou, sua voz baixa me arrancando dos pensamentos. Eu apenas assenti, me preparando para abrir a porta do carro, mas uma mão em meu antebraço me fez parar. Não olhei para ele. — Você está bem? — A pergunta saiu hesitante, quase abafada, como se ele não quisesse, de fato, ouvir a resposta.— Estou — limpei a garganta, tentando apagar o ardor que queimava atrás dos meus olhos. — Só… só não sei se estou pronta para isso.Ryuu não disse mais nada. Sua resposta, como tantas vezes antes, veio no silêncio. Assim que saímos do carro, notei o endurecimento em sua expressão quando ele pegou minha mão e me conduziu para dentro do prédio. Sua força sempre me ancorava, mas naquele momento, era mais um peso do que uma ajuda.Passamos meia hora com o Dr. Takagi e seu colega, que realizou o ultrassom. Fiquei calada, perdida nas minhas próprias inquietações, enquanto eles discutiam sobre minha saúde, a gravidez, mudanças de dieta, estilo de vida. Tudo parecia borrado, distante, co
Eu não sabia o que dizer. As palavras ficaram presas na garganta enquanto eu observava Sophia, sua dor escondida atrás daquele sorriso forçado. Parte de mim se sentia uma péssima amiga por despejar sobre ela as minhas próprias angústias, ignorando que talvez a dela fosse muito mais profunda.— Eu… — ela hesitou, mexendo nos dedos nervosamente. — Eu não lidei bem com tudo depois. Terminei com Fukui logo após… e nunca falamos sobre isso. Nunca falei sobre isso com ninguém, na verdade.O silêncio caiu entre nós, pesado, como um manto sufocante.— Você está… — minha língua passou pelos lábios ressecados, procurando pelas palavras certas. — Está bem?— Desculpa. — Sophia me interrompeu, os olhos evitando os meus. — Eu sei que trouxe isso à tona, mas não quero falar sobre isso agora. O que importa agora é o seu problema.De repente, me senti culpada. Agarrei a mão dela com força, atraindo seu olhar de volta para mim.— Você é importante para mim, Sophia. Agradeço por tudo que tem feito. Não
&Beatrice&Voltei ao escritório de Ryuu uma última vez antes de tentar dormir. Levei um copo grande de água e uma omelete feita com os poucos legumes que encontrei na geladeira. Queria lembrá-lo dos momentos em que ele cuidou de mim, quando eu mesma estava à beira de quebrar. Ele era mais do que seus erros e falhas do passado. Por trás daquela dureza, ele havia sido gentil, atencioso. Mesmo que nem sempre soubesse demonstrar, eu sabia que ele sempre tentava me proteger.Quando coloquei o copo e o prato na mesa, ele não disse nada. Nem ergueu a cabeça de onde estava apoiada sobre os braços, como se o peso do mundo estivesse esmagando-o. Mesmo assim, eu sabia que ele estava acordado. Sua respiração era contida, como se estivesse se forçando a se manter invisível, preso em uma espiral de culpa. Permaneci ali por alguns instantes, esperando por qualquer sinal de que ele me notara, mas não houve movimento. A ausência de reação me fez sentir pequena… impotente.Saí do escritório com o peito
Ryuu nunca seria tão estúpido a ponto de me deixar sozinha depois de tudo o que aconteceu. Não depois do último ataque. Ele havia sido implacável em garantir minha segurança nas últimas semanas, e agora ele simplesmente desaparece? E deixa homens desconhecidos rondando a porta sem sequer me avisar? Isso não fazia sentido… Meu coração batia tão forte no peito que cada pulsação era quase dolorosa, como se quisesse explodir. Tropecei para longe da porta, minhas pernas mal suportando o peso do medo que se agarrava a mim. Caí de joelhos, os braços instintivamente se enroscando ao redor do meu corpo. Meus dedos puxaram os fios do meu cabelo enquanto eu tentava, em vão, acalmar minha respiração. Mas era impossível. O som do sangue pulsando em meus ouvidos se tornou ensurdecedor. O que eu deveria fazer? O que podia fazer?— Cala a boca! — A voz veio como um sibilar cortante, em inglês, alta o suficiente para atravessar a porta e me atingir como uma lâmina afiada. Pelo sotaque, ele era ameri
Eu digitei a mensagem com dedos trêmulos: TEM HOMENS NA CASA E NÃO SEI ONDE ESTÁ RYUU. PRECISO DE AJUDA.As palavras piscavam na tela, carregadas de pavor, mas apertar “enviar” foi como jogar uma âncora num mar de terror. Eu joguei o telefone na cama, o corpo rígido de medo, enquanto o som abafado de passos do lado de fora me lembrava do quão frágil era o tempo que eu tinha. Não podia falar. Qualquer som que eu fizesse poderia ser minha sentença de morte.Levantei-me, indo até o guarda-roupa. Meus movimentos eram automáticos, como se meu corpo soubesse o que fazer, enquanto minha mente ainda lutava para processar o que estava acontecendo. Eu agarrei a primeira coisa que vi: roupas de academia. Não tinha a mínima ideia se seria a escolha certa para fugir de homens armados, mas qualquer coisa seria melhor do que meu pijama de seda, que parecia tão ridiculamente frágil agora. O tempo escorria, cada segundo se tornava mais pesado enquanto eu me vestia o mais rápido e silenciosamente que p
Minha respiração vinha em arfadas descompassadas, como se o ar ao meu redor fosse feito de vidro quebrado. Cada movimento doía. A adrenalina queimava em minhas veias, e eu já não sentia as pernas, apenas o frio peso da arma nas minhas mãos. O homem ferido se contorcia no chão, o sangue escorrendo pelo tapete como uma poça escura, mas não havia tempo para sentir qualquer arrependimento. Sempre havia mais deles.Sem hesitar, disparei mais duas vezes. Um tiro no ombro, outro no peito. O corpo dele se sacudiu violentamente, e eu tive que conter a ânsia que subia na minha garganta. Não podia vacilar. O som dos tiros ecoava como uma maldição naquele quarto, anunciando meu ato ao restante da casa.— Que porra é essa?! — a voz de um dos homens cortou o ar como uma lâmina. Dois deles invadiram o quarto, a expressão tomada pela raiva.Um deles avançou rápido demais, derrubando a arma das minhas mãos com um golpe certeiro. Ele soltou um assobio de dor ao queimar a palma no cano quente, mas não s