Eu digitei a mensagem com dedos trêmulos: TEM HOMENS NA CASA E NÃO SEI ONDE ESTÁ RYUU. PRECISO DE AJUDA.As palavras piscavam na tela, carregadas de pavor, mas apertar “enviar” foi como jogar uma âncora num mar de terror. Eu joguei o telefone na cama, o corpo rígido de medo, enquanto o som abafado de passos do lado de fora me lembrava do quão frágil era o tempo que eu tinha. Não podia falar. Qualquer som que eu fizesse poderia ser minha sentença de morte.Levantei-me, indo até o guarda-roupa. Meus movimentos eram automáticos, como se meu corpo soubesse o que fazer, enquanto minha mente ainda lutava para processar o que estava acontecendo. Eu agarrei a primeira coisa que vi: roupas de academia. Não tinha a mínima ideia se seria a escolha certa para fugir de homens armados, mas qualquer coisa seria melhor do que meu pijama de seda, que parecia tão ridiculamente frágil agora. O tempo escorria, cada segundo se tornava mais pesado enquanto eu me vestia o mais rápido e silenciosamente que p
Minha respiração vinha em arfadas descompassadas, como se o ar ao meu redor fosse feito de vidro quebrado. Cada movimento doía. A adrenalina queimava em minhas veias, e eu já não sentia as pernas, apenas o frio peso da arma nas minhas mãos. O homem ferido se contorcia no chão, o sangue escorrendo pelo tapete como uma poça escura, mas não havia tempo para sentir qualquer arrependimento. Sempre havia mais deles.Sem hesitar, disparei mais duas vezes. Um tiro no ombro, outro no peito. O corpo dele se sacudiu violentamente, e eu tive que conter a ânsia que subia na minha garganta. Não podia vacilar. O som dos tiros ecoava como uma maldição naquele quarto, anunciando meu ato ao restante da casa.— Que porra é essa?! — a voz de um dos homens cortou o ar como uma lâmina. Dois deles invadiram o quarto, a expressão tomada pela raiva.Um deles avançou rápido demais, derrubando a arma das minhas mãos com um golpe certeiro. Ele soltou um assobio de dor ao queimar a palma no cano quente, mas não s
Eu sabia o que era o ódio. Cresci com ele, me alimentei dele. O ódio me moveu a vida inteira. Mas o que eu sentia por Petros agora… aquilo era novo. Um ódio tão profundo, tão visceral, que quase me consumia. Especialmente ao ver o sangue de Beatrice. Meu sangue.Petros estava ali, de pé, com aquele sorriso arrogante que me fazia querer rasgar sua garganta. Ele realmente achava que tinha o controle. Pobre ilusão. Assim que eu me livrasse dessas malditas cordas, ele iria pagar por cada segundo que nos manteve aqui. Eu o destruiria. Beatrice quebrou o silêncio com uma voz suave, quase trêmula: — Por que você está fazendo isso? Eu quis gritar para ela se calar. Não desperdiçasse suas palavras com aquele verme. Mas ela… sempre tão ingênua.O sorriso de Petros se alargou, transbordando malícia. Eu me debati na cadeira, os pulsos queimando enquanto o sangue escorria, mas era inútil. Eu precisava estar entre ele e Beatrice. Ser a vítima de Petros? Tudo bem. Mas ela… ela era intocável. Ou d
Os joelhos falharam, e precisei de um esforço sobre-humano para não desabar naquele chão imundo. Meu corpo tremia, e eu queria chorar, gritar até minha garganta sangrar, mas o ódio me prendia. Meus punhos se cerraram ao lado do corpo, e quando ergui o rosto, lancei um olhar assassino ao homem parado na porta.— Você está do lado dele? — A voz de Ryuu atrás de mim cortou o ar como uma lâmina. Eu não precisava me virar para sentir o sarcasmo ácido nas palavras dele. O silêncio de Nitta e Fukui, tensos às minhas costas, só piorava a atmosfera sufocante.— Vovô… — A palavra saiu fraca, sem força, e dei um passo involuntário para trás. Senti minhas pernas tocarem as de Ryuu, um lembrete cruel de que eu não tinha para onde fugir. Minha boca secou, o gosto amargo da traição subindo pela garganta, deixando-me nauseada.E Giorgio… O homem que me criou na Itália com tanto carinho, agora me encarava com um sorriso cínico, desprovido de qualquer arrependimento. Suas mãos estavam manchadas de verm
— Por que está fazendo isso? — As palavras saíram da minha boca de algum lugar profundo, quase num sussurro trêmulo, enquanto minhas mãos, traiçoeiras, começavam a tremer. Eu estava horrorizada, impotente, mas o único motivo que me mantinha em pé era sentir Ryuu próximo, sua presença sólida, quase tocando meu calcanhar. Me aproximei um pouco mais, como se isso pudesse me proteger do abismo que meu avô cavava diante de mim.Mas eu sabia que estava indefesa. Giorgio tinha todo o poder. Já tinha mostrado quão fácil seria para ele acabar conosco. Cada segundo que passava era apenas um presente temporário até que ele decidisse encerrar seu jogo doentio.— Esta família não é nada além de uma decepção para mim — ele disse, com uma frieza que me arrepiou. — O nome Carbone, outrora reverenciado, um império feroz por trás dele, se arrastou nas últimas cinco décadas até que seu pai patético o arruinou. Eu o mandei para a América para dominar os Morunagas, não para se curvar a eles. E o marido de
Giorgio permaneceu impassível diante das ameaças de Ryuu. Seu sorriso era um veneno silencioso, o tipo de sorriso que sabe que venceu antes mesmo de começar a lutar. Porque, de fato, Ryuu não podia fazer nada. Ainda estava amarrado à cadeira, e, de onde eu estava no chão, podia ver o horror de seus pulsos ensanguentados, inchados, dilacerados por suas tentativas inúteis de se libertar. Mesmo que ele conseguisse… o que ele poderia fazer?— Eu vou aproveitar isso — sussurrou Giorgio, e suas palavras soaram como uma sentença. O tiro explodiu na pequena sala, reverberando pelas paredes frias de concreto. O corpo de Ryuu estremeceu, sua cadeira tombando com o impacto, o som seco da queda reverberando. Ele caiu ao lado de Petros, o cadáver sem vida do homem que já tinha sido uma ameaça, agora apenas um lembrete do que Giorgio era capaz de fazer.— Ryuu! — Meu grito saiu antes que eu pudesse me controlar. Me joguei ao lado dele, sentindo o pânico dominar cada fibra do meu corpo. O sangue flu
Eu ainda estava lá, congelada, paralisada diante do corpo inerte de meu avô, quando senti alguém cair de joelhos à minha frente. Era Sofia.— Beatrice… — Ela sussurrou, suas mãos quentes segurando delicadamente meu queixo, forçando-me a sair do transe em que me encontrava. Quando meus olhos finalmente encontraram os dela, vi lágrimas pendendo de seus cílios, e algo em mim quebrou. Um soluço rasgou meu peito e me joguei em seus braços, abraçando-a com força desesperada. Meu corpo tremia tanto que mal conseguia me manter consciente.Acabou. Tudo tinha acabado.Eu não sei por quanto tempo Sofia me segurou naquele chão imundo, mas o mundo parecia girar em um ritmo diferente, sem pressa. Minha cabeça latejava, e meu coração pesava como uma âncora. Eu sabia que precisava sair, correr atrás de Ryuu, fazer alguma coisa… mas meu corpo estava em colapso, incapaz de obedecer. O que eu faria agora? O que havia para fazer?Sofia se afastou levemente, suas mãos emoldurando meu rosto, tentando me a
A próxima vez que Ryuu abriu os olhos, havia mais vida neles. Ele estava mais consciente, mais presente. E isso deveria me acalmar, mas tudo que senti foi um nó ainda maior apertando meu peito.— Como você se atreve a quase morrer assim? — tentei brincar, uma tentativa patética de esconder o quanto ainda estava quebrada. A ameaça de um sorriso forçado se formou nos meus lábios, mas minhas lágrimas o traíram, deslizando pelo rosto sem permissão.A risada rouca de Ryuu preencheu o quarto, um som familiar e reconfortante, apesar da dor evidente em cada tremor que atravessava seu corpo. Mas em vez de me fazer rir, aquilo só me fez chorar mais. As lágrimas pareciam incontidas, como se o alívio e o pavor tivessem finalmente transbordado.Ele parecia melhor. Um pouco mais corado, menos frágil do que antes. Mas eu sabia, com a mesma clareza com que o amava, que as aparências podiam enganar. Ele ainda estava preso a essa cama, ainda longe de ser o homem que conheci. A recuperação seria lenta,