Giorgio permaneceu impassível diante das ameaças de Ryuu. Seu sorriso era um veneno silencioso, o tipo de sorriso que sabe que venceu antes mesmo de começar a lutar. Porque, de fato, Ryuu não podia fazer nada. Ainda estava amarrado à cadeira, e, de onde eu estava no chão, podia ver o horror de seus pulsos ensanguentados, inchados, dilacerados por suas tentativas inúteis de se libertar. Mesmo que ele conseguisse… o que ele poderia fazer?— Eu vou aproveitar isso — sussurrou Giorgio, e suas palavras soaram como uma sentença. O tiro explodiu na pequena sala, reverberando pelas paredes frias de concreto. O corpo de Ryuu estremeceu, sua cadeira tombando com o impacto, o som seco da queda reverberando. Ele caiu ao lado de Petros, o cadáver sem vida do homem que já tinha sido uma ameaça, agora apenas um lembrete do que Giorgio era capaz de fazer.— Ryuu! — Meu grito saiu antes que eu pudesse me controlar. Me joguei ao lado dele, sentindo o pânico dominar cada fibra do meu corpo. O sangue flu
Eu ainda estava lá, congelada, paralisada diante do corpo inerte de meu avô, quando senti alguém cair de joelhos à minha frente. Era Sofia.— Beatrice… — Ela sussurrou, suas mãos quentes segurando delicadamente meu queixo, forçando-me a sair do transe em que me encontrava. Quando meus olhos finalmente encontraram os dela, vi lágrimas pendendo de seus cílios, e algo em mim quebrou. Um soluço rasgou meu peito e me joguei em seus braços, abraçando-a com força desesperada. Meu corpo tremia tanto que mal conseguia me manter consciente.Acabou. Tudo tinha acabado.Eu não sei por quanto tempo Sofia me segurou naquele chão imundo, mas o mundo parecia girar em um ritmo diferente, sem pressa. Minha cabeça latejava, e meu coração pesava como uma âncora. Eu sabia que precisava sair, correr atrás de Ryuu, fazer alguma coisa… mas meu corpo estava em colapso, incapaz de obedecer. O que eu faria agora? O que havia para fazer?Sofia se afastou levemente, suas mãos emoldurando meu rosto, tentando me a
A próxima vez que Ryuu abriu os olhos, havia mais vida neles. Ele estava mais consciente, mais presente. E isso deveria me acalmar, mas tudo que senti foi um nó ainda maior apertando meu peito.— Como você se atreve a quase morrer assim? — tentei brincar, uma tentativa patética de esconder o quanto ainda estava quebrada. A ameaça de um sorriso forçado se formou nos meus lábios, mas minhas lágrimas o traíram, deslizando pelo rosto sem permissão.A risada rouca de Ryuu preencheu o quarto, um som familiar e reconfortante, apesar da dor evidente em cada tremor que atravessava seu corpo. Mas em vez de me fazer rir, aquilo só me fez chorar mais. As lágrimas pareciam incontidas, como se o alívio e o pavor tivessem finalmente transbordado.Ele parecia melhor. Um pouco mais corado, menos frágil do que antes. Mas eu sabia, com a mesma clareza com que o amava, que as aparências podiam enganar. Ele ainda estava preso a essa cama, ainda longe de ser o homem que conheci. A recuperação seria lenta,
Minha mão pousou suavemente sobre o ventre, como se, por instinto, eu pudesse proteger a criança do mundo imundo que a aguardava. Meu filho jamais conheceria o lado sombrio da nossa família. Ele cresceria cercado apenas pelo carinho de tia Loretta e dos meus primos. Nunca sentiria o toque frio do meu pai, do meu avô… ou do marido de Loretta.— Nossa dor está no passado, Ryuu — minha voz era baixa, firme, mas não conseguia esconder o medo que escorria em cada palavra. — O que fizeram conosco não é culpa sua. Você não pode carregar esse fardo sozinho. Não me afaste. Não se retire para o seu silêncio. Não se consuma por uma culpa que não é sua.Ele manteve os olhos fechados, a cabeça afundada no travesseiro. Sabia que ele não acreditava em mim. Podia sentir a culpa que o corroía lentamente, arrastando-o de volta para o abismo da depressão. A escuridão que sempre pairou sobre ele, sempre silenciosa, agora o cercava mais uma vez. Não precisávamos de palavras para reconhecer essa sombra ent
Nitta Morunaga, o caçula da família, era de fato um Carbone de sangue. Meu meio-irmão. Mas a metade mal importava quando se tratava de Giacomo Carbone. Afinal, só tínhamos um pai, e ele era um monstro. Isso bastava para nos marcar. Os pecados de Giacomo ainda ecoavam, destruindo vidas. Não bastava eu ser arrastada para o inferno que ele criou, Nitta também tinha sido tragado. Era um ciclo sem fim.— Eu sinto muito. — Aquelas palavras escaparam de meus lábios antes que eu pudesse me conter.— Não sinta. — Nitta deu de ombros, mas o movimento era lento, hesitante, como se até isso doesse. — Isso não muda nada. Gojou provavelmente sempre soube. Ele sempre sabe, mas guarda tudo para si. Não foi tão mau como pai, se comparado a... outros.Giacomo. O nome queimou em minha mente, uma lembrança amarga que sempre retornava. Mas Gojou também não era o que eu chamaria de uma figura paterna exemplar. Ryuu nunca falava muito sobre a infância, mas o suficiente para deixar claro que faltava algo na
Odiava o quão rápido as lágrimas caíam, e, pior ainda, odiava que fossem por ele. Um velho que mal conhecia, mas que, de alguma forma, tinha deixado uma marca tão profunda em mim. Talvez porque ele fosse a última coisa parecida com uma figura paterna que eu tinha. O único que realmente foi bom para mim. Mais uma peça da minha vida destruída por Giorgio.Me afundei sob os lençóis, o travesseiro de Ryuu apertado contra o peito. Meu rosto se enterrou no tecido, buscando, desesperada, o conforto do cheiro dele. Mas já fazia tempo demais… não restava nada. Nem um traço de Ryuu para me consolar. Só a ausência.Queria gritar, soluçar até que minha garganta se rasgasse de dor, mas o som nunca veio. Fiquei ali, paralisada, agarrada ao travesseiro como se aquilo pudesse segurar os pedaços do que eu ainda tinha. As lágrimas escorriam silenciosas, molhando o tecido. Uma parte de mim se sentia completamente entorpecida, outra esmagada por uma dor que parecia impossível de suportar. Meu coração est
— Acho que essa é uma conversa que você deveria ter com ele quando tudo se acalmar — sugeriu Bion, levantando-se lentamente. — Quer que eu te deixe um tempo sozinha?Eu ainda estava escondida debaixo dos lençóis, mas senti meu lábio inferior começar a tremer. Era humilhante admitir o quanto me sentia fraca naquele momento.— Não… — minha voz saiu trêmula, quase um sussurro. Senti-me vulnerável ao fazer um pedido tão simples. — Pode ficar comigo? Por favor?Afastei os lençóis, abrindo espaço ao meu lado. Bion, sem dizer nada, se acomodou ao meu lado, me envolvendo com seus braços fortes e silenciosos. Encostei meu rosto molhado de lágrimas em seu peito, e os soluços vieram em uma torrente. No calor do abraço dele, senti uma pontada de conforto. ***Dias se passaram até que nos estacionamos em frente à igreja. Nenhum de nós fez qualquer movimento para sair do carro. Do lado de fora, uma multidão em preto se amontoava, participando do funeral. Não esperava ver tantas pessoas ali. Ainda
— Desculpe? — perguntei, sem entender direito o que acabara de ouvir.— Eu… prefiro mulheres mais magras que você — resmungou o homem, sua voz grossa e embriagada, como se lutasse para se manter ereto no banco. Ele sequer olhava para mim, oscilando de maneira quase patética, e ainda assim seu desdém era explícito. Desviei o olhar, sentindo uma onda de incredulidade — e, antes que percebesse, ajustei o tecido do vestido preto sobre a cintura, subitamente autoconsciente.— Como é? — Minha voz saiu firme, mais para mim mesma do que para ele, tentando digerir a audácia. Mas Sophia, até então absorta, ergueu-se bruscamente, o corpo vibrando de raiva como uma tempestade prestes a estourar. Seu olhar, antes perdido, agora queimava em uma fúria silenciosa.Vi Sebastian mover-se ao lado dela, uma mão firme pousando em seu ombro, talvez tentando segurá-la. Mas então senti uma presença sólida atrás de mim. Uma mão deslizou sobre meu quadril, firme e possessiva, e meu corpo foi puxado de encontro