— Fukui, querido — Suniza me recebeu com um beijo firme na bochecha e um abraço que quase sufocou o ar dos meus pulmões. Por cima do ombro dele, vi seus olhos pousarem sobre mim com uma careta sutil ao notar meu jeans e camiseta. Ela, claro, estava impecável em um vestido de gola alta, sempre altiva e exagerada. — Vejo que trouxe alguém… inesperado.Seu sorriso sarcástico deixava claro que Fukui não havia mencionado todos os detalhes do encontro. Se tivesse, com certeza eu não estaria aqui agora.Fukui se afastou da mãe, suspirando pesadamente enquanto a segurava pelos ombros.— Você conhece Beatrice, mãe. Beatrice Carbone Morunaga. — O nome soou como uma formalidade pesada, como se Fukui tentasse lembrar Suniza que eu, queira ela ou não, era a esposa de Ryuu.— Ah, claro… — Suniza cantarolou, com um toque de desdém na voz, permitindo-me entrar na suíte com uma expressão mal disfarçada de repulsa. Olhei ao redor. Eu esperava um quarto modesto, talvez com um banheiro anexo. Quanta ing
— Como foi? — A voz de Ryuu me pegou de surpresa assim que pisei no foyer.Pisquei algumas vezes, cansada demais para processar sua presença tão cedo. Esperava encontrá-lo mergulhado no trabalho, não aqui, me esperando. A conversa com Suniza, apesar de curta, havia drenado minhas energias. E agora, Ryuu estava diante de mim, seus olhos avaliando cada mínimo detalhe.Ele parecia calmo, mas havia algo tenso em seu tom, uma rigidez em seus ombros que me fez perceber que ele sabia exatamente onde eu estivera. Talvez Fukui tivesse contado. — Foi tão… produtivo quanto você provavelmente imaginava — respondi, cautelosa. Sabia que ele não queria que eu me aproximasse de Suniza, e desobedeci. Uma parte de mim já se preparava para o sermão que, há algumas semanas, seria inevitável.Ryuu avançou até ficar bem diante de mim.— Está satisfeita? — A pergunta veio carregada de algo mais. Seu olhar não se desviava.Fukui passou por nós em silêncio, com o rosto fechado, caminhando direto para a cozin
— É assim que você realmente se sente? — Ryuu perguntou em um sussurro, enquanto afastava delicadamente meu cabelo da testa, ajeitando-o atrás da orelha. Seu rosto se inclinou em minha direção, e os cantos de seus lábios curvados para baixo mostravam uma preocupação genuína.— Morei com eles por três anos. Eu estava mais próxima deles do que do meu próprio pai naquele tempo. Mas, depois do nosso casamento, eles sumiram. Nenhuma despedida, nenhuma palavra. Só Dario apareceu, e nós dois sabemos o que ele realmente queria. — Meu tom amargo carregava mais mágoa do que eu gostaria de admitir.— Por que não ligou para eles, então? Se sentia tanta falta, por que não fez isso? — A pergunta de Ryuu era simples, mas direta.Dei de ombros, sentindo a tolice da minha resposta antes mesmo de pronunciá-la.— Eu estava magoada. Me sentia mesquinha, como se fosse obrigação deles me procurar. Depois percebi o quão infantil isso era e tentei falar com Dario… mas ele ignorou todas as minhas mensagens.R
Senti um toque suave no meu braço. Era Ryuu, sacudindo-me levemente para acordar, quando chegamos à casa da família Carbone. Pisquei algumas vezes, os olhos ainda embaçados de sono, enquanto ele me ajudava a sair do carro. Apertei sua mão, tentando suprimir os bocejos. Meu foco estava disperso, mas, mesmo assim, a familiaridade daquela casa de estilo italiano diante de mim trouxe uma onda de nostalgia. O telhado baixo, as janelas amplas, tudo ainda do jeito que eu lembrava. Nada havia mudado.As plantas no pátio continuavam desgastadas pelo tempo, a cesta pendurada sob a janela da frente ainda estava quebrada, e a velha fonte de pedra, que nunca funcionou enquanto vivi aqui, continuava tão inoperante quanto antes.— Morunaga — disse Bion, com sua voz grave, assim que atravessamos a porta atrás de Loretta. Ele nos esperava com Anton e Lex, os braços cruzados e a expressão tensa. Só Dario estava ausente.— Rapazes, ponham a mesa. Vou preparar o jantar e fazer algumas bebidas. Café, Ryuu
— É lamentável que tenha demorado tanto para alguém assim pagar por seus crimes — disse Ryuu, sua voz firme, mas serena. — Você tem trabalhado nesse ramo por décadas. Seria cruel da minha parte tomar isso de você por causa dos erros de seu irmão. Não sou um monstro.O leve sorriso de Loretta revelou que ela apreciava a gentileza nas palavras, mas eu não deixei de notar o olhar de Ryuu se desviando discretamente para Bion. A última frase parecia ter sido dita mais para ele.Depois de terminarmos os drinques, Loretta nos guiou apressadamente até a sala de jantar. A mesa estava posta com um capricho incomum. Ela até acendeu velas como peça central.— Estamos comemorando alguma coisa? — perguntei, enquanto observava a disposição cuidadosa das melhores louças e taças, além da garrafa de champanhe ainda fechada no centro.— Você está aqui na Itália conosco. Não é motivo suficiente para comemorar? — Bion falou da cabeceira da mesa, sua voz baixa, porém carregada de significado. Ele permanece
A manhã começou como muitas antes do casamento. Eu e tia Loretta estávamos sentadas no jardim, dividindo um bule de chá e saboreando os cornettos caseiros que ela sempre preparava. Cada mordida doce parecia me reconectar com a Itália, mesmo que a viagem fosse curta.Ryuu ainda estava no quarto, ao telefone com os irmãos, garantindo que tudo estivesse em ordem em Los Angeles. Não havíamos sequer completado vinte e quatro horas fora, mas ele não podia se desconectar completamente. Se essa era a condição para a viagem, eu não me importava — desde que ele estivesse aqui.— Me diga, honestamente, como estão as coisas desde o... incidente? — perguntou tia Loretta, pousando o garfo e me lançando um olhar preocupado.— Incidente? — Fiz uma pausa, mexendo distraída no meu chá. — A invasão — ela esclareceu, com uma expressão carregada de irritação. — Dario só nos avisou pouco antes de Ryuu aparecer. Não contou muitos detalhes, mas sei que está ajudando Ryuu a encontrar os responsáveis. Eu o re
— Merda! — soltei em italiano, saltando da cadeira enquanto a dor irradiava pelas minhas mãos. — Inferno, isso está fervendo!— Porra! Você está bem? — Lex praticamente pulou por cima de Anton, que ainda estava no chão, para se aproximar de mim.— O que diabos aconteceu aqui? — A voz de Ryuu soou repentinamente do outro lado do jardim. Em um piscar de olhos, ele estava ao meu lado, pegando um pano úmido para examinar minhas mãos, agora vermelhas. Seus olhos, normalmente calmos, estavam arregalados de preocupação. — Está doendo muito? — Ele perguntou, lançando um olhar fulminante para os primos, como se estivesse pronto para culpá-los pela minha situação. — Você precisa lavar isso com água fria.— Avisei que isso ia acontecer, idiotas! — Tia Loretta ralhou, enquanto juntava os pedaços da mesa derrubada e olhava para seus filhos como se fossem crianças travessas.— Sério, não foi nada — tentei minimizar, mesmo enquanto Ryuu me puxava em direção à cozinha, ignorando meu protesto. — Foi m
O café que Ryuu havia escolhido era pequeno, tranquilo, quase escondido entre as pedras antigas de uma rua estreita. Àquela hora do dia, os cafés costumavam estar lotados, com pessoas desfrutando de longos almoços ao sol. Mas aquele lugar tinha uma paz diferente, uma privacidade que, por um momento, me fez suspirar aliviada. Era claro que ele escolheu aquele ambiente para que pudéssemos escapar dos olhares curiosos, e eu silenciosamente agradeci.Seguimos para uma pequena cabine de couro desgastado no fundo do café, onde ele me deixou de costas para a sala enquanto mantinha uma visão perfeita de tudo ao redor. Notei como seus olhos varriam o ambiente a cada minuto, sempre vigilantes, como se estivessem à espera de algo. O silêncio que nos acompanhava desde que saímos da casa da minha tia parecia mais pesado ali, e eu não sabia como quebrá-lo. Ainda me perguntava por que ele me chamou para almoçar, porque esse café.O garçom logo trouxe nossas bebidas. Ryuu pediu um expresso, enquanto