Olhei para Beatrice adormecida, ela estava mau apoiada na cadeira velha, eu sentia raiva pulsando no meu peito. Um filme de todas as maldades que ela me fez inundou meus pensamentos. Eu sentia tudo aquilo... bem aqui. A foto da turma da nossa infância estava bem ali na minha mão.
— Covarde, covarde, covarde...
Vozes gritavam na minha cabeça. Eu podia sentir tudo ali, inclusive a dor, porque enquanto eu olhava para ela, eu não me sentia completa?! Porque tudo isso me fazia pensar no que eu ia perder?!
Não!! Eu não perdi nada. Ela mereceu. Tom mereceu. Estão aqui porque me magoaram e merecem ser punidos, são todos doidos e sem coração, eu não fiz nada! Sou estou retribuindo, isso não me torna m&aacut
Saber que dia após dia ficaria nesse lugar não me confortava nem me deixava feliz, mas descobri da pior maneira que a solidão por vezes é a coisa mais segura, para além de vergonha sem fim, eu tinha vergonha daqueles que eu magoei, daqueles que eu maltratei e daqueles que estavam lá e eu os menosprezei.A primeira vez que entrei aqui, não fazia ideia do quão me senti grata na minha recuperação, é claro que é triste saber que todos os planos que fiz durante a minha vida nunca iria realizá-los, porque ficaria aqui pra sempre, no entanto, sabia que era seguro, mais seguro que lá fora, sabia que não magoaria ninguém, e isso me deixou aliviada.Saber que não fazia parte da sociedade, também haviam vantagens, como a ap
Se eu me olhasse no espelho veria uma mulher feita, mas insegura e não era isso o que eu queria ver, eu simplesmente queria ser corajosa para o que vinha a seguir. Eu planejei esse dia o ano inteiro, e psicologicamente eu devia estar pronta, então porque justo agora nesta manhã pensei nas coisas mais absurdas que poderiam acontecer?!Já chega! Confia em si mesma, Beatrice.Sentei na cadeira esperando Eliot terminar seus cereais, eu podia sentir minha mãos suando frio. O cheiro de panquecas no ar me fazia pensar no quão Zack está de bom humor, geralmente ele prefere torradas, mas hoje ele fez um banquete.— Não vai comer? — sentou na cadeira ao lado já erguendo a sobrancelha.
Meu pai gostava de lírios.Me lembro até hoje no dia seguinte no funeral do meu avô. Eu e ele fazíamos comida no silêncio da cozinha. Eu estava inquieta e curiosa, ele como o melhor pai entendeu que eu tinha dúvidas e me perguntou o que tanto me incomodava.— Porque não ouve flores no enterro do vovô? É algum tipo de tradição familiar na morte? Um costume?Apesar de ter receio em perguntar, sabia que ele era o único que podia me responder, nunca poderia perguntar à mamãe, pelo menos não naquele momento. Tenho a certeza que não seria muito educado. Ela não gostaria. Papai me olhou por breves segundos antes de espalhar o tempero pelo frango.
Sonhos.Nos fazem imaginar no que tudo pode ser incrível, o difícil é chegar lá. Estarmos numa constante batalha cansa até mesmo para o soldado mais corajoso. É difícil. Eu abri mão da batalha há um tempo atrás, achei que estava perdida, mas no final, acho que me descobri.Descobri que tudo que fiz de maldade me resultou em nada. Me deixei levar pela inveja. Hoje vejo o quanto estava errada, todos temos o nosso final feliz, só precisamos parar de entrar na história dos outros e tentar se focar na sua, é isso que eu estou fazendo nesse exato momento.Não propriamente agora. No momento estou perante ao túmulo do papai. Deixei lírios bem ao lado da sua foto, logo embaixo dizia "
Desci as escadas sorrateiramente tentando não fazer barulho para não acordar alguém. Abri a porta ignorando o frio e sentei sobre a cerca de madeira que separava a varanda do jardim, olhei para tudo ao meu redor sentida porque em breve eu não teria mais isso, não teria mais esse silêncio, até o cheiro dos animais eu sentiria falta.Quando comecei a sentir meus dedos dos pés e das mãos sendo congelados pelo frio, decidi entrar. Coloquei um copo de leite para aquecer e assim que ouvi o bipp do microondas.Peguei o copo de leite quentinho usando como um aquecedor para minhas mãos geladas e passei pela sala tentando gravar cada pedacinho do melhor espaço dessa casa. Subi as escadas e inevitavelmente a madeira rangeu e eu murmurei palavrõe
O outono fazia tudo mais bonito. Onde o som do vento se ouve e sacode as árvores, as folhas amarelas caem e começa a chuva fresca. Era tudo tão bonito de se ver na janela do meu quarto, principalmente porque no campo, não tinha o som dos motores de carro ou construções. Não, era só o vento, as folhas e o céu.Não poderia imaginar vida melhor, mas agora seria diferente. Observei as caixas que insistiam em me lembrar que eu tinha que enche-las para levar para a doação ou apenas para o sótão.A revista em cima da cama que eu lia, era bem informativa, mas eu preferia correr sobre as folhas amareladas do outono, ainda mais com o som do vento. Estava debruçada sobre a cama lendo sobre cinquenta fatos de uma garota da cidade, apesar de gost
Olhei mais uma vez para meu quarto para ter a certeza que não estava esquecendo de nada. Era isso... esse quarto ia ser marcado por toda a minha vida e eu ia sentir falta.— O café está na mesa — Callen falou encostado no batente da porta.— Eu já desço — fitei meu irmão.— Vai ser legal lá, só não tenta pensar muito no lado negativo — sua voz era calma e baixa, era até estranho ouvi-lo dessa maneira.— Oww, está tentando me consolar?! — brinquei com uma voz de bebê.— Você é... impossível — movimentou as mãos como s
Me joguei no sofá, e liguei a TV pra ver se estava passando alguma coisa de bom. Nada tomou minha atenção, então decidi ir trocar de roupa. Não entendo o motivo de um uniforme. Eu preferia mil vezes minhas botas de cowboy e minha jardineira. Callen entrou na cozinha como um furacão para pegar batatas e refrigerante e depois olhou pra mim com aqueles olhos pedintes.— Você pode me emprestar um dinheiro? — perguntou.— Que educação a minha!! Olá maninha, como está? Como correu o dia? — ironizei.— Desculpa — sorriu para mim — oi formiguinha, como foi o seu dia?— Hugh, sabe que odeio que me chame assim — revi