O outono fazia tudo mais bonito. Onde o som do vento se ouve e sacode as árvores, as folhas amarelas caem e começa a chuva fresca. Era tudo tão bonito de se ver na janela do meu quarto, principalmente porque no campo, não tinha o som dos motores de carro ou construções. Não, era só o vento, as folhas e o céu.
Não poderia imaginar vida melhor, mas agora seria diferente. Observei as caixas que insistiam em me lembrar que eu tinha que enche-las para levar para a doação ou apenas para o sótão.
A revista em cima da cama que eu lia, era bem informativa, mas eu preferia correr sobre as folhas amareladas do outono, ainda mais com o som do vento. Estava debruçada sobre a cama lendo sobre cinquenta fatos de uma garota da cidade, apesar de gostar do campo, eu queria me encaixar na vida de Los Angeles novamente, não queria me olhassem torto, queria ser uma adolescente normal, não aquela novata invisível.
— Quanto tempo vai levar pra encher essas caixas? — minha mãe me olhou com reprovação.
— Precisamos mesmo nos mudar? — perguntei com uma pontinha de esperança que ficássemos no nosso cafofo.
— Ficamos mais tempo do que deveríamos — olhou pra baixo pensativa.
— Eu gostei de ter ficado aqui — respondi olhando pra grande janela do meu quarto.
— Sabe que só ficamos para cuidar do seu avô — me lembrou e eu mordi o interior da minha bochecha inconformada.
Apesar de ter nascido em Los Angeles e ter crescido lá até os dez, eu preferia mil vezes esse silêncio, mas não tínhamos vindo pra cá atoa. Meu avô ficou doente e meus pais acharam melhor vir cuidar dele. Não reclamei. Sempre gostei de passar os verões na casa do vovô. Ele era sozinho, mas quando eu vinha pra cá, nós brincávamos juntos até o por do sol.
— O almoço está na mesa — o pirralho do meu irmão veio até o meu quarto avisar.
Na verdade ele não era bem um pirralho, só era um ano mais novo que eu, mas eu adoro chamá-lo assim. Ele se irrita facilmente. Abrutadamente senti suas mãos puxando minha revista, sai correndo para tentar alcançá-lo mas ele já estava longe.
— Me devolve minha revista — fui correndo e ele continuou me driblando entre os móveis da casa com facilidade.
Enquanto papai passava, Callen o usou como escudo, mas papai o jogou no sofá e começou a fazer cócegas. Lá estava o ponto fraco do meu irmão. Cócegas.
— Ahaha...pa-ra haha pai— tentou falar enquanto gargalhava.
Aproveitei esse momento e arranquei minha revista da sua mão com um sorriso vitorioso, assim papai parou de fazer cócegas.
— Jogo sujo pai — resmungou se sentando à mesa.
— Isso aí pai, mandou bem — eu e papai demos um high-five vitoriosos.
— Então já fez a mala? — papai me perguntou enquanto me servia e eu sorri amarelo.
— Ela tá adiando esse momento — respondeu minha mãe carregando a voz como se quisesse me lembrar que ela repreendia minha conduta.
Eu não queria me desfazer de nada do meu quarto. Não queria fazer as malas Não queria mudar de casa, nem mesmo ter novos amigos, eu gostava daqui.
— Quer que eu te ajude a empacotar? — papai perguntou compreensivo e eu assenti.
O almoço foi como todos os que eu tinha na minha vida, era divertido. Meus pais eram os melhores, apesar de no momento estar chateada com minha mãe, enfim, eles amavam me ouvir falando, até mesmo as brigas à mesa com o meu irmão.
— O jogo vai começar — avisou Callen animado assim se sentando no sofá — vamos.
Todos se sentaram no sofá animados para ver o jogo. Callen e mamãe se sentaram de um lado e eu meu pai do outro lado do sofá. Todos numa posição como se estivessem prontos para a guerra.
Nossa família estava dividida entre dois times. Os LA Chargers e Denver Broncos, meu pai é de Denver por isso ele sempre torceu para eles e eu... decidi seguir as pisadas do meu pai, já a minha mãe e o meu irmão torciam para LA Chargers mesmo sabendo que eles eram uns perdedores. Não sei porque eles ainda tentam.
A partida começou com os jogadores posicionados esperando o apito, e quando soou, foi até difícil acompanhar para falar de cada jogada, mas meu jogador preferido, Chad Kelly, estava lá tentando marcar, o público ia a loucura incentivando os seus times. Quando Chad fez o primeiro Touchdown eu e meu pai começamos a fazer a dancinha maluca que tínhamos inventado para passar inveja na mamãe e no Callen, mas ele logos repetiram a dancinha ao ver que um de seus o jogadores também havia feito touchdown.
Os minutos foram passando e tensão foi aumentando ao ver os dois times jogando bem, faltava poucos segundos para o jogo acabar e estávamos empatados, meu coração paltitava ansiosa pelo resultado e quando eu vi Chad pulando com a bola americana e caindo com os dois pés na linha marcando o touchdown... foi emocionante.
Eu pulei nas costas do papai e ri animada. Mamãe e Callen reviravam os olhos constantemente, mas havia sido o melhor jogo de sempre, na verdade todos os jogos eram os melhores, porque todos nós víamos em família... juntos.
De repente um relâmpago soou e a luzes se apagaram. Eu abracei papai, porque mesmo sendo uma adolescente, eu amava abraçar meu pai quando relampeava, era como se ele fosse minha proteção e eu uma pedra preciosa que ele tinha que cuidar.
— Tem lanternas na gaveta da cozinha — avisou minha mãe.
Nós caminhamos numa corrente sempre tocando nas paredes para saber aonde estávamos indo. Ao chegar na bancada onde continha a gaveta, cada um agarrou numa lanterna.
— Muito bem, eu e o Callen vamos cuidar da loiça e você e o seu pai vão empacotar as caixas — dividiu mamãe.
No segundo andar eu fui apontando para as coisas com a lanterna enquanto papai colocava na caixas que iam para o sótão ou para doação. Quanto mais enchíamos as caixas menos o meu quarto parecia ser acolhedor ou até mesmo meu.
— Sei que você gostava da nossa vida aqui, mas as mudanças fazem parte da vida, o importante é se adaptar — entrou no assunto delicadamente.
— Eu sei, só... me assusta ter que me mudar, tenho medo de ser a estranha da sala — sentei na cama e ele veio se sentar do meu lado.
— Acho que está sendo negativa, quem em sã consciência não gostaria de ser amigo da minha filha? — brincou e eu ri encostando minha cabeça em seu ombro.
— Pelo menos vou ter o senhor lá — segurei sua mão.
Meu pai não era só meu pai, era meu companheiro. Desde pequena meu pai sempre foi meu alicerce, ele era bondoso, humilde, caridoso, protetor, um verdadeiro pai.
— Você também tem a sua mãe — citou e eu revirei os olhos.
Eu não tinha um mau relacionamento com minha mãe mas, se não fosse por ela, não estaríamos indo embora desse lugar. Ela parecia obstinada a voltar para casa.
A verdade é que minha mãe odiava o campo, se ela veio, foi pela família, mas agora que o vovô morreu não tem nada que a impeça de ir embora. Ela sempre reclamou que o salto quinze dela nunca combinou com bosta de vaca. Nós sempre brigávamos por coisas banais, mas a última briga nos afastou um pouco, ela é uma mulher requintada, uma verdadeira garota da cidade. Isso não é pra ela, e mesmo que eu me esperneasse para ficarmos, ela negaria.
— Ela não parece preocupada com o meu bem estar.
— Ela só quer voltar pra casa, a nossa casa, não a leve a mal, mas ela te ama muito.
— Eu sei, só estou com raiva — mordi o interior da minha bochecha.
— Não a culpe pela mudança, está bem? Nossa vida é em Los Angeles, e ela vai precisar de nós agora mais do que nunca, ela perdeu o vovô e mesmo não demonstrando nós dois sabemos que ela está sentindo, talvez até essa casa a deixe triste porque está constantemente a lembrando que vovô não estará mais aqui— explicou e eu abaixei a cabeça envergonhada pelo meu comportamento.
Ela podia ser meio chatinha e tudo mais, mas ela ainda era minha mãe, e me amava, agi como uma filha sem coração, uma egoísta. Olhei para a janela e percebi que a tempestade já tinha se acalmado e então, a luz voltou. Eu abracei meu pai e andei escada a baixo. Ao entrar na cozinha corri para abraçar minha mãe.
— Desculpa mamãe, eu fui egoísta, não pensei na senhora, culpei a senhora por ser insensível por estarmos nos mudando, mas eu que estava sendo — deixei as lágrimas rolarem e ela retribuiu o abraço.
— Tá tudo bem — beijou meu rosto inteiro causando cócegas — me desculpa também, deveria ter te explicado os motivos ao invés de jogar a bomba e sair correndo.
Mamãe me abraçou mais uma vez, mas dessa vez Callen e papai vieram. Um abraço em família. Senti saudade da minha mãe.
Olhei mais uma vez para meu quarto para ter a certeza que não estava esquecendo de nada. Era isso... esse quarto ia ser marcado por toda a minha vida e eu ia sentir falta.— O café está na mesa — Callen falou encostado no batente da porta.— Eu já desço — fitei meu irmão.— Vai ser legal lá, só não tenta pensar muito no lado negativo — sua voz era calma e baixa, era até estranho ouvi-lo dessa maneira.— Oww, está tentando me consolar?! — brinquei com uma voz de bebê.— Você é... impossível — movimentou as mãos como s
Me joguei no sofá, e liguei a TV pra ver se estava passando alguma coisa de bom. Nada tomou minha atenção, então decidi ir trocar de roupa. Não entendo o motivo de um uniforme. Eu preferia mil vezes minhas botas de cowboy e minha jardineira. Callen entrou na cozinha como um furacão para pegar batatas e refrigerante e depois olhou pra mim com aqueles olhos pedintes.— Você pode me emprestar um dinheiro? — perguntou.— Que educação a minha!! Olá maninha, como está? Como correu o dia? — ironizei.— Desculpa — sorriu para mim — oi formiguinha, como foi o seu dia?— Hugh, sabe que odeio que me chame assim — revi
Pousei minha mochila no sofá e sentei à mesa pra tomar o café da manhã. Não havia nada que faltasse na mesa. Tinha suco, leite, panquecas, waffles. Aquilo dava pra alimentar um batalhão.— Bom dia mãe, pai — saudei enchendo meu copo de leite.— Bom dia — disseram em uníssono.— Eu preciso mesmo ir pra escola com o motorista? — perguntei meio triste — quero dizer, eu podia ir de ônibus.Papai levantou os olhos no jornal no qual estava concentrado e me olhou pensativo.— Prefere ir de ônibus? — perguntou com o cenho franzido e eu assenti — muito bem, se
Sai correndo procurando um lugar para me esconder, por sorte encontrei uma entrada que dava no ginásio. Adentrei e encontrei mais uma porta que dava no vestiário feminino. Abri a minha mochila e me deparei com meus cadernos todos húmidos e cheirando a leite azedo. Obviamente agora teria que tratar de comprar novos cadernos e uma mochila.Vi uma sombra de esperança ao me lembrar que o uniforme de educação física estava intacto. A sorte é que eu havia o colocado dentro de uma malinha junto com produtos de higiene quando fosse tomar banho depois da aula. Peguei os produtos de higiene e entrei no chuveiro não me importando nem mesmo com a água gelada que saia. Me permiti chorar ao lembrar da humilhação, não tinha mais volta, eu seria a novata mais zuada do ano.
Mamãe encostou sua testa na minha verificando mais uma vez minha temperatura, eu esperei o veredito mesmo sabendo que já não sentia nenhum sintoma de gripe.— Você não tem mais febre — declarou minha mãe — mas por precaução vou colocar um comprimido para dores na sua mochila e se não funcionar quero que vá à enfermaria — eu assenti lembrando o que significava não estar mais doente — está tudo bem, Brianna? — perguntou pela décima vez essa semana.Acho que pais tinham algum tipo de sensor. Desde que fiquei doente, ela me perguntou mais de dez vezes se eu estava bem porque eu parecia triste. Eu só disse que estava cheia de trabalhos.É t&atild
— Até de perna pra cima ela consegue ser irritante e ao mesmo tempo bonita — reclamou Selene — como ela consegue?Genevieve estava sentada na sua cadeira de rodas recebendo toda a atenção, todos estavam bastante "preocupados" com ela, queriam saber mais e mais como tinha acontecido e Genevieve aproveitou sempre aumentando a história para torná-la mais incrível. Ao que parece empurraram ela sem querer da passarela e Genevieve quebrou a perna, acho que isso não foi de todo ruim, agora ela recebe mais atenção do que antes.— Inveja dá ruga, cuidado maninha! — brincou Vincent.— Sai pra lá, credo, não roga praga pra mim não — jogou uma batatinha na cara do ir
Com o natal chegando e os jogos da escola Bryatt, todos pareciam estar agitados, os professores nos empanturravam de mais matéria para a prova como se eles pensassem que meu cérebro aguentava tanta matéria em apenas uma ou duas horas de aulas. A escola inteira já animada com o que iria acontecer no próximo mês, já eu estava mais destraida mas feliz que em breve acabaríamos o ano e em breve o ano letivo.As largas árvores que faziam da entrada da escola a mais bonitas que já vira estava sempre ocupadas com pessoas em baixo desfrutando do seus tempos livres, mas com o tempo frio e nada acalentador, todos se escondiam no interior deixando pouco espaço pra quem queria passar no corredor, além de correr o risco e cair de bunda no chão se o chão estivesse molhado.
Espirrei ao sentir plumas do travesseiro perto do meu nariz, olha em volta e o quarto estava uma bagunça, eu estava com um vestido que nem era meu, minha cara se encontrava cheia de maquiagem que ainda por cima estava borrada e depois de um segundos de branco lembrei o havia acontecido na noite anterior.Eu bebi demais e pouco lembro do que fiz, o que explica a minha cabeça e estar latejando, mas lembro do começo quando cheguei, as garotas chamaram garotos e a festa do pijama virou festa normal, lembro de no começo ter negado a bebida mas depois eu bebi e eu continuei, é tudo que lembro. Olhei no meu celular e arregalei os olhos ao olhar para a hora. Merda! Vou chegar atrasada.Rapidamente limpei meu rosto que estava todo borrado de maquiagem, me aprontei devidamente e logo depois desci as escada