POV OlíviaUma semana havia se passado desde o dia do baile. O castelo agora se preparava para o casamento do príncipe e sua coroação que seria em três meses. Eu não o via desde aquela noite. Dois dias depois do baile ele havia viajado com o rei para negociar uma aliança com outro reino, deixando a rainha e Miranda no comando do castelo. E isso era um pesadelo.Miranda parecia determinada a transformar minha vida em um inferno desde que assumiu as rédeas da casa. Cada tarefa que eu fazia era recebida com críticas. “Olívia!” A voz dela ecoou pelo salão principal, onde eu estava ajustando os arranjos de flores que enfeitariam o chá da tarde que ela faria com suas amigas. Meu estômago revirou, mas continuei focada no trabalho.“Sim, senhorita Miranda?” respondi, sem me virar.“Esses arranjos estão tortos!”Olhei para ela por um segundo, tentando manter a calma. “A senhorita Smith aprovou essa disposição.”“Bem, agora eu desaprovo.” Ela se aproximou, tirando um dos vasos da mesa e o co
POV OlíviaCom passos leves, caminhei em direção à cozinha. Meu estômago roncava, e tudo que eu queria era encontrar algo quente para beber antes de dormir. O castelo estava silencioso, quase adormecido. Apenas o som distante do vento preenchia os corredores. Empurrei a porta da cozinha, esperando que estivesse vazia.Mas não estava.Meus olhos se arregalaram ao encontrar Felipe. Ele estava de costas, sem camisa, apenas com uma calça jeans cinza que pendia perigosamente na cintura. Seus ombros largos e costas bem definidas brilhavam sob a luz amarelada que emanava da cozinha. Ele mexia algo em uma panela com movimentos lentos e despreocupados. Meu coração deu um salto inesperado. Foda-se! Como ele podia estar tão à vontade enquanto eu sentia meu corpo travar completamente? Não deveria me abalar dessa forma. Ele era só um homem, afinal. Só o príncipe que, sem esforço algum, conseguia virar meu mundo de cabeça para baixo.Instintivamente, comecei a recuar. Minha intenção era sair sem
POV Olívia Estava na biblioteca do castelo organizando papeladas e livros, quando o telefone tocou. Ao verificar de quem se tratava, meu coração deu uma apertada ao ver que era a fisioterapeuta da vovó. “Olívia? Aqui é a Mariana, fisioterapeuta da sua avó.” “Oi, Mariana. Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?” “Olívia, eu preciso ser direta. Não posso continuar as sessões. As últimas quatro estão pendentes, e, por mais que eu queira ajudar, tenho minhas necessidades e também tenho contas a pagar.” Meu coração disparou. “Por favor, só mais um pouco de paciência. Minha avó precisa dessas sessões. Eu prometo que vou resolver isso. Só preciso de mais tempo.” Ela suspirou do outro lado da linha, com a voz triste. “Eu sinto muito, Olívia. De verdade. Mas não posso continuar assim.” Respirei fundo, tentando manter a voz firme. “Tudo bem. Eu vou dar um jeito.” “Espero que consiga resolver. Sua avó é uma mulher incrível. Torço por vocês.” “Obrigada e…me desculpe!” Desligu
POV Felipe O escritório estava mais silencioso do que de costume após Olívia sair, mas minha mente estava em turbilhão. Eu sabia que aquela proposta da minha mãe não era apenas uma “oportunidade” para Olívia. Era um jogo sujo, uma tentativa clara de humilhá-la e, de quebra, de me provocar. Eu não conseguia esquecer o olhar dela ao aceitar a proposta. Orgulho ferido, resignação e, acima de tudo, dor. Passei o resto da tarde tentando me concentrar nas obrigações que tinha, mas tudo parecia secundário comparado ao que estava acontecendo com ela. E então, ao ouvir por acaso Fernanda mencionar o envelope que entregaria a Olívia, entendi tudo. Ela estava desesperada por dinheiro, ao ponto de pedir ajuda à minha mãe. Aquilo foi como um soco no estômago. No final da tarde, pedi ao meu assistente para organizar imediatamente o pagamento das próximas sessões de fisioterapia para a avó de Olívia. Sabia que a situação dela estava difícil, mas também sabia que Olívia jamais aceitaria uma ajud
– POV FelipeO céu estava pintado de vermelho e laranja, mas o espetáculo da natureza não tinha nenhum efeito sobre o caos dentro de mim. Sentado na área de ginástica do castelo, eu tentava a todo custo acalmar o turbilhão na minha cabeça, mas não tive muito tempo de paz.Os saltos ecoaram pelo corredor de pedra, e antes mesmo de virar, eu já sabia quem era.“Felipe, você não cansa de fugir, não?”Olhei por cima do ombro, encarando Miranda com a paciência que me restava. “O que você quer, Miranda?”“Conversar, talvez? Ou isso também é pedir demais pra sua Alteza Real?”“Se for sobre esse casamento, nem abre a boca.” Levantei, cruzando os braços. “Já tô de saco cheio de você e de toda essa palhaçada.”Ela arqueou uma sobrancelha, aquele maldito sorriso arrogante brincando nos lábios. “Ah, tá de saco cheio? E eu, Felipe? Você acha que essa merda é fácil pra mim? Ter que aturar o ingrato que você está sendo? Soltei uma risada amarga. “Ingrato? Eu não pedi nada disso, Miranda. Essa merda
– POV Olívia Eu estava deitada no meu quarto, com um livro aberto no colo, tentando focar nas palavras, mas minha mente insistia em vagar quando o som de passos apressados no corredor me tirou dos pensamentos. Antes que eu pudesse reagir, uma batida pesada fez a porta tremer. “Entra!” chamei, com o coração acelerando sem motivo aparente. A porta se abriu com um estrondo, e Felipe surgiu, descomposto. A camisa desabotoada revelava parte do peito, o cabelo estava bagunçado, e seu olhar era intenso o suficiente para me deixar inquieta. “Felipe? O que aconteceu?” Levantei-me, alarmada ao ver o seu estado. “Você bebeu?” “Cala a boca, Olívia,” ele disse, com a voz rouca e afiada, fechando a porta atrás de si com força. Eu pisquei, surpresa. “O quê? Você tá louco? Quem você pensa que é pra entrar aqui e falar comigo desse jeito?” Ele me encarou, os olhos ardendo. “Eu disse pra calar a boca!” Ele deu um passo à frente, e a tensão entre nós pareceu preencher o quarto inteiro.
POV Olívia 11 anos atrás Estava escondida na estufa do castelo, cercada por plantas que se entrelaçavam em um emaranhado de verdes e flores coloridas. O cheiro da terra molhada e o leve toque do sol me envolviam, como um manto acolhedor que me protegia do mundo exterior. Era um refúgio, um lugar onde eu podia me perder em pensamentos enquanto tentava esquecer a dor que pesava. Eles fizeram de novo… desta vez, pra sempre. Faziam 3 meses que meus pais foram embora, e eu havia aprendido a contar os dias com um peso crescente de desespero. Era como se uma parte de mim tivesse se apagado, um buraco negro se formando onde antes havia amor e segurança. O dinheiro para eles vinha primeiro que o “amor” que diziam sentir por mim, a minha criação só traria despesas e prejuízo. Quando eles desapareceram pela primeira vez, eu tinha apenas 7 anos. Vovó sempre dizia que eles voltariam, que era só uma fase, mas agora, com o olhar triste e resignado que ela usava, percebi que, desta vez, era
POV Felipe A coroa se aproximava como a porcaria de um vendaval. Eu sabia que o inevitável estava a caminho. Meus pais, o rei e a rainha de Eldora, estavam em cima de mim, me sufocando com a chegada da coroação… e claro sempre insistindo para que eu escolhesse logo a rainha que governaria ao meu lado. Agora, com o baile planejado por eles para que eu conhece as mais nobres, parecia que estavam tentando me empurrar para um mar de piranhas interesseiras, como se eu fosse um produto em exibição. “Sinceramente? Eu não quero me casar, eu nem ao menos queria essa mer*da de coroa.” Esse pensamento se repetia em minha mente, uma pequena revolta que eu escondia. Se meus pais soubessem disso, o reino de Eldora desabaria. A ideia de assumir um trono, com todas as suas obrigações, era sufocante. Essa manhã decidi ir ao jardins do castelo, estava cercado por primos e conhecidos, fazendo o que fazíamos sempre, jogar croqué. O sol brilhava intensamente, mas eu me sentia distante, como se u