..... DIA SEGUINTE ..... LANA Pela centésima vez — desde quando completei o terceiro trimestre da gestação — organizo e reviso as malas que levarei ao hospital. Não me contenho em pegar uma peça de mijãozinho do bebê e inalar o cheiro delicado. "Em breve terei alguém vestindo todas estas roupinhas." — penso. Respiro fundo para acalmar as emoções, todo o momento em que penso a respeito do bebê sinto-me ansiosa — isso acontece toda hora. Sinto a minha mente um turbilhão de pensamentos e nenhum deles consegue me acalmar, senão o fato de estar próximo de conhecer o meu bebê. Um destes pensamentos é sobre as mudanças... Como ficará o meu corpo? Como ficará a minha carreira? O meu cargo? E a minha casa? Com certeza, esta casa não será a mesma com a chegada do bebê.Como será o bebê? Será que ele herdará os lindos olhos verdes de Vicente? Quais traços ele herdará de mim? Mas de todos os questionamentos, pensar sobre Vicente é o pensamento mais intrigante. Poderíamos
No jantar, o Vicente decidiu que faríamos a "noite do hambúrguer". Não foi surpresa ver o Vicente preparar tudo. Quebramos o protocolo de fazer a refeição na sala de jantar e vamos para a sala de estar, onde assistimos uma série. — Pensou a respeito da proposta da Chef Sophia? — pergunto. O Vicente não tocou no assunto o dia todo, encontrei ele lendo o envelope mas havia me contido em tocar no assunto, até agora. — Sim. — Vicente, você precisa fazer isso. — expresso a minha opinião. — Não quer mais me ver em casa? — ele arqueia a sobrancelha. — Bobo! — rimos — Não é isso, eu penso ser uma chance incrível para você. — Mas você... — Eu estarei bem. — apresso-me em dizer — Eu tenho minha mãe e a Luna para me ajudar. — Você realmente acha que eu devo fazer isso? — Vicente pergunta-me como se minha resposta fosse importante. "E talvez seja mesmo..." — penso. — Sim, eu tenho certeza. — falo com sinceridade — Você sempre foi apaixonado pela culinária, e agora é a sua chance de
Fizemos a refeição juntos, com o uso de poucas palavras. Ao terminarmos, o garçom vem retirar os pratos e avisa que logo a sobremesa será servida. Decido dar continuidade da conversa, agora perguntando algo que já devia ter perguntado muito antes: — Vicente, você parece ter muitas experiências para alguém... relativamente jovem... — faço pequenas pausas para encontrar as melhores palavras para fazer a seguinte pergunta — Quantos anos você tem? — Tenho vinte e oito anos, ainda estou descobrindo o mundo. — Vicente responde com um sorriso. Eu tinha razão! O Vicente é jovem, não tem nem trinta anos. Onde eu estava com a cabeça para dar atenção a um rapaz com esta idade?! Sei que fiz algumas caretas de surpresa e decepção ao ouvir a resposta dele, ajeito-me na cadeira para transparecer estar bem. — Você... É muito jovem. — é difícil esconder o desconforto na voz. — Isso importa? — é a primeira vez que sinto ironia na voz do rapaz. — Não... Não deveria. — falo com hesitação. Vice
LANA Enfim, a sala de reuniões é deixada pelos gestores e posso sentar-me em uma das cadeiras. Com esse movimento, os meus músculos relaxam e solto um longo suspiro de alegria. A última reunião da semana com os gestores sobre o desempenho financeiro da empresa. Apresentei os dados financeiros como: balanços, demonstrativos de resultados e identificar riscos financeiros. Todos saíram satisfeitos. Apesar dos anos de experiências na área, admito que o nervosismo sempre está presente nestas reuniões. A atitude de relaxar sozinha na sala de reuniões após cumprimentar todos os colaboradores é um rito particular. ..... No caminho de volta para a minha sala, tenho a infelicidade de encontrar Eduardo, o encarregado pelo setor de produção, vindo no caminho oposto. — Senhorinha Lana. — Eduardo sorri ironicamente — Surpreende-me que ainda esteja aqui, ao invés de sua sala, a reunião já se encerrou tem trinta minutos. — Eduardo, o que você quer? — mantenho a postura e o tom de voz
Escuto uma batida na porta, em seguida a mesma é aberta revelando a presença de Ágatha, a tesoureira da empresa. — Bom dia, Lana! — Ágatha abre um sorriso. — Bom dia, Ágatha! — retribuo o sorriso. A tesoureira é uma mulher de meia-idade muito calorosa e gentil. — Vim ver se você já revisou os contratos e acordos financeiros da semana passada. — Ágatha informa o motivo de sua visita. — Já sim, na verdade, iria pedir para levarem em sua sala daqui a pouco. — conto. — Que gentileza, porém, estou precisando destes contratos, por isso a pressa. — ela se explica — Como esta é a sua última semana antes de se ausentar, não quero que nada fique pendente. — Entendo. Estou com este intuito também. — afirmo. Estendo os muitíssimos papéis de nossos clientes para a mulher que caminha até a minha mesa e sorri: — Obrigada, Lana. Faço um movimento de agradecimento com a cabeça e volto a atenção para o meu monitor. Sem mais de longas, a Ágatha pede licença e se retira da sala.
..... ALGUNS DIAS DEPOIS ..... Não sou alguém de ter muitos passatempos, os últimos anos tenho estado concentrada em meu trabalho e não tive tempo para desenvolver lazeres, mas algo que não negocio é ir à casa da minha mãe e aproveitar o tempo juntas, é claro acompanha da minha irmã gêmea fraterna, Luna. De gêmeas, apenas a gestação mesmo, pois a Luna e eu somos totalmente diferentes. Durante o café da tarde, servido na sala de visitas, estou confortavelmente sentado em um dos sofás com uma xícara de chá enquanto a minha irmã Luna escolheu a poltrona. — Obrigada, mãe. — Luna agradece quando a nossa mãe, Maria Helena, entrega um generoso pedaço de bolo. — Lana, você precisa casar e ter filhos. — a minha mãe diz de forma inesperada ao se sentar ao meu lado no sofá. — Como? — pisco algumas vezes — Como a conversa chegou neste assunto mesmo? — A mãe não espera cerimônias para começar assuntos embaraçosos, Lana. — Luna lembra, seu olhar é de diversão. — Você precisa formar
..... DOIS DIAS DEPOIS — DOMINGO ..... Solto outro suspiro de tranquilidade, enquanto tomo o meu café matinal na varanda do apartamento, apreciando o dia ensolarado. A viagem não foi tão longa, se eu fosse dirigindo de carro levaria em torno de 3 horas para chegar, mas de avião foi uma economia de tempo. Ainda assim, ao fazer o check-in no hotel, fui para o apartamento e dormi até o dia seguinte. ✓ Colocar o sono em dia. Pedi o serviço de quarto nesta manhã para poder tomar o café matinal sozinha, ao invés de me juntar aos demais hóspedes no salão. Há uma particular peculiaridade minha que prefere lugares reservados e estar sozinha, não me admira ter poucos amigos. Quando a empresa onde trabalho aprovou o meu período de um mês afastada do trabalho, pensei em procurar por um hotel fazenda para ter a paz do campo. Porém, não seria proveitoso para mim no quesito lazer, pois não sinto vontade alguma de interagir com os demais hóspedes nas atividades propostas por estes ho
Deixo o celular de lado após tirar algumas fotos e viro-me para ver quem é o homem que está insistindo em puxar assunto comigo. Ao meu lado está um homem alto, — os meus olhos estão na altura de seus ombros — vestido com um dólmã, o cabelo está escondido em uma bandana e a sua atenção está no “stand”. — Não sou muito fã de comida de rua. — conto. A sua atenção se volta para mim e agora, os seus olhos verdes me fitam, a propósito, lindos olhos verdes. — Não há com o que se preocupar, a vigilância sanitária é bem rigorosa aqui. — o homem afirma. — Que bom! — é o que digo — Você é o chefe neste “stand”? — pergunto. — Na verdade, estou apenas assistindo a um amigo chefe preparar o seu prato. — o rapaz conta, ele faz um movimento com a cabeça para cumprimentar o outro chefe e o mesmo corresponde ao gesto. — Interessante. — é o que digo. A olhar pela aparência do rapaz, percebo que ele deve ter menos que trinta anos. Uma pena, tão novinho. "Pare de se encantar por um estranho!" —