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..... ALGUNS DIAS DEPOIS .....

Não sou alguém de ter muitos passatempos, os últimos anos tenho estado concentrada em meu trabalho e não tive tempo para desenvolver lazeres, mas algo que não negocio é ir à casa da minha mãe e aproveitar o tempo juntas, é claro acompanha da minha irmã gêmea fraterna, Luna.

De gêmeas, apenas a gestação mesmo, pois a Luna e eu somos totalmente diferentes.

Durante o café da tarde, servido na sala de visitas, estou confortavelmente sentado em um dos sofás com uma xícara de chá enquanto a minha irmã Luna escolheu a poltrona.

— Obrigada, mãe. — Luna agradece quando a nossa mãe, Maria Helena, entrega um generoso pedaço de bolo.

— Lana, você precisa casar e ter filhos. — a minha mãe diz de forma inesperada ao se sentar ao meu lado no sofá.

— Como? — pisco algumas vezes — Como a conversa chegou neste assunto mesmo?

— A mãe não espera cerimônias para começar assuntos embaraçosos, Lana. — Luna lembra, seu olhar é de diversão.

— Você precisa formar uma família. — a minha mãe repete.

Ah! Lembrei que estávamos falando do meu período sabático e o quanto estou empolgada para embarcar amanhã no avião e ficar longas semanas em uma cidade distante dos meus problemas e preocupações.

Ainda assim, este assunto não faz ligação com "formar uma família".

— Você está certa, Luna. — concordo — Odeio estes assuntos embaraçosos que a mamãe insiste em discutir.

— Não me ignore, Lana. — a mulher nos interrompe.

Decido enfrentar as palavras da minha mãe:

— Mãe, eu estou feliz assim. — acrescento — Agora, a minha carreira está decolando.

— A vida corporativa é passageira. — minha mãe insiste em argumentar.

— Mãe, não pressione. — a minha irmã Luna toma a frente da palavra — A Lana tem o direito de escolher.

— Mas Luna, você é feliz com a sua família. Por que Lana não pode ser também?

— Eu admiro a escolha da Luna, mãe, mas eu quero a minha liberdade. — respondo à indagação da mulher mais velha.

A carreira profissional da minha mãe foi bem sucedida, ela escolheu ser psicóloga e foi grandiosa na profissão. Ainda assim, constituiu uma família e até os dez anos de nossas vidas, ela se dedicou integralmente em nossa criação, após isto retornou ao consultório.

Enquanto a Luna, se formou em letras e dá aulas em escolas particulares da cidade, ela também se casou com o Pedro, meu adorável cunhado e nos abençoou com duas lindas e educadas crianças, o Cauê e a Raíssa — netos que fazem valer a pena a aposentadoria da nossa mãe.

É difícil estar com 35 anos e ter que enfrentar os conflitos de valores com a minha mãe, pois aos seus olhos eu deveria ter uma família completa como a minha querida irmã e deixar a minha carreira de lado.

— Liberdade? — Maria Helena indaga e faz uma careta de desaprovação — A sua carreira não te dá liberdade e também não é uma vida adequada. Você precisa de uma família, Lana!

Respiro fundo para manter a calma e continuar a apreciar este momento com às duas mulheres que eu mais amo neste mundo, pois ficarei semanas sem vê-las.

— Eu sei o que quero, mãe. — é o que digo por fim.

Um silêncio constrangedor se instala e penso que agora a minha mãe decide mudar de assunto.

— Eu só quero o melhor para você, Lana, pois é a minha filha. — minha mãe diz com os olhos fixos na mesa de centro, seu tom é de mágoa.

— Mãe, lembra quando eu disse que gostaria de ser mãe? Você me apoiou. Faça o mesmo por Lana. — a Luna se manifesta na conversa, tentando suavizar o clima entre nós.

— Eu apoio vocês quererem ser mães. — a mulher resmunga.

Reviro os olhos.

A Luna sempre agiu como a filha perfeita que a minha mãe sempre quis, se formou e desenvolveu a profissão, mas no tempo certo deixou isso de lado e começou a se dedicar a formar a sua família.

O problema é que para mim, não haverá momento certo para tal.

No fundo, sinto-me culpada por não cumprir com as expectativas da anfitriã da família.

.....

Após um desastroso café da tarde na casa da minha mãe, o qual só melhorou quando mudamos de assunto, despedi-me dela quando começou a anoitecer.

A Luna decidiu ir para casa também, pois tem muitos afazeres.

Do lado de fora da casa, na calçada nós duas começamos a conversar. A Luna puxa assunto sobre o que havíamos falado com a minha mãe:

— Lana, você tem sorte. Pode viajar, trabalhar e viver sozinha.

— Sorte? — questiono.

— Eu estou presa em rotinas. — Luna sorri amarelo, sinto uma tristeza em sua fala.

— Presa? Você escolheu ser mãe e esposa, Luna. É uma escolha linda. — afirmo.

— Sim, mas às vezes sinto falta de liberdade. — ela continua — Você nunca se sentiu culpada por não seguir o caminho tradicional? Crescer, casar e ter filhos?

— Às vezes. — admito.

— Talvez sempre vamos sentir falta de algo, eu de liberdade e você de se prender a alguém. — Luna faz um comentário.

— Talvez. Cada um tem o seu caminho. — murmuro.

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