LANA
Enfim, a sala de reuniões é deixada pelos gestores e posso sentar-me em uma das cadeiras. Com esse movimento, os meus músculos relaxam e solto um longo suspiro de alegria. A última reunião da semana com os gestores sobre o desempenho financeiro da empresa. Apresentei os dados financeiros como: balanços, demonstrativos de resultados e identificar riscos financeiros. Todos saíram satisfeitos. Apesar dos anos de experiências na área, admito que o nervosismo sempre está presente nestas reuniões. A atitude de relaxar sozinha na sala de reuniões após cumprimentar todos os colaboradores é um rito particular. ..... No caminho de volta para a minha sala, tenho a infelicidade de encontrar Eduardo, o encarregado pelo setor de produção, vindo no caminho oposto. — Senhorinha Lana. — Eduardo sorri ironicamente — Surpreende-me que ainda esteja aqui, ao invés de sua sala, a reunião já se encerrou tem trinta minutos. — Eduardo, o que você quer? — mantenho a postura e o tom de voz firme. — Apenas admirando sua ascensão. — Eduardo prossegue com o seu tom de chacota — Quem diria que uma mulher ocuparia o seu cargo? A verdade é que eu, Lana de Oliveira Duarte, sou a primeira mulher a assumir o cargo de analista financeiro sênior desta empresa. Todos os sênior que passaram por aqui eram do sexo masculino, então é notório a surpresa de muitos — senão, todos — colaboradores que descobrem que o cargo de sênior pertence a uma mulher. — Minha competência me levou aqui. — é a minha resposta acompanhada de um olhar penetrante. — Claro, claro. — Eduardo diz indiferente — E quanto tempo até você provar que não é capaz? É impressionante que desde quando houveram os rumores que o diretor-executivo da empresa estava cogitando a ideia de me elevar de cargo, o Eduardo faz questão de dizer em alta voz o quanto desaprova a ideia; ele não é bobo de falar isso perto dos ouvidos do diretor-executivo — isto seria um insulto, na tentativa de dizer que o diretor tomou a decisão errada — mas diz para os demais gestores a sua reclamação para comigo. — Já provei minha capacidade, diretor. — digo calmamente — Você é quem parece ter dificuldades em aceitar mulheres em cargos de poder. — Isso não é sobre gênero, é sobre competência. — Eduardo contradiz, agora em um som mais áspero — E você não tem a mesma visão que um homem. Penso o quanto estava melhor com o Eduardo calado durante a reunião, do que este momento em que ele decide destilar o seu veneno e preconceito. — Preciso lembrá-lo toda vez disso, diretor? — prossigo — A minha visão é baseada em dados e estratégias. Não em preconceitos. Alguns funcionários passam e agem como se percebessem a tensão entre nós dois. — Se me der licença, tenho trabalho a fazer. — aproveito o momento para sair dali e não dar tempo do Eduardo continuar com os comentários hostis. Ao adentrar a minha sala, solto um outro suspiro, agora de irritação. Há momentos que é difícil acreditar que existam pessoas que escolhem infernizar a vida alheia, mas ao me deparar diariamente com o Eduardo, noto que é uma realidade. Todos que sabem sobre esta hostilidade do Eduardo com a minha pessoa afirmam que o mesmo sente inveja e ciúmes de mim, por alcançar um cargo tão alto. Enquanto eu tenho nove anos de empresa, o Eduardo tem seis anos e ao entrar aqui, ele entrou com o cargo que ocupa até hoje — diretor de operações. Na época, este cargo era mais importante que o meu, contudo, tem um ano que eu fui elevada e desde então esta picuinha infantil começou. Em minha primeira semana como sênior vivenciei o preconceito de Eduardo: LEMBRANÇA ON — Lana, você realmente acha que pode liderar um setor melhor do que um homem? Fico pasma com as palavras que saem da boca do Eduardo. Ainda estou me adaptando em minha nova sala e também com as minhas mais novas responsabilidades como analista financeiro sênior da empresa. Assustei quando a porta foi aberta de supetão pelo diretor de operações; mesmo a porta sendo de vidro, o que torna a minha visão mais clara de quem me chama, não estava esperando pela visita tão inesperada dele. — Minha capacidade não tem gênero, Eduardo. — digo em resposta, após conseguir formular uma frase — São habilidades e experiências. — Mulheres são mais emocionais e menos objetivas. Como irá lidar com a pressão? — Eduardo exige saber. — O senhor está agindo com preconceito. — acuso. Não me dou o trabalho de ficar em pé e encarar olho no olho Eduardo, a conversa me deixa atordoada e não posso fraquejar diante deste valentão. — Você está aqui apenas por quota ou relações? — Eduardo indaga. Contenho as lágrimas que se formam em meus olhos. "Seja forte!" — digo a mim mesma. — Estou aqui por mérito, diretor. — continuo — E você deveria respeitar a minha posição. LEMBRANÇA OFF Após este episódio, reportei para o conselho da empresa e o Eduardo sofreu consequências por conduta inapropriada. Foi até necessário um treinamento oferecido pela empresa para os funcionários compreenderem sobre a diversidade e inclusão. Infelizmente o Eduardo não deixou o seu preconceito de lado, no entanto, aprendi a colocar ele em seu devido lugar sempre que uma situação irritante acontece.Escuto uma batida na porta, em seguida a mesma é aberta revelando a presença de Ágatha, a tesoureira da empresa. — Bom dia, Lana! — Ágatha abre um sorriso. — Bom dia, Ágatha! — retribuo o sorriso. A tesoureira é uma mulher de meia-idade muito calorosa e gentil. — Vim ver se você já revisou os contratos e acordos financeiros da semana passada. — Ágatha informa o motivo de sua visita. — Já sim, na verdade, iria pedir para levarem em sua sala daqui a pouco. — conto. — Que gentileza, porém, estou precisando destes contratos, por isso a pressa. — ela se explica — Como esta é a sua última semana antes de se ausentar, não quero que nada fique pendente. — Entendo. Estou com este intuito também. — afirmo. Estendo os muitíssimos papéis de nossos clientes para a mulher que caminha até a minha mesa e sorri: — Obrigada, Lana. Faço um movimento de agradecimento com a cabeça e volto a atenção para o meu monitor. Sem mais de longas, a Ágatha pede licença e se retira da sala.
..... ALGUNS DIAS DEPOIS ..... Não sou alguém de ter muitos passatempos, os últimos anos tenho estado concentrada em meu trabalho e não tive tempo para desenvolver lazeres, mas algo que não negocio é ir à casa da minha mãe e aproveitar o tempo juntas, é claro acompanha da minha irmã gêmea fraterna, Luna. De gêmeas, apenas a gestação mesmo, pois a Luna e eu somos totalmente diferentes. Durante o café da tarde, servido na sala de visitas, estou confortavelmente sentado em um dos sofás com uma xícara de chá enquanto a minha irmã Luna escolheu a poltrona. — Obrigada, mãe. — Luna agradece quando a nossa mãe, Maria Helena, entrega um generoso pedaço de bolo. — Lana, você precisa casar e ter filhos. — a minha mãe diz de forma inesperada ao se sentar ao meu lado no sofá. — Como? — pisco algumas vezes — Como a conversa chegou neste assunto mesmo? — A mãe não espera cerimônias para começar assuntos embaraçosos, Lana. — Luna lembra, seu olhar é de diversão. — Você precisa formar
..... DOIS DIAS DEPOIS — DOMINGO ..... Solto outro suspiro de tranquilidade, enquanto tomo o meu café matinal na varanda do apartamento, apreciando o dia ensolarado. A viagem não foi tão longa, se eu fosse dirigindo de carro levaria em torno de 3 horas para chegar, mas de avião foi uma economia de tempo. Ainda assim, ao fazer o check-in no hotel, fui para o apartamento e dormi até o dia seguinte. ✓ Colocar o sono em dia. Pedi o serviço de quarto nesta manhã para poder tomar o café matinal sozinha, ao invés de me juntar aos demais hóspedes no salão. Há uma particular peculiaridade minha que prefere lugares reservados e estar sozinha, não me admira ter poucos amigos. Quando a empresa onde trabalho aprovou o meu período de um mês afastada do trabalho, pensei em procurar por um hotel fazenda para ter a paz do campo. Porém, não seria proveitoso para mim no quesito lazer, pois não sinto vontade alguma de interagir com os demais hóspedes nas atividades propostas por estes ho
Deixo o celular de lado após tirar algumas fotos e viro-me para ver quem é o homem que está insistindo em puxar assunto comigo. Ao meu lado está um homem alto, — os meus olhos estão na altura de seus ombros — vestido com um dólmã, o cabelo está escondido em uma bandana e a sua atenção está no “stand”. — Não sou muito fã de comida de rua. — conto. A sua atenção se volta para mim e agora, os seus olhos verdes me fitam, a propósito, lindos olhos verdes. — Não há com o que se preocupar, a vigilância sanitária é bem rigorosa aqui. — o homem afirma. — Que bom! — é o que digo — Você é o chefe neste “stand”? — pergunto. — Na verdade, estou apenas assistindo a um amigo chefe preparar o seu prato. — o rapaz conta, ele faz um movimento com a cabeça para cumprimentar o outro chefe e o mesmo corresponde ao gesto. — Interessante. — é o que digo. A olhar pela aparência do rapaz, percebo que ele deve ter menos que trinta anos. Uma pena, tão novinho. "Pare de se encantar por um estranho!" —
..... DIA SEGUINTE - 2° FEIRA .....Apesar de ser uma cidade pequena, descobri haver grandes propriedades rurais afastadas do ambiente urbano, desta forma, decidi alugar um carro para poder explorar.No entanto, eu não contava com um imprevisto no caminho.— Merd@! — solto um xingamento ao descer do carro e me deparar com o pneu de trás furado.Eu ainda nem havia entrado na estrada, o pneu furou em uma vicinal.— É o meu dia de sorte. — falo ironicamente.Não há ninguém por aqui, o qual possa me ajudar com a troca do pneu e também não tenho experiência com mecânica.Decido que a melhor opção é encontrar um mecânico para vir me socorrer.Volto para dentro do carro e começo a procurar na internet através do meu celular oficinas perto de mim.Ao encontrar o contato de uma oficina, adiciono o número e envio uma mensagem, caso não obtenha retorno imediatamente irei apelar para uma ligação.💬 Boa tarde, tudo bem?💬 Preciso de ajuda, estou encalhada na estrada com o pneu do carro furado.A
Após um tempo em silêncio, o Vicente faz outro comentário para me provocar:— Parece que você tem talento para encontrar problemas. — pausa rápida — Ou problemas para encontrar você?— E você tem talento para fazer piadas ruins. — respondo ríspida.Vicente ri e continua a trocar o pneu com habilidade.Nos dez minutos em que estou esperando o carro estar pronto, a minha vontade é gritar e reclamar, talvez seja porque detesto imprevistos, ou o calor que me faz transpirar sem parar ou então... O humor irritante de Vicente que tenta quebrar qualquer silêncio que se instala entre nós Entretanto, quando Vicente se levanta e guarda o pneu furado no porta-malas do carro alugado, indicando que o serviço está completo, me sinto envergonhada. A camiseta branca de Vicente está suja e isso me faz lembrar de que ele não é o mecânico, mas ainda assim veio socorre-la rapidamente.— Vicente, peço desculpas pelo meu comportamento. Estou um pouco estressada devido a este contratempo. — digo em um tom m
— Pronta para ver o prato vencedor? — Vicente pergunta-me quando o forno elétrico faz um som indicando ter dado o tempo. — Mal posso esperar. — respondo. Estou sentada em uma das banquetas, ao lado da bancada de mármore. O Vicente se levanta, pega um pano de prato e abre o forno. — Essa não... — ele resmunga. — O que houve? — pergunto curiosa. Algo parece ter dado errado. Vicente se vira e traz consigo o risoto de lagosta, ao deixar na bancada percebo que o prato que foi levado ao forno está com o fundo carbonizado. — Guru, isso é culinária ou magia negra? — caçoo — Eu sabia que não existia ingrediente secreto, você usou feitiçaria mesmo para ganhar novamente o concurso. Rimos. — Isso com certeza é culinária, Lana. — Vicente acrescenta — Com um toque de drama. Aprenda a arte de transformar ingredientes em carvão. Rimos novamente e Vicente começa a improvisar para consertar o pequeno problema com o prato. — Pronto. Consegui salvar o prato! — Vicente exclama. Tra
Quando o assunto se encerra, nos encaramos por um tempo e sinto o meu rosto rubonizar por ter a atenção do Vicente em mim. — Bom... Eu vou dar um jeito nesta louça. — levanto-me e começo a juntar os pratos e talheres usados na refeição. — Deixa que eu cuido disso. — Vicente se apressa em levantar e pegar a louça. — Não precisa de preocupar, Vicente. Além disso, você já preparou o jantar... — lembro. — Esta foi uma aula, sendo assim eu me responsabilizo pela louça também. — Vicente insiste. — Tudo bem, mas irei ajudá-lo. — aviso. Juntos, começamos a organizador a cozinha, não há tanta sujeira, pois enquanto cozinhava Vicente limpava o que usava. — E o pretende fazer nos próximos dias durante... Como você chama mesmo..? Hum... Período sabático? — Vicente pergunta. — Ainda não sei. Quero aproveitar para renovar as energias. — respondo incerta — Ainda tenho um mês para pensar em tudo o que posso fazer. — Irá para outra cidade? — Não, escolhi ficar este período todo a