Beatriz
Deslizei o celular suavemente para cima da mesa e olhei através das janelas, para o gramado no fundo da minha casa e as árvores balançando suavemente com a brisa da manhã.
A sensação boa da corrida que acabara de fazer estava se esvaindo. Tudo que eu conseguia pensar era nas fotos de Rê deixando seu apartamento de cabeça baixa em meio a uma multidão.
E eu que tinha imaginado que o dia anterior já tivesse sido ruim. Com toda a especulação sobre a identidade dele, e nossas fotos estampadas em todos os lugares possíveis.
Jamais esperei que o livro tomasse tamanha proporção, mesmo quando vi
Parte 1 – Beatriz Minha mãe tinha dezesseis anos quando eu nasci e era tudo que eu sabia sobre ela. Meu pai, que era igualmente jovem na época, não gostava de falar sobre o assunto. Consegui essa informação por outros membros da família, que pareciam relutantes em me passar informações pelas costas do meu pai. Eu tinha um avô e uma avó por parte dela. Nunca vi minha avó, mas meu avô costumava me visitar quando eu era criança. Não sei porque ela nunca quis saber de mim, nem porque ele desistiu de aparecer. Meus dois avôs por parte do meu pai eram maravilhosos. Nós passáv
-Liam! - Renan recebeu meu pai com um sorriso caloroso - Como é bom ter vocês aqui. Teo estava atrás dele, sorrindo também. Meu pai era uma pessoa muito amada. - Beatriz, como vai? - ela se apressou em me dar um abraço apertado. - Tudo bem. - retribui o abraço, olhando por cima do ombro - Rê está aqui? - Lá em cima. - Renan me respondeu - Pode subir, se quiser. Subi as escadas correndo, e não bati na porta. Nós dois tínhamos esse hábito de criança, mas não pensei que agora não seria uma boa ideia.
Quando acordei no dia seguinte, encontrei a casa vazia. Na pressa de não me encontrar para que eu não tentasse falar sobre minha mãe ou namoros, Liam havia saído quase duas horas mais cedo para o trabalho. Tomei meu café sozinha, ainda um pouco irritada com Rê, mas mais ainda frustrada por meu pai não se abrir. Fui trabalhar a pé, distraída e cheia de pensamentos. Havia tanta coisa que eu queria saber, e pela primeira vez estava cogitando encurralar qualquer outro familiar. Renan e Teo tinham convivido com a minha mãe, meus avôs também. Alguém poderia me contar alguma coisa, qualquer coisa que fosse pelo amor de Deus! Entrei na livraria sem prestar aten&c
- Quando vai querer ir procurar um apartamento? - Rê disse depois de alguns minutos de filme em absoluto silêncio. - Não sei. - suspirei - Acha que devemos fazer isso antes de eu ter uma boa conversa com Liam? - Acho que sua vida não pode esperar seu pai resolver os traumas dele. - ele foi direto, até mesmo um pouco seco - Mas eu posso esperar se você quiser. - acrescentou com mais suavidade. Deitei a cabeça em seu ombro por um instante. Eu não gostava de ir embora sem estar completamente bem com meu pai, mas eu também não podia esperar para sempre. Rê tinha razão, eu precisava viver minha própria vida.  
- Hummm, saindo com o chefe. - Rê me provocou no sábado. Era o quinto apartamento que estávamos vendo, e só ali tive coragem de contar sobre o almoço com Murilo. - Não seja babaca. Nós almoçamos, e não acho que tenha contado como primeiro encontro. Ele me puxou de repente, quase me fazendo tropeçar. - Gostei desse. - ignorou o tapa que dei em seu braço - Parece espaçoso o suficiente para nós, o aluguel é bom e eu amei a vista. Olhei pela janela da sala. Não era nada demais, apenas outros prédios e algumas casas. Rê devia estar apenas brincando sobre a ú
- Mas é nossa primeira noite aqui. - Rê lamentou-se atrás de mim. Tentei me concentrar em meu cabelo, e não em sua pirraça. - Rê, dá um tempo. - prendi os fios cuidadosamente em um meio rabo - Como você disse, estou fazendo meu caminho. Ele revirou os olhos, vi pelo espelho, mas preferi ignorar. Eu estava começando a ficar atrasada. - E por que ele não te pega aqui na porta? Foi a minha vez de revirar os olhos. - Será que arrumei outro pai? - provoquei. &nb
Morar com meu melhor amigo não era difícil. Nos dias que se seguiram nós tivemos uma convivência tão boa quanto costumava ser quando morávamos na mesma casa. Tirando o fato de que Rê parecia incapaz de vestir uma roupa completa. Agora eu só o via em shorts e calças, sem nada para cobrir a parte de cima. As coisas com Murilo também seguiam tranquilamente - embora eu não conseguisse tirar a palavra morno da cabeça. Talvez estivéssemos caminhando tão lentamente que estivesse se tornando tedioso, mas eu também não sentia nenhuma vontade de acelerar. Claro que não contei nada disso quando fui almoçar na casa do meu pai.<
Rê não se atreveu falar comigo por um bom tempo. Parecia incrivelmente concentrado na estrada que eu mal enxergava passando ao nosso redor. - Certo. Já chega. - ele jogou o carro para o acostamento. - O que foi? - perguntei, sobressaltada pelo solavanco. - Bea, diga o que está sentindo. - ele desligou o carro e arrancou o cinto. - Eu não sei. - respondi tirando meu cinto - Acho que apenas minhas fantasias estão sendo destruídas. Nós imaginamos nossos pais apaixonados, perfeitos… - Certamente. - ele concordou - Você percebeu que meu pai teve um caso com