Morar com meu melhor amigo não era difícil. Nos dias que se seguiram nós tivemos uma convivência tão boa quanto costumava ser quando morávamos na mesma casa.
Tirando o fato de que Rê parecia incapaz de vestir uma roupa completa. Agora eu só o via em shorts e calças, sem nada para cobrir a parte de cima.
As coisas com Murilo também seguiam tranquilamente - embora eu não conseguisse tirar a palavra morno da cabeça. Talvez estivéssemos caminhando tão lentamente que estivesse se tornando tedioso, mas eu também não sentia nenhuma vontade de acelerar.
Claro que não contei nada disso quando fui almoçar na casa do meu pai.
<Rê não se atreveu falar comigo por um bom tempo. Parecia incrivelmente concentrado na estrada que eu mal enxergava passando ao nosso redor. - Certo. Já chega. - ele jogou o carro para o acostamento. - O que foi? - perguntei, sobressaltada pelo solavanco. - Bea, diga o que está sentindo. - ele desligou o carro e arrancou o cinto. - Eu não sei. - respondi tirando meu cinto - Acho que apenas minhas fantasias estão sendo destruídas. Nós imaginamos nossos pais apaixonados, perfeitos… - Certamente. - ele concordou - Você percebeu que meu pai teve um caso com
Rê estava emburrado, de braços cruzados e com as costas apoiadas no carro. - Vamos? - perguntei com cuidado. - Você me expulsou de lá. - ele reclamou. - Você parecia prestes a brigar. - justifiquei também cruzando os braços - Eu queria que ela se desarmasse. - E funcionou? - perguntou com desdém. - É, funcionou. - agora eu também estava ficando irritada, uma reação involuntária ao seu comportamento. Rê bufou, e com um movimento irritado, abriu a porta do carro e se
Parte 2 - Rê Tinha acontecido. Quando abri os olhos pela manhã, diretamente de encontro a janela com as cortinas abertas, fiquei atordoado. Quanto tempo eu tinha fantasiado aquilo? Pelo menos uns cinco anos? Talvez desde que Bea tinha se transformado em uma garota, não mais uma garotinha ou apenas minha melhor amiga. Mas eu não tinha esperado que acontecesse. Realmente parecia algo que apenas ficaria na minha imaginação, algo em que eu sempre acabaria pensando antes de dormir. Só que agora havia acontecido. E eu não fazia ideia de como Bea se sentia a respeito disso. Eu sinceramen
Bea não voltou o dia todo. Fiquei tão agitado que não consegui fazer nada, nem mesmo comer. Andei de um cômodo a outro, e quando ficou insuportável, a procurei pela rua. Eu sabia que era uma reação a Liam, mas não conseguia deixar de me perguntar se também não era uma reação a mim. Bea estaria fugindo de nós? Nós… como se existisse isso. Quando escureceu, voltei para casa e comi alguma coisa. Tudo parecia tão vazio e silencioso sem ela. Sem sentido. Será que ela estaria evitando voltar para casa se nada tivesse acontecido? Será que eu não era mais um
Os próximos dias foram horríveis. Eu me sentia como um robô, seguindo em frente e fazendo o que tinha que fazer, mas numa constante onda de infelicidade. O arrependimento já tinha me corroído ao extremo, tanto que eu sentia que era capaz de me jogar de joelhos aos pés de Bea e implorar seu perdão se ela aparecesse. Eu via como Renan me olhava, e até mesmo Liam quando eu esbarrava com ele no trabalho, mas não conseguia mais disfarçar. Era uma questão de tempo até qualquer um dos dois me encurralar. Desejei que fosse meu pai, afinal como eu ia dizer a Liam o que havia feito com a filha dele? - Rê? - escutei meu pai me chamar numa tarde. Eu estava andando pe
No final de semana seguinte eu estava deitado no sofá, pensando possibilidades. As férias de Bea não durariam para sempre, então o que ela faria quando precisasse voltar para a rotina? Será que ela abandonaria o apartamento e iria correndo até o chefe permanentemente? Ou tentaria voltar para a casa de Liam? Bea voltaria para mim? Eu não acreditava mais, estava trabalhando com outras alternativas inconscientemente. Onde eles estariam? Uma praia? Um chalé romântico no meio do nada? Me coloquei de pé, afastando as imagens perturbadoras de Bea nos braços daquele babaca.  
Minhas mãos estavam tremendo no volante. Provavelmente era uma ideia ruim. Eu ia quebrar a cara, ia me despedaçar quando Bea olhasse para mim e eu visse o arrependimento sobre nós dois. Eu não devia ter deixado acontecer. Pensei nas palavras que eu não podia dizer. Será que eu realmente sentia aquilo? Era a primeira vez que eu me permitia sequer pensar no assunto. Não doeria tanto se eu não sentisse, não é? Às vezes eu queria que o caminho se estendesse infinitamente, as vezes eu queria que fosse mais rápido. De todo modo, eu chegaria e
Deslizei Bea suavemente até o chão. O suor escorria pelo meu corpo e minhas pernas estavam moles. Eu adoraria me sentar, mas ainda estava com os braços ao seu redor e não poderia me afastar. Tinha acontecido outra vez. O que eu deveria sentir agora? - Por que está aqui? - ela evitou o assunto principal, o que havia acontecido outra vez. Suas costas ainda estavam contra o tronco da árvore, minhas mãos apoiadas em seu quadril com firmeza. Minha testa estava apoiada na sua, e, considerando o quanto nossos corpos estavam encostados um no outro, eu me sentia capaz de recomeçar o que tinha acabado de acontecer em apenas alguns minutos. &n