Capítulo 1

O fim de tarde estava lindo.

Fresco e com belas cores que vinham do céu, formando uma imagem digna de um quadro. O céu se unia ao mar e o sol brilhava mais fraco, anunciando que já ia partir para deixar a lua se mostrar em sua beleza.

Ele respirou fundo, fechando os olhos e deixando o vento soprar em seus cabelos negros.

Fazia tempo que Aleck  não sentia a natureza, sempre trancado em reuniões sem fim ou em seu avião particular, pulando de cidade em cidade e até, muitas vezes, de país em país.

_É lindo, não é?

 Aleck se virou para ver de onde vinha a pergunta, feita de modo bem delicado, em uma voz suave e muito feminina.

Mais uma afirmação do que uma pergunta.

Seus olhos se abriram mais para absorver a imagem de uma bela mulher que estava parada bem atrás dele.

 "Aliás, uma linda mulher" - pensou ele.

Ela era pequena, mas não era baixinha. Era sim muito delicada, lembrava um bibelô, com sua pele rosada, lábios carnudos, seios empinados, cabelo longo quase na cintura, castanho claro, fazendo par com belos olhos castanhos brilhantes, bem "acesos", enquanto o mirava por inteiro também.

Ela sorria, esperando a resposta à sua pergunta.

_ Sim. Muito bonito mesmo - respondeu.

_ Você é de fora? - ela perguntou de novo.

_ De fora?

Ele levantou uma sobrancelha. Não entendia o que lhe perguntava agora.

_ Sim, de outro país? Você tem sotaque - ela disse isso com ar maroto, aumentando o sorriso.

 _ Ah, claro... Meu sotaque... Ainda não o perdi por completo.

Ele lhe devolveu o sorriso e por instantes  ficaram se olhando como se mais nada houvesse.

Ele admirava suas pernas longas,  bem torneadas, em um short pequeno, jeans escuro. A cintura se via fina em uma blusa preta de alcinha. Estava claro que era uma típica brasileira. Corpo bem-feito e sorriso bem largo em olhos alegres.

Assim como lhe disseram os amigos, quando avisou que passaria um tempo no Brasil.

No Brasil, as pessoas estão sempre sorrindo, até mesmo quando estão triste, elas sorriem...Parecem eternamente felizes..."

Lembrou-se das palavras.

_ E de onde você é?

Mais uma pergunta... Será que todos aqui são assim? - ele que se perguntou.

_ Sou da Rússia.

_ Sério? Que show! Adorei, nunca conheci um russo em toda minha vida - gesticulava muito _ Meu nome é Lúcia  e o seu? - ela lhe estendeu a mão, em um gesto de amizade, enquanto chegava mais perto dele e aproveitava para olhar mais o homem alto à sua frente.

_ Me chamo Aleck Kiev. Cheguei hoje pela manhã e estou aproveitando um pouco para respirar o ar da praia, coisa que para vocês aqui deve ser muito comum...

_ Na verdade é sim, todos aqui já são acostumados com a praia e o mar. Tanto que muitas vezes, nem damos a devida importância, mas eu adoro o mar e sempre que posso, venho aqui, neste mesmo lugar onde estamos agora e fico até anoitecer. Mas hoje você tomou meu lugar, chegou antes de mim.

_ Sinto muito, não sabia.

Ele estendeu a mão para ela e apertou em sinal de agrado ao seu gesto tão espontâneo. Sorriram e ficaram um tempinho assim, apenas de mãos dadas, sem nada dizer. 

Ele achou a mão dela muito suave, ela achou que ele tinha mãos perfeitas, grandes, assim como ele todo.

_ Não tem problema. Já que você é de fora, eu deixo que divida comigo o espaço, afinal, a praia é grande. São seis  quilômetros de extensão - riu de novo para ele.

 Não sabia bem o porquê, mas estava nervosa como uma menina diante daquele homenzarrão. Achou que ele era o homem mais lindo que já tinha visto, mais alto, mais forte... Mais tudo... Estava encantada com ele... Um ótimo fim de tarde com uma surpresa muito boa.

_ Então posso ficar aqui com você? - sorriu _ Que bom, estava pensando em ficar até o sol ir embora de vez e será melhor com uma companhia tão bonita quanto a paisagem.

Ele estava tão contente quanto um garotinho e não entendeu bem porque algo tão bobo como conhecer uma jovem, o deixava assim. Com certeza era por estar em um local tão bonito, diferente e quente...

Ambos tinham se encantado um pelo outro. Foi como uma ligação espontânea que aflorou.

_ Obrigada! - ela respondeu.

Sentaram-se próximos, nas pedras mesmo, observando o mar, o barulho gostoso das ondas batendo contra o mole e o céu que ia ficando cada vez mais alaranjado e deixando a cor negra da noite ocupar o espaço.

Com certeza a lua seria linda naquela noite fresca e de poucas nuvens.

Após um tempo calados, os dois se olharam de novo, nada disseram, apenas sorriram, não só com os lábios, mas com os olhos também.

Era um momento mágico, diferente e único para os dois.

De repente uma onda maior bateu contra as pedras e jogou água em cima deles, tirando-os do êxtase em que estavam...

Começaram a rir um do outro, pois ficaram ensopados e a água já estava fria, devido o horário.

Aleck levantou e deu a mão para que Lúcia ficasse de pé e ao fazer isso ela ficou bem próxima ao corpo dele e fechou os olhos, inspirando o perfume másculo dele.

"O cheiro dele era muito bom" - ela pensou.

E ele, por sua vez, cheirava o topo de sua cabeça. Os cabelos encaracolados eram muito cheirosos, um perfume suave de camomila.

Os dois estavam parados, quase colados e sentindo ao mesmo tempo vontade de ficar quietos ali, apenas sentindo o cheiro do outro.

Os feromônios estavam à toda e eles foram fisgados pela química um do outro.

_ Nossa, agora me deu frio. Preciso ir, obrigada pela companhia agradável.

Ela disse isso já se afastando e dando a volta pelas pedras, buscando um local melhor para descer e seguir seu caminho.

_ Espere. Por que você vai agora? Podemos nos ver de novo?

Ele caminhava logo atrás dela, não queria perder a chance de falar com esta mulher outra vez, de estar perto dela.

Nunca tinha sentido uma vontade tão imediata de falar com alguém e nem mesmo sabia nada dela, apenas que era nativa do lugar e pronto.

_ Preciso ir. Além de estar com frio por estar molhada, tenho que fazer algumas coisas em casa. Mas podemos nos ver de novo sim. Me diz qual hotel você está e eu te procuro amanhã.

Ela parou e olhou direto nos olhos azuis dele. Ficou encantada com a cor forte que contrastava com o cabelo escuro dele e a pele branca.

" Que homem".

Aleck disse o nome do hotel, deu o número do quarto e a fez prometer que ligaria para ele no dia seguinte, logo de manhã. 

_ Prometo.

Ela disse isso, piscou para ele e saiu correndo enquanto Aleck ficava parado, olhando-a correr em direção a pista e pensando se ela ligaria mesmo. 

Se não ligasse, ele teria trabalho para encontrá-la, mas com certeza iria procurar em toda a cidade até achar.

Sorte que era uma pequena capital do nordeste do Brasil e ele tinha tempo para tal coisa. Mas deixaria com a sorte e esperaria ela ligar. Ela tinha que ligar! 

O lugar era muito frequentado por locais e turistas, era um dos cartões-postais da capital, com passarelas de madeira que levavam do calçadão até a região dos quiosques junto ao mar. 

Repleto de bares, restaurantes e point noturno, além do Oceanário  e o Centro de Cultura e Artes. Com certeza ela também deveria aproveitar bem tudo aquilo.

Se não ligasse a procuraria nesses lugares de início.

Foi para o hotel, tomou um banho demorado e depois tentou comer, mas a garota da praia não saía de sua cabeça.

Acabou deixando quase todo o jantar, apesar de ser um prato típico da região e muito gostoso, ele estava com outras coisas na cabeça. Queria que o dia seguinte chegasse logo...

Enquanto isso, em sua pequena casa, Lúcia só pensava no russo que conhecera há pouco e também nem pensava em comida.

Nunca conhecera um homem tão bonito, diferente e sexy como ele. E o sotaque dele o deixava ainda mais sexy, ainda que não puderam falar muito, pois o tempo foi curto, mas a voz dele era linda, forte e máscula.

Sem dúvida era o homem mais lindo que vira, de longe o mais charmoso. Ligaria para ele sem dúvida, pois queria vê-lo outra vez e falar mais com ele, afinal, isso não tinha nada demais. Seria mais um amigo que faria.

Sim, ela ligaria e marcaria outro encontro para se conhecerem mais. Não sabia quanto tempo ele ficaria aqui na cidade nem o motivo por estar lá, mas iria perguntar tudo isso amanhã.

_ Será que ele é casado?

Se perguntou em voz alta e se deu conta que já estava pensando demais no russo. Se ele fosse casado, não teria problema, seria só mais um amigo e pronto, que mal há nisso? Afinal, homens casados também podem ter amigas.

_ Se no fim de tarde ele já é assim, imagina pela manhã! - outra vez estava falando em voz alta _Chega Lúcia, para de pensar nesse homem - ela comandou a si própria.

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