A sala estava silenciosa, exceto pelo bip ritmado dos monitores cardíacos e pelo sutil zumbido do ar-condicionado. O cheiro de antisséptico ainda dominava o ambiente, misturando-se ao leve aroma metálico de sangue seco. Lorena examinava o paciente, conferindo seus sinais vitais, quando um movimento brusco fez seu coração disparar.
Gustavo Maxwell agarrou seu braço com força inesperada.
— Ai, meu Deus! — ela exclamou, recuando levemente. — Você quase me mata de susto!
Os olhos dele estavam confusos, piscando várias vezes antes de se fixarem nela.
— Onde eu estou? — sua voz saiu rouca, carregada de sono e desorientação.
Lorena sorriu, profissional, mas aliviada.
— Sou a Dra. Lorena. Que bom que você acordou. Seu amigo já estava surtando porque não deixei ele te ver.
— Por quê? — Gustavo franziu a testa, ainda tentando processar a informação.
— Você passou por uma cirurgia bem delicada e ficou inconsciente por dois dias.
— Dois dias? — ele repetiu, incrédulo. — Com certeza o chefe deve estar surtando mesmo...
Lorena arqueou uma sobrancelha.
— Aquele louco lá fora é seu chefe? Meu Deus, que tipo de trabalho você faz?
Gustavo soltou um suspiro cansado, desviando o olhar.
— É... eu posso ver ele?
— Depois. Primeiro, preciso fazer alguns exames.
Ela realizou uma bateria de testes, avaliando os reflexos e os sinais vitais do paciente. Pegando os resultados, fez uma breve análise e sorriu.
— Você está de parabéns. Para quem levou dois tiros e quase morreu, sua recuperação está ótima.
Gustavo piscou, surpreso.
— Eu levei dois tiros? Quem disse isso?
Lorena cruzou os braços, impassível.
— Senhor...
— Gustavo.
— Senhor Gustavo, eu sou sua médica. Fui eu mesma que retirei as balas de dentro do senhor. Então, sei do que estou falando.
Ele engoliu seco, ainda processando a informação. Lorena suspirou, olhando-o de forma avaliadora.
— Eu não perguntei ao louco do seu chefe o que aconteceu, mas também não sei se quero saber a resposta.
Ele soltou uma risada fraca, mas não respondeu. A tensão era palpável no ar, mas Lorena quebrou o silêncio logo em seguida.
— Agora, posso chamar seu chefe?
— Sim — respondeu ele, com um suspiro resignado.
Ela saiu do quarto e encontrou Rick esperando impaciente.
— O senhor pode entrar para ver o Sr. Gustavo — anunciou, cruzando os braços.
Rick não perdeu tempo, marchando em direção ao quarto. Lorena suspirou, sentindo a tensão escoar um pouco de seus ombros antes de seguir para a recepção.
Camila, uma das enfermeiras, se aproximou com um sorriso malicioso.
— Lore, que homem é aquele? — perguntou em um tom conspiratório.
Lorena franziu o cenho.
— O que tem ele?
Camila suspirou dramaticamente.
— Ele é lindo, com aquela cara de malvadão...
Lorena bufou.
— Pode até ser lindo, mas o que tem de lindo tem de grosso e arrogante.
***
Na manhã seguinte, o hospital estava em seu ritmo habitual — corredores movimentados, o cheiro característico de álcool e desinfetante impregnando o ar. O som de passos apressados e murmúrios discretos se misturava ao bip dos monitores cardíacos. Lorena caminhava decidida até o quarto de Gustavo, mas ao chegar à porta, dois homens altos e imponentes bloquearam sua passagem.
— Você não pode entrar — disse um deles, com voz firme e expressão inabalável.
Lorena franziu a testa.
— Por quê? — perguntou, cruzando os braços.
— Recebemos ordens para não deixar ninguém entrar — respondeu o outro segurança, com o tom seco.
A médica respirou fundo antes de erguer a voz.
— Eu sou a médica do Sr. Gustavo! Vocês não podem me impedir de entrar nesse quarto. Agora, me deem licença!
Antes que os seguranças pudessem reagir, a porta se abriu. Rick Ocasek apareceu no batente, seus olhos frios analisando a cena.
— Que gritaria é essa, doutora? — perguntou com um meio sorriso irônico. — Não foi você mesma que disse que o paciente precisava de paz e sossego?
Lorena manteve seu olhar firme.
— Sim, mas ele também precisa dos remédios.
Rick recostou-se na porta, desafiador.
— Pode deixar que eu mesmo dou os remédios.
Lorena arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Você por acaso é médico? — retrucou. — Acredito que não. Então, saia da minha frente e me deixe fazer meu trabalho.
Rick a observou por um momento, intrigado com a ousadia dela. Pensou consigo mesmo: "Essa doutora gosta de me desafiar. Atrevida."
Com um gesto de mão, afastou-se.
— Entra — disse simplesmente.
Lorena passou pela porta e, ao entrar no quarto, notou mais dois homens ao lado da cama de Gustavo, ambos com olhares atentos e posturas rígidas. Ela ignorou a tensão no ar e se voltou para o paciente.
— Bom dia, Sr. Gustavo. Como está se sentindo hoje? — perguntou, pegando seu prontuário.
— Bom dia, Dra. Lorena. Estou ótimo — respondeu ele, forçando um sorriso.
Do outro lado do quarto, Rick observava a cena com interesse. "Então o nome dessa garotinha atrevida é Lorena..." pensou ele.
A médica estreitou os olhos.
— Ótimo? Não sente dor nenhuma?
— Nenhuma. Estou pronto para outra — brincou Gustavo.
Lorena sorriu de canto e, sem aviso, pressionou levemente a região do ferimento.
— Tem certeza? Nem aqui? — perguntou, enquanto ele soltava um gemido de dor.
— Aaaauuuuwwwaaa, Dra.! — reclamou Gustavo, contraindo o rosto.
— O que eu disse sobre mentir para sua médica? — ela disse, entregando-lhe os remédios. — Agora tome isso.
Rick, impaciente, se aproximou.
— Quando vai assinar a alta dele? — questionou, com os braços cruzados.
— Não sei. Talvez em alguns dias — respondeu Lorena, categórica.
— Dias? Não temos dias — retrucou Rick, franzindo o cenho.
— Lamento por isso, mas ele precisa se recuperar — afirmou a médica, mantendo-se firme.
Rick hesitou por um momento, mas sua expressão ficou ainda mais sombria.
— Alguém perguntou por ele? — indagou.
— Não, senhor. Mas, se a polícia vier aqui, sou obrigada a relatar que um paciente vítima de tiros deu entrada — explicou Lorena, enquanto verificava os sinais vitais de Gustavo.
O olhar de Rick se tornou ainda mais frio.— Dra., preciso tirar ele daqui ainda hoje. Saia desse quarto agora e volte com a alta dele assinada — ordenou, sua voz carregada de ameaça.Lorena cruzou os braços, desafiadora.— Senhor, como eu disse...Rick deu um passo à frente, sua presença tornando-se opressora.— Dra., saia agora da porra do quarto, antes que eu...— Espera, chefe! — interrompeu Gustavo, com esforço. — Dra., por favor, vá... depois você volta.Lorena lançou um último olhar a Rick, contendo sua raiva, e saiu do quarto sem dizer mais nada. Assim que chegou ao seu consultório, soltou um suspiro frustrado e passou as mãos pelos cabelos.— Meu Deus, o que foi aquilo? Esse homem é louco, só pode! — murmurou, sentindo a raiva borbulhar dentro de si.***No quarto, o silêncio era interrompido apenas pelo barulho distante dos monitores cardíacos e pelo leve zumbido das lâmpadas fluorescentes. Gustavo, ainda pálido, ergueu os olhos para Rick Ocasek, que mantinha a expressão dur
Ele se aproximou da mesa de Lorena, olhando-a com uma intensidade que a fez desviar ligeiramente o olhar, antes de retomar o contato visual. O cheiro de seu perfume, algo amadeirado e ligeiramente picante, chegou antes dele.— Boa tarde, Dra. Lorena, sou o detetive Matt Dallas. Gostaria de fazer algumas perguntas. — A voz dele era profunda, rouca, com um tom sério, mas ainda assim carregado de um leve toque de desafio.Lorena ajustou-se na cadeira de couro, um leve estalo do material quebrando o silêncio. Ela manteve a postura ereta, mas seus olhos estavam agora focados no detetive. A luz que entrava pela janela iluminava o rosto dele, destacando a mandíbula forte e os olhos azuis penetrantes, que nunca a deixaram de encarar.— Boa tarde, detetive. Em que posso ajudar? — Ela respondeu, com a calma característica de quem lida com urgências todos os dias, mas sem perder a vigilância. E se recostou na cadeira de couro escuro, cruzando as pernas de forma graciosa.Dallas puxou uma pasta p
Em casa, Lorena se preparava para a noite que prometia ser inesquecível. Ela estava no quarto, diante do espelho, estudando sua aparência com um olhar crítico. O cheiro suave de seu perfume favorito – uma mistura de jasmim e sândalo – preenchia o ar, envolvente e sedutor. A luz suave da lâmpada do abajur batia sobre o rosto dela, destacando seus traços marcantes, enquanto o som do zíper do vestido cortava o silêncio do quarto.Ela queria algo que chamasse atenção, algo que deixasse claro que estava ali para se divertir, para ser o centro das atenções. O vestido vermelho, bem curto, tomara-que-caia, se encaixou perfeitamente em seu corpo, contornando suas curvas e deixando à mostra uma boa parte da tatuagem que se estendia pela sua coxa. O decote profundo, provocante, fazia a tensão no ar aumentar, como se o simples olhar para ela fosse suficiente para despertar desejos não ditos.Lorena sorriu para o reflexo no espelho, passando os dedos nos seus cabelos loiros e soltando-os, deixando
Ele observava, em silêncio, enquanto um rapaz se aproximava de Lorena, a abraçando e beijando sua bochecha. Ela sorriu para ele, parecendo se divertir, mas Rick franziu o cenho, sentindo uma ponta de ciúmes desconhecido.Pensamento de Rick: Será que é namorado dela? Porra, eu quero essa garotinha atrevida para mim.Ele balançou a cabeça, tentando se concentrar. Então, com um gesto de comando, ele se voltou para o segurança.— Está vendo a Dra. Logo ali? Vá até lá e avise a ela que tem alguém esperando. Ela deve subir aqui na área VIP agora. — Rick ordenou, sua voz autoritária.O segurança, atento, fez uma leve reverência e se dirigiu para a pista de dança. Enquanto isso, Rick se acomodava na poltrona, a luz das lâmpadas refletindo nos vidros do seu copo de whisky. Ele sentiu um leve desconforto em sua garganta, talvez pelo excesso de tensão que sentia desde que avistou Lorena. Mas não se importava. Queria ela. Precisava
Lorena não se deixou intimidar. Ela o encarou de frente, tentando manter a compostura.— Não sou uma garotinha. E você poderia me dizer porque mandou me chamar aqui? — ela perguntou, o tom de sua voz mais firme, apesar da tensão no ar.Rick não respondeu imediatamente. Ele avançou mais um passo, agora tão próximo que ela podia sentir seu calor, o cheiro forte de sua colônia misturado ao whisky. O som de sua respiração ficou mais audível, e o espaço entre eles parecia desaparecer. Ele se inclinou para falar próximo ao seu ouvido, fazendo a pele de Lorena se arrepiar. O toque dele era como fogo na sua pele.— Sabe, Dra. Lorena... você está muito gostosa com esse vestido. Só tinha lhe visto com a roupa do hospital. — ele disse, a voz rouca, quase um sussurro, enquanto seus dedos deslizavam ao longo do braço de Lorena.O toque foi lento, quase calculado. Ele parecia estar estudando cada reação dela, cada movimento, e isso a incomodava ainda mais. Quando a mão
Naquela tarde, o celular de Lorena tocou. Era Camila.— Oi, Lore! Como está o seu sábado? Está curtindo a paz? — Camila perguntou, a voz animada e cheia de energia, sempre positiva, como se nunca nada de ruim a afetasse.— Estou tentando, Cami. Só que meu cérebro não para de pensar... — Lorena respondeu, a voz tingida de frustração. Ela sabia que estava sendo irracional, mas não conseguia evitar. O encontro com Rick havia mexido com ela de uma maneira que ela não esperava.— Ué, o que aconteceu? Não vai me dizer que você está com a cabeça nele, né? — Camila riu.— Não sei... estou confusa, Cami. Foi só... estranho, sabe? Ele... ele é tão... — Lorena parou por um momento, buscando palavras para descrever a sensação.— Eu sei, eu sei. Esse cara tem uma presença, né? Dá medo até... mas se você não quiser ele, não se preocupe, esse tipo de homem não vai te pegar tão fácil. — Camila disse, tentando acalmar Lorena, mas sem entender completamente o peso d
Lorena riu, mas o som foi amargo, cheio de desafio.— Vai fazer o que? Vai me mostrar sua arma novamente? Vai ter que fazer melhor dessa vez. — Ela falou, tentando desestabilizá-lo, mas sabia que a situação estava se tornando perigosa. O corpo dela estava tenso, pronta para qualquer movimento.De repente, em um movimento rápido, o segurança a agarrou pelos braços com força, puxando-a para o carro que estava estacionado na esquina. O som de sua respiração acelerada, o som abafado da porta do carro se fechando e o cheiro de couro do banco do veículo se misturaram ao pânico que começava a crescer dentro de Lorena. Ela gritou, com toda a força que tinha.— Me larga, seu cretino! — Sua voz estava cheia de raiva e pânico, a adrenalina inundando seu corpo.O som da porta batendo, o zumbido do motor do carro ligado e o cheiro de gasolina que invadia o ar fizeram com que Lorena se sentisse completamente fora de controle, sem saber como reagir. Ela
O tempo havia se arrastado enquanto Lorena trabalhava na recuperação de Gustavo. O silêncio da casa parecia envolver todos, mas o som das respirações aliviadas de ambos, Gustavo e Lorena, era quase palpável. O cheiro do antisséptico misturava-se com o ar abafado, como se tudo ao redor estivesse aguardando uma resolução. Quando finalmente Lorena se afastou de Gustavo, após aplicar os últimos cuidados, ele sorriu fraco, mas genuíno.— Obrigado, Drª. Lorena. — Ele disse, sua voz ainda um pouco trêmula, mas cheia de gratidão.Lorena observou o Gustavo por um momento, suas mãos ainda ligeiramente tremendo após a pressão de agir rapidamente e com precisão. Ela suspirou, soltando a tensão acumulada no corpo.— Por nada, mas veja se você se cuida agora. Se não, sua recuperação vai demorar cada dia mais. — Ela respondeu com um tom mais suave, mas seu olhar ainda sério, não querendo que ele ignorasse a gravidade do que havia acontecido.Antes que ela pudesse se afa