2. Ela sabe como me provocar.

A sala estava silenciosa, exceto pelo bip ritmado dos monitores cardíacos e pelo sutil zumbido do ar-condicionado. O cheiro de antisséptico ainda dominava o ambiente, misturando-se ao leve aroma metálico de sangue seco. Lorena examinava o paciente, conferindo seus sinais vitais, quando um movimento brusco fez seu coração disparar.

Gustavo Maxwell agarrou seu braço com força inesperada.

— Ai, meu Deus! — ela exclamou, recuando levemente. — Você quase me mata de susto!

Os olhos dele estavam confusos, piscando várias vezes antes de se fixarem nela.

— Onde eu estou? — sua voz saiu rouca, carregada de sono e desorientação.

Lorena sorriu, profissional, mas aliviada.

— Sou a Dra. Lorena. Que bom que você acordou. Seu amigo já estava surtando porque não deixei ele te ver.

— Por quê? — Gustavo franziu a testa, ainda tentando processar a informação.

— Você passou por uma cirurgia bem delicada e ficou inconsciente por dois dias.

— Dois dias? — ele repetiu, incrédulo. — Com certeza o chefe deve estar surtando mesmo...

Lorena arqueou uma sobrancelha.

— Aquele louco lá fora é seu chefe? Meu Deus, que tipo de trabalho você faz?

Gustavo soltou um suspiro cansado, desviando o olhar.

— É... eu posso ver ele?

— Depois. Primeiro, preciso fazer alguns exames.

Ela realizou uma bateria de testes, avaliando os reflexos e os sinais vitais do paciente. Pegando os resultados, fez uma breve análise e sorriu.

— Você está de parabéns. Para quem levou dois tiros e quase morreu, sua recuperação está ótima.

Gustavo piscou, surpreso.

— Eu levei dois tiros? Quem disse isso?

Lorena cruzou os braços, impassível.

— Senhor...

— Gustavo.

— Senhor Gustavo, eu sou sua médica. Fui eu mesma que retirei as balas de dentro do senhor. Então, sei do que estou falando.

Ele engoliu seco, ainda processando a informação. Lorena suspirou, olhando-o de forma avaliadora.

— Eu não perguntei ao louco do seu chefe o que aconteceu, mas também não sei se quero saber a resposta.

Ele soltou uma risada fraca, mas não respondeu. A tensão era palpável no ar, mas Lorena quebrou o silêncio logo em seguida.

— Agora, posso chamar seu chefe?

— Sim — respondeu ele, com um suspiro resignado.

Ela saiu do quarto e encontrou Rick esperando impaciente.

— O senhor pode entrar para ver o Sr. Gustavo — anunciou, cruzando os braços.

Rick não perdeu tempo, marchando em direção ao quarto. Lorena suspirou, sentindo a tensão escoar um pouco de seus ombros antes de seguir para a recepção.

Camila, uma das enfermeiras, se aproximou com um sorriso malicioso.

— Lore, que homem é aquele? — perguntou em um tom conspiratório.

Lorena franziu o cenho.

— O que tem ele?

Camila suspirou dramaticamente.

— Ele é lindo, com aquela cara de malvadão...

Lorena bufou.

— Pode até ser lindo, mas o que tem de lindo tem de grosso e arrogante.

***

Na manhã seguinte, o hospital estava em seu ritmo habitual — corredores movimentados, o cheiro característico de álcool e desinfetante impregnando o ar. O som de passos apressados e murmúrios discretos se misturava ao bip dos monitores cardíacos. Lorena caminhava decidida até o quarto de Gustavo, mas ao chegar à porta, dois homens altos e imponentes bloquearam sua passagem.

— Você não pode entrar — disse um deles, com voz firme e expressão inabalável.

Lorena franziu a testa.

— Por quê? — perguntou, cruzando os braços.

— Recebemos ordens para não deixar ninguém entrar — respondeu o outro segurança, com o tom seco.

A médica respirou fundo antes de erguer a voz.

— Eu sou a médica do Sr. Gustavo! Vocês não podem me impedir de entrar nesse quarto. Agora, me deem licença!

Antes que os seguranças pudessem reagir, a porta se abriu. Rick Ocasek apareceu no batente, seus olhos frios analisando a cena.

— Que gritaria é essa, doutora? — perguntou com um meio sorriso irônico. — Não foi você mesma que disse que o paciente precisava de paz e sossego?

Lorena manteve seu olhar firme.

— Sim, mas ele também precisa dos remédios.

Rick recostou-se na porta, desafiador.

— Pode deixar que eu mesmo dou os remédios.

Lorena arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Você por acaso é médico? — retrucou. — Acredito que não. Então, saia da minha frente e me deixe fazer meu trabalho.

Rick a observou por um momento, intrigado com a ousadia dela. Pensou consigo mesmo: "Essa doutora gosta de me desafiar. Atrevida."

Com um gesto de mão, afastou-se.

— Entra — disse simplesmente.

Lorena passou pela porta e, ao entrar no quarto, notou mais dois homens ao lado da cama de Gustavo, ambos com olhares atentos e posturas rígidas. Ela ignorou a tensão no ar e se voltou para o paciente.

— Bom dia, Sr. Gustavo. Como está se sentindo hoje? — perguntou, pegando seu prontuário.

— Bom dia, Dra. Lorena. Estou ótimo — respondeu ele, forçando um sorriso.

Do outro lado do quarto, Rick observava a cena com interesse. "Então o nome dessa garotinha atrevida é Lorena..." pensou ele.

A médica estreitou os olhos.

— Ótimo? Não sente dor nenhuma?

— Nenhuma. Estou pronto para outra — brincou Gustavo.

Lorena sorriu de canto e, sem aviso, pressionou levemente a região do ferimento.

— Tem certeza? Nem aqui? — perguntou, enquanto ele soltava um gemido de dor.

— Aaaauuuuwwwaaa, Dra.! — reclamou Gustavo, contraindo o rosto.

— O que eu disse sobre mentir para sua médica? — ela disse, entregando-lhe os remédios. — Agora tome isso.

Rick, impaciente, se aproximou.

— Quando vai assinar a alta dele? — questionou, com os braços cruzados.

— Não sei. Talvez em alguns dias — respondeu Lorena, categórica.

— Dias? Não temos dias — retrucou Rick, franzindo o cenho.

— Lamento por isso, mas ele precisa se recuperar — afirmou a médica, mantendo-se firme.

Rick hesitou por um momento, mas sua expressão ficou ainda mais sombria.

— Alguém perguntou por ele? — indagou.

— Não, senhor. Mas, se a polícia vier aqui, sou obrigada a relatar que um paciente vítima de tiros deu entrada — explicou Lorena, enquanto verificava os sinais vitais de Gustavo.

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