O hospital estava mergulhado em sua calmaria habitual, apenas o som distante dos monitores cardíacos e o murmúrio dos funcionários preenchiam os corredores. Lorena Fischer aproveitava esse breve momento de paz em sua sala, organizando alguns relatórios, quando uma voz grave e furiosa cortou o silêncio.
— Cadê o médico? Não tem médico nessa porra não?! — A voz ecoou pela recepção, carregada de impaciência e fúria.
Camila, a enfermeira, ergueu o olhar, mantendo a postura profissional.
— Senhor, por favor, acalme-se. Em que posso ajudá-lo?
O homem à sua frente não parecia disposto a ouvir. Sua mandíbula estava travada, os olhos intensos como lâminas afiadas, e a presença dele exalava autoridade.
— Eu quero a porra de um médico AGORA!
Lorena franziu a testa ao ouvir a discussão. Saiu da sala com passos firmes, sentindo a tensão no ar aumentar a cada segundo. Assim que chegou à recepção, seus olhos captaram a cena. Um homem de terno preto, ombros largos e expressão feroz dominava o espaço. Atrás dele, sentado em uma cadeira, estava um segundo homem — este, no entanto, parecia à beira do colapso. Seu rosto estava pálido, o peito subindo e descendo com esforço. O sangue encharcava sua camisa e escorria pelo chão branco, deixando um rastro rubro.
Sem hesitar, Lorena correu até ele. Mas antes que pudesse se aproximar, sentiu um aperto firme no braço.
— Quem você pensa que é? — A voz do homem soou baixa e ameaçadora, seu hálito quente roçando sua pele.
Ela ergueu o olhar, enfrentando a fúria intensa que queimava nos olhos dele.
— Sou médica e ele precisa de ajuda. Agora, se me der licença, poderia soltar meu braço? — Sua voz permaneceu firme, sem um traço de medo.
Ele apertou um pouco mais antes de soltar, como se testasse sua determinação.
— Você não vai encostar nele. Não é qualificada para isso. É só uma garotinha.
Lorena estreitou os olhos, sentindo o sangue ferver nas veias.
— Sou a única médica disponível. Ou o senhor me deixa cuidar dele, ou com certeza ele vai morrer. A escolha é sua.
Os olhos do homem analisaram-na por alguns segundos, um silêncio tenso pairando entre eles. Então, sem dizer uma palavra, ele fez um leve aceno de cabeça para os seguranças ao lado do ferido.
Assim que Lorena se ajoelhou ao lado do paciente, sentiu uma mão forte segurar seu pulso. Ela se virou e encarou novamente o homem intimidador. Seu olhar penetrante segurava o dela como uma corrente invisível.
— Se acontecer alguma coisa com ele… você morre. — A ameaça veio fria, letal, mas Lorena apenas sustentou seu olhar sem desviar.
O cheiro de sangue era forte, misturado ao leve aroma de álcool que exalava da pele do ferido. O hospital, normalmente um ambiente seguro, agora parecia ter se transformado em um campo de batalha silencioso.
Ela engoliu em seco. O que quer que estivesse acontecendo ali, não era só um caso médico comum.
***
A sala de cirurgia estava mergulhada no som dos monitores cardíacos e no ruído constante dos aparelhos respiratórios. O cheiro metálico de sangue misturava-se ao aroma forte do antisséptico, impregnando o ar. Lorena Fischer manteve-se focada, as mãos firmes enquanto costurava a última incisão. A cirurgia havia sido complicada, mas, contra todas as probabilidades, o paciente estava vivo.
Após limpar-se rapidamente e remover as luvas, saiu para encontrar o homem que esperava impaciente do lado de fora. Assim que o viu, ele já avançava em sua direção, seus olhos queimando de raiva contida.
— Senhor, a cirurgia foi complicada — começou Lorena, sua voz profissional e controlada. — As balas perfuraram o rim dele, ele perdeu muito sangue, teve uma parada cardíaca e...
Ela não teve tempo de terminar. O homem a empurrou contra a parede com força, sua mão grande envolvendo seu pescoço com agressividade. O impacto a fez arfar, e o frio das azulejos contra suas costas contrastava com o calor da mão dele apertando sua pele.
— Eu disse que se acontecesse alguma coisa com ele, você ia morrer — a voz dele saiu baixa e ameaçadora, cada palavra carregada de fúria contida.
Lorena lutou para respirar, seu coração batendo forte contra as costelas. Com dificuldade, murmurou:
— O senhor deveria ter mais paciência... Seu amigo está vivo... está estável...
A intensidade do olhar dele não diminuiu, mas, após um momento de hesitação, ele a soltou. Ela ofegou, levando a mão ao pescoço dolorido, recuperando o ar que lhe fora tirado.
— Onde ele está? Me leve até ele — ordenou, sua voz ainda carregada de raiva.
Lorena ergueu o queixo, recusando-se a recuar.
— Ele está no quarto, mas o senhor não pode vê-lo agora.
— Como não? — a irritação cresceu visivelmente em seu rosto.
— Senhor, ele passou por uma cirurgia, precisa descansar. Precisa de paz e sossego nesse momento e... — Ela cruzou os braços, desafiando-o com o olhar — eu duvido que o senhor seja capaz de dar isso a ele agora.
Um músculo na mandíbula dele saltou. Ele não gostava de ser desafiado. As mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo.
— Não me importo. Exijo que me leve até ele agora.
Lorena arqueou uma sobrancelha.
— O senhor pode não se importar, mas eu sim. Sou a médica dele, e estou dizendo que o senhor não vai entrar agora.
O silêncio entre eles era cortante, carregado de tensão.
— Mas... — Rick tentou retrucar, sua voz um tom mais baixo, como se lutasse contra o impulso de gritar.
— Sem mais, senhor. Agora, se me der licença, preciso cuidar dos meus pacientes. — Ela se virou para sair.
Rick observou-a, seus olhos escuros avaliando cada detalhe daquela mulher que ousava desafiá-lo. Que garota atrevida.
Antes que ele pudesse responder, Lorena parou e voltou-se para ele, seu olhar frio e calculado.
— Ah! Senhor, eu tenho algo que acredito que o senhor queira.
Ele franziu a testa, impaciente.
— O que eu poderia querer de você?
Com calma, Lorena enfiou a mão no bolso do jaleco e estendeu a mão para ele. Quando abriu os dedos, duas balas descansavam ali, brilhando sob a luz fria do hospital.
Os olhos de Rick se estreitaram ao vê-las. Sem dizer mais nada, ela colocou as balas na palma da mão dele e saiu, sem olhar para trás.
A sala estava silenciosa, exceto pelo bip ritmado dos monitores cardíacos e pelo sutil zumbido do ar-condicionado. O cheiro de antisséptico ainda dominava o ambiente, misturando-se ao leve aroma metálico de sangue seco. Lorena examinava o paciente, conferindo seus sinais vitais, quando um movimento brusco fez seu coração disparar.Gustavo Maxwell agarrou seu braço com força inesperada.— Ai, meu Deus! — ela exclamou, recuando levemente. — Você quase me mata de susto!Os olhos dele estavam confusos, piscando várias vezes antes de se fixarem nela.— Onde eu estou? — sua voz saiu rouca, carregada de sono e desorientação.Lorena sorriu, profissional, mas aliviada.— Sou a Dra. Lorena. Que bom que você acordou. Seu amigo já estava surtando porque não deixei ele te ver.— Por quê? — Gustavo franziu a testa, ainda tentando processar a informação.— Você passou por uma cirurgia bem delicada e ficou inconsciente por dois dias.— Dois dias? — ele repetiu, incrédulo. — Com certeza o chefe deve e
O olhar de Rick se tornou ainda mais frio.— Dra., preciso tirar ele daqui ainda hoje. Saia desse quarto agora e volte com a alta dele assinada — ordenou, sua voz carregada de ameaça.Lorena cruzou os braços, desafiadora.— Senhor, como eu disse...Rick deu um passo à frente, sua presença tornando-se opressora.— Dra., saia agora da porra do quarto, antes que eu...— Espera, chefe! — interrompeu Gustavo, com esforço. — Dra., por favor, vá... depois você volta.Lorena lançou um último olhar a Rick, contendo sua raiva, e saiu do quarto sem dizer mais nada. Assim que chegou ao seu consultório, soltou um suspiro frustrado e passou as mãos pelos cabelos.— Meu Deus, o que foi aquilo? Esse homem é louco, só pode! — murmurou, sentindo a raiva borbulhar dentro de si.***No quarto, o silêncio era interrompido apenas pelo barulho distante dos monitores cardíacos e pelo leve zumbido das lâmpadas fluorescentes. Gustavo, ainda pálido, ergueu os olhos para Rick Ocasek, que mantinha a expressão dur
Ele se aproximou da mesa de Lorena, olhando-a com uma intensidade que a fez desviar ligeiramente o olhar, antes de retomar o contato visual. O cheiro de seu perfume, algo amadeirado e ligeiramente picante, chegou antes dele.— Boa tarde, Dra. Lorena, sou o detetive Matt Dallas. Gostaria de fazer algumas perguntas. — A voz dele era profunda, rouca, com um tom sério, mas ainda assim carregado de um leve toque de desafio.Lorena ajustou-se na cadeira de couro, um leve estalo do material quebrando o silêncio. Ela manteve a postura ereta, mas seus olhos estavam agora focados no detetive. A luz que entrava pela janela iluminava o rosto dele, destacando a mandíbula forte e os olhos azuis penetrantes, que nunca a deixaram de encarar.— Boa tarde, detetive. Em que posso ajudar? — Ela respondeu, com a calma característica de quem lida com urgências todos os dias, mas sem perder a vigilância. E se recostou na cadeira de couro escuro, cruzando as pernas de forma graciosa.Dallas puxou uma pasta p
Em casa, Lorena se preparava para a noite que prometia ser inesquecível. Ela estava no quarto, diante do espelho, estudando sua aparência com um olhar crítico. O cheiro suave de seu perfume favorito – uma mistura de jasmim e sândalo – preenchia o ar, envolvente e sedutor. A luz suave da lâmpada do abajur batia sobre o rosto dela, destacando seus traços marcantes, enquanto o som do zíper do vestido cortava o silêncio do quarto.Ela queria algo que chamasse atenção, algo que deixasse claro que estava ali para se divertir, para ser o centro das atenções. O vestido vermelho, bem curto, tomara-que-caia, se encaixou perfeitamente em seu corpo, contornando suas curvas e deixando à mostra uma boa parte da tatuagem que se estendia pela sua coxa. O decote profundo, provocante, fazia a tensão no ar aumentar, como se o simples olhar para ela fosse suficiente para despertar desejos não ditos.Lorena sorriu para o reflexo no espelho, passando os dedos nos seus cabelos loiros e soltando-os, deixando
Ele observava, em silêncio, enquanto um rapaz se aproximava de Lorena, a abraçando e beijando sua bochecha. Ela sorriu para ele, parecendo se divertir, mas Rick franziu o cenho, sentindo uma ponta de ciúmes desconhecido.Pensamento de Rick: Será que é namorado dela? Porra, eu quero essa garotinha atrevida para mim.Ele balançou a cabeça, tentando se concentrar. Então, com um gesto de comando, ele se voltou para o segurança.— Está vendo a Dra. Logo ali? Vá até lá e avise a ela que tem alguém esperando. Ela deve subir aqui na área VIP agora. — Rick ordenou, sua voz autoritária.O segurança, atento, fez uma leve reverência e se dirigiu para a pista de dança. Enquanto isso, Rick se acomodava na poltrona, a luz das lâmpadas refletindo nos vidros do seu copo de whisky. Ele sentiu um leve desconforto em sua garganta, talvez pelo excesso de tensão que sentia desde que avistou Lorena. Mas não se importava. Queria ela. Precisava
Lorena não se deixou intimidar. Ela o encarou de frente, tentando manter a compostura.— Não sou uma garotinha. E você poderia me dizer porque mandou me chamar aqui? — ela perguntou, o tom de sua voz mais firme, apesar da tensão no ar.Rick não respondeu imediatamente. Ele avançou mais um passo, agora tão próximo que ela podia sentir seu calor, o cheiro forte de sua colônia misturado ao whisky. O som de sua respiração ficou mais audível, e o espaço entre eles parecia desaparecer. Ele se inclinou para falar próximo ao seu ouvido, fazendo a pele de Lorena se arrepiar. O toque dele era como fogo na sua pele.— Sabe, Dra. Lorena... você está muito gostosa com esse vestido. Só tinha lhe visto com a roupa do hospital. — ele disse, a voz rouca, quase um sussurro, enquanto seus dedos deslizavam ao longo do braço de Lorena.O toque foi lento, quase calculado. Ele parecia estar estudando cada reação dela, cada movimento, e isso a incomodava ainda mais. Quando a mão
Naquela tarde, o celular de Lorena tocou. Era Camila.— Oi, Lore! Como está o seu sábado? Está curtindo a paz? — Camila perguntou, a voz animada e cheia de energia, sempre positiva, como se nunca nada de ruim a afetasse.— Estou tentando, Cami. Só que meu cérebro não para de pensar... — Lorena respondeu, a voz tingida de frustração. Ela sabia que estava sendo irracional, mas não conseguia evitar. O encontro com Rick havia mexido com ela de uma maneira que ela não esperava.— Ué, o que aconteceu? Não vai me dizer que você está com a cabeça nele, né? — Camila riu.— Não sei... estou confusa, Cami. Foi só... estranho, sabe? Ele... ele é tão... — Lorena parou por um momento, buscando palavras para descrever a sensação.— Eu sei, eu sei. Esse cara tem uma presença, né? Dá medo até... mas se você não quiser ele, não se preocupe, esse tipo de homem não vai te pegar tão fácil. — Camila disse, tentando acalmar Lorena, mas sem entender completamente o peso d
Lorena riu, mas o som foi amargo, cheio de desafio.— Vai fazer o que? Vai me mostrar sua arma novamente? Vai ter que fazer melhor dessa vez. — Ela falou, tentando desestabilizá-lo, mas sabia que a situação estava se tornando perigosa. O corpo dela estava tenso, pronta para qualquer movimento.De repente, em um movimento rápido, o segurança a agarrou pelos braços com força, puxando-a para o carro que estava estacionado na esquina. O som de sua respiração acelerada, o som abafado da porta do carro se fechando e o cheiro de couro do banco do veículo se misturaram ao pânico que começava a crescer dentro de Lorena. Ela gritou, com toda a força que tinha.— Me larga, seu cretino! — Sua voz estava cheia de raiva e pânico, a adrenalina inundando seu corpo.O som da porta batendo, o zumbido do motor do carro ligado e o cheiro de gasolina que invadia o ar fizeram com que Lorena se sentisse completamente fora de controle, sem saber como reagir. Ela