3. Desafio.

O olhar de Rick se tornou ainda mais frio.

— Dra., preciso tirar ele daqui ainda hoje. Saia desse quarto agora e volte com a alta dele assinada — ordenou, sua voz carregada de ameaça.

Lorena cruzou os braços, desafiadora.

— Senhor, como eu disse...

Rick deu um passo à frente, sua presença tornando-se opressora.

— Dra., saia agora da porra do quarto, antes que eu...

— Espera, chefe! — interrompeu Gustavo, com esforço. — Dra., por favor, vá... depois você volta.

Lorena lançou um último olhar a Rick, contendo sua raiva, e saiu do quarto sem dizer mais nada. Assim que chegou ao seu consultório, soltou um suspiro frustrado e passou as mãos pelos cabelos.

— Meu Deus, o que foi aquilo? Esse homem é louco, só pode! — murmurou, sentindo a raiva borbulhar dentro de si.

***

No quarto, o silêncio era interrompido apenas pelo barulho distante dos monitores cardíacos e pelo leve zumbido das lâmpadas fluorescentes. Gustavo, ainda pálido, ergueu os olhos para Rick Ocasek, que mantinha a expressão dura.

— Chefe, a doutora Lorena só está fazendo o trabalho dela, não precisa tratar ela desse jeito. Ela parece ser uma boa pessoa. — A voz de Gustavo estava fraca, mas ainda assim carregava um tom de respeito e convicção.

Rick, de braços cruzados, soltou uma risada seca, balançando a cabeça em negação. — Ela é uma garota atrevida, isso sim... Quem já viu falar comigo daquele jeito? E ainda levantar a voz para mim? Se fosse fora do hospital, ela já estaria morta. — Seus olhos escuros faiscavam em frustração, a mandíbula travada demonstrando sua impaciência.

O silêncio pesou por um instante, até que um dos seguranças se aproximou, sua voz baixa, mas carregada de urgência.

— Chefe, precisamos sair daqui... Nosso contato disse que o detetive Dallas está investigando os hospitais.

Rick passou a mão pelo cabelo, impaciente, cerrando os punhos. — Porra... Esse filho da mãe não sabe quando parar.

O segurança manteve a expressão séria. — Já está tudo organizado. Em dez minutos podemos ir.

Horas depois, a noite envolvia a cidade com suas luzes vibrantes. No hospital, a recepção estava tranquila, com poucos funcionários caminhando de um lado para o outro. O aroma de café recém-passado preenchia o ar, misturando-se ao cheiro de desinfetante.

Lorena conversava com Camila, apoiada no balcão, tentando relaxar depois de um dia intenso.

— Então, amanhã à noite vamos na balada, né? Os meninos já confirmaram.

Ela sorriu, ajeitando uma mecha solta de cabelo. — Vamos sim, estou precisando relaxar. Tenho que aproveitar que nesse sábado estou de folga.

De repente, passos apressados ecoaram pelo corredor. A enfermeira Nina surgiu, visivelmente agitada, a respiração ofegante.

— Dra. Lorena, Dra. Lorena!

Lorena arqueou a sobrancelha, franzindo a testa. — Pelo amor de Deus, Nina, fale baixo! Estamos no hospital. O que foi que aconteceu?

— Aquele paciente... Ele sumiu!

O coração de Lorena acelerou. — Como assim sumiu?

— Ele não está mais no quarto. Não há nenhum sinal de que havia alguém lá.

A médica trocou um olhar rápido com Camila antes de soltar um suspiro exasperado. — Quem é o paciente, Nina?

— Senhor Gustavo.

Um silêncio pesado caiu sobre as três. O estômago de Lorena revirou. Ela cerrou os punhos, sentindo uma onda de raiva subir pelo corpo.

— Não acredito nisso… Isso é coisa daquele chefe irresponsável dele.

A tensão pesava no ar como uma tempestade prestes a desabar. Lorena sentia o sangue ferver em suas veias, a indignação crescendo a cada segundo.

— Não acredito nisso… — murmurou entre dentes, cerrando os punhos. — Isso é coisa daquele chefe irresponsável dele.

Camila cruzou os braços, inclinando-se contra o balcão da recepção, um brilho curioso nos olhos.

— Qual deles? O gostoso arrogante ou o que levou os tiros?

Lorena revirou os olhos, bufando.

— O arrogante, é claro. Gustavo pode até ter concordado com isso, mas duvido que tenha sido ideia dele. Aposto que aquele lunático o arrancou daqui sem a menor preocupação com a recuperação dele.

Nina ainda ofegava, as bochechas coradas pela correria.

— Dra., o que a gente faz? Chamamos a segurança?

Lorena passou as mãos pelo rosto, tentando controlar a irritação. Seu instinto gritava para que fosse até o quarto verificar com os próprios olhos, mas no fundo, já sabia o que encontraria: nada.

— Não adianta. Se eles planejaram a fuga, não deixaram rastros.

Camila suspirou, pegando uma prancheta e rabiscando algo.

— Você parece mais brava do que preocupada.

Lorena soltou uma risada sarcástica.

— Eu estou brava. Brava porque perdi tempo cuidando de um paciente que simplesmente desaparece no meio da noite. E brava porque aquele cara acha que pode mandar em tudo e todos, inclusive em mim.

Camila mordeu o lábio, tentando conter o sorriso divertido.

— O chefe dele te irrita tanto assim?

— Irrita.

— Mesmo sendo um gostoso de jaqueta de couro e cara de mau?

Lorena estreitou os olhos para a amiga, cruzando os braços.

— Não começa, Camila.

Mas Camila apenas riu, se afastando.

Lorena respirou fundo, sentindo o peito ainda pesado de raiva. Ele podia ser intimidador, mas ela não era do tipo que se deixava dobrar por homens arrogantes. Ele não saía por aí ameaçando pessoas impunemente. Não com ela.

E se ele achava que aquela história tinha acabado ali, estava muito enganado.

***

Sexta-feira à tarde. O consultório de Dra. Lorena estava silencioso, exceto pelo som suave do clique das teclas do computador, onde ela revisava alguns prontuários. A luz suave do final da tarde entrava pelas janelas, projetando sombras alongadas nas paredes brancas. O ar estava carregado com o cheiro de álcool e desinfetante, o cheiro habitual do hospital, que, apesar de ser esterilizado e limpo, ainda trazia consigo a tensão de um ambiente onde vidas estavam constantemente em jogo.

A porta do consultório se abriu sem aviso, e Camila, entrou com um passo rápido, a expressão um pouco apreensiva.

— Dra. Lorena, o Detetive Matt Dallas está aqui e gostaria de falar com você. — Camila disse, entrando rapidamente na sala e interrompendo a paz.

Lorena levantou os olhos da tela do computador, seus olhos castanhos estreitando-se levemente, curiosa, mas mantendo a compostura. O som de um suspiro suave escapou de seus lábios. Detetives não eram novidade, mas a visita desse parecia ser algo fora do comum.

— Pode mandar entrar. — Ela respondeu com calma.

O som da porta se abrindo foi seguido pelos passos firmes de um homem que entrou sem pressa, mas com a confiança de quem sabia exatamente onde estava. O detetive Matt Dallas parecia imune ao ambiente de hospital. Seu terno escuro e a postura rígida, como se o mundo ao seu redor não fosse mais do que uma série de pistas a serem resolvidas, contrastavam com a informalidade de um dia de trabalho na clínica.

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