O olhar de Rick se tornou ainda mais frio.
— Dra., preciso tirar ele daqui ainda hoje. Saia desse quarto agora e volte com a alta dele assinada — ordenou, sua voz carregada de ameaça.
Lorena cruzou os braços, desafiadora.
— Senhor, como eu disse...
Rick deu um passo à frente, sua presença tornando-se opressora.
— Dra., saia agora da porra do quarto, antes que eu...
— Espera, chefe! — interrompeu Gustavo, com esforço. — Dra., por favor, vá... depois você volta.
Lorena lançou um último olhar a Rick, contendo sua raiva, e saiu do quarto sem dizer mais nada. Assim que chegou ao seu consultório, soltou um suspiro frustrado e passou as mãos pelos cabelos.
— Meu Deus, o que foi aquilo? Esse homem é louco, só pode! — murmurou, sentindo a raiva borbulhar dentro de si.
***
No quarto, o silêncio era interrompido apenas pelo barulho distante dos monitores cardíacos e pelo leve zumbido das lâmpadas fluorescentes. Gustavo, ainda pálido, ergueu os olhos para Rick Ocasek, que mantinha a expressão dura.
— Chefe, a doutora Lorena só está fazendo o trabalho dela, não precisa tratar ela desse jeito. Ela parece ser uma boa pessoa. — A voz de Gustavo estava fraca, mas ainda assim carregava um tom de respeito e convicção.
Rick, de braços cruzados, soltou uma risada seca, balançando a cabeça em negação. — Ela é uma garota atrevida, isso sim... Quem já viu falar comigo daquele jeito? E ainda levantar a voz para mim? Se fosse fora do hospital, ela já estaria morta. — Seus olhos escuros faiscavam em frustração, a mandíbula travada demonstrando sua impaciência.
O silêncio pesou por um instante, até que um dos seguranças se aproximou, sua voz baixa, mas carregada de urgência.
— Chefe, precisamos sair daqui... Nosso contato disse que o detetive Dallas está investigando os hospitais.
Rick passou a mão pelo cabelo, impaciente, cerrando os punhos. — Porra... Esse filho da mãe não sabe quando parar.
O segurança manteve a expressão séria. — Já está tudo organizado. Em dez minutos podemos ir.
Horas depois, a noite envolvia a cidade com suas luzes vibrantes. No hospital, a recepção estava tranquila, com poucos funcionários caminhando de um lado para o outro. O aroma de café recém-passado preenchia o ar, misturando-se ao cheiro de desinfetante.
Lorena conversava com Camila, apoiada no balcão, tentando relaxar depois de um dia intenso.
— Então, amanhã à noite vamos na balada, né? Os meninos já confirmaram.
Ela sorriu, ajeitando uma mecha solta de cabelo. — Vamos sim, estou precisando relaxar. Tenho que aproveitar que nesse sábado estou de folga.
De repente, passos apressados ecoaram pelo corredor. A enfermeira Nina surgiu, visivelmente agitada, a respiração ofegante.
— Dra. Lorena, Dra. Lorena!
Lorena arqueou a sobrancelha, franzindo a testa. — Pelo amor de Deus, Nina, fale baixo! Estamos no hospital. O que foi que aconteceu?
— Aquele paciente... Ele sumiu!
O coração de Lorena acelerou. — Como assim sumiu?
— Ele não está mais no quarto. Não há nenhum sinal de que havia alguém lá.
A médica trocou um olhar rápido com Camila antes de soltar um suspiro exasperado. — Quem é o paciente, Nina?
— Senhor Gustavo.
Um silêncio pesado caiu sobre as três. O estômago de Lorena revirou. Ela cerrou os punhos, sentindo uma onda de raiva subir pelo corpo.
— Não acredito nisso… Isso é coisa daquele chefe irresponsável dele.
A tensão pesava no ar como uma tempestade prestes a desabar. Lorena sentia o sangue ferver em suas veias, a indignação crescendo a cada segundo.
— Não acredito nisso… — murmurou entre dentes, cerrando os punhos. — Isso é coisa daquele chefe irresponsável dele.
Camila cruzou os braços, inclinando-se contra o balcão da recepção, um brilho curioso nos olhos.
— Qual deles? O gostoso arrogante ou o que levou os tiros?
Lorena revirou os olhos, bufando.
— O arrogante, é claro. Gustavo pode até ter concordado com isso, mas duvido que tenha sido ideia dele. Aposto que aquele lunático o arrancou daqui sem a menor preocupação com a recuperação dele.
Nina ainda ofegava, as bochechas coradas pela correria.
— Dra., o que a gente faz? Chamamos a segurança?
Lorena passou as mãos pelo rosto, tentando controlar a irritação. Seu instinto gritava para que fosse até o quarto verificar com os próprios olhos, mas no fundo, já sabia o que encontraria: nada.
— Não adianta. Se eles planejaram a fuga, não deixaram rastros.
Camila suspirou, pegando uma prancheta e rabiscando algo.
— Você parece mais brava do que preocupada.
Lorena soltou uma risada sarcástica.
— Eu estou brava. Brava porque perdi tempo cuidando de um paciente que simplesmente desaparece no meio da noite. E brava porque aquele cara acha que pode mandar em tudo e todos, inclusive em mim.
Camila mordeu o lábio, tentando conter o sorriso divertido.
— O chefe dele te irrita tanto assim?
— Irrita.
— Mesmo sendo um gostoso de jaqueta de couro e cara de mau?
Lorena estreitou os olhos para a amiga, cruzando os braços.
— Não começa, Camila.
Mas Camila apenas riu, se afastando.
Lorena respirou fundo, sentindo o peito ainda pesado de raiva. Ele podia ser intimidador, mas ela não era do tipo que se deixava dobrar por homens arrogantes. Ele não saía por aí ameaçando pessoas impunemente. Não com ela.
E se ele achava que aquela história tinha acabado ali, estava muito enganado.
***
Sexta-feira à tarde. O consultório de Dra. Lorena estava silencioso, exceto pelo som suave do clique das teclas do computador, onde ela revisava alguns prontuários. A luz suave do final da tarde entrava pelas janelas, projetando sombras alongadas nas paredes brancas. O ar estava carregado com o cheiro de álcool e desinfetante, o cheiro habitual do hospital, que, apesar de ser esterilizado e limpo, ainda trazia consigo a tensão de um ambiente onde vidas estavam constantemente em jogo.
A porta do consultório se abriu sem aviso, e Camila, entrou com um passo rápido, a expressão um pouco apreensiva.
— Dra. Lorena, o Detetive Matt Dallas está aqui e gostaria de falar com você. — Camila disse, entrando rapidamente na sala e interrompendo a paz.
Lorena levantou os olhos da tela do computador, seus olhos castanhos estreitando-se levemente, curiosa, mas mantendo a compostura. O som de um suspiro suave escapou de seus lábios. Detetives não eram novidade, mas a visita desse parecia ser algo fora do comum.
— Pode mandar entrar. — Ela respondeu com calma.
O som da porta se abrindo foi seguido pelos passos firmes de um homem que entrou sem pressa, mas com a confiança de quem sabia exatamente onde estava. O detetive Matt Dallas parecia imune ao ambiente de hospital. Seu terno escuro e a postura rígida, como se o mundo ao seu redor não fosse mais do que uma série de pistas a serem resolvidas, contrastavam com a informalidade de um dia de trabalho na clínica.
Ele se aproximou da mesa de Lorena, olhando-a com uma intensidade que a fez desviar ligeiramente o olhar, antes de retomar o contato visual. O cheiro de seu perfume, algo amadeirado e ligeiramente picante, chegou antes dele.— Boa tarde, Dra. Lorena, sou o detetive Matt Dallas. Gostaria de fazer algumas perguntas. — A voz dele era profunda, rouca, com um tom sério, mas ainda assim carregado de um leve toque de desafio.Lorena ajustou-se na cadeira de couro, um leve estalo do material quebrando o silêncio. Ela manteve a postura ereta, mas seus olhos estavam agora focados no detetive. A luz que entrava pela janela iluminava o rosto dele, destacando a mandíbula forte e os olhos azuis penetrantes, que nunca a deixaram de encarar.— Boa tarde, detetive. Em que posso ajudar? — Ela respondeu, com a calma característica de quem lida com urgências todos os dias, mas sem perder a vigilância. E se recostou na cadeira de couro escuro, cruzando as pernas de forma graciosa.Dallas puxou uma pasta p
Em casa, Lorena se preparava para a noite que prometia ser inesquecível. Ela estava no quarto, diante do espelho, estudando sua aparência com um olhar crítico. O cheiro suave de seu perfume favorito – uma mistura de jasmim e sândalo – preenchia o ar, envolvente e sedutor. A luz suave da lâmpada do abajur batia sobre o rosto dela, destacando seus traços marcantes, enquanto o som do zíper do vestido cortava o silêncio do quarto.Ela queria algo que chamasse atenção, algo que deixasse claro que estava ali para se divertir, para ser o centro das atenções. O vestido vermelho, bem curto, tomara-que-caia, se encaixou perfeitamente em seu corpo, contornando suas curvas e deixando à mostra uma boa parte da tatuagem que se estendia pela sua coxa. O decote profundo, provocante, fazia a tensão no ar aumentar, como se o simples olhar para ela fosse suficiente para despertar desejos não ditos.Lorena sorriu para o reflexo no espelho, passando os dedos nos seus cabelos loiros e soltando-os, deixando
Ele observava, em silêncio, enquanto um rapaz se aproximava de Lorena, a abraçando e beijando sua bochecha. Ela sorriu para ele, parecendo se divertir, mas Rick franziu o cenho, sentindo uma ponta de ciúmes desconhecido.Pensamento de Rick: Será que é namorado dela? Porra, eu quero essa garotinha atrevida para mim.Ele balançou a cabeça, tentando se concentrar. Então, com um gesto de comando, ele se voltou para o segurança.— Está vendo a Dra. Logo ali? Vá até lá e avise a ela que tem alguém esperando. Ela deve subir aqui na área VIP agora. — Rick ordenou, sua voz autoritária.O segurança, atento, fez uma leve reverência e se dirigiu para a pista de dança. Enquanto isso, Rick se acomodava na poltrona, a luz das lâmpadas refletindo nos vidros do seu copo de whisky. Ele sentiu um leve desconforto em sua garganta, talvez pelo excesso de tensão que sentia desde que avistou Lorena. Mas não se importava. Queria ela. Precisava
Lorena não se deixou intimidar. Ela o encarou de frente, tentando manter a compostura.— Não sou uma garotinha. E você poderia me dizer porque mandou me chamar aqui? — ela perguntou, o tom de sua voz mais firme, apesar da tensão no ar.Rick não respondeu imediatamente. Ele avançou mais um passo, agora tão próximo que ela podia sentir seu calor, o cheiro forte de sua colônia misturado ao whisky. O som de sua respiração ficou mais audível, e o espaço entre eles parecia desaparecer. Ele se inclinou para falar próximo ao seu ouvido, fazendo a pele de Lorena se arrepiar. O toque dele era como fogo na sua pele.— Sabe, Dra. Lorena... você está muito gostosa com esse vestido. Só tinha lhe visto com a roupa do hospital. — ele disse, a voz rouca, quase um sussurro, enquanto seus dedos deslizavam ao longo do braço de Lorena.O toque foi lento, quase calculado. Ele parecia estar estudando cada reação dela, cada movimento, e isso a incomodava ainda mais. Quando a mão
Naquela tarde, o celular de Lorena tocou. Era Camila.— Oi, Lore! Como está o seu sábado? Está curtindo a paz? — Camila perguntou, a voz animada e cheia de energia, sempre positiva, como se nunca nada de ruim a afetasse.— Estou tentando, Cami. Só que meu cérebro não para de pensar... — Lorena respondeu, a voz tingida de frustração. Ela sabia que estava sendo irracional, mas não conseguia evitar. O encontro com Rick havia mexido com ela de uma maneira que ela não esperava.— Ué, o que aconteceu? Não vai me dizer que você está com a cabeça nele, né? — Camila riu.— Não sei... estou confusa, Cami. Foi só... estranho, sabe? Ele... ele é tão... — Lorena parou por um momento, buscando palavras para descrever a sensação.— Eu sei, eu sei. Esse cara tem uma presença, né? Dá medo até... mas se você não quiser ele, não se preocupe, esse tipo de homem não vai te pegar tão fácil. — Camila disse, tentando acalmar Lorena, mas sem entender completamente o peso d
Lorena riu, mas o som foi amargo, cheio de desafio.— Vai fazer o que? Vai me mostrar sua arma novamente? Vai ter que fazer melhor dessa vez. — Ela falou, tentando desestabilizá-lo, mas sabia que a situação estava se tornando perigosa. O corpo dela estava tenso, pronta para qualquer movimento.De repente, em um movimento rápido, o segurança a agarrou pelos braços com força, puxando-a para o carro que estava estacionado na esquina. O som de sua respiração acelerada, o som abafado da porta do carro se fechando e o cheiro de couro do banco do veículo se misturaram ao pânico que começava a crescer dentro de Lorena. Ela gritou, com toda a força que tinha.— Me larga, seu cretino! — Sua voz estava cheia de raiva e pânico, a adrenalina inundando seu corpo.O som da porta batendo, o zumbido do motor do carro ligado e o cheiro de gasolina que invadia o ar fizeram com que Lorena se sentisse completamente fora de controle, sem saber como reagir. Ela
O tempo havia se arrastado enquanto Lorena trabalhava na recuperação de Gustavo. O silêncio da casa parecia envolver todos, mas o som das respirações aliviadas de ambos, Gustavo e Lorena, era quase palpável. O cheiro do antisséptico misturava-se com o ar abafado, como se tudo ao redor estivesse aguardando uma resolução. Quando finalmente Lorena se afastou de Gustavo, após aplicar os últimos cuidados, ele sorriu fraco, mas genuíno.— Obrigado, Drª. Lorena. — Ele disse, sua voz ainda um pouco trêmula, mas cheia de gratidão.Lorena observou o Gustavo por um momento, suas mãos ainda ligeiramente tremendo após a pressão de agir rapidamente e com precisão. Ela suspirou, soltando a tensão acumulada no corpo.— Por nada, mas veja se você se cuida agora. Se não, sua recuperação vai demorar cada dia mais. — Ela respondeu com um tom mais suave, mas seu olhar ainda sério, não querendo que ele ignorasse a gravidade do que havia acontecido.Antes que ela pudesse se afa
Quando chegaram na entrada da casa de Rick, ele parou e a encarou por um momento, o olhar pesado, como se tentasse decifrar algo que ele ainda não entendia sobre ela.— Eles vão lhe levar de volta. — Ele disse, sua voz carregada de autoridade, apontando para o carro que aguardava na frente.Lorena tentou desviar os olhos, mas ele estava perto demais, quase como se estivesse se alimentando de sua ansiedade. O cheiro do ambiente, misturado ao perfume de Rick, a deixava tensa, como se ela estivesse sendo observada de cada ângulo.— Senhor, antes que eu esqueça, a polícia esteve no hospital. — Ela disse rapidamente, quase sem pensar, tentando se afastar mentalmente da presença de Rick, mas a sensação de que algo mais estava por vir a fez se sentir vulnerável.Rick parou por um momento, a observou com mais intensidade, seus olhos estreitando à medida que ele dava um passo em sua direção. O som de seus sapatos ecoando na calçada quase soava ameaçador.—