4. Detetive.

Ele se aproximou da mesa de Lorena, olhando-a com uma intensidade que a fez desviar ligeiramente o olhar, antes de retomar o contato visual. O cheiro de seu perfume, algo amadeirado e ligeiramente picante, chegou antes dele.

— Boa tarde, Dra. Lorena, sou o detetive Matt Dallas. Gostaria de fazer algumas perguntas. — A voz dele era profunda, rouca, com um tom sério, mas ainda assim carregado de um leve toque de desafio.

Lorena ajustou-se na cadeira de couro, um leve estalo do material quebrando o silêncio. Ela manteve a postura ereta, mas seus olhos estavam agora focados no detetive. A luz que entrava pela janela iluminava o rosto dele, destacando a mandíbula forte e os olhos azuis penetrantes, que nunca a deixaram de encarar.

— Boa tarde, detetive. Em que posso ajudar? — Ela respondeu, com a calma característica de quem lida com urgências todos os dias, mas sem perder a vigilância. E se recostou na cadeira de couro escuro, cruzando as pernas de forma graciosa.

Dallas puxou uma pasta preta de dentro do paletó e a abriu com um movimento calculado, os papéis raspando na superfície, como se o fizesse de maneira deliberada para criar suspense. O som de papel se movendo era o único ruído além de suas vozes.

— Gostaria de saber se deu entrada aqui no hospital um homem com ferimento a bala. — Ele falou, observando-a atentamente.

Lorena suspirou, o som suave quase imperceptível, e inclinou-se ligeiramente para frente, seus olhos fixos no detetive, uma marca de cautela em seu rosto. Sabia exatamente onde ele estava tentando chegar, mas não podia ceder. O segredo médico era imbatível.

— Detetive Dallas, o senhor sabe que não posso passar informações sobre os pacientes. — Ela disse com firmeza, suas palavras carregadas com a autoridade de quem não tinha medo de impor limites.

Dallas, no entanto, não se deu por vencido. Ele permaneceu ali, inabalável, observando-a com atenção. O leve som da respiração de ambos parecia mais alto no silêncio que os envolvia.

— Dra. Lorena, há alguns dias a polícia entrou em confronto com a maior gangue de mafiosos do país. Ferimos gravemente um deles e estávamos procurando em todos os hospitais. Só faltou esse. — A tensão na voz dele aumentou, como se estivesse pressionando sem dizer mais palavras.

O silêncio pairou na sala por um momento. Lorena manteve a compostura, mas dentro dela, uma faísca de curiosidade começou a se acender. Ela sabia do que ele estava falando, mas sua postura profissional a impedia de confirmar qualquer coisa. O hospital era um refúgio para aqueles em necessidade, e ela não se permitia misturar negócios com isso. Ela inclinou-se ligeiramente para frente, os saltos de seus sapatos batendo de leve contra o piso enquanto o silêncio se estendia por um segundo.

— Eu cuidei de um paciente com ferimento a bala, mas nem tente, detetive. Não direi nada além disso. — Ela disse com um sorriso frio, como quem coloca um ponto final em um assunto.

Matt, pareceu pesar suas opções. Percebendo que não avançaria mais, deu um pequeno suspiro. O ar na sala estava pesado agora, como se os dois estivessem em uma batalha silenciosa. Seus olhos azuis, intensos, fixaram-se nela por um segundo mais longo, como se ele estivesse avaliando algo além das palavras. Depois, com um suspiro, ele se afastou da mesa, os passos pesados soando de novo no piso de madeira polida.

— Dra. Lorena... — Ele disse, ainda firme, mas com um tom que carregava uma pequena provocação. — Este é o meu cartão. Se souber de algo e quiser falar comigo, não hesite em me procurar. Obrigado pela atenção.

Ele deixou o cartão sobre a mesa e se afastou, os passos ecoando de novo, mais suaves agora, enquanto ele se dirigia para a porta.

Lorena observou-o ir embora, o perfume amadeirado ainda no ar, e sentiu uma leve tensão se dissipar na sala. Quando a porta se fechou com um clique suave, Camila entrou com um sorriso travesso no rosto, a expressão iluminada de quem não perdia uma oportunidade.

— E aí, Lore, como foi com o detetive gato? — Camila perguntou, a voz cheia de curiosidade. A risada que estava prestes a sair já se formando em sua voz.

Lorena revirou os olhos, um sorriso desdenhoso se formando em seus lábios, enquanto fechava a pasta no escritório, dando um último olhar para o cartão de Matt Dallas.

— Detetive gato? Você não tem jeito... — Ela se levantou, pegando sua bolsa e se dirigindo para a porta. — Já está no nosso horário. Vamos embora. Vou para casa me arrumar.

Camila a seguiu, ainda rindo.

— Vamos, e eu te encontro lá na boate. — Ela disse, com um brilho nos olhos, já pensando na diversão que a noite prometia.

O som das conversas e risos das pessoas no corredor se misturaram ao barulho das portas se fechando atrás delas, enquanto as duas se afastavam do hospital, prontas para encarar o fim de semana que prometia ser cheio de diversão e, talvez, um pouco de mistério.

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