Clara
Não estava sendo difícil como eu havia pensado. Agora olhando para o lugar onde o meu pai havia desfalecido, tendo certeza de que ele não voltaria mais, sentia-me aliviada.
— Vai levar isto aqui? - Indaga Cassandra fazendo-me despertar.
— Acho que não, talvez eu venha buscar depois. - Afirmo e vou em direção ao quarto.
— Qual sua prioridade? - Questiona pegando algumas caixas.
— Os meus livros. - Informo sorrindo.
— Ok. Então vamos começar. - Diz e sorrimos.
No final conseguimos encher três caixas com os meus livros, pego a minha arma e coloco entre eles, não sei quando irei precisar.
Organizamos e limpamos o restante da casa, depois sentamos no sofá para descansar.
— Eu não imaginava que a minha vida mudaria tanto. - Confesso e vejo minha amiga sorrir.
—
ClaraSinto todo o meu corpo doer, e não sei há quanto tempo estou nessa posição. Minhas lágrimas parecem ter secado, mas ainda tenho vontade de chorar. Experimento essa dor tão grande como se o meu corpo tivesse diminuindo e por algum motivo ela tenha saído para brincar comigo.Tudo parece triste, tudo faz eu me sentir desolada. Abro os olhos e vejo que Atena está comigo na sala, ela ficou deitada no tapete imagino que esteja cuidando de mim. Mexo o meu braço lentamente com intenção de tirar o cabelo do meu rosto, penso em desistir quando a dor persiste, mas me forço para se levantar. Sento-me no sofá e fico olhando para a televisão, mesmo estando desligada parece que se sente mais feliz do que eu.A dor dentro de mim está tão grande que sinto como se não pudesse respirar e quando percebo começo a respirar
ClaraRespiro fundo e deixo que o vento atinja cada vez mais o meu rosto, estou sentada no parque enquanto Atena explora um pouco mais o local à nossa volta, fico encantada com a quantidade de pessoas que vejo se exercitarem de manhã, se não fosse pela nova integrante da família eu não estaria aqui.Olho no relógio e noto que já passa um pouco das 6 horas e 30 minutos, chamo minha companheira e voltamos para casa. Corremos devagar no percurso de volta, uma vez que, ninguém está me perseguindo não sinto necessidade de ser mais rápida do que isso.É uma sensação diferente agora, uma percepção nova, o desespero que eu sentia agora não passa de uma lembrança e por alguns minutos imagino que as coisas estão voltando ao normal. Posso respirar agora, como a muito não respirava, não sinto mais q
ClaraOs blocos estão pesados, mas eu não me importo. Sinto-me feliz por poder ajudá-lo, por me sentir útil. Estou com 11 anos e estávamos construindo nossa casa no interior, é o lugar onde o sol escolheu para morar, pois ele não dá uma trégua, eu e o Pedro fazemos muito esforço junto com os meus pais e alguns amigos deles. Posso dizer que só carregar os blocos é muita ajuda, sinto o suor escorrer pelo meu rosto e a forma como faz o meu corpo escorregar me faz querer tomar um banho, mas não posso ir, prometi que não pararia até que eles parassem. Coloco os blocos próximo aos amigos dos meus pais e vou buscar mais, se disser que são muitos mentirei, mas quatro é o máximo para mim. Enquanto pego os blocos, Pedro está ajudando a mexer
ClaraNós ficamos em silêncio cada um perdido em seus pensamentos tentando encontrar o conforto ideal dentro dos olhos um do outro. Após alguns minutos saio de frente da porta permitindo que ele entre, escuto sua respiração acelerar conforme se aproxima cada vez mais de mim, sei que se sente como eu.Fecho a porta e vamos para o meu quarto ambos sem ter dito nem ao menos uma palavra, sento-me na cama e faço um gesto para que ele se aproxime e vejo-o obedecer sem reclamar.Agora sentado em minha frente me encara por mais alguns minutos, quando o silêncio torna-se perturbador ele acaricia o meu rosto fazendo com que eu respire de uma maneira tão calma que a muito não fazia.Seguro sua mão assim que ele começa a afastá-la e o puxo ainda mais para perto de mim, olho em seus olhos tentando saber o que está sentindo e fico fel
ClaraSaio do elevador junto com a Cassandra e sinto certa tristeza ao ver Bernardo e Bianca nos esperando, eles parecem muito íntimos e não deixo de lembrar das coisas que ela me disse, reparo que ao lado dela sou completamente invisível aos olhos dele. Enquanto nos aproximamos deles vejo Théo vindo até mim, tento disfarçar o olhar, mas ele é insistente deixando-me nervosa.— Srta. Andrade. - Cumprimenta-me acenando com a cabeça.— Sr. Vasconcelos. - Retribuo com um sorriso.— Vai sair mais cedo hoje? - Indaga, deixando-me confusa, não sabia que ele controlava meu horário, vendo a expressão de Cassandra acho que ela pensou a mesma coisa.— Nós temos um compromisso. - Respondo e começo a caminhar.— Até a próxima Srta. - Despede-se e eu
ClaraQuando nos aproximamos da casa de Estevão, sinto o frio na barriga aumentar. Não sei por que sinto-me tão nervosa... Se é pelo Bernardo ou por tudo o que vivi aqui. Olho para o Henri e vejo-o muito atraente em seu terno preto, seu cabelo ainda está molhado e a barba perfeitamente feita, ao olhar para mim sorri e pisca passando-me confiança, sinto-me muito grata por isso. O segurança sorri assim que desço do carro, fazendo com que eu me sinta de certa forma especial.— Srta. Andrade é muito bom vê-la bem. - Cumprimenta-me e eu sorrio vendo a sinceridade em seus olhos.— Muito obrigada. - Digo ainda sorrindo.Deixo que leve o carro e fico ao lado de Henri, ele sorri e coloca o meu cabelo atrás da orelha. Sinto-me diferente com ele... É como se eu fosse atraente e inteligente, imagino que se ficasse c
ClaraSinto o vento em meu rosto, ele é forte e parece trazer clareza para minha mente. Faz um mês desde que Estevão e Betina viajaram, falo com eles todos os dias isso tranquiliza a saudade. Mas tem algo que me incomoda, que este sentimento está tão forte que voltei a correr todos os dias, sem Atena, apenas eu neste parque toda manhã, ela passeia no período noturno agora. Corro mais um pouco e paro para beber água, sentindo o suor escorrer pelo meu corpo. Mesmo com tanto esforço não consigo tirá-lo de minha cabeça.O Sr. Azevedo não dirige mais a palavra a mim desde aquela noite em que disse que estava apaixonado. Cheguei a confiar nisso, acreditei que daríamos certo, recordo-me como se fosse ontem a minha conversar com Cassandra no jardim após o brinde.“ &
BernardoQuando a Clara vai embora, luto constantemente para tirá-la de minha cabeça... Ela é complicada demais para ter algo sério. Vi em seus olhos sente algo por mim, mas ela não é capaz de assumir e não sou eu que irei insistir para estar com ela.Pelo menos com Lessa ao meu lado conseguirei resistir, quero acreditar nisso, mas sei que quase a beijei. Caralho, ela é o que quero e o meu corpo reage ao dela de uma maneira descontrolada. Enquanto termino minha bebida vejo Bianca aproximando-se, o que não me deixa muito animado.— Finalmente foi embora. - Diz com desdém. — Não aguentava mais olhá-la. - Vejo em sua voz que parece entediada, porém isso não me surpreende já que está assim faz meses ou anos.— Qual o seu problema Bia? - Indago e ela me encara, reprovando minha pergunta.<