Clara
Sinto todo o meu corpo doer, e não sei há quanto tempo estou nessa posição. Minhas lágrimas parecem ter secado, mas ainda tenho vontade de chorar. Experimento essa dor tão grande como se o meu corpo tivesse diminuindo e por algum motivo ela tenha saído para brincar comigo.
Tudo parece triste, tudo faz eu me sentir desolada. Abro os olhos e vejo que Atena está comigo na sala, ela ficou deitada no tapete imagino que esteja cuidando de mim. Mexo o meu braço lentamente com intenção de tirar o cabelo do meu rosto, penso em desistir quando a dor persiste, mas me forço para se levantar. Sento-me no sofá e fico olhando para a televisão, mesmo estando desligada parece que se sente mais feliz do que eu.
A dor dentro de mim está tão grande que sinto como se não pudesse respirar e quando percebo começo a respirar fundo e a chorar novamente essa ação mostra a mim mesma que minhas lágrimas não acabaram.
Dobro os meus joelhos e os abraço como se fossem os únicos que me compreendessem. Tudo se tornou escuridão, mesmo com os olhos abertos não consigo ver a luz, não consigo senti-la, não sei como fazer a dor passar e tudo fica mais difícil quando tento conviver com ela.
Não acredito que deixei o Bernardo ir embora, não acredito que disse não. Minha insegurança é tão grande que eu mesma acabo com chance que encontrei para ser feliz, eu o amo de uma maneira que pensei que nunca sentiria, quando penso nele a dor aumenta, mas não consigo evitar, sua imagem não sai de minha cabeça e sinto tanto medo dele seguir em frente e ser feliz com outra mulher.
A imagem da Bianca também me persegue e sempre me lembro deles juntos na biblioteca. Parece que só tenho motivos para achar que minha decisão é certa, mas se isso é verdade porque está doendo tanto? Se eu fiz o que era certo, o meu coração não deveria estar feliz? Acho que não tenho mais coração, eu mesma o destruí e não sei como concertá-lo.
Respiro fundo e levanto vendo como Atena ficou atenta ao ver que finalmente acordei. Vou até a cozinha e vejo o bolo que fiz, penso que ele é o melhor remédio que terei neste momento, vou até a geladeira e a abro pensando em tomar um suco, mas assim que vejo o vinho mudo de ideia e o pego, abro a garrafa e pego a taça e o prato, corto um pedaço do bolo e coloco nele, sentando-me a mesa como um pedaço e bebo todo o vinho.
Por um momento penso que estou bem, penso que será fácil superar isso, afinal sou adulta, mas esse pensamento é tão passageiro como o gosto do bolo, de repente sinto o meu estômago se revirar e sei que é melhor sair de onde estou, corro para o banheiro e coloco para fora tudo o que comi e bebi, sentindo as pernas bambas sento no chão esperando que mais alguma coisa saia. Após um tempo percebo que tudo que deveria sair já acabou e dou descarga, tiro a roupa e vou tomar banho.
Fico debaixo do chuveiro por mais tempo do que desejava, sentindo que estou bem mais lenta do que sou, não sei se é por causa da bebida ou da tristeza, mas tudo parece mais escuro, mais devagar.
Assim que termino o banho coloco o meu pijama preto e vou para o quarto, abro a janela e me deito na cama. Permito-me ficar um tempo quieta olhando para o teto, tentando compreender como vou suportar ver o Bernardo e não poder tocá-lo, não sei se irá me tratar diferente ou se continuará da mesma forma, sinto que o perdi quando disse não e isso doí muito.
Escuto o meu telefone tocar e me esforço para ignorá-lo, mas a pessoa é insistente e assim que o pego vejo que é a Cassandra, atendo rapidamente desejando que não saiba de nada.
— Alô. - Atendo tentando esconder a tristeza que está em minha voz.
— Clara você está bem? - Indaga Cassandra fazendo com que eu sinta que nunca conseguirei mentir para ela.
— Estou tentando. - Digo e um soluço escapa mesmo eu tentando impedi-lo, mas me controlo.
— O que aconteceu? - Pergunta e sinto-a preocupada e isso me faz disfarçar ainda mais, não quero incomodá-la com a minha vida e os meus problemas.
— Não é nada importante, você está bem? - Questiono e escuto sua respiração ao desaprovar minha atitude, mas não me importo.
— Estou bem, muito bem na verdade. - Escuto sua risada. — Mas liguei para te contar algo que tenho certeza que não te deixará feliz. - Ela fez uma pausa e eu imaginei o pior. — Só não quero que volte a trabalhar despreparada. – Finaliza fazendo com que muitas coisas viessem a minha mente, mas nenhuma delas era boa.
— Ca você está me deixando nervosa. - Falo enquanto sento-me na cama. O que eu realmente poderia esperar? Não sei o que poderia ser pior do que tudo o que já estou sentindo, o nervosismo cresce dentro de mim conforme a dor diminui, pois por um momento consegui esquecer o que estava me atormentando, me matando por dentro. Não sei o que poderia acontecer na empresa que faça ter que me preparar para o trabalho, mas da forma que ela fala parece um pesadelo. Aguardo ansiosamente para que ela quebre o silêncio.
— Desculpe, não quero que fique nervosa, mas você está sentada? - Indaga fazendo com que o meu coração dispare, respiro fundo e respondo.
— Estou sentada, mas, por favor, pare com o suspense. - Imploro, pois realmente esperar não está sendo uma boa ideia para mim.
— Ok. Bom, quando cheguei ao trabalho hoje as coisas pareciam diferentes. - Inicia e sei que me contará uma história e isso só me deixa mais nervosa, mas me prendi em cada palavra. — O Sr. Fernandes estava lá como de costume, porém o Sr. Azevedo foi trabalhar depois de dias ausente. Ele passou por mim e me cumprimentou, mas eu senti que ele estava triste, não sei dizer como, mas seu olhar estava diferente. - Conta, quando ela fala dele sinto o meu coração disparar ainda mais, quero tanto saber como está, desejo tanto que se sinta bem, ignoro meu pensamento e volto a prestar atenção nas palavras de Cassandra. — Depois de alguns minutos que ele havia chegado o elevador para de novo no andar e isso me deixa curiosa, pois é um andar reservado, mas quando ele para vejo a Bianca descer, ela andou até mim, mas fingiu que não me viu e foi direto para a sala do Sr. Fernandes, mas Clara o que eu mais estranhei foi o crachá, eu tive a impressão que ela vai trabalhar lá também. - Suas últimas palavras soam como um pesadelo que eu acordo sentindo dor em cada parte do meu corpo. Eu pensei que nada poderia piorar, mas isso é algo que torna tudo mais difícil, não sei o que fazer e por um momento esqueço que a Cassandra ainda está na linha. — Clara você está bem? - Indaga preocupada.
— Cassandra tem certeza que havia um crachá? - Pergunto tentando acreditar que ela se enganou e tudo não passa de um terrível pesadelo.
— Sim, infelizmente. Clara eu pude ver perfeitamente estou tão chocada como você. - Diz tentando parecer calma.
— Tudo bem, eu só não sei como fazer isso. - Confesso, mas sinto que a minha voz não passa de um sussurro.
— Nós podemos fazer isso juntas. - Murmura e eu me sinto sortuda por tê-la ao meu lado.
— Obrigada, vou precisar de você. - Exclamo e ouço-a sorrir me esforço para fazer o mesmo.
— Quando você volta? - Questiona e percebo que o seu tom de voz mudou, parece mais animada.
— Daqui a três dias. - Informo querendo sumir e não voltar para lá nunca mais.
— Vou contar os dias. - Eu sorrio e me despeço, pois não sei por quanto tempo aguentarei continuar no telefone.
Quando desligo sinto novas lágrimas voltarem aos meus olhos, mas sei que não posso libertá-las, chegou o momento de parar de chorar, pois agora terei que lidar com a falta do Bernardo e com a chegada de Bianca, neste momento ela está tão perto da minha vida que imagino por quanto tempo conseguirei suporta tudo isso, sei que agora terei que ser forte independente do que sinto ou de como me sinto não poderei deixar que ninguém perceba.
Levanto-me da cama e vou até a janela vendo finalmente a luz voltar aos meus olhos.
ClaraRespiro fundo e deixo que o vento atinja cada vez mais o meu rosto, estou sentada no parque enquanto Atena explora um pouco mais o local à nossa volta, fico encantada com a quantidade de pessoas que vejo se exercitarem de manhã, se não fosse pela nova integrante da família eu não estaria aqui.Olho no relógio e noto que já passa um pouco das 6 horas e 30 minutos, chamo minha companheira e voltamos para casa. Corremos devagar no percurso de volta, uma vez que, ninguém está me perseguindo não sinto necessidade de ser mais rápida do que isso.É uma sensação diferente agora, uma percepção nova, o desespero que eu sentia agora não passa de uma lembrança e por alguns minutos imagino que as coisas estão voltando ao normal. Posso respirar agora, como a muito não respirava, não sinto mais q
ClaraOs blocos estão pesados, mas eu não me importo. Sinto-me feliz por poder ajudá-lo, por me sentir útil. Estou com 11 anos e estávamos construindo nossa casa no interior, é o lugar onde o sol escolheu para morar, pois ele não dá uma trégua, eu e o Pedro fazemos muito esforço junto com os meus pais e alguns amigos deles. Posso dizer que só carregar os blocos é muita ajuda, sinto o suor escorrer pelo meu rosto e a forma como faz o meu corpo escorregar me faz querer tomar um banho, mas não posso ir, prometi que não pararia até que eles parassem. Coloco os blocos próximo aos amigos dos meus pais e vou buscar mais, se disser que são muitos mentirei, mas quatro é o máximo para mim. Enquanto pego os blocos, Pedro está ajudando a mexer
ClaraNós ficamos em silêncio cada um perdido em seus pensamentos tentando encontrar o conforto ideal dentro dos olhos um do outro. Após alguns minutos saio de frente da porta permitindo que ele entre, escuto sua respiração acelerar conforme se aproxima cada vez mais de mim, sei que se sente como eu.Fecho a porta e vamos para o meu quarto ambos sem ter dito nem ao menos uma palavra, sento-me na cama e faço um gesto para que ele se aproxime e vejo-o obedecer sem reclamar.Agora sentado em minha frente me encara por mais alguns minutos, quando o silêncio torna-se perturbador ele acaricia o meu rosto fazendo com que eu respire de uma maneira tão calma que a muito não fazia.Seguro sua mão assim que ele começa a afastá-la e o puxo ainda mais para perto de mim, olho em seus olhos tentando saber o que está sentindo e fico fel
ClaraSaio do elevador junto com a Cassandra e sinto certa tristeza ao ver Bernardo e Bianca nos esperando, eles parecem muito íntimos e não deixo de lembrar das coisas que ela me disse, reparo que ao lado dela sou completamente invisível aos olhos dele. Enquanto nos aproximamos deles vejo Théo vindo até mim, tento disfarçar o olhar, mas ele é insistente deixando-me nervosa.— Srta. Andrade. - Cumprimenta-me acenando com a cabeça.— Sr. Vasconcelos. - Retribuo com um sorriso.— Vai sair mais cedo hoje? - Indaga, deixando-me confusa, não sabia que ele controlava meu horário, vendo a expressão de Cassandra acho que ela pensou a mesma coisa.— Nós temos um compromisso. - Respondo e começo a caminhar.— Até a próxima Srta. - Despede-se e eu
ClaraQuando nos aproximamos da casa de Estevão, sinto o frio na barriga aumentar. Não sei por que sinto-me tão nervosa... Se é pelo Bernardo ou por tudo o que vivi aqui. Olho para o Henri e vejo-o muito atraente em seu terno preto, seu cabelo ainda está molhado e a barba perfeitamente feita, ao olhar para mim sorri e pisca passando-me confiança, sinto-me muito grata por isso. O segurança sorri assim que desço do carro, fazendo com que eu me sinta de certa forma especial.— Srta. Andrade é muito bom vê-la bem. - Cumprimenta-me e eu sorrio vendo a sinceridade em seus olhos.— Muito obrigada. - Digo ainda sorrindo.Deixo que leve o carro e fico ao lado de Henri, ele sorri e coloca o meu cabelo atrás da orelha. Sinto-me diferente com ele... É como se eu fosse atraente e inteligente, imagino que se ficasse c
ClaraSinto o vento em meu rosto, ele é forte e parece trazer clareza para minha mente. Faz um mês desde que Estevão e Betina viajaram, falo com eles todos os dias isso tranquiliza a saudade. Mas tem algo que me incomoda, que este sentimento está tão forte que voltei a correr todos os dias, sem Atena, apenas eu neste parque toda manhã, ela passeia no período noturno agora. Corro mais um pouco e paro para beber água, sentindo o suor escorrer pelo meu corpo. Mesmo com tanto esforço não consigo tirá-lo de minha cabeça.O Sr. Azevedo não dirige mais a palavra a mim desde aquela noite em que disse que estava apaixonado. Cheguei a confiar nisso, acreditei que daríamos certo, recordo-me como se fosse ontem a minha conversar com Cassandra no jardim após o brinde.“ &
BernardoQuando a Clara vai embora, luto constantemente para tirá-la de minha cabeça... Ela é complicada demais para ter algo sério. Vi em seus olhos sente algo por mim, mas ela não é capaz de assumir e não sou eu que irei insistir para estar com ela.Pelo menos com Lessa ao meu lado conseguirei resistir, quero acreditar nisso, mas sei que quase a beijei. Caralho, ela é o que quero e o meu corpo reage ao dela de uma maneira descontrolada. Enquanto termino minha bebida vejo Bianca aproximando-se, o que não me deixa muito animado.— Finalmente foi embora. - Diz com desdém. — Não aguentava mais olhá-la. - Vejo em sua voz que parece entediada, porém isso não me surpreende já que está assim faz meses ou anos.— Qual o seu problema Bia? - Indago e ela me encara, reprovando minha pergunta.<
BernardoSinto a tensão no ar, não olho para ela inicialmente preciso me acalmar, pois estou muito puto, não acredito que se atreveu a falar comigo daquela maneira. Eu quero castigá-la... Quero possuí-la sobre a minha mesa até que seu corpo trema de prazer e não poder fazer isso está me enlouquecendo.Viro-me para encará-la e me deparo com os seus olhos curiosos em mim, olho para o seu corpo tão bem desenhado e para a sua boca, sinto que ela quer o mesmo que eu.Controlo-me desesperadamente para não colocá-la no sofá e saborear todo o seu corpo. Passam-se longos segundos até que eu consiga falar. Tento de toda maneira a demonstrar apenas raiva.— No que estava pensando com aquela brincadeira? - Indaguei sentindo o meu sangue ferver, ficando o mais longe possível dela. Seu olhar