Capítulo 3

Clara

Nós ficamos em silêncio cada um perdido em seus pensamentos tentando encontrar o conforto ideal dentro dos olhos um do outro. Após alguns minutos saio de frente da porta permitindo que ele entre, escuto sua respiração acelerar conforme se aproxima cada vez mais de mim, sei que se sente como eu.

Fecho a porta e vamos para o meu quarto ambos sem ter dito nem ao menos uma palavra, sento-me na cama e faço um gesto para que ele se aproxime e vejo-o obedecer sem reclamar.

Agora sentado em minha frente me encara por mais alguns minutos, quando o silêncio torna-se perturbador ele acaricia o meu rosto fazendo com que eu respire de uma maneira tão calma que a muito não fazia.

Seguro sua mão assim que ele começa a afastá-la e o puxo ainda mais para perto de mim, olho em seus olhos tentando saber o que está sentindo e fico feliz quando percebo que seu olhar já não está tão sombrio.

Sorrio e fico ainda mais feliz quando vejo um sorriso se formar em seus lábios, os lábios que eu desejo tanto.

Acaricio o seu rosto e seus cabelos soltando sua mão lentamente, ele a levanta e volta a afagar o meu rosto agora com um objetivo percebo isso quando os seus dedos se dirigem para a minha boca fazendo com que eu morda os meus lábios ao mesmo tempo em que fecho os olhos, quando os abro ele passa seus dedos pelos meus lábios fazendo com que eu o deseje cada vez mais, beijo seus dedos lentamente em seguida olho em seus olhos vendo algo diferente do que antes, é um desejo forte que cresce dentro dele, sei disso porque o mesmo cresce dentro de mim.

Coloco minha mão em sua nuca ao mesmo tempo em que faço carinho deixando seu corpo arrepiado, percebo que estamos cada vez mais perdidos em nós mesmos e antes que pudesse dizer qualquer coisa ele se aproxima segurando meu rosto com suas mãos, olho em seus olhos enquanto nossos lábios se abordam lentamente.

Sei que esse beijo é tudo o que eu preciso e talvez seja o único que eu preciso, retribuo o beijo sentindo-o ficar cada vez mais forte e mais profundo, sinto uma necessidade extraordinária de tê-lo só para mim.

Cresce uma sensação diferente, fazendo um frio desigual surgir dentro de mim ao mesmo tempo em que o meu corpo fica mais leve, suas mãos ficam mais firmes e seu beijo parece me devorar, mas de repente ele começa a se acalmar, começa a ir mais devagar, sua mordida em meu lábio me deixa mais excitada, porém sinto-o parar e apoiar sua testa na minha, nós esperamos nossa respiração se acalmar e quando o olho novamente e vejo que sorri.

A impressão que ficou dentro de mim é tão gostosa que sorrio em retribuição, sinto como se ele tivesse me levantando muito alto e me descesse devagar, em uma noite fria ele é tudo o que preciso e quero ser o que ele precisa, neste momento não quero pensar em mais nada quero apenas ser dele.

— Não quero que pense que vim aqui apenas por isso. - Diz Bernardo, finalmente conseguindo falar, sua voz é sedutora quase um sussurro e mostra que ainda está com dificuldade de respirar.

— Sei que não foi para isso, da mesma forma que sei que é quase impossível isso não acontecer. - Eu sorrio para ele e o puxo fazendo com que me deite ao meu lado.

— Como você está? - Indaga e eu vejo a preocupação em seu olhar e isso me alegra, pois quero acreditar que ele se importa.

— Estou melhor, a Cassandra cozinhou para mim como prometido, não se preocupe. - Digo tentando tranquilizá-lo, nós estamos deitados virados de frente um para o outro, sorrio quando ele pega em minha mão.

— Fiquei com tanto medo quando você desmaiou... - Quando ele diz isso vejo o seu olhar mudar como se ele voltasse aquele momento, eu aperto sua mão para trazê-lo de volta e me sinto mais tranquila quando olha para mim.

— Be, estou bem. Não precisa sentir medo, nada vai acontecer comigo. - Murmuro e ele sorri aliviado.

— Promete que vai se alimentar melhor. - Pede e eu acaricio sua mão mostrando que pode confiar em mim.

— Prometo! - Exclamo. — Isso não acontecerá novamente. - Afirmo e me aconchego ainda mais próxima a ele.

— Posso dormir com você? - Questiona. Sorrio sabendo que não consigo lhe negar isso.

— Pode, mas tem uma condição. - Brinco e vejo-o sorrir.

— E qual seria essa condição Srta.? - Pergunta sarcasticamente, eu mordo o lábio sentindo-me grata por ver um brilho diferente em seu olhar.

— Faz cafuné até que eu durma? - Pergunto vendo seu sorriso aumentar.

— Com o maior prazer. - Viro-me de costas para ele e dormimos de conchinha, sinto sua ereção atrás de mim, mas no momento por mais que eu queira, prefiro que não aconteça.

Quando ele começa a acariciar meus cabelos o sono aparece como mágica para mim e isso só confirma o que já sei, tudo é melhor com ele. Adormeço sem ao menos perceber, mas sabendo que será a melhor noite.

Quando o despertador toca sinto-o com o nariz em meu pescoço, ele acorda lentamente e eu desligo o celular não aguentando mais aquela música.

— Bom dia Be. - Digo ao me virar para encarar o seu rosto, percebo que ainda está com sono, ele pisca algumas vezes e sorri para mim.

— Acordar sentindo o seu cheiro é como continuar sonhando. Você é maravilhosa Srta. bom dia. - Ao terminar de dizer isto ele beija os meus lábios suavemente. — Sinto, mas já devo me despedir, tenho que ir para casa me arrumar para o trabalho. - Faço carinho em seu rosto enquanto ele fala.

— Tudo bem, eu o entendo perfeitamente. - Nós sorrimos e ele beija a minha mão.

Levantamo-nos e vamos apressados para a sala, quando abro a porta vejo Cassandra no sofá, ela olha para mim e em seguida para Bernardo que sorri, depois olha para mim novamente confusa e eu não posso deixar de sorrir também, mas dou de ombros.

— Bom dia Cassandra. - Cumprimenta Bernardo enquanto vamos para a porta. — Até daqui a pouco no trabalho. - Ele sorri e vira-se para mim, beija o meus lábios e sai. Quando me viro ela está me encarando.

— Quando ele chegou aqui? - Indaga confusa, eu me sento ao seu lado no sofá.

— Bom, foi depois que fomos dormir. Como me mandou mensagem e eu não respondi achou melhor vir. - Expliquei, vendo-a ainda mais confusa.

— Vocês? - Perguntou parecendo animada.

— Não, isso não. Mas nós nos beijamos. – Confessei, mesmo sabendo que ela já tinha visto e sentindo-me um pouco nervosa.

— Eu disse que ele ama você. - Exclama, eu a olhei confusa, sentindo-me de certa forma perdida.

— Ca, eu não sei, ele me confunde. - Assumo estando menos animada do que ela.

— Vocês precisam de um tempo não acha? Um tempo só de vocês dois. Talvez assim consigam se acertar. - Ela parecia tão animada e sonhadora, tão diferente de mim.

— Não, mas acho melhor nos arrumarmos. - Digo levantando-me.

— Realmente, não quero chegar atrasada. - Voltamos para o quarto e eu vou direto tomar banho. Sinto-me mais animada hoje, as coisas fazem mais sentido quando estou com ele e tenho medo dessa sensação, nunca quis ser tão dependente de alguém, sinto mais medo do que prazer em uma situação como essa.

Aproveito a água quente, pois fico ainda mais relaxada conforme ela caí em meu corpo, sempre posso senti-la levando embora tudo o que existe de ruim. Lavo o cabelo e apresso o banho para dar tempo de secá-lo.

Desligo o chuveiro acelerada e passo hidratante em meu corpo sentindo-o mais macio e mais liso. Seco o cabelo e vou para o quarto escolher minha roupa.

Pego em meu guarda roupa, uma blusa social sem mangas na cor bege e uma saia preta sendo um palmo e meio acima do joelho, escolho a minha lingerie amarela cintilante e a coloco, em seguida visto à roupa e calço os meus sapatos de salto também na cor preta.

Divido o meu cabelo fazendo um coque com uma parte e deixando o restante solto, faço uma maquiagem leve, coloco um brinco discreto e vou para a cozinha.

Cassandra ainda não saiu do quarto, então aproveito para fazer café, coloco sobre a mesa queijo branco, margarina, leite e pão integral, quando ela vem para a cozinha tudo já está pronto.

— Como você é rápida. - Comenta ao sentar-se à mesa.

— São anos morando sozinha, faz as pessoas se tornarem o flash. - Justifico e não podemos deixar de sorrir.

— E então será que a Bianca vai estar de bom humor hoje? - Indaga e eu a olho tentando compreender ao que se refere.

— Do que está falando? - Pergunto confusa vendo um sorriso surgir em seus lábios.

— Bom, o Bernardo estava aqui, tenho certeza que estará mais animado hoje e ela não é besta vai perceber o que houve, pois a forma como ele a olha faz com que todos notem. - Seu sorriso aumenta e começamos a tomar café.

— Acho que chega de falar do Bernardo né. Como está o Matheus? - Indago vendo os seus olhos brilharem.

— Ele está com o pai resolvendo algumas coisas da empresa. Disse que volta esse final de semana e tem uma surpresa para mim, mas não sei o que é. - Comenta animada e eu sorrio.

— Imagino que não sabe o que é porque trata-se de uma surpresa. - Digo sarcasticamente e vejo-a sorrir.

— Provavelmente. - Nós duas rimos. — Estou ansiosa. - Diz animada.

— Por sorte hoje já é sexta, acredito que amanhã cedo ele vai chegar. - Comento tentando acalmá-la.

Assim que finalizamos o café arrumo a mesa e coloco a comida da Atena que aparentemente está muito preguiçosa, preciso urgente levá-la para passear. Saímos apressadas e vamos para o ponto, ficamos no ônibus cada uma perdida em seus próprios pensamentos, nós não conversamos neste tempo permanecemos quietas e quando chegamos na empresa sinto-me extremamente nervosa com quem está na portaria.

— Srta. Andrade fico feliz que esteja melhor. - Exclama Théo, eu o encaro e forço um sorriso.

— Obrigada Sr. Vasconcelos. - Digo e me afasto junto com Cassandra, vamos direto para o elevador.

— Clara ele não para de olhar para você. - Comenta Cassandra mais animada do que o normal.

— Isso não é bom. - Declaro, assim que as portas do elevador se fecham.

— Mas qual o problema? - Indaga. — Talvez se ele se interessar realmente é um motivo para Bernardo tomar uma atitude. - Eu a encaro confusa e sorrio.

— Você é muito romântica. - Exclamo vendo-a fazer biquinho.

— Sei disso, mas ainda acho a minha ideia boa. O Théo demonstra cada vez mais interesse e o Bernardo por medo de te perder pede sua mão em namoro. - Neste momento nós duas gargalhamos.

— Ca, você precisa ter essa criatividade para o trabalho tenho certeza que será uma profissional brilhante. - Pisco para ela e sorrimos ainda mais, quando chegamos ao andar, vamos cada uma para sua sala e eu a aguardo para tirar as dúvidas que ficaram pendentes.

Tenho certeza que indiquei a melhor pessoa para trabalhar comigo, pois ela é muito esperta e inteligente, suas dúvidas são poucas e de fácil esclarecimento, portanto em menos de duas horas eu a dispenso e começo a focar nos clientes que eram do Estevão e os outros que eu administro.

Leio detalhadamente cada contrato e respondo alguns e-mails deixando as ligações para fazer um pouco mais tarde, porém acredito que alguém se adiantou, pois meu telefone começa a tocar e eu me assusto com ele, mas atendo no primeiro toque.

— Alô! - Exclamo sentindo o meu coração disparar, não entendo por que estou nervosa, mas não consigo controlar. Ninguém responde do outro lado da linha e isso faz com que a minha ansiedade aumente. — Alô. Tem alguém aí? - Indago ficando mais nervosa, porém ninguém responde ao invés disso escuto um som, um som tão baixo que é difícil decifrar, sei que já o ouvi, mas não sei em que momento ou lugar. Respiro fundo e continuo escutando tentando descobrir que música é essa, mas está muito baixo. Espero que a pessoa aumente o volume, mas isso não acontece e por algum motivo não consigo desligar, algo me mantêm na linha, talvez minha curiosidade ou a confusão que está se formando em minha cabeça. — Quem está do outro lado? - Questiono sentindo minha voz sumir. Ninguém me responde, apenas deixam a música de fundo e por algum motivo estou começando a sentir sono. Coloco no viva voz, com a intensão de fazer com que a melodia fique mais alta, porém isso não acontece e eu continuo confusa sem compreender que som estou ouvindo ou quem faria isso. Tiro do viva voz, mas não desligo o telefone, sei que conheço essa música, mas no momento não consigo identificar o som. Após alguns minutos que não sei ao certo quantos, a melodia aumenta, ficando mais rápida do que deveria e eu penso finalmente que descobrirei por que a conheço, mas antes que isso aconteça desligam o telefone.

Sinto-me frustrada ao colocar o telefone no gancho, não é a primeira vez que isso acontece e por algum motivo fez com que eu me lembrasse do sonho que tive com o meu pai, mas não sei o motivo de relacionar as ligações a isso.

Quando olho no relógio já passa das 13h e 30min, mas não sinto vontade de ir almoçar, não depois dessa ligação. Confiro mais alguns e-mails e começo a desenvolver uma divulgação a qual estou trabalhando, até que escuto alguém batendo na porta e antes que pudesse autorizar a pessoa entra na sala, sorrio e me levanto enquanto o Bernardo entra. Ele vem até mim, para na minha frente e me encara.

— Srta. Andrade. - Cumprimenta e sorri para mim.

— Sr. Azevedo. - Retribuo o sorriso.

— Como está o trabalho? - Indaga ainda me encarando, deixando-me por algum motivo constrangida.

— Caminhando. - Digo tentando desviar o olhar do seu, mas por me sentir incapacitada para isso continuo olhando para ele.

— Percebi que não foi almoçar hoje de novo. - Diz e sinto a reprovação em sua voz, sabendo que nada que eu diga vai justificar minha ação ou a falta dela.

— Eu não sabia que estava me vigiando. - Arrisco, o sorriso que se formou em seus lábios valeu a pena e quando ele morde o lábio sinto que não conseguirei me controlar ali e tão pouco consigo desviar o olhar.

— Eu trouxe um sanduiche. - Diz estendendo a sacola que eu ainda não havia visto.

— Muito obrigada pela gentileza. - Agradeço e sorrio, pego a sacola de sua mão e a coloco em cima da mesa.

— Não vai comer? - Pergunta, mas eu ainda não sinto fome, mas não quero deixá-lo preocupado.

— Vou, só não estou com fome agora. - Justifico e vejo como não ficou feliz. Ele abaixa a cabeça e passa as mãos pelo cabelo desgrenhado antes de olhar para mim de novo.

Quando me encara seu olhar está diferente, um pouco mais sombrio mais quente. Vejo-o vindo rapidamente até mim, me empurra até a minha mesa e joga as minhas coisas no chão, antes que eu pudesse reclamar ele me levanta e me senta no lugar onde estavam minhas coisas, acredito que nunca me senti tão leve.

Assim que o encaro, sentindo-me completamente dele, ele usa uma mão para segurar minhas mãos atrás do meu corpo e beija os meus lábios segurando minha cabeça com a outra, seu beijo é tão quente, forte e inesperado, porém é ao mesmo tempo tudo o que eu preciso nos braços dele sempre me sentirei segura.

No momento em que ele se afasta nossas respirações estão ofegantes, ele encosta sua testa na minha e solta minhas mãos acariciando meu cabelo, eu tiro as minhas mãos de trás do meu corpo e faço carinho em seu pescoço, quando ele olha para mim, percebo que me quer da mesma forma que eu o quero.

— Coma, por favor. Vou esperar você comer. - Diz e me encara ao mesmo tempo em que me ajuda a descer da mesa.

— Tudo bem, você venceu. - Cedo e pego o sanduiche, abro a embalagem e começo a comê-lo.

O gosto bom do alimento faz a minha fome aparecer e acabo comendo mais rápido do que desejava, assim que acabo fico em silêncio sentindo que ele está me analisando, após alguns minutos ele quebra o silêncio.

— Amanhã o Estevão vai fazer um jantar, pediu para convidá-la. - Informa de uma maneira diferente, agora ele parece mais frio.

— Vou me esforçar para ir. - Respondo tentando não demonstrar como fiquei contrariada.

— Por favor, você é muito importante para eles e, na próxima semana irão viajar. - Diz indo apressado para a porta.

Ele acena para mim, deixando-me cada vez mais confusa, fico um tempo olhando para a porta fechada, tentando entender em que momento tudo mudou.

A forma como me beijou fez com que acreditasse que havia esperança para nós, mas ele mudou tão depressa que me fez duvidar se o beijo realmente aconteceu, olho para a minha mesa e vejo as coisas no chão, recordando-me do que aconteceu ali, contudo não sei o que fiz de errado para merecer essa mudança repentina.

Finalmente levanto e vou pegar as coisas que estão no chão, sentindo o vazio aumentar dentro de mim.

Após terminar de arrumar a minha sala, resolvo ir à copa tomar um café, eu fazia muito isso quando Estevão estava trabalhando aqui, no momento que ele era o meu chefe. Fazíamos isso quase todos os dias e agora eu não o tinha ali.

Por algum motivo isso causava algo pior em mim, mas decidi ignorar esse sentimento. Saio da sala e me sinto impressionada com o silêncio, a porta da sala de Cassandra está entre aberta e da sala do Sr. Azevedo está fechada, passo direto e vou para a copa, assim que chego lá vejo que não tem café, então decido fazer, já que fui até ali, coloco as coisas na cafeteira e sento-me para aguardar, após alguns minutos escuto vozes se aproximando e isso não me deixa nem um pouco feliz.

— Bernardo que cheiro bom de café. - Ouço a voz de Bianca e isso só faz a minha angústia crescer. — Eu realmente preciso de um café. - Diz quando entram na copa, eles não me veem imediatamente e isso só me deixa mais irritada.

— Devo confessar que eu também, Bia estou me sentindo perdido nesta empresa, por sorte estou fazendo reunião com os responsáveis dos setores, se não fosse por eles, não sei como faria. - Sinto-me constrangida por ouvir a conversa mesmo isso não sendo minha culpa, porém não deixo de me impressionar pelo fato dele parecer tão vulnerável ao lado dela.

Levanto-me e vou até a janela, talvez olhar para a rua faça um pouco de a minha ansiedade passar.

— Não sabia que tinham ouvintes na copa. - Escuto a voz de Bianca, sentindo-me feliz por finalmente me notarem, viro-me para ela e sorrio.

— Pensou que o café se faz sozinho? - Indago enquanto me aproximo, percebo que Bernardo ficou espantado. Por que se incomodaria de me ver ali?

— Só não pensei que fosse você. Acho que a vontade de tomar café já passou. - Anuncia, deixando-me aliviada e incomodada ao mesmo tempo, Bernardo permanece em silêncio, fazendo-me perceber que sempre será ela.

— Fique tranquila, o meu café é muito bom. O Sr. Fernandes adorava e não tenho a intenção de ficar aqui vou voltar para a minha sala, fiquem à vontade. - Digo enquanto pego uma xícara para colocar o meu café.

— Isso muito me anima, mas posso saber por que não ficará? – Questiona quando começo a sair da copa, ela fica entre mim e a porta.

— Quando decidi tomar um café, pensei que sentiria a paz e tranquilidade que sentia com Estevão. - Confessei olhando em seu rosto. — Mas quando vi vocês entrarem percebi que não conseguirei isso aqui. Com licença. - Peço quando saio pela porta. Escuto algumas palavras, mas não as identifico. Realmente não me importo com o que podem ter pensando. Vou para a minha sala e tomo meu café enquanto olho pela janela.

Após algumas horas ouço alguém bater na porta, paro imediatamente de analisar os documentos.

— Entre. - Autorizo, sabendo que não é o Bernardo já que ele nunca espera uma aprovação.

Fico impressionada quando Bianca entre em minha sala, levanto-me e vou até a frente da minha mesa para cumprimentá-la, mas ela não vem direto a mim. Inicialmente analisa tudo, desde as tintas da parede até a visão privilegiada que tenho da janela. Percebo que não gostou do que viu, ou disfarça bem, pois sua careta é terrível.

— Sua sala consegue ser tão desagradável quanto você. - Provoca, após alguns minutos de silêncio.

— Obrigada. Posso saber o que veio fazer aqui? - Indago, ela continua de costas para mim, olhando para a rua por um momento penso que não irá responder, mas essa sensação muda quando olha para mim.

— Vim apenas conversar. - Diz e sorri sua risada maléfica.

— Sinto muito, mas estou trabalhando muito no momento, não tenho tempo. - Falo indicando a porta com a mão, ela vai até lá e fico contente finalmente ela irá embora, mas ao invés disso ela fecha a porta.

— Eu serei rápida e objetiva. - Exclama agora se aproximando de mim.

— Estou ansiosa pela sua objetividade. - Digo enquanto me apoio mais na mesa, ela se aproxima ainda mais de mim.

— Não irei deixar que o magoe. - Múrmura. Eu a encaro confusa por um momento, não sei o que quer dizer.

— Desculpe Bianca, mas não lhe compreendi. - Justifico, para que entenda o meu olhar.

— Tenho certeza que fui muito esclarecedora. - Grita fazendo com que eu me assuste. — Eu o conheço faz muito tempo, sei por tudo o que já passou, não tem espaço para você. Não quero vê-la perto dele nunca mais. - Ameaça e eu a analiso por um tempo.

— Está falando do Bernardo? - Indago e vejo-a sorrir maleficamente mais uma vez.

— De quem mais seria? Vou afastá-lo de você e se colocar-se em nosso caminho novamente, vai se arrepender. – Afirma agora em um tom baixo, sua voz parece diferente.

— Você está louca. - Digo enquanto ela se afasta.

— Fale o que quiser, mas não se aproxime dele mais. - Após dizer isso ela saí e bate à porta. Eu fico ali parada olhando, esperando que ela volte. Não sei o que tem em sua cabeça, eu enfrentei o meu perseguidor ela não conseguirá me intimidar, ninguém irá me intimidar. Só não ficarei com o Bernardo se ele não quiser. De qualquer forma eu temo que ele não queira.

Afasto-me da mesa e vou até a janela, encaro a rua tentando imaginar quando foi que tudo se tornou um pesadelo, mas não consigo identificar o momento apenas consigo associá-lo a Bernardo, por algum motivo sinto que a culpa é dele, mas isso não pode ser apenas ruim, não depois de tudo o que fizemos de tudo o que sentimos... Escuto alguém entrando na sala e viro-me apressada e me deparo com Cassandra e seu grande sorriso, não consigo deixar de sorrir para ela.

— O que aconteceu para deixá-la tão feliz? - Indago mostrando minha curiosidade.

— O Matheus me ligou. - Confessa e eu aguardo ela continuar falando, mas tenho apenas seu sorriso.

— E o que ele queria? - Pergunto após alguns minutos.

— Ele quer me ver hoje.  - Exclama e vejo-a sorrir ainda mais.

— Então ele voltou antes. Isso é maravilhoso Ca. - Digo puxando-a para se sentar comigo no sofá, sentindo-me feliz por uma notícia boa finalmente. — Para onde vão? -Questiono.

— Na verdade o correto é... Para onde nós vamos. - Ela sorri. — Ele me pediu para te levar, disse que tem uma surpresa para você. - Diz parecendo ainda mais animada.

— Qual seria essa surpresa? - Indago completamente curiosa.

— Eu não sei, sinto-me tão nervosa quanto você. - Exclama e sei que está falando a verdade.

— O que ele traria para mim de lá? - Pergunto pensativa e me levanto fico andando de um lado para outro.

— Eu não sei, teremos que ir para saber. - Propõe animada e eu não deixo de sorrir, mas estou mais curiosa do que feliz.

— E aonde ele quer ir? - Questiono ainda de pé.

— Ele propôs de irmos em um restaurante que tem aqui perto, podemos ir a pé. - Fala e sorri olhando para os nossos sapatos.

— Vai doer só um pouquinho. - Brinco e gargalhamos.

— Talvez. - Concorda ainda sorrindo.

— É aquele restaurante que nós adoramos? - Pergunto sentando-se ao seu lado, agora mais animada.

— Sim. - Diz entusiasmada. — Falta quanto tempo para podermos ir embora? Questiona e percebo que está animada demais. De repente escuto a porta e viro-me vendo Bernardo entrar.

— Srtas. O Matheus já chegou o que acham de sairmos mais cedo? - Propõe sorrindo e me sinto completamente perdida sabendo que ele também vai e provavelmente a Bianca. Mudo de ideia rapidamente.

— Eu concordo, se a Clara não se importar. — Diz Cassandra olhando para mim, acredito que disse isso por eu ser sua chefe. Sorrio para ela enquanto nos levantamos.

— Eu não me importo Ca, pode ir. - Sorrio.

— Você precisa ir também. - Múrmura, eu a encaro e sei que compreendeu o meu olhar.

— Fique tranquila eu irei, mas tenho algumas ligações para fazer, daqui a pouco vou. - Sorrio e me sinto contente por deixá-la feliz. Assisto-a sair apressadamente e por um momento esqueço que Bernardo está ali, vou direto para a minha mesa e começo a mexer no computador, noto-o quando para em minha frente.

— Então você tem ligações para fazer, certo? - Indaga olhando para mim.

Paro imediatamente o que estou fazendo e o encaro tentando entender o que está acontecendo, mas só o que vejo são seus olhos queimando os meus e aquele sentimento que me faz querer me perder nele volta com toda a força.

— Sim, quero adiantar algumas coisas. - Respondo desviando o olhar do seu, vejo-o se mexer e penso que finalmente vai embora, então volto a olhar o contrato, quando de repente tudo se apaga. Olho para ele e em seguida para sua mão que segura alguns fios. — O que você fez? - Questiono sentindo-me furiosa.

— Vamos nos divertir Srta. Andrade. - Diz soltando os fios e saindo da sala, sinto vontade de ir até ele e dizer grosserias, mas sei que isso não vai adiantar, organizo a sala e pego minha bolsa indo encontrar Cassandra para descermos juntas.

Bernardo

Saio da sala animado e vou pegar as minhas coisas, não posso dizer que sei o que estou fazendo, às vezes pareço um adolescente novamente.

— Vamos mesmo a esse jantar? - Indaga Bianca quando entramos no elevador.

— Sim, eu não perderia isso. - Digo animado em rever meu amigo.

— Não sei por que gosta deles. - Fala minha amiga e por um momento sinto pena dela por ser tão sozinha.

— Se desse uma chance a eles, também gostaria. - Comento.

Saímos do elevador e resolvo esperar as meninas, mesmo com as reclamações de Bianca.

— O que está fazendo com a Clara? - Questiona após alguns minutos.

— Do que está falando? - Pergunto, encarando-a.

— Quero saber o que está acontecendo entre vocês. - Esclarece.

— Não está acontecendo nada Bia. - Digo constrangido com o assunto.

— Ela não serve para você. Você merece alguém melhor do que ela. - Fala decidida.

— Já disse que não está acontecendo nada, não se preocupe com isso. - Explico tentando deixa-la despreocupada. Não quero que comece a reparar em nós.

Ela fica em silêncio e sei que irá me avaliar e observar cada vez mais, sempre cuidamos um do outro. Por muitos anos existiu apenas nós dois e era o suficiente, mas agora eu quero mais, preciso de mais e a Clara é capaz de me dar isso.

Não conversamos mais até que as meninas desçam, acredito que não temos sobre o que conversar.

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