Capítulo 2

Clara

Os blocos estão pesados, mas eu não me importo. Sinto-me feliz por poder ajudá-lo, por me sentir útil. Estou com 11 anos e estávamos construindo nossa casa no interior, é o lugar onde o sol escolheu para morar, pois ele não dá uma trégua, eu e o Pedro fazemos muito esforço junto com os meus pais e alguns amigos deles.

Posso dizer que só carregar os blocos é muita ajuda, sinto o suor escorrer pelo meu rosto e a forma como faz o meu corpo escorregar me faz querer tomar um banho, mas não posso ir, prometi que não pararia até que eles parassem.

Coloco os blocos próximo aos amigos dos meus pais e vou buscar mais, se disser que são muitos mentirei, mas quatro é o máximo para mim. Enquanto pego os blocos, Pedro está ajudando a mexer a massa, ele está se esforçando e imagino que se sente tão cansado quanto eu, afinal seu rosto está todo vermelho.

Vejo minha mãe ao longe, junto com as mulheres dos amigos do meu pai, elas gritam e abanam para nós eu olho para elas usando minha mão para proteger o sol do meu rosto e quando as vejo se aproximando volto a pegar mais blocos, estou fazendo isso desde a hora do café e imagino que já seja a hora do almoço. O sol sempre fica mais forte nesse horário.

— Venha Clara, vamos almoçar, esse trabalho deve ser feito pelos homens!- Exclama minha mãe ao se aproximar de mim, isso me deixa extremamente irritada.

— Eu posso fazê-lo mamãe. Quando todos forem almoçar eu vou. - Digo e vou buscar mais blocos.

— Sempre me desafiando não é? Gostaria de saber quando vai aprender. - Grita enquanto me afasto. Eu a ignoro e vou atrás do meu material, não entendo por que ela age desta forma, sou forte como o meu irmão sei que posso carregar essas coisas o dia inteiro.

Pego mais uma quantidade e carrego até o local indicado, não vejo o meu pai faz longos minutos e isso me deixa nervosa, pois quando ele não está por perto ela briga comigo, acho que se o Pedro fosse filho único ela seria mais feliz.

— Clarinha você não vem almoçar? - Indaga Pedro ao se aproximar de mim.

— Vou sim, mas vou procurar o papai antes. - Respondo sabendo que ele me compreende.

— Posso ir com você? - Pergunta e eu o encaro estendendo minha mão.

— Sim, vamos. Se demorarmos a mamãe vai ficar muito brava. - Falo enquanto nos afastamos dos adultos.

Caminhamos envolta da construção, mas não o vejo em nenhum lugar, voltamos para perto dos amigos e de minha mãe, mas ele não está lá, não está em lugar nenhum. Sinto o desespero crescer dentro de mim, como se não fosse mais vê-lo, meu coração começa a disparar e minhas mãos a formigar.

Todos conversam despreocupadamente, por que ninguém o está procurando? Será que eles não se importam? Começo a olhar para todos os lados esperando vê-lo, mas tudo parece estar girando a minha volta e ele não está em lugar nenhum, às lágrimas tentam invadir o meu rosto, contudo eu não permito, continuo olhando para todos os lados, procurando-o em todo canto e de repente eu o vejo, ele está distante, mas sei que é ele.

Espero que se aproxime um pouco mais e assim que fica claro que ele voltou corro em sua direção e pulo em seu colo assim que abre os braços.

— Papai, você tinha sumido, eu fiquei com medo. - Choramingo enquanto o abraço e vejo-o sorrir.

— Querida por que ficou com medo? Estão todos aí com você. - Disse parecendo despreocupado.

— Sei disso, mas nenhum deles é você. Não suma mais papai. - Peço insistindo em meu medo infantil.

— Eu não irei a lugar nenhum filha, sempre estarei com você. - Diz ao me colocar no chão e se agachar na minha frente deixando nossos rostos na mesma altura.

— Você promete que nunca vai me deixar? - Pergunto sentindo que se ele prometer, ele cumprirá.

— Eu prometo Clara. Se um dia você achar que eu fui embora, saiba que estarei por perto mesmo que não me veja. - Sua voz é doce e firme ao mesmo tempo e isso me faz sorrir.

— Sempre estará comigo não é? - Questiono sabendo que ele não mentiria para mim.

— Sempre querida. Em todo momento e por toda a eternidade eu estarei com você! - Sorrio fazendo carinho em seu rosto, pois sei que não está sendo sincero.

Escuto o despertador, mas o desligo apressadamente, sinto-me tão cansada e o meu corpo dói demais. As últimas palavras do meu pai no sonho não saem de minha cabeça deixando-me ainda mais atordoada.

Será que ele estava comigo naquele momento? Não sei se havia ficado ao meu lado, afinal ele já não fazia parte do mesmo plano que eu. Tento abrir os olhos, mas a minha cabeça dói tanto que chega a arder, respiro fundo e os abro novamente forçando-me a mantê-los assim, a me manter acordada.

Não posso faltar ao trabalho, não depois de tudo o que aconteceu. Levanto e me alongo ao mesmo tempo tentando fazer tudo parar de doer, separo a roupa que vou usar e vou direto para o chuveiro, tomo um banho demorado, fazendo com que a água quente afaste a dor do meu corpo, assim que acabo seco-me e passo hidratante em meu corpo fazendo massagem tentando aliviar o desconforto que sinto, confesso que estou melhor do que como me sentia quando acordei.

Volto para o quarto e coloco a minha lingerie vermelha o sutiã deixa os meus seios mais modelados do que o normal sendo ao mesmo tempo completamente confortável, assim como a calcinha.

Coloco uma calça social preta que fica colada em meu corpo e uma blusa social da mesma cor, não estou animada para escolher cores diferentes do que o habitual. A blusa é sem manga deixando-me confortável e fresca.

Penteio os meus cabelos e jogo-o todo para o mesmo lado fazendo uma bela e grossa trança, como o meu cabelo é cheio ela fica muito bonita. Olho atentamente para o meu rosto percebendo que estou pálida exageradamente, capricho na maquiagem dessa vez para que ninguém perceba como estou de verdade e quando termino pareço outra pessoa, hoje ninguém perceberá.

Quando me sinto pronta calço minhas sandálias de salto na cor preta e vou para a cozinha, faço café e tomo um pouco desejando que ele faça com que eu acorde verdadeiramente e como um pedaço de queijo branco com a intenção de voltar a me alimentar, mas assim que ele alcança meu estômago percebo que tomei a pior decisão, sinto-me enjoada no mesmo momento.

Faço um suco de limão e tomo tentando fazer com que essa sensação ruim passe, quando percebo que funcionou resolvo sair para não chegar atrasada.

Caminho até a sala e pego minha bolsa que havia deixado no sofá, vejo que Atena dorme confortavelmente no tapete e não posso deixar de sorrir.

— Ei garota acorde. - Digo forçando-a a olhar para mim, seu olhar é preguiçoso, mas atento. — Vem aqui deixe-me fazer carinho em você. - Falo e sorrio quando ela levanta apressada e balançando o rabo. Quando se aproxima começo a acariciar seu rosto e sua cabeça. — Sei que estou te devendo um passeio hoje, controle-se que vamos sair assim que estivermos disponíveis. - Converso com ela e posso ter certeza de que está me ouvindo, ela parece animada quando digo que vamos passear. Depois de alguns minutos levanto e saio de casa pensando que talvez as coisas não sejam tão ruins e torcendo para que essa sensação de abandono saia de dentro de mim.

Quando chego ao escritório percebo que tudo está diferente, imagino que começaram a trabalhar cedo hoje e a cada passo que dou sinto falta do Estevão. Ao passar pela recepção vejo-a vazia e vou em direção a minha sala, penso se Cassandra já recebeu a notícia e se está feliz, pois eu estou.

Em frente à minha sala, tem uma porta que se manteve fechada durante grande parte do tempo em que estou na empesa e agora vendo-a aberta não deixo de me sentir curiosa, deixo a minha bolsa em cima de minha mesa e vou até lá, sua decoração está muito bonita e “colorida”, a sala é pequena, mas muito aconchegante.

Fico parada na porta analisando o que estou vendo, a cor na parede é rosa claro, os móveis são na cor chocolate sendo uma mesa com três cadeiras almofadadas, um armário pequeno e uma mesa de centro junto com um sofá pequeno preto, a cortina é vermelha fazendo com que a sala pareça animada demais para mim, a alguns tapetes no chão e alguns vasos com plantas, imagino que foi organizada de madrugada, pois o cheiro de tinta está forte, mas como a janela é grande ele não atrapalha a respiração, vejo pelo vidro da janela que o computador está desligado chego à conclusão que a pessoa que vai usar essa sala ainda não começou.

Sinto alguém se aproximando e viro-me apressadamente dando de cara com a Cassandra que ri de mim como uma criança.

— Assustei você? - Indaga sorrindo.

— Talvez. - Digo e lhe abraço.

— Gostou da minha sala? - Questiona animada enquanto me puxa para dentro. —— Muito obrigada pela indicação, vou adorar trabalhar com você. - Ela sorri, seus olhos brilham tanto que me sinto ainda mais feliz por ela.

— Você merece sempre a vejo tão esforçada e sei que está estudando para isso, então é uma ótima oportunidade. - Digo enquanto nos sentamos no sofá.

— É a melhor oportunidade. Temos que comemorar que tal hoje à noite aí você pode me contar àquelas coisas que queria. - Convida animada.

— Perfeito. Você já está oficialmente no cargo? - Pergunto e vejo-a sorrir novamente.

— Sim. Acabei de assinar todos os papeis no RH. - Fala animada e eu me levanto convidando-a.

— Então vamos até a minha sala, vou passar para você algumas contas. Vamos começar com clientes que possuem uma demanda menor de trabalho e depois aumentamos, pode ser? - Enquanto falamos entramos em minha sala.

— Claro, acho perfeito. - Diz ansiosa e eu não deixo de sorrir.

Passo três contas importantes para ela, ficando a disposição para tudo o que precisar, ficamos a manhã inteira falando sobre isso e eu explico nos mínimos detalhes o foco do nosso trabalho, vejo como seus olhos brilham e sinto que está exatamente como eu quando comecei a trabalhar aqui. Seu mundo está mudando e essa é uma oportunidade de conhecer ainda mais sobre o que pretende realizar em sua vida, assim como aconteceu comigo.

Imagino que será um prazer trabalhar com ela, nós nos entendemos muito bem.

— Vamos almoçar? - Convida e eu a encaro confusa.

— Mas cedo assim por quê? - Indago e vejo-a sorrir.

— Clara no seu computador não tem horário? - Eu sorrio com sua pergunta e pela primeira vez olho as horas e me impressiono novamente.

— Já passa das 14 horas, uau. - Digo e ela sorri ainda mais.

— Venha, vamos que estou com fome. - Eu a encaro e sinto o meu estômago revirar.

— Pode ir, eu estou sem fome, vou olhar alguns e-mails enquanto isso. - Falo e sorrio para ela, mas percebo que não a convenci.

— Você sabe que não pode ficar sem comer não é. - Afirma reprovando minha atitude, eu a encaro tentando parecer natural.

— Comi muito no café da manhã. - Sorrio, mas sei que não acreditou em mim, porém isso não a impede de sair e respiro mais aliviada quando fecha a porta, aproveito este momento para analisar o histórico dos clientes que eram administrados pelo Sr. Fernandes.

Fico impressionada como todo o material referente ao trabalho que era realizado com eles está detalhado, percebo que Estevão se envolve completamente nos trabalhos que realiza e que sou muito parecida com ele.

 Graças ao seu planejamento não perco tanto tempo para saber como estava o andamento do serviço prestado com cada cliente e envio um e-mail a cada um informando que ficarei responsável por suas contas desejando que fiquem contentes por isso.

Cassandra não retornou a minha sala após o almoço, acredito que seja por conta das funções que te passei isso me deixa animada, pois acredito muito nela, sei que vai dar o melhor de si nesse trabalho.

Assim que passa um pouco das 17 horas levanto e organizo a minha sala, quando termino pego a minha bolsa e me preparo para ir embora, após trancar minha sala vou até a sala da Cassandra.

— E então Ca, vamos. - Chamo e vejo que já organizou sua sala também.

— Claro, deixei anotado algumas dúvidas que devo tirar com você amanhã. - Diz sorrindo enquanto pega sua bolsa.

— Isso me deixa muito animada. - Brinco enquanto vamos em direção ao elevador, mas paro de sorrir quando o vejo. Ele está encostado na parede de costas para mim, posso ver como o terno marca suas costas que são tão grandes e fortes, sinto o meu corpo arrepiar-se no momento em que os meus olhos grudam nele, mas Bianca está lá e assim que nos vê acaricia seu braço deixando-me tão nervosa que sinto minhas mãos começarem a soar. — Ca vamos de escada? - Indago sem olhar para ela.

— Dezessete andares! - Exclama sem perceber como sua voz estava alta, isso o faz virar e olhar para nós, eu viro-me para ela ao mesmo tempo e não consigo parar de sorrir.

— Desculpa. - Murmura.

— Tudo bem, vamos de elevador mesmo. - Digo assim que ele chega, mas decidimos esperar, porém acredito que o Bernardo achou isso até divertido.

— Cassandra, vocês não vem? - Questiona evitando que o elevador desça, ela sorri e eu me sinto cada vez mais nervosa.

— Vamos sim. - Responde. — Vem. - Ela me puxa, eu a acompanho desejando que não olhem para mim, mas a Bianca se aproveita abraçando-o assim que as portas se fecham. — Obrigada por nos esperar. - Fala Cassandra enquanto eu mexo no celular como uma forma desesperada de pedir ajuda.

— Não foi nada. Está gostando da nova função? - Pergunta sorrindo. Vejo pelo canto do olho que continuam abraçados, mas não é isso que me preocupa.

Sinto o meu corpo amolecer ao mesmo tempo em que minha respiração diminui, neste momento percebo que minhas mãos estão suando muito então guardo o celular, minha visão começa a ficar escura e tenho quase certeza de que o meu corpo está caindo, mas quando escuto Cassandra gritar acordo por alguns minutos, mas logo tudo se apaga e não escuto mais nada.

Ao abrir os olhos vejo um homem com o rosto próximo ao meu, não ignoro como está assustado seus olhos azuis encaram o meu rosto e isso me deixa nervosa, mas ele se afasta rapidamente e Cassandra se aproxima.

— O que aconteceu? - Indago confusa e ela segura a minha mão para que eu sente.

— Você desmaiou. - Diz tentando parecer natural, mas sei que está aborrecida. Finjo que não percebi que está irritada, mas me sinto nervosa assim que Bernardo e Bianca se aproximam.

— Aqui está a água. - Anuncia Bernardo ao entregá-la para o bombeiro.

O bombeiro vem até mim e me entrega um copo com água, eu o encaro penso em recusar aquilo, mas acho que não seria o ideal, então aceito a oferenda e bebo alguns goles.

— A Srta. se sente melhor? - Indaga fazendo com que eu volte a prestar a atenção nele, não deixo de notar como o seu rosto entrega sua apreensão. Ele tira o cabelo do meu rosto, sinto sua mão quente sobre a minha pele e sei que estou ficando vermelha tento desviar o olhar, ele percebe e pisca algumas vezes enquanto se afasta.

— Estou muito melhor, obrigada. - Digo entregando-lhe o copo e me levantando com a ajuda de Cassandra.

— Se quiser posso chamar uma ambulância. - Oferece mantendo o corpo afastado, mas seus olhos curiosos em nossa direção.

— Não precisa, como disse, estou bem. - Respondo encarando-o tentando fazer com que pare de falar, mas o cheiro dele é tão bom que não sei se estou pensando direito.

— Sabe por que desmaiou? - Questiona e eu começo a ficar apreensiva por conta do seu interesse.

— Eu não sei. - Murmuro querendo sair o mais rápido possível dali.

— Então acho melhor levá-la a um médico. - Eu o encaro, desejando que ele não me olhasse daquela forma, como se realmente se importasse.

— Qual o seu nome?  - Pergunto deixando-o impressionado.

— Meu nome? - Indaga confuso e como eu continuo calada ele responde. —Bom, Srta. o meu nome é Théo Vasconcelos.

 — Ok. Sr. Vasconcelos eu realmente estou bem e agradeço a sua preocupação. Agora eu vou embora, tudo bem? - Ele me encara e sinto que ficou desapontado, mas concorda com um gesto e eu sorrio ao me despedir. Quando já saímos do prédio percebo que o novo casal continua nos acompanhando.

— Clara você vai dirigir? - Pergunta Bernardo fazendo com que eu tenha que olhar para ele, mesmo tendo evitado isso durante tanto tempo.

— Não. Vou pegar o meu carro na próxima semana. - Respondo, tentando não demonstrar interesse.

— Ok. Vou levá-la para casa então. - Afirma e eu o encaro tentando entender quando foi que ele achou que poderia fazer isso estando com essa mulher.

— Obrigada, mas a Cassandra vai comigo não preciso que me leve. Adoro pegar ônibus. - Digo sorrindo sarcasticamente.

— Na verdade eu aceito a carona. - Diz Cassandra deixando-me constrangida. Eu realmente não queria entrar no carro em que estivesse a Bianca e o Bernardo. — Clara por mais que você negue sei que desmaiou porque não está se alimentando há alguns dias, então nós vamos de carro e eu vou cozinhar algo para você quando chegarmos na sua casa. - Exclama e isso me faz revirar os olhos mostrando minha reprovação. Não me sinto com coragem para discutir, então seguimos em direção ao carro do Bernardo.

Fico em silêncio a maior parte do caminho, enquanto eles conversam sobre a empresa, mas quando a Bianca começa a falar sinto o meu sangue começar a ferver.

— Aposto que a Clara está quieta para se lembrar do bombeiro. - Diz em um tom desnecessário.

— Tenho certeza que errou. - Afirmo, mas ela não desiste.

— Querida todos percebemos o clima que rolou entre vocês, para de querer nos enganar. - Sua risada maléfica voltou com tudo. Espero que ela termine para responder.

— Realmente não sei do que está falando. Não estou interessada em ninguém, então não gaste sua energia comigo. Aposto que você deve ter algo mais interessante para fazer. - Asseguro e ao olhar no retrovisor vejo que Bernardo me encara.

— Era só uma brincadeira, não precisava ficar nervosa. - Reclama, mas eu continuo em silêncio e assim que chegamos a frente ao meu prédio desço apressadamente, vejo que Bernardo desse do carro e vem até mim.

— Clara você vai ficar bem? - Indaga. Eu respiro fundo e o encaro.

— Sim, pode ficar tranquilo. Acho melhor voltar para o carro. - Digo e noto a preocupação em seu olhar, mas a ignoro. — Obrigada pela carona. - Murmuro e em seguida me viro para entrar no prédio aguardo Cassandra que conversa com ele por um tempo, mas assim que ela entra chamo o elevador e vamos para o meu apartamento.

Quando entramos Atena corre até mim e começa a lamber a minha mão, eu me ajoelho e acaricio o seu pelo sei que ela estava com saudade, assim como eu. Cassandra vai para o quarto de hóspedes e eu vou para o meu, aproveito esse momento para tomar um banho relaxante.

Não consigo tirar o Bernardo de minha cabeça, a forma como me olhava, sinto que ele ainda gosta de mim mesmo tentando demonstrar o contrário a todo o momento. No instante em que acabo o banho começo a me secar e passo hidratante em meu corpo um pouco mais apressada do que o normal, pois demorei muito no banho, vou para o quarto e escolho o meu pijama, pego um short e uma regata, ambas na cor preta.

Visto-me rapidamente e vou para a cozinha, quando entro lá vejo que Cassandra se adiantou.

— Fiz um omelete caprichado para você, sente-se que vou te servir. Quer café ou suco? - Indaga e eu a encaro achando a situação engraçada.

— Hum... Deixa-me ver. Acho que café está bom. - Respondo enquanto sento e ela serve o omelete. Começo a comer e me surpreendo, pois realmente está bom após alguns minutos ela coloca o café em cima da mesa e senta-se junto comigo.

— Vai me dizer o que está acontecendo entre você e o Bernardo? Sei que pensa que ele está com a Bianca, mas eu senti algo diferente. - Fala curiosa.

— Não está acontecendo nada de interessante. Nós só percebemos que não nos gostamos realmente. - Digo e coloco outra garfada em minha boca, observando-a me encarar.

— Isso não é verdade, sei que se gostam. Ele não consegue nem disfarçar. - Afirma, enquanto come o seu sanduiche.

— Do que está falando? - Indago confusa. — Ele me odeia. - Garanto e a vejo me olhar surpresa.

— Você tinha que ver a forma como ele ficou quando você desmaiou. Ele soltou a Bianca apressado e foi te pegar, carregou você para fora do elevador e só foi comprar a água depois que eu insisti muito. Ele não queria sair do seu lado. - Sinto-a tão romântica... Para a Cassandra tudo parece um conto de fadas, mas eu não a culpo o Matheus a ama verdadeiramente. Tomo um gole do meu café e após engolir respondo passivamente.

— Pare de suspirar não é o que você pensa, ele não me ama. Só tem traumas com pessoas mortas. - Digo terminando de comer meu omelete.

— Não foi o que pareceu, acho que ele ama você e a Bianca odiou isso, vi nos olhos dela. - Exclama e eu não pude deixar de sorrir.

— Ele não me ama Ca. Vou te contar o que aconteceu. - Justifico ficando um pouco mais séria. — Naquela noite em que voltei para casa ele veio atrás de mim e me pediu em namoro, mas eu recusei. - Conto e fico em silêncio tentando decifrar sua expressão, mas não compreendo perfeitamente o que ela achou, pois seu rosto foi de espanto para dúvida e de dúvida para compreensão. Eu não disse mais nada, preferi deixar que assimilasse minhas palavras, pois eu não sabia o que dizer.

— Mas, por que não aceitou? - Questiona após um período de longo silêncio. Eu permaneci calada, tentando responder essa pergunta para mim mesma, porém a minha justificativa parecia vaga.

— Eu fiquei com medo. - Confesso por fim, observando a mesa.

— Medo? Medo dele com a Bianca? - Perguntou parecendo perplexa. Olhei em seus olhos tentando me sentir segura, sei que ela não vai me julgar.

— Sim, ele não me disse o que aconteceu ou ainda acontece entre eles. Quando eu perguntei sua resposta foi completamente vaga e eu me senti insegura. - Afirmo sentindo-me naquele momento completamente exausta.

— Eu posso entender você. - Murmura ao acariciar a minha mão.

— Mas eu fiz pior Ca. Para ele ir embora eu disse que só havia ficado com ele, porque pensei que era apenas sexo. - Ao afirmar isso abaixo a minha cabeça, pois me sinto extremamente envergonhada.

— Tenho certeza que ele não acreditou nisso. - Assegura sem soltar a minha mão.

— Ele disse que não acreditava em mim, mas que ia seguir em frente. Aconteceu tanta coisa, antes que eu voltasse para casa a Betina me disse que a Bianca é a nora dos sonhos dela. Respeito tanto ela e o Estevão que não me senti capaz de ir contra sua vontade. - Confidencio sentindo-me ainda pior.

— Não posso acreditar nisso. Ela não conhece a Bianca aposto. Você disse isso a ele? - Pergunta, eu a encaro e antes de responder forço um sorriso.

— Obvio que não. Para ser sincera não sei como contar isso para alguém que não seja você. Quando nos vimos esta semana, ele me agradeceu por eu ter recusado. Disse que pôde pensar bem e eu realmente não sou a pessoa que ele quer. Depois vi como ele age com a Bianca e percebi que talvez seja ela. - Ao terminar de falar ficamos em silêncio e eu sei que não tenho nada a dizer.

— Eu sinto muito. Pensei que ele não fosse um babaca. - Desculpou-se. Eu não pude deixar de sorrir.

— Não se desculpe, sou adulta e completamente responsável pelo que faço. - Nós duas sorrimos e vamos para a sala assistir a um filme junto com Atena.

Escolhemos uma comédia romântica e ficamos deitadas cada uma em um sofá enquanto Atena fica com o tapete só pra ela, não deixamos de sorrir no filme que é realmente muito divertido, quando acaba vamos direto para cama, pois teremos um longo dia de trabalho.

Quando entro no quarto, fecho a janela e me deito de barriga para cima. Fico olhando para o teto esperando o sono aparecer, mas ele não vem, fico tentando adivinhar se Cassandra tem razão, se ele realmente se importa. Será que me ama e só disse aquelas coisas no escritório para me magoar? Para não se sentir rejeitado? Eu não consigo acredita nisso.

Após alguns segundos, meu telefone começa a tocar e eu o pego apressadamente, mas ele para, quando olho vejo que tem três mensagens do Bernardo, meu coração dispara assim que leio o nome dele e isso faz com que eu demore um pouco para lê-las, mas não consigo controlar minha ansiedade por muito tempo, então logo as abro e não posso deixar de sorrir.

Srta. poderia por gentileza me dizer como está?”

Sinto um frio na barriga que faz eu me sentir como na primeira vez em que estivemos juntos, sorrio e abro a outra mensagem.

“Não consigo dormir Clara, não consigo tirá-la de minha cabeça. Estou me controlando para não ir vê-la e saiba que só não estou aí agora por que a Cassandra está com você, mas falta pouco para que eu perca o controle.

Sinto todo o meu corpo se arrepiar, eu adoraria que ele aparecesse, queria ele dormindo na minha cama, sorrio ainda mais quando penso nisso.

“Você demora muito para responder. Eu avisei que perderia o controle. Por que você faz isso comigo? Como você consegue mexer comigo desta forma?”

Eu sorrio novamente e não consigo evitar de morder o lábio e tento pensar no que responder, mas o telefone toca novamente.

“Clara abre a porta!”

Sinto o meu corpo todo tremer. Não acredito que ele teve coragem de vir até aqui, eu não imaginava isso, na verdade estava pensando que neste momento estaria se divertindo muito com a Bianca, mas ele esta na minha porta. 

Leio a mensagem mais algumas vezes e verifico o horário que enviou as outras, eu demorei aproximadamente duas horas para ler, o que ele pensou que aconteceu para vir até aqui? Levanto-me lentamente e vou até a sala, respiro fundo e coloco minha mão na chave.

Será que eu deveria abrir? Isso é um caminho sem volta, se nos aproximarmos podemos acabar muito mais machucados, mas não posso deixa-lo lá fora.

Respiro fundo mais uma vez e mordo o lábio tentando conter o nervosismo, assim que abro a porta vejo-o em minha frente. Ele está de pijama e seu cabelo está molhado acredito que saiu do banho tem pouco tempo, seus lábios estão entreabertos e isso é como um convite para mim sinto-o sem fôlego enquanto os seus olhos percorrem o meu corpo, seus olhos tiram a minha força fazendo com que eu precise apenas dele e de alguma forma quero que ele controle tudo o que tenho a oferecer, pois sei que sou dele mesmo que por algum motivo ficamos longe.

Encaro o seu rosto e quando sua língua passa por seus lábios sei que me deseja e que isso é muito difícil de controlar, pois quero me entregar a ele sem que me peça. Seus olhos dizem tudo e quando dá um passo em minha direção apoio-me na porta para não cair, nunca me senti desse jeito. Ele me encara com seus olhos sombrios e sei que se olhar por mais tempo não irei resistir.

Bernardo

Tentei controlar-me de todas as maneiras possíveis, joguei cartas com o motorista, fiz comida, comecei a ler vários livros diferentes, mas nada fez com que ela saísse de minha mente.

Quando cheguei em frente ao prédio de seu apartamento senti que era um caminho sem volta, se eu subisse e ela abrisse a porta poderia acontecer algo que nos arrependeríamos.

Estamos destinados a machucar um ao outro e não possuímos controle nenhum sobre isso, mas eu precisava saber dela, saber se estava bem. Só de pensar em perdê-la sinto o terror tomar conta de mim.

Chamo o elevador, mas ele demora muito, então subo pelas escadas. No momento em que estou em frente ao seu apartamento mando uma mensagem pedindo para abrir a porta, aguardo ansioso, pois não sei se ela abrirá.

Finalmente escuto o barulho da chave, a porta abre e encaro os seus olhos, sentindo que tem algo ali que tento encontrar a minha vida toda e agora o tenho.

Sinto minha respiração acelerar e sei que perderei o controle, mas não irei me importar essa noite, essa mulher é tudo o que eu sempre desejei e não posso desperdiçar nem uma noite.

— Boa noite. - Digo e vejo os olhos dela encararem os meus lábios fazendo com que eu tenha ainda mais vontade de beijá-la.

— Boa noite. - Fala após alguns minutos, fazendo com que eu encare os seus lábios.

Volto a olhar em seus olhos, deixando que o silêncio tome conta do ambiente e esperando ansiosamente que me convide para entrar.

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