Eu estava deitada na cama, encarando o teto abobadado do meu quarto. O lustre balançava levemente com a brisa que entrava pela janela entreaberta, lançando sombras suaves pelas paredes de pedra.Minha mente não parava.O rosto dele.Os olhos, a estrutura do maxilar, o jeito como ele me olhou com confusão.Era Dylan. Tinha que ser.Mas não era.Minhas mãos tremiam ao lembrar de sua voz, mais grave, diferente. Do cheiro, estranho, sem nenhuma lembrança do homem que eu amava. Da ausência da marca de nascença no braço dele.Tudo gritava que aquele homem não era Dylan.Mas então… por que era idêntico?Fechei os olhos, tentando controlar a confusão sufocante dentro de mim. Meu coração pulsava tão forte que eu sentia a vibração no peito.Ouvi o som da porta do banheiro se abrindo, seguido por passos leves. A cama se moveu quando Ivy se deitou ao meu lado.— Você tá estranha. — A voz dela era suave, mas carregava preocupação. — Não é só por causa do casamento, é?Eu soltei um suspiro longo, s
Eu estava deitada, o corpo exausto, mas a mente agitada demais para descansar. Eu tinha perdido a conta de quantas vezes tentei dormir, virando-me de um lado para o outro, o rosto enterrado no travesseiro. Dylan. O homem que vi no corredor… o homem que era quase um reflexo dele. Não podia ser ele. Mas eu não conseguia afastar aquele pensamento. Não conseguia aceitar o fato de que, de alguma forma, ele havia voltado, ou que havia algo de muito errado acontecendo.A escuridão do quarto parecia me engolir, mas, mesmo assim, eu não conseguia relaxar.Eu fui acordada abruptamente. Um grito histérico me arrancou do torpor do sono.— Violet! Violet, acorde!Eu pulei para fora da cama, o coração batendo descontrolado, enquanto a visão ainda turva tentava focar na figura que se aproximava. Era Ivy, pálida, seus cabelos ondulados ainda soltos, sua camisola branca se movendo com cada passo apressado. Ela estava tremendo.— Ivy? — minha voz saiu rouca, ainda impregnada pelo sono.Ela estava ofega
Eu o observava com uma intensidade que nem sabia que possuía, como se os meus olhos fossem as únicas coisas que podiam desvendá-lo. O homem diante de mim, que tinha a aparência de Dylan, mas não era, me desafiava a acreditar em algo que ainda não conseguia entender. Ele estava ali, em silêncio, focado nas flechas que segurava, mas algo em sua postura me dizia que ele sabia que eu o observava. E, de algum jeito, ele não parecia desconfortável com isso.Não pude evitar o impulso de me aproximar mais. Eu precisava saber quem ele era, como ele se encaixava no quebra-cabeça que meu coração e minha mente estavam tentando montar. Algo nele… algo me atraía. Ele não era o Dylan, eu sabia disso. Mas, de alguma maneira, ele carregava uma energia familiar, e meu instinto estava dizendo que ele tinha uma história que eu precisava entender.— Você parece estar mais confortável com o arco do que com as palavras. — Eu disse, quebrando o silêncio, minha voz baixa e cautelosa.Ele se virou lentamente,
Estava sentada ao lado de Klaus no trono, minha postura ereta, como se a postura correta fosse uma forma de preservar a última fração de dignidade que ainda tinha. Ele estava calmamente observando a corte, seus olhos atentos a cada gesto, cada suspiro. Eu, no entanto, sentia uma pressão crescente em meu peito, uma mistura de ansiedade e uma vontade insuportável de fazer algo, de mudar alguma coisa. Mas o que poderia eu fazer? Eu estava presa nesse jogo, nesse castelo, com ele sempre por perto, com sua presença que nunca me deixava respirar direito.Klaus se levantou de seu trono e, com um gesto amplo, chamou a atenção da sala. Todos os olhos se voltaram para ele, e a corte real ficou em silêncio, como se esperasse pela ordem do líder. Eu não sabia o que estava prestes a acontecer, mas algo dentro de mim disse que não seria bom.— Eu partirei em uma viagem — Klaus disse, sua voz soando cheia de autoridade, ressoando pelo salão. — E estarei ausente por tempo indeterminado.Aquelas palav
O vazio foi a primeira coisa que senti. Um vazio frio, silencioso, como se eu estivesse à deriva em um oceano escuro e sem fim. Mas então, algo mudou. Um calor suave se espalhou pelo meu corpo, contrastando com a escuridão. E então, a realidade começou a tomar forma.Meus olhos se abriram devagar, a visão turva ajustando-se à luz bruxuleante dos candelabros. O teto alto do meu quarto no castelo me encarava de volta, as sombras das chamas dançando pelas paredes. Mas não era isso que mais me chamou atenção.Havia alguém ao meu lado.Virei levemente a cabeça e meu coração deu um salto.Olhos dourados, intensos como mel sob a luz, me observavam com preocupação. O rosto de Raven estava próximo o suficiente para que eu sentisse seu hálito quente contra minha pele. Ele parecia… atento.— Você está bem, Majestade? — Sua voz era baixa e respeitosa, mas havia nela um tom de genuína preocupação.Meu peito ainda subia e descia de maneira descompassada. A lembrança do salão do trono veio como um g
A escuridão do meu quarto era mais acolhedora do que a luz que dançava pelas janelas. O castelo sempre estava silencioso à noite, com as paredes carregadas de segredos e sombras. Mesmo com a cama grande e os travesseiros macios, eu não conseguia dormir. O tormento da minha mente nunca cessava.Olhei para o relógio ao lado da cama, a pequena esfera dourada refletindo as horas. As duas da manhã. Eu não conseguia mais ficar ali, ouvindo meus próprios pensamentos me consumindo. Então, com um suspiro, me levantei calmamente da cama, a insônia pesando sobre mim. Minha camisola de seda se arrastava suavemente sobre a pele, fazendo o vento da noite parecer ainda mais frio.Caminhei até as portas duplas que separavam o quarto da sala de estar, onde Raven normalmente dormia. Aquele ambiente espaçoso parecia mais opressor do que nunca, como se a quietude e o peso do castelo me sufocassem. Eu sentia falta de algo – de Dylan, do que éramos juntos. Mas ele não estava mais aqui.Abrindo as portas si
O jardim estava silencioso, mas o ar fresco da manhã parecia carregar a promessa de algo. A brisa suave fazia as folhas das árvores sussurrarem segredos e as flores, ainda molhadas pelo orvalho da noite, exalavam uma fragrância doce que quase me fazia esquecer a pesada carga que carregava dentro de mim.Eu e Ivy estávamos sentadas em um banco de madeira antiga, uma das poucas coisas que parecia não ter sido tocada pelas mãos implacáveis do tempo ou da morte. Ivy não falou nada, apenas observava as flores, os dedos brincando distraidamente com uma mecha do seu cabelo. Ela sabia que algo estava acontecendo, sabia que algo estava errado, mas nunca forçava minhas palavras. Ela sempre me deu o espaço que eu precisava para respirar, mesmo quando as correntes da minha mente estavam prestes a me afogar.— Ivy… — Eu comecei, a voz mais fraca do que eu gostaria. — Preciso te contar algo.Ela virou a cabeça, os olhos curiosos, mas sempre acolhedores, e apenas esperou que eu continuasse.Suspirei
A biblioteca era um dos poucos lugares onde eu podia respirar. As estantes imponentes, carregadas de livros antigos e pergaminhos empoeirados, formavam um labirinto silencioso, um refúgio onde o mundo exterior parecia distante. O cheiro amadeirado do papel envelhecido se misturava ao perfume de velas apagadas, criando uma atmosfera carregada de história e mistério.Eu caminhava lentamente pelos corredores estreitos, os dedos deslizando pelas lombadas dos livros enquanto procurava algo que, no fundo, eu nem sabia o que era. Talvez eu estivesse apenas tentando me distrair, encontrar uma resposta para perguntas que nem mesmo sabia como formular.Foi quando meus olhos pousaram em um volume de capa escura e desgastada, escondido entre outros tomos esquecidos. O título, gravado em dourado desbotado, chamou minha atenção de imediato: "Rituais Antigos e o Cristal da Alma".Meu coração acelerou. Meu instinto dizia que aquilo era importante. Com cuidado, puxei o livro da prateleira e o abri, so