O Jogo de Poder

O peso da mentira começava a sufocar Helena.

No meio do salão luxuoso, cercada por risadas falsas e conversas vazias, sentia-se como uma marionete bem vestida. O tilintar das taças e a música ambiente soavam distantes, como um eco de uma realidade que já não a pertencia.

Miguel ainda estava no jardim. Sabia disso sem precisar olhar. O calor do olhar dele ainda queimava sua pele, como se o toque que trocaram minutos antes tivesse deixado uma marca invisível.

Mas o perigo não vinha apenas do desejo que pulsava entre eles. O verdadeiro perigo estava ao seu lado.

Gustavo Montenegro.

Seu marido continuava conversando com empresários, mas seus olhos afiados pousavam nela de tempos em tempos, analisando, avaliando. Um hábito dele, sempre observando tudo e todos como um estrategista em meio a um tabuleiro de xadrez.

Helena engoliu em seco. Será que Gustavo sabia?

Não era um homem ingênuo. Pelo contrário, seu nome era sinônimo de controle, de poder absoluto. Se ainda não tinha dito nada, não era porque não suspeitava. Era porque estava esperando o momento certo para agir.

A ideia fez um calafrio percorrer sua espinha.

— Querida, venha um instante. — A voz de Gustavo interrompeu seus pensamentos.

Ela respirou fundo antes de virar-se para ele. — Sim?

— Quero lhe apresentar alguém.

Gustavo a puxou suavemente pelo braço, levando-a até um homem alto, de cabelos grisalhos e um olhar calculista.

— Este é Sérgio Amaral, presidente do Grupo Amaral. Helena, minha esposa.

Sérgio pegou sua mão com um aperto seco.

— A famosa senhora Montenegro. Muito prazer.

Ela sorriu automaticamente. — O prazer é meu.

— Estávamos discutindo algumas possibilidades de fusão entre nossas empresas — Gustavo explicou, olhando para ela como se esperasse que dissesse algo.

Helena assentiu, mantendo o rosto impassível.

Ela sabia como jogar esse jogo.

Desde que se casara com Gustavo, aprendera seu papel: estar sempre presente, sorrir nos momentos certos, ser uma peça impecável no xadrez social.

— Espero que encontrem uma solução benéfica para ambos — disse, polida.

Sérgio riu, satisfeito. — Vejo por que Gustavo casou-se com você. Inteligente e encantadora.

O elogio era vazio, mecânico. Um costume desses homens de negócios que viam as esposas uns dos outros como troféus bem escolhidos.

Helena estava acostumada. Mas, naquele momento, seu pensamento não estava ali.

Estava no jardim. Em Miguel.

— Preciso de um pouco de ar — murmurou para Gustavo, que apenas assentiu distraído, voltando-se para Sérgio.

Helena saiu do salão, sua respiração acelerada, como se precisasse se libertar de um sufocamento invisível.

E então o viu.

Miguel estava encostado contra uma coluna, à meia luz, observando-a com um meio sorriso perigoso.

— Já estava sentindo minha falta? — ele provocou.

— Você não devia estar aqui — ela sussurrou, mas sua voz não tinha firmeza.

Miguel deu um passo à frente. — Mas eu estou.

Helena sentiu o corpo inteiro reagir.

O calor, o desejo, a adrenalina de estar tão perto do proibido.

— Gustavo está desconfiado — disse, tentando parecer racional.

Miguel inclinou a cabeça, os olhos analisando cada detalhe dela.

— Claro que está. Gustavo nunca perde nada. Mas e você, Helena? Você quer que ele descubra?

Ela sentiu o coração disparar.

Se Gustavo descobrisse…

Não era apenas uma traição. Era um rompimento com o mundo que ela conhecia. Com o poder que ele detinha. Gustavo não era um homem que aceitava perder.

Miguel ergueu a mão, tocando de leve o rosto dela, os dedos roçando sua pele sensível.

— Você precisa decidir, Helena. Vai continuar sendo a esposa perfeita ou vai ser quem você realmente é?

Ela fechou os olhos, sentindo o toque dele como um veneno viciante.

— Eu não sei mais quem eu sou.

Miguel sorriu.

— Então deixa eu te mostrar.

O beijo veio antes que ela pudesse impedir.

E, dessa vez, Helena não recuou.

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