— Boa noite, minha princesa. — Ele murmura, com um olhar intenso.Percebo que ele está com pressa pela forma como coloca o capacete e liga a moto sem hesitação.— Você vai sair novamente? — Pergunto, tentando soar despreocupada.— Sim, meu anjo. Preciso espairecer, pensar. — Ele responde alto, já se posicionando para sair.Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele acelera e sai em uma arrancada, desaparecendo na noite.Fico ali por um instante, observando o rastro da moto, tentando decifrar essa confusão de sentimentos dentro de mim. Então, respiro fundo e me viro em direção à portaria. Só que, assim que chego, o rapaz me barra.Droga!Olho para o relógio. Dez e meia.Ele pega o telefone e liga para a cobertura de Rafael. Depois de dizer meu nome, sou finalmente liberada. Sigo para o elevador, ainda sentindo a adrenalina do que ouvi no bar. Meu peito aperta. Preciso falar com Leandro o quanto antes.Quando chego à porta, hesito por um momento antes de tocar a campainha. Me sinto co
Vou até a janela e olho a noite lá fora. O céu está estrelado, a lua alta entre elas, derramando sua luz prateada sobre os telhados e ruas silenciosas. Uma brisa fria entra pela fresta da janela, roçando minha pele e fazendo um leve arrepio percorrer minha espinha. O som distante de um carro passando na avenida e o latido esporádico de um cachorro se misturam ao silêncio profundo da madrugada. Por um instante, sinto a imensidão da noite, como se o universo inteiro estivesse observando minhas dúvidas e conflitos. Eu me viro quando ouço a maçaneta da porta se mover.Batidas de leve.Com o coração agitado, visto sobre a camisola um robe branco e abro a porta. Dante está lá, com Alice nos braços. Meu coração dispara ao vê-lo, minha respiração se agita. Ele ainda está com a mesma roupa. Seu cheiro bom invade minhas narinas. Ele sorri torto para mim, um sorriso carregado de algo indecifrável. Os cabelos despenteados pelo uso do capacete reforçam sua aura selvagem, um perigo latente que me a
—Dante... Quero que este dia seja especial.Seu rosto suaviza, e ele passa a mão nos meus braços.—Quem disse que não farei deste momento algo especial?Ele mordisca meu pescoço, e fecho os olhos, tentando resistir à tentação. Mas não consigo evitar. Eu o afasto levemente:Quero... que seja com um homem especial.Ele ri, o som amargo saindo de seus lábios.—Homens certinhos como meu irmão, você quer dizer.Eu ofego, sentindo o calor do seu olhar me percorrer.—Um homem que eu ame...Dante me observa por um momento, seus olhos agora de um verde penetrante, parecendo um felino, pronto para atacar. Ele diminui ainda mais a distância entre nós, me puxa para mais perto. Sinto sua respiração quente no meu rosto, sua presença dominadora me consumindo.—Essa fórmula perfeita que você quer pode não acontecer, Rebeca. Você pode até estar com alguém que ame, mas o sexo, ah, o sexo pode ser tosco. Não vai soltar faíscas como o que você sente quando está nos meus braços. Eu te desejo, Rebeca. Eu
LeandroNo dia seguinte, chego cedo ao centro de operações do Bope. Heitor já está lá, me esperando. Nossos olhares se cruzam, carregados de preocupação. O ambiente está denso, quase palpável. Respiro fundo, tentando organizar meus pensamentos antes de passar as informações que consegui com Isabela, nossa agente infiltrada. Assim que Carlos chega, pedimos uma reunião urgente. Expomos cada detalhe, cada peça do quebra-cabeça que ela nos forneceu, sentindo o peso da responsabilidade se intensificar a cada palavra.Carlos não hesita. Em minutos, toda a força policial disponível é mobilizada. Com o endereço fornecido por Zé Galinha em mãos, acessamos o Google Maps. O local é um depósito abandonado. As imagens são antigas e revelam pouco.Decidimos não arriscar. Solicitamos ao setor de vigilância para enviar um drone para sobrevoar o local. Minutos depois, as imagens chegam. Dentro do galpão, há movimentação. Contamos seis homens, todos armados até os dentes.A adrenalina se espalha pelo m
Horas mais tarde...DanteA noite avança, e eu continuo afundado no sofá, o copo de uísque girando entre os dedos. Se eu não me anestesiar hoje com a bebida não conseguirei dormir. O peso do dia esmaga meus ombros como uma marreta invisível. Perder oito homens em uma só emboscada não é apenas um golpe nos negócios, mas uma afronta direta ao meu nome. Eu sempre estive no controle. Sempre. Mas dessa vez, a sensação de que o chão foi arrancado debaixo dos meus pés me assombra.A música baixa ainda ressoa no ambiente, um fundo melancólico para a tempestade que ruge dentro de mim. "November Rain" toca, e eu fecho os olhos, sentindo a melodia cortar fundo. Sempre gostei dessa música, mas hoje ela pesa diferente. Hoje, cada nota parece ecoar minha frustração, minha solidão.Então sinto a presença dela.Abro os olhos e vejo Isabela parada na entrada da sala. Seu olhar tenta ser neutro, mas percebo algo ali. Um lampejo de curiosidade, talvez? Ou será preocupação? Não sei ao certo, mas sei que
Penso em Leandro. Agora eu o imagino bebendo em algum bar, ou talvez em casa, na fossa. Não deve estar sendo fácil a perda do parceiro e amigo. Desde que entrei para o BOPE, pude ver como Leandro e Heitor eram próximos. Eram mais do que colegas de farda, eram irmãos, confidentes.Ligo para ele. Escuto o som de quatro toques antes que atenda.— Alô. — A voz dele está rouca, carregada de cansaço.— Oi.— Isabela?— Você está bem?— Tirei um cochilo... que horas são?— Nove horas.O silêncio que se segue só é interrompido pela respiração pesada dele.— É bom te ouvir.— Você pediu para eu ligar.Ouço um barulho de cama rangendo, como se ele estivesse se sentando.— E se eu não pedisse, você me ligaria?— Sim. Para saber como você está.— O que posso dizer? Perdi um grande amigo, e a mulher que eu amo está se arriscando, longe de mim. Como você acha que estou me sentindo?Fecho os olhos por um instante, sentindo o peso do que ele diz.— Eu sei... Logo, logo, tudo vai se resolver. — Digo,
Ele me beija no pescoço, seus lábios quentes ficando um segundo a mais do que o necessário, a pressão suave sobre minha pele criando um arrepio que percorre minha espinha. Fecho os olhos por um instante, sentindo o calor de sua proximidade, a tensão no ar crescente, mas a voz rouca dele me tira do transe.— É? Falando nisso, onde está minha pequena?Dante aguça os ouvidos, seu olhar vasculhando o ambiente com aquela atenção predatória, como se estivesse caçando algo. Aproveito o momento, meu coração batendo descompassado, e me desvencilho rapidamente, escorregando para fora do abraço apertado, agachando-me com agilidade.— Saíram todos. Seu irmão a levou para uma sorveteria com a namorada.Ele solta uma risada baixa, algo entre surpresa e diversão, um som que me faz tremer por dentro, ainda que eu tente esconder.— Rafael? Trouxe uma mulher para casa? As coisas mudaram na minha ausência.Cruzo os braços, tentando disfarçar o desconforto que queima no meu pescoço, onde ele ainda deixou
Saio do quarto e sigo até a sala. Dante do outro lado da sala. Ele está apoiado no parapeito da varanda com um copo de uísque entre os dedos, girando o líquido como se tentasse encontrar respostas nele. Puxo o ar para tirar o meu nervosismo e vou até ele.— Que foi? Você está tão meditativo — digo, depois de um longo silêncio.Ele ergue os olhos para mim, e há algo ali que não reconheço de imediato. Cansaço, talvez. Ou algo mais profundo, algo que ele tenta esconder, mas que, por alguma razão, sinto que posso ver.— Você sempre faz isso?— Isso o quê?— Querer saber o que se passa na cabeça dos outros.Sorrio de leve.— É que você parece tão melancólico e não resisti em saber o que se passa na sua cabeça.Dante me observa por um instante, depois suspira e passa a mão pelo cabelo, como se estivesse considerando se deveria ou não falar. Quando finalmente se decide, sua voz sai mais baixa.— Estou pensando na minha vida, no que eu era antes e o que me tornei agora.Me surpreendo com a h