Ninguém conhecia os motivos que me mantiveram afastado de Nicole e, mesmo assim, me julgaram. Nunca fui santo, mas se todos soubessem o que vivi na França nos últimos cinco anos, entenderiam como sofri e não me condenariam daquela forma.
Fazia algum tempo que Nicole e eu não viajávamos devido ao meu curso de medicina com especialização em neurocirurgia. No início de janeiro de 2010, seguimos para Balneário Camboriú, no Sul do Brasil.
Nicole tinha 20 anos e já era maior de idade. Nada impediria o nosso casamento, nem mesmo aquela megera que ela chamava de tia. Joanna foi uma das minhas babás e cuidou de mim até a adolescência. Eu não gostava do jeito que ela tratava aquela menina de olhos tristes.
Minha avó, Sophie, sabia que eu não tinha muitos amigos e o quanto eu gostava de brincar com Nicole, então ela permitiu que Joanna trouxesse a menina de olhos amendoados para morar na mansão.
O tempo passou e nós crescemos juntos naquela enorme casa luxuosa em São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Eu era alto e magro e Nicole estava cada dia mais bela. O corpo dela ganhou curvas no tecido do vestido um pouco acima do joelho. Ela não gostava de roupas curtas e muito decotadas. Os cabelos caiam como cascatas pelos ombros. Algumas vezes, eu arrumava briga com os moleques da escola que paqueravam-na. Eu tinha quinze anos quando começamos a namorar. Marcello não gostou muito, ele queria que eu ficasse com outras meninas, mas eu estava completamente apaixonado pela Nicky.
A cerimônia foi rápida, casamos no civil sem conhecimento da nossa família. Apenas Jenny e Marcello foram testemunhas. Os nossos melhores amigos prometeram que guardariam segredo até que Nicole e eu estivéssemos na França.
O sorriso dela me enfeitiçou, fiquei embevecido com aquela formosa mulher que disse sim e prometeu ser minha para sempre. Logo depois que assinamos os papéis, Nicole foi até o toalete com Jenny, a nossa melhor amiga. Ela veio da Coreia quando era criança e estudou comigo até o colegial. A Nicky e a Jenny eram muito próximas, até demais para o meu gosto.
— E aí amigo? Espero que você tenha certeza do que está fazendo!
Marcello jogou aquele cabelo lambido para trás, ele sempre se gabava daquelas mechas com a cor de gema de ovo e da descendência europeia.
— Tenho certeza! — respondi.
— Você vai deixar de conhecer as gatas francesas.
— Deixa de ser babaca! — Arrumei os óculos e o encarei — Quando você se apaixonar, entenderá o que eu sinto.
— Você ainda pode pegar umas gatinhas na França — sugeriu ele, com um sorriso. — Ela não precisa saber!
— Eu não preciso de outra mulher! Amo a Nicole — retruquei. — Ela é minha! Só Minha!
— Você que sabe, irmão!
Nicole aproximou-se de repente e então, ficamos em silêncio.
— Posso saber o que estão falando?
— Nada! — Enlacei-a pela cintura.
Marcello virou a cara e fingiu olhar para uma morena gostosa de rosto bronzeado, se a Nicole soubesse que pensei nisso, eu estaria ferrado. Eu amo a minha mulher, mas, como eu disse ainda pouco, nunca fui santo!
— Vocês vão para onde? — Jenny chegou perto.
— Para a casa de veraneio dos meus pais.
— Cuida bem da minha amiga e trate-a com carinho. — Jenny pediu e em seguida abraçou a Nicky. — Felicidades!
Fomos até o local onde estacionei o carro. Abri a porta do veículo e olhei as curvas da minha esposa naquele vestido branco. Mordi os lábios e apertei aquele traseiro gostoso.
— Alexander! — Ela se ajeitou no banco e riu.
— Agora você é minha!
Fui até o outro lado do meu carro esportivo preto, ajeitei o banco e o retrovisor.
— Está com fome?
— Um pouco!
— Coloca o cinto, Nicky!
Ela sempre esquecia de ajeitar a porra do cinto de segurança e eu sempre chamei atenção dela.
Chegamos na casa de veraneio a beira mar e nos instalamos na suíte. Pouco tempo depois, encontrei um restaurante onde não serviam frutos-do-mar. Nicky é alérgica a camarão e a última coisa que eu queria era passar a minha lua-de-mel no hospital.
Comemos em um restaurante que ficava de frente para a praia, o local era discreto e os funcionários eram extremamente atenciosos. Nicole saboreou um salmão grelhado e preferiu tomar um suco de abacaxi com hortelã, na época, ela não ingeria bebidas alcoólicas.
Durante o resto da tarde andamos pela areia. A brisa balançava os cabelos ondulados dela, minha esposa estava linda e perfeita.
— Vamos! — A levantei pela cintura e beijei aqueles lábios carnudos — Eu preciso de você!
Enquanto Nicole se preparava no toalete, eu estava de pau duro e muito empolgado. Aquela era a nossa primeira vez e tinha que ser especial. Peguei as velas que escondi em um compartimento da minha mala e espalhei pelas cômodas do quarto.
Corri até o meu carro e peguei as rosas que a Jenny comprou e me entregou pela manhã quando ainda estávamos no Rio de Janeiro. Joguei pelo chão do quarto e sobre o lençol da cama. Nicole estava demorando demais, então bati na porta:
— Está tudo bem, Nicky?
Ela demorou alguns segundos para responder.
— Sim, está! — respondeu, a voz serena.
— O.k., estou te esperando!
Escolhi a música "Because you loved me", Nicole amava a letra dessa canção. Pensei que o som daquela música tiraria ela daquele banheiro. Fui até a varanda e abri o champanhe. Enchi as taças e bebi um gole do espumante rosê. A luz do luar iluminava as ondas que vinham do mar e banhava a areia da praia.
Minha esposa estava perfeita naquela camisola. Os seios estavam lindos naquele decote vermelho. Se ela escolheu aquela roupa para me excitar, conseguiu. Tive vontade de colocá-la sentada naquela mesa e penetrá-la fundo naquele cenário paradisíaco; no entanto, fui paciente e me contive.
Nicole estava nervosa, escondia o decote com uma das mãos. Já beijei e lambi aqueles seios, não tinha motivo para ela ficar daquele jeito. Ofereci um pouco da bebida para ela relaxar, no começo, ela estava relutante, mas, enfim, brindamos ao nosso amor.
Convidei-a para dançar e segurei firme em volta de sua cintura. Nossos corpos se moviam sob a luz das estrelas, Nicole estava mais calma. Encostei meus lábios na maçã do rosto arredondado. Beijei-lhe devagar até que enfiei a minha língua naquela boca quente.
— Eu quero você... — balbuciei contra os lábios curvos.
Acariciei a pele macia de suas costas enquanto lambia e sugava o pescoço. Rocei a minha boca pela base do ombro, ela suspirou com o calor da minha língua passeando lentamente sobre a pele. A alça da camisola deslizou, olhei para aquele seio delicioso. O rosto estava vermelho e ela ficou imóvel. Nicole levantou a alça e escondeu a parte nua, tinha receio que alguém da praia nos visse.
― Vem, eu quero fazer amor com você!
Caminhamos até o quarto, estiquei o corpo na cama e tirei os óculos. Eu estava louco para entrar nela. Nicole nunca se deitou com outro homem, apesar dos momentos em que beijei e lambi da pele macia do pescoço até o meio das pernas, nunca a penetrei do jeito que o meu corpo desejava.
A ideia de ser minha esposa, confortava Nicky e a deixava mais segura. Ela não resistiu ao toque da minha mão quando tirei a camisola por cima dos ombros. Beijei-lhe os seios com voracidade e me deliciei naquelas curvas. Afastei a calcinha que ela usava para o lado e a lambi de cima para baixo, sentindo a calidez da carne macia e úmida naquela musculatura da parte mais íntima que se contraia em volta do meu dedo.
— Eu posso? — Minha voz estava mais rouca.
Rasguei a porra da calcinha antes que ela me respondesse.
— Sim! — Ela respondeu baixinho.
Eu ri enquanto despia a minha calça, exibi as veias pulsantes do meu pênis rijo. Afastei as pernas dela e me encaixei lentamente na entrada. As unhas arranhavam minhas costas. Me afastei um pouco e suguei o bico daquele peito gostoso enquanto roçava na parte quente e molhada.
Empurrei mais uma vez, estava na metade do caminho, suguei os lábios dela e então enfiei de novo. Apoiei o cotovelo ao lado da cabeça e mexi dentro dela instintivamente, estava focado e minha mente gravava cada minuto daquele momento em que me conectava a ela. Nicole era minha e nada mudaria isso.
Meus olhos estavam presos ao dela, penetrei profundamente nas paredes que me apertavam. Eu gemia contra o pescoço dela, todo o meu corpo ansiava por mais. Me movimentei mais rápido e gozei em jatos dentro da mulher que eu amava.
― Você é minha!
Arfei conforme eu pulsava e jorrava dentro dela. Nicole ofegava perto do meu ouvido. Apertei todo o meu corpo contra o dela até que estivesse totalmente relaxado e saciado.
— Só Minha! — Abocanhei-lhe os lábios.
Aquelas quatro semanas de amor e paixão foram maravilhosas. Quando não estávamos no quarto fazendo amor em todas as posições que eu desejava, Nicole sentava na cadeira de madeira, na areia da praia, enquanto eu nadava. Ela planejava o nosso roteiro de viagem para o lugar onde pretendíamos morar na França, no fim daquele ano. Eu viajaria para Lyon no mês seguinte e Nicole me encontraria na França assim que terminasse o curso na faculdade de administração.
Voltamos para o Rio de Janeiro no começo de fevereiro, pegamos as bagagens no carro e seguimos até a entrada principal da mansão. Rosa, a governanta, nos recebeu e avisou que a minha avó, Sophie, e os meus pais nos aguardavam na biblioteca.
— Fica tranquila, meu anjo!
Observei o olhar aflito de Nicole que encolheu os ombros.
— Avise que nós já vamos — ordenei a governanta.
Joanna puxou Nicole pelo braço assim que se aproximou e deu um tapa no rosto dela.
— Por que você fez isso? — Me coloquei na frente de Nicole e me aprumei. Puxei o meu braço esquerdo que a Nicole segurava. — Nunca mais faça isso com ela — berrei.
De repente, meu pai apareceu na sala, correu em minha direção e me segurou.
— Pare com isso, Alexander!
Meus olhos queimavam de tanto ódio. Olhei para Nicole que escondia o rosto vermelho com a mão.
— O que está acontecendo? — O salto alto de minha mãe batia no assoalho de madeira. — O que vocês duas fazem aqui? — Ela mirou Nicole e Joanna. — Retirem-se!
— Ela fica! — disse eu, determinado.
— Não se meta nisso, Louise! — Meu pai ordenou.
— O nosso filho casou escondido e você quer que eu fique quieta. Eu não te dou o direito de falar assim comigo, Ricardo!
Minha avó Sophie apareceu e assistiu à cena em silêncio enquanto meus pais discutiam.
— Calem a boca! — Minha avó se impôs.
Ela tinha uma postura sisuda quando me encarou e em seguida fitou Nicky.
— Alexander e Nicole, me acompanhem até a biblioteca. — Ela se virou e saiu.
Tomei uma certa distância de meu pai, abracei a minha mulher e segurei o rosto dela contra o meu peitoral. Beijei-lhe o topo da cabeça. Passei o meu braço nos ombros dela e seguimos juntos ao encontro de minha avó.
— Ela vai entender, meu amor! — Tentei acalmá-la.
O silêncio de Nicole sempre me incomodou, eu preferia que ela gritasse e discutisse comigo do que ficasse quieta e pensativa. Tirei a mão do rosto dela e vi a marca vermelha. Envolvi ela em meus braços, se eu tivesse meios financeiros e não dependesse daquela família, eu sumiria no mundo com a minha esposa. Minha avó abriu a porta e então nos afastamos.
— Entrem! — ordenou o tom hostil.
A biblioteca era ampla com uma decoração clássica. A Nicole adorava aquela sala de leitura. Sentamos numa poltrona vermelha perto da mesa de centro em formato oval.
Minha avó deu as costas para nós, ela cruzou os braços enquanto descortinava o jardim através do vidro da janela no estilo colonial.
Os meus pais entraram em silêncio, todos respeitavam a matriarca da família. Minha mãe se acomodou na poltrona sofisticada com estofamento vermelho e meu pai ficou em pé ao lado dela.
Joanna adentrou e no mesmo instante, me levantei. Eu ainda estava com muita raiva daquela mulher.
— O que você quer? Saía daqui! — Apontei para a saída.
— Quieto! — Minha avó mandou.
Apertei a mão de Nicole e vislumbrei os olhos caídos.
— Afinal, o que vocês querem? — Olhei em volta.
O meu pai limpou a garganta e trocou olhares com a minha avó assim que ela se virou.
— Abaixa a voz, Alexander!
Minha avó veio em nossa direção e olhou dentro dos meus olhos.
— Por que você tomou essa decisão e não me comunicou?
— Amo a Nicole!
— Então vocês vão viver de amor? Sinto te informar, mas amor não enche a barriga e não paga as suas contas. Você não tem emprego.
— Eu trabalho! — Nicky respondeu na intenção de me defender. — Alexander terminará a residência e logo trabalhará no hospital.
— E durante esses cinco anos de residência, onde vocês pretendem morar? Você acredita que essa merreca de salário mínimo que você recebe naquele comércio sustentará vocês dois? — Minha avó questionava sem dar uma pausa. — Como você manterá os seus livros e a sua faculdade, Nicole?
Meu coração se apertou quando Nicky abaixou a cabeça e olhou para os nós dos dedos.
— Ela vai morar comigo, na França!
— Que estupidez é essa, Alexander? — Minha mãe ficou de pé. — Você tem que se capacitar profissionalmente e, ao invés disso, quer brincar de casinha sem ter um centavo no bolso.
— Sua mãe e a sua avó estão certas, Alexander! — Meu pai ajeitou o botão do terno azul-marinho sobre a barriga saliente.
Tirei os meus óculos e cocei o olho direito com a palma da mão. Eu não queria ficar longe da minha mulher.
— Eu posso fazer a residência no Hospital São Miguel — sugeri.
— Non! — Minha avó ergueu o queixo. A testa da pele alva estava vincada. — Não quero que os funcionários falem que dei privilégios para o meu neto.
Minha avó era uma imponente CEO e comandava os negócios da família com mãos de ferro. Ela administrava o hospital São Miguel com o sócio Henry desde que o meu avô, Rodolpho, faleceu.
— Alexander, já estou farta dessa conversa! — Minha avó pegou os papéis que estavam sobre a mesa de madeira maciça perto da janela. — Joanna, venha até aqui!
— Sim, doutora!
— Estou dispensando os seus serviços e quero que você e Nicole saiam da minha casa.
— Não! — Exclamei em voz alta.
Nicole e Joanna sempre viveram aqui, moravam em uma das casas que ficavam nos arredores da mansão.
— Você pode acompanhá-las!
— Alexander não sairá daqui, Sophie! — Minha mãe afrontou-a.
— Ta gueule, Louise! Posso abrir uma exceção. Caso o Alexander assine os papéis do divórcio, elas poderão morar aqui — ponderou minha avó. — O que acha, Joanna?
Nicole olhou para baixo assim que a tia a encarou. A última coisa que eu queria era arrumar problemas para a minha esposa.
— Eu assino! — aceitei o acordo.
Os olhos tristes cortaram meu coração, no entanto, eu não poderia deixar que a minha mulher passasse por necessidade. Não teria como protegê-la se Joanna a agredisse ou abandonasse.
Fiquei arrasado quando Nicole correu para a saída. Segui ela pelos corredores até a escada.
— Espera, Nicky!
— Me deixe em paz! — Ela alargou os passos pelos degraus. — Eu poupo o seu tempo, vou embora desta casa.
— Deixa eu falar, porra!
Segurei os braços dela e a encostei contra a parede, ela lutava para se desvencilhar. Peguei-lhe os lábios e furtei um beijo enquanto ela se debatia. Aos poucos, ela relaxou, enquanto minha língua mergulhava em sua boca.
— Vem!
Puxei-a pelo braço e a arrastei para o meu quarto. Tranquei a porta.
— Me solta, Alexander! Você já tomou a sua decisão.
— Fica calma! — Segurei o rosto dela por entre as minhas mãos. — Assinarei a porra dos papéis. — Levantei o queixo dela e forcei a me encarar. — Faremos tudo como combinamos — envolvi Nicole nos meus braços.
— E se você conhecer uma francesa?
— Eu não quero outra, quero só você!
Levei-a para a minha cama e estiquei o meu corpo sobre o dela enquanto a beijava lentamente. Venerei e apreciei cada parte de suas curvas sem pressa. Nossas roupas estavam espalhadas pelo chão e nossos corpos se conectaram.
Bateram algumas vezes na porta, mas eu estava dentro da minha esposa e mexia com urgência, essa era única coisa que me importava.
O alarme do meu celular tocou pela terceira vez, estiquei o meu braço até a cabeceira ao lado da minha cama e desativei. Naquela manhã de verão, embora não estivesse tão quente como no Brasil, às 7 horas, a temperatura girava em torno de 20 graus. Peguei os óculos e olhei a tela do meu blackberry. Tinha quatro meses que iniciei a residência no Hospital Saint-Mary em Lyon e, até aquele momento, Nicky não respondia às minhas mensagens ou retornava as minhas ligações. Joguei o celular na cama e puxei o cobertor. Meu pau estava duro e latejava, isso acontecia sempre que eu sonhava com ela. Era impossível esquecer de como ela estava apertada e quente na primeira vez em que fizemos amor. Levantei da cama e fui direto para o banheiro, não tive outra alternativa, me aliviei embaixo da água morna que caía sobre as minhas
Fazia mais de um ano desde que Marcello retornou à metrópole da França, e eu tive a ligeira impressão de que ele me evitava para não falar sobre Nicole. Os primeiros dias foram tensos, confesso que faltei ao trabalho durante cinco dias, até que Sophie apareceu. Se não fosse pelas broncas da minha vó, eu cairia em depressão ou largaria tudo só para dar umas porradas no homem que estava com a Nicky. Após o plantão de 48 horas, eu tomei um banho e me troquei com uma certa pressa. Pretendia passar a tarde me exercitando na academia. Fui direto para o meu carro, desativei o alarme e ajeitei os óculos quando avistei o conversível vermelho do Marcello na vaga do outro lado do estacionamento. Reparei na bunda gostosa da mulher que flertava com ele. Marcello entrou no veículo assim que me viu. Caminhei a passo
Alguns meses se passaram e quase não recebi notícias do Marcello, se ele não me procurou, então ele estava bem. Meu amigo só me procurava quando se metia em confusão. Depois do que houve com Claire há alguns meses, eu evitava falar da Nicole ou beber demais durante os encontros. Assim que minha mãe me contou que Nicky estava casada e já tinha um filho, liguei para alguns números que estavam na minha gaveta. Procurei o bilhete da mulher que atendi no verão de 2010. Já se passaram dois anos, não sabia se ela lembrava de mim, mesmo assim eu arrisquei. É claro que o fato dela se parecer um pouco com a minha ex afetou a minha escolha, mas eu precisava sentir o calor de uma mulher, nunca fui inocente, entretanto, fui fiel a Nicky durante anos, mesmo quando ela vinha com aquela história de que queria casar virgem para não cometer os mesmos erros da mãe.<
Eu dirigi por 466,9 km pela via A6. Eu levei mais de quatro horas para chegar a Paris e o telefone do Marcello ainda estava desligado. Estacionei o meu carro na vaga e corri direto para o apartamento de Josephiné. Apertei o botão e em poucos segundos a porta do elevador abriu. Liguei novamente para aquele babaca e caiu na caixa de mensagens. Saí no décimo terceiro andar e corri pelo corredor até o apartamento duzentos e setenta e sete. Toquei a campainha e ninguém atendeu. Apertei algumas vezes até que ela apareceu. — Bonjour, Alexander! — O rosto de Josephiné estava vermelho, provavelmente ela passou a noite com dor. — Encontrou o Marcello? — Não! O celular dele está desligado. Acompanhei ela até a sala, a casa estava bagunçada. Havia quadros e fotos rasgadas, além dos cacos de vidro de u
Naquele dia, fiz o mesmo percurso de volta para Lyon. As ruas e avenidas de Paris estavam cheias de folhas. No final de setembro, o outono tornava o clima agradável. Lutei contra o sono enquanto descortinava a paisagem pela janela do meu carro. Anoitecia quando cheguei em Lyon, estava exausto. Levei mais vinte minutos até, enfim, estar de volta ao meu apartamento. Tirei a roupa que usava na noite anterior, entrei embaixo da água quente. Abaixei a cabeça enquanto a água caía na minha nuca e descia pelo meu corpo. Nunca tive um dia tão agitado como aquele. Enxuguei todo o meu corpo com a toalha que estava pendurada no vidro do box. Estava tão cansado que não procurei outra roupa, deitei na cama do jeito que cheguei ao mundo. Ativei o alarme e encostei no travesseiro, virei a cabeça para o lado direito. Nicole costumava dormir de roupa e detestava quando eu dormia nu. O vento frio batia contra o meu rosto enquanto eu corria, pouco antes do sol nascer, pela rua de Sainte-Foy-lès-Lyon. Comprei uma casa nesse ambiente rural um ano após a morte do meu amigo. No dia em que visitei Josephiné no hospital, ela me disse que entregaria Marcelly para adoção. Prometi ao Marcello que cuidaria da menina e não permitiria que ela fizesse isso, então contei a Josephiné sobre a promessa e fiz a proposta: eu estava disposto a assumir a paternidade da Marcelly. Ela me xingou e me expulsou. Foram quase onze meses até que eu a convenci de que cuidaria da nenê. Não sei o que deu nela, mas, certa noite, ela me ligou e aceitou a proposta. Moramoss juntos há quase três anos. Não nego que trepei com ela algumas vezes. Não sou muito fã desse lance de BDSM e nunca me submeti a esses fetiches loucos que ela praticava com Marcello; no entantSinto a sua falta!
Na manhã seguinte, fiz de tudo para não encontrar com Isabella durante o plantão, eu torcia para que ela não contasse aos nossos colegas de trabalho sobre o nosso encontro na noite anterior. Tomei um analgésico para aliviar a dor de cabeça causada pela ressaca e sentei-me na sala de descanso durante o intervalo. Ali avaliei a biópsia estereotáxica de um dos meus pacientes antes de conversar com um de seus familiares. As mensagens de Josephiné não paravam de chegar no meu telefone, olhei para a tela do meu blackberry que vibrava, encostei a minha cabeça no estofado marrom da poltrona reclinável e atendi: — O que você quer Josephiné? — Quero que você venha para casa hoje, precisamos conversar! — Você quer que eu volt
Em uma das salas de cirurgia, realizei todo o procedimento depois que o paciente recebeu a anestesia geral. Monsieur François, pai de Alícia, tinha 57 anos. Poucas semanas antes do meu encontro com Alícia, eu recebi imagens mais detalhadas da tomografia, os cordomas se expandiram na base do crânio do meu paciente e invadiam os nervos e tecidos. Naquela manhã, eu me reuni com uma equipe cirúrgica multidisciplinar que tinha uma vasta experiência com aquele tipo de câncer. Assim que o paciente recebeu a anestesia, nós fizemos os procedimentos necessários para ter acesso à localização da parte do osso da base do crânio e do cérebro. Eu ressequei os cordomas e fiz o possível para remover os tumores sem causar dano ao tecido. Depois de cinco horas naquela sala, com médicos altamente qualificados, eu ergui a cabeça e a enfermeira enxugou o suor que brotava na