Alguns meses se passaram e quase não recebi notícias do Marcello, se ele não me procurou, então ele estava bem. Meu amigo só me procurava quando se metia em confusão.
Depois do que houve com Claire há alguns meses, eu evitava falar da Nicole ou beber demais durante os encontros. Assim que minha mãe me contou que Nicky estava casada e já tinha um filho, liguei para alguns números que estavam na minha gaveta.
Procurei o bilhete da mulher que atendi no verão de 2010. Já se passaram dois anos, não sabia se ela lembrava de mim, mesmo assim eu arrisquei. É claro que o fato dela se parecer um pouco com a minha ex afetou a minha escolha, mas eu precisava sentir o calor de uma mulher, nunca fui inocente, entretanto, fui fiel a Nicky durante anos, mesmo quando ela vinha com aquela história de que queria casar virgem para não cometer os mesmos erros da mãe.
Comprei as camisinhas na farmácia pouco antes de buscar a Marie no trabalho. Eu dirigi até o bar onde aquela morena de olhos verdes trabalhava. Encostei a minha cabeça no volante e pensei bem. A única mulher que eu amava, agora pertencia a outro. Saí do meu automóvel e entrei naquele estabelecimento.
— Que merda! — O local era barulhento, um bar de stripper.
Ajeitei os óculos no meu nariz e olhei em volta, as mulheres que serviam usavam pouquíssimas roupas. Mantive o controle para que o meu pau não ficasse duro. Uma mulher que revelava os seios fartos na blusa decotada preta me encarou. Os cabelos platinados estavam na altura do rosto.
— Bonsoir, chérie! — sussurrou a voz aveludada no pé do meu ouvido. — Je m'appelle Justine!
Um homem bêbado que se agarrava com uma morena esbarrou em mim.
— Odeio aglomerações — falei entre dentes.
— Excusez-moi! — Marie apareceu.
Ela pulou no meu pescoço, atacou os meus lábios e não disse mais nada. Não me contive, minha língua explorava aquela boca deliciosa. Enrolei as minhas mãos nos cabelos ondulados, ali, naquele breu, ela lembrava a minha Nicky, um pouco mais ousada. O perfume dela era enjoativo, mas prometi a mim mesmo que não colocaria tudo a perder assim como fiz com a Claire.
— Espera! — Peguei os meus óculos que quase caíram.
— Pardon, eu me atrasei! Vamos tomar um drink?
A mão dela apertou o volume que marcava a calça jeans que eu usava.
— Claro!
Minha cabeça de baixo falou mais alto do que a minha consciência, já estava doido para colocar ela de quatro e comer aquela gostosa. Marie se afastou e pegou as bebidas, lambeu aqueles lábios carnudos quando avaliou o volume.
Bebi o quinto coquetel Hot Red-Blooded Frenchman enquanto Marie continuava a me excitar. Em algum momento da noite, eu não me condenava mais por estar naquele lugar. Neguei com a cabeça quando ela me ofereceu outro drink.
— Você trabalha aqui? — Solucei.
— Sou Barwoman e algumas vezes, sirvo as mesas.
Ela falou um pouco mais alto do que a batida da música techno dance que tocava ao fundo.
— Compreendi! — Tomei o restante do coquetel.
— Quer dançar?
— Não! Prefiro um lugar mais tranquilo.
Aquela mulher me instigou e mexeu no meu cacete a noite toda, eu sei que ela quer algo mais além disso.
— Vem! — Marie me puxou.
Saímos daquele lugar barulhento e fomos direto para o meu carro. Ela levantou a saia, sentou no meu colo e se esfregou no pau.
— Espera, vamos para outro lugar.
Em pouco tempo estávamos sem roupa no quarto de hotel. Fui até o banheiro e enquanto eu me aliviava, reprimia a vontade de pensar na Nicole, foi ela que me deixou. Voltei ao quarto e olhei para a mulher que se abria e exibia a carne no meio das pernas. A luz vermelha iluminava o ambiente com espelho enorme na parede. Tirei os óculos e me aproximei da cama. Gemi quando ela caiu de boca, enrolei o cabelo dela em minhas mãos conforme ela engolia e sugava.
— Não cabe! — Ela reclamou quando empurrei mais um pouco.
— Cala a boca e continua. — A minha voz estava mais rouca.
A primeira vez que a Nicole me beijou foi excitante e um pouco engraçado. Ela era inexperiente e fazia do jeito que eu ensinava. Nas primeiras duas semanas da nossa lua-de-mel depois que a deflorei, ela se esforçava para me satisfazer, ainda lembro do dia que ejaculei naquela boca quente pela primeira vez.
— Fica de quatro — ordenei.
— Você quer fazer amor comigo?
— Marie, eu quero te foder! — Mandei a real. Eu não a amava.
Esperei até que ela se ajeitou na cama e abri o pacote de camisinha.
— Tomara que essa porra não arrebente.
— Oi!
— Fica quieta que eu já vou te comer.
Desenrolei bem devagar. Odeio usar essas merdas, mas não queria pegar uma DST ou arrumar uma dor de cabeça como a do Marcello.
Me aproximei da ponta da cama e puxei ela pela cintura. Enfiei a mão nas mechas castanhas e emaranhei os meus dedos em seus cabelos. Ela gemeu de um jeito gostoso, porém um pouco escandaloso quando empurrei tudo. Olhei para as ancas que tremiam enquanto eu entrava nela, ainda não estava do jeito que eu queria.
— Afasta as pernas e empina esse rabo direito — mandei.
Eu não sei o que aconteceu, mas fiquei impaciente, só queria gozar e voltar para o meu apartamento. Entrei e saí mais rápido, me afastei e enfiei até o fundo enquanto ela gritava.
A Nicole era o meu carma, sempre invadia a minha mente na hora errada. Ela me enlouquecia com aqueles gemidos baixos no pé do meu ouvido conforme eu montava nela. Meu corpo se unia ao dela no ritmo do prazer. Eu detestava quando ela fechava os olhos, sempre segurava o rosto da Nicky e exigia que ela me encarasse, amava ver o prazer estampado naquele belo rosto.
Os gritos da mulher que eu fodia quebraram a minha concentração e me trouxeram para a realidade. Impulsionei o quadril e meti mais rápido contra a bunda dela. Puxei o cabelo de Marie com mais força e enterrei meu pau mais fundo. Ela parecia exausta e relaxada, acho que gozou. Sai de dentro dela e fechei os olhos, empurrei com tanta força que ela caiu de barriga sobre a cama. Me deitei contra as costas dela e mantive o movimento ágil.
Minha Nicole era tão gostosa e apertada, meu corpo tremia e meus batimentos estavam mais acelerados. Eu apertava o meu corpo contra o dela, enfiava e saía com mais pressa. Minhas pernas estremeceram com os primeiros espasmos.
— Nicky, olha para mim! — Minha boca emitiu um gemido rouco enquanto eu gozava.
Abri os meus olhos e encarei as pupilas verdes. Saí de dentro dela e avaliei a camisinha, arranquei aquela merda quando me levantei. Fui direto para o banheiro e joguei aquela porra na lixeira. Estava debaixo do chuveiro e Marie me observava da porta.
— Quem é a Nicky? — Ela encostou no vidro do box.
Ensaboei o meu pescoço e os pelos do meu peito, dei de ombros.
— É a sua esposa? — indagou ela.
— Não! — respondi. — Uma pessoa que eu amava, mas ela me abandonou.
— Pensei que você era solteiro!
— Sou!
Ela entrou no chuveiro e tocou as minhas costas.
— Você é um médico muito gostoso para ficar sozinho.
Passei a mão para enxaguar a espuma do sabonete do meu olho depois que lavei o rosto.
— Olha Marie, não me entenda mal, mas eu não estou pronto para um relacionamento.
— Tudo bem! — Ela sorriu enquanto lavava o corpo.
Estranhei um pouco, no entanto, eu fiquei mais relaxado porque ela compreendeu. Me enxuguei com a toalha branca e vesti a minha cueca e em seguida a calça. Coloquei os óculos e vi a mulher que saiu do banheiro envolta na toalha.
— Você quer uma carona?
Fechei os botões da minha camisa preta e dobrei a manga até o meu antebraço.
— São 100 euros a hora! — Ela esticou a mão. — Nós passamos uma hora bebendo enquanto eu o distraía na boate, mais meia hora na cama. Te darei um desconto só porque tive um orgasmo.
— Suponho que você saiba que isso é crime na França? — Ajeitei a gola da camisa no meu pescoço.
— Digamos que desperdicei uma hora do meu trabalho com você.
— Pensei que você servia as mesas na boate.
— Je ne suis pas serveuse de discothèque.
O relaxamento por meia hora de prazer se dispersou com a tensão. Se o Marcello soubesse disso, ele contaria para os meus pais e para a minha avó.
— Não posso arrumar problemas aqui!
Sentei na cama, coloquei a meia e calcei os mocassins.
— Oui, chéri! Garanto que ninguém vai saber. — Marie deu alguns passos comedidos e me encarou. — Não esqueça do táxi. Tenho que voltar ao bar.
Nunca paguei tão caro pela minha língua. Precisava lidar com isso. Eu me sentia um otário por amar tanto uma mulher que me traiu, mas foram muitos anos ao lado dela. Nicole foi a minha primeira e melhor amiga, minha namorada por quase sete anos e a mulher com quem fiz amor pela primeira vez.
Fiz o que a Marie pediu. Apressei os passos até que entrei no meu carro. Paguei o hotel e dirigi pelas avenidas até o meu apartamento. Meu telefone tocava, reparei num número desconhecido e acionei o botão.
— Aqui é o Doutor Bittencourt
— Bonjour, est-ce que Marcello est là?
Era a voz da Joséphine, ela fazia aquelas respirações como as de mulheres em trabalho de parto.
— Eu não sei! Marcello não está em Lyon.
Virei o carro em uma rua perto do prédio onde moro.
— O que está acontecendo, Josephiné?
Parei em frente ao sinal, levantei os meus óculos e cocei a vista, estava com sono.
— Tem dois dias que ele desapareceu. — Josephiné fez uma pausa. — Nós brigamos! Eu fiquei nervosa porque uma amiga dele do Brasil viria para cá.
— Que amiga? — Meu peito contraiu-se com uma súbita apreensão.
Estacionei em frente ao edifício de fachada laranja no centro de Lyon.
Será que era Nicole?
— Não sei o nome, chéri! — Ela gritou.
— O que houve?
— Eu estou com contrações.
— Qual intervalo?
Josephiné ficou quieta por cinco segundos e então respondeu:
— Il faut que je raccroche.
— Eu vou ligar para o Marcello. Já te ligo!
— Ciao! — Ela se despediu.
Conduzi meu carro até Ecully enquanto ligava para ele. Demoraria seis horas. Que irresponsabilidade! Marcello sabia que estava perto do parto da filha dele, não deveria sumir desse jeito. Quem era essa tal amiga que viria do Brasil? Amanhecia e aos poucos, nuvens cinzas apareciam no céu.
Eu dirigi por 466,9 km pela via A6. Eu levei mais de quatro horas para chegar a Paris e o telefone do Marcello ainda estava desligado. Estacionei o meu carro na vaga e corri direto para o apartamento de Josephiné. Apertei o botão e em poucos segundos a porta do elevador abriu. Liguei novamente para aquele babaca e caiu na caixa de mensagens. Saí no décimo terceiro andar e corri pelo corredor até o apartamento duzentos e setenta e sete. Toquei a campainha e ninguém atendeu. Apertei algumas vezes até que ela apareceu. — Bonjour, Alexander! — O rosto de Josephiné estava vermelho, provavelmente ela passou a noite com dor. — Encontrou o Marcello? — Não! O celular dele está desligado. Acompanhei ela até a sala, a casa estava bagunçada. Havia quadros e fotos rasgadas, além dos cacos de vidro de u
Naquele dia, fiz o mesmo percurso de volta para Lyon. As ruas e avenidas de Paris estavam cheias de folhas. No final de setembro, o outono tornava o clima agradável. Lutei contra o sono enquanto descortinava a paisagem pela janela do meu carro. Anoitecia quando cheguei em Lyon, estava exausto. Levei mais vinte minutos até, enfim, estar de volta ao meu apartamento. Tirei a roupa que usava na noite anterior, entrei embaixo da água quente. Abaixei a cabeça enquanto a água caía na minha nuca e descia pelo meu corpo. Nunca tive um dia tão agitado como aquele. Enxuguei todo o meu corpo com a toalha que estava pendurada no vidro do box. Estava tão cansado que não procurei outra roupa, deitei na cama do jeito que cheguei ao mundo. Ativei o alarme e encostei no travesseiro, virei a cabeça para o lado direito. Nicole costumava dormir de roupa e detestava quando eu dormia nu. O vento frio batia contra o meu rosto enquanto eu corria, pouco antes do sol nascer, pela rua de Sainte-Foy-lès-Lyon. Comprei uma casa nesse ambiente rural um ano após a morte do meu amigo. No dia em que visitei Josephiné no hospital, ela me disse que entregaria Marcelly para adoção. Prometi ao Marcello que cuidaria da menina e não permitiria que ela fizesse isso, então contei a Josephiné sobre a promessa e fiz a proposta: eu estava disposto a assumir a paternidade da Marcelly. Ela me xingou e me expulsou. Foram quase onze meses até que eu a convenci de que cuidaria da nenê. Não sei o que deu nela, mas, certa noite, ela me ligou e aceitou a proposta. Moramoss juntos há quase três anos. Não nego que trepei com ela algumas vezes. Não sou muito fã desse lance de BDSM e nunca me submeti a esses fetiches loucos que ela praticava com Marcello; no entantSinto a sua falta!
Na manhã seguinte, fiz de tudo para não encontrar com Isabella durante o plantão, eu torcia para que ela não contasse aos nossos colegas de trabalho sobre o nosso encontro na noite anterior. Tomei um analgésico para aliviar a dor de cabeça causada pela ressaca e sentei-me na sala de descanso durante o intervalo. Ali avaliei a biópsia estereotáxica de um dos meus pacientes antes de conversar com um de seus familiares. As mensagens de Josephiné não paravam de chegar no meu telefone, olhei para a tela do meu blackberry que vibrava, encostei a minha cabeça no estofado marrom da poltrona reclinável e atendi: — O que você quer Josephiné? — Quero que você venha para casa hoje, precisamos conversar! — Você quer que eu volt
Em uma das salas de cirurgia, realizei todo o procedimento depois que o paciente recebeu a anestesia geral. Monsieur François, pai de Alícia, tinha 57 anos. Poucas semanas antes do meu encontro com Alícia, eu recebi imagens mais detalhadas da tomografia, os cordomas se expandiram na base do crânio do meu paciente e invadiam os nervos e tecidos. Naquela manhã, eu me reuni com uma equipe cirúrgica multidisciplinar que tinha uma vasta experiência com aquele tipo de câncer. Assim que o paciente recebeu a anestesia, nós fizemos os procedimentos necessários para ter acesso à localização da parte do osso da base do crânio e do cérebro. Eu ressequei os cordomas e fiz o possível para remover os tumores sem causar dano ao tecido. Depois de cinco horas naquela sala, com médicos altamente qualificados, eu ergui a cabeça e a enfermeira enxugou o suor que brotava na
Naquela tarde, eu mordi um pedaço do croissant, ergui os olhos e vislumbrei as pessoas que passavam pela rua. Alguns correram à procura de abrigo para escapar da chuva enquanto os outros transeuntes caminhavam embaixo de seus guarda-chuvas e, ao mesmo tempo, desviavam das pequenas poças de água. "Por que a Nicole atendeu o telefone da minha avó? " Minha mente estava inquieta. Arrumei os óculos, fitei o meu blackberry que vibrava em cima da mesa e bebi um gole do cappuccino. Não discutiria por telefone com Josephiné. Alguns minutos depois, eu liguei para a minha avó novamente. A voz dela parecia mais cansada, se eu estivesse lá, não permitiria que ela se entregasse a doença dessa forma. Minha avó Sophie era tudo na minha vida, ela sempre me levava para passear, lia histórias antes de eu dormir e sempre fazia as min
Depois da viagem cansativa, eu finalmente cheguei a cidade do Rio de Janeiro. Dirigia pela Avenida Atlântica e, ao mesmo tempo, apreciava a bela paisagem. Pessoas corriam e se exercitavam pela orla e as praias estavam lotadas. Finalmente, eu estava na cidade maravilhosa onde nasci e cresci. O veículo que aluguei no aeroporto se aproximou do enorme portão da casa de meus pais, na Zona Sul. O guarda da cabine estranhou a cor do automóvel, mas me reconheceu assim que abaixei o vidro. ― Oh, doutor Bittencourt! ― Ele saiu da cabine e me cumprimentou. ― É tão bom rever o senhor! ― Também estou feliz por revê-lo, Carlos! ― Sorri pela educação. ― Como estão as meninas? ― A minha filha mais velha está cursando direito e a mais nova passou na prova para sarge
Nicole colocou o pequeno garoto no chão e pediu para que o filho não fizesse bagunça. Detive meus olhos no menino e reparei no jeito daquela criança. Ele parecia bem inteligente, carregava uma revista em quadrinhos nas mãos. Ajeitei a minha postura assim que Nicole me encarou. ― Oi, Alexander! Estou surpresa em te ver por aqui! Franzi o cenho e estiquei o braço, Nicole recuou como um coelho assustado, mas depois se aproximou e apertou a minha mão. ― Estou tão surpreso quanto você! Contive a vontade de dizer tudo o que estava preso na minha garganta e segurei a mão macia e delicada com cuidado para não machucá-la. Aquele olhar constrangido na feição pétrea me deixou confuso, a mão dela suava. Mesmo que ela disfarçasse, parecia nervosa.