Enquanto eu dirigia, Joanna tentava puxar assunto e, por mais que eu me esforçasse para manter a conversa, a minha fisionomia sombria não ajudava muito. Só estava levando aquela mulher para dentro da minha casa porque Nicole insistiu, porém, eu ainda não confiava em Joanna. Nunca esqueci da forma hostil com a qual ela tratou a sobrinha quando voltamos de viagem.
― Escolheram o nome? — Joanna perguntou.
― Julliane! ― respondi, evitei olhar para ela. ― Nicky costuma chamar ela de Jullie.
Arrumei o retrovisor e olhei para o meu filho que sorria enquanto contemplava a imensidão do mar. Rodolpho olhou para o boneco do super-homem e começou a agitar no ar como se estivesse voando.
Depois de quase meia hora dirigindo, fiz uma curva próximo à árvore com flores em
Na manhã seguinte, Nicole terminava de arrumar e conversar com os gêmeos. Pediu para Alex cuidar do irmão no primeiro dia de aula na escola. — Estão prontos? — Olhei para os gêmeos que disputavam a atenção da mãe. — Sim, eles estão! — Nicole abriu um sorriso animado. Colocou a mochila nas costas de Rodolpho e ajeitou um dos botões da blusa de Alex, Nunca vi a minha esposa tão feliz quanto naquele dia. Eu ainda estava em pé na porta do quarto quando os gêmeos passaram por mim e correram para a escada. — Não corram! — Ela os advertiu. — Cuidado, para não se machucarem. Nicole caminhava em passos lentos com a mão nas costas, faltava pouco para nossa filha chegar. Era mais de sete horas da noite quando entrei em nosso quarto e a encontrei se arrumando na frente do espelho na porta de correr do nosso closet. A luz branda do lustre dourado iluminava o rosto com pouca maquiagem e aquele vestido estava um pouco ousado. Franzi o cenho enquanto olhava para o homem com olhar tenebroso por trás dos óculos de armação quadrada. Não disfarcei a minha insatisfação por ver a Joanna perambulando pelo nosso quarto. Nicole colocou os brincos de diamantes que dei de presente para ela no último aniversário e, então, calçou as sandálias de couro prata que Joana ajudou a colocar. Observei a mulher confiante e satisfeita com a imagem refletida, ela sorriu para mim. ― Nicky, precisa de mais alguma coisa? — indagou a voz estridente de Joanna. Você não pode sair desse jeito!
Durante o evento, um jazz suave tocava ao fundo. Fui obrigado a deixar Nicole por alguns minutos e acompanhei o meu pai e o Henry. Conversamos com alguns convidados ilustres que estavam dispostos a doar quantias consideráveis para o projeto. Ajeitei os meus óculos enquanto Henry falava sobre a história do prosecco, virei a cabeça para o lado e notei que Nicole não estava mais na mesa. Lanna vinha em minha direção com um olhar preocupado e, no mesmo instante, eu me afastei e fui ao encontro dela. — O que houve? — perguntei. — A Nicky! — Lanna fez uma pausa para respirar. — Ela está no banheiro. — Está sentindo dor? — Segui Lanna pelos corredores. — Não! — respondeu de imediato. — Ela
Na minha carreira, participei de vários eventos e fiz todo o tipo de discurso para impressionar meus colegas de trabalho e até mesmo os sócios da minha empresa. Falar sobre o Projeto Médicos do Bem enchia meu coração de alegria. Nicole sempre soube o quanto eu queria participar de um projeto beneficente. Fiz uma pausa, ergui a minha cabeça e foquei na pessoa mais importante da minha vida, a única mulher que sempre me apoiou e me deu forças. Nicole tinha um brilho que era só dela, tão especial e só minha! Ela parecia mais relaxada e mal se importava com o olhar condenatório de Isabella. ― Quero agradecer a todas as empresas e aos meus sócios que me apoiaram nessa causa, um sonho que compartilhei com a minha esposa quando éramos jovens. Enfim, muito obrigado a todos que, de alguma forma, cooperaram com o projeto “Médicos do Bem”. Nicole chegava ao final da gestação e estava agoniada porque Henry e eu decidimos que ela não sairia sozinha de casa. Caso ela quisesse, deveria ir com o segurança que contratei para acompanhar ela e as crianças. Tivemos algumas divergências no começo, mas no final ela entendeu que toda essa proteção era para o bem dela e dos nossos filhos. Vários repórteres se aglomeravam na porta da nossa casa querendo saber mais da filha bastarda do famoso ortopedista, doutor Albuquerque. Conversei diversas vezes com Nicole sobre sairmos do país e morar na França, mas Nicole cismava que não queria afastar as crianças da nossa família. Por falar nisso, ainda me recordo do almoço que minha mãe teve a cara de pau de comparecer. Fiquei muito estressado naquele dia, disse tudo que estava preso na minha garganta e como eu estava magoado pelo jeito que ela tratava o Alex. Ao contO acidente
Não demorou muito até que realizei uma curva e entrei no estacionamento do hospital. Até hoje, me sinto culpado por deixá-la sozinha com Joanna. Corri para o elevador antes que a porta se fechasse. Levantei os meus óculos e limpei as lágrimas no canto dos meus olhos assim que o doutor Kim entrou. — Você está bem? Era óbvio que eu não estava! O que ele queria que eu dissesse? Fiquei feliz porque minha esposa daria à luz antes do tempo devido ao acidente. ― Eu pareço estar bem? — indaguei friamente. ― Não! É que… ― Não faça perguntas idiotas! ― vociferei. Saímos no andar da maternidade, fui até o consultório de Jenny em passadas largas enquanto David me acompanhava pelos
Ninguém conhecia os motivos que me mantiveram afastado de Nicole e, mesmo assim, me julgaram. Nunca fui santo, mas se todos soubessem o que vivi na França nos últimos cinco anos, entenderiam como sofri e não me condenariam daquela forma. Fazia algum tempo que Nicole e eu não viajávamos devido ao meu curso de medicina com especialização em neurocirurgia. No início de janeiro de 2010, seguimos para Balneário Camboriú, no Sul do Brasil. Nicole tinha 20 anos e já era maior de idade. Nada impediria o nosso casamento, nem mesmo aquela megera que ela chamava de tia. Joanna foi uma das minhas babás e cuidou de mim até a adolescência. Eu não gostava do jeito que ela tratava aquela menina de olhos tristes. Minha avó, Sophie, sabia que eu não tinha muitos amigos e o quanto eu gostava de brincar com Nicole, então ela permiti
O alarme do meu celular tocou pela terceira vez, estiquei o meu braço até a cabeceira ao lado da minha cama e desativei. Naquela manhã de verão, embora não estivesse tão quente como no Brasil, às 7 horas, a temperatura girava em torno de 20 graus. Peguei os óculos e olhei a tela do meu blackberry. Tinha quatro meses que iniciei a residência no Hospital Saint-Mary em Lyon e, até aquele momento, Nicky não respondia às minhas mensagens ou retornava as minhas ligações. Joguei o celular na cama e puxei o cobertor. Meu pau estava duro e latejava, isso acontecia sempre que eu sonhava com ela. Era impossível esquecer de como ela estava apertada e quente na primeira vez em que fizemos amor. Levantei da cama e fui direto para o banheiro, não tive outra alternativa, me aliviei embaixo da água morna que caía sobre as minhas