O vento frio batia contra o meu rosto enquanto eu corria, pouco antes do sol nascer, pela rua de Sainte-Foy-lès-Lyon. Comprei uma casa nesse ambiente rural um ano após a morte do meu amigo.
No dia em que visitei Josephiné no hospital, ela me disse que entregaria Marcelly para adoção. Prometi ao Marcello que cuidaria da menina e não permitiria que ela fizesse isso, então contei a Josephiné sobre a promessa e fiz a proposta: eu estava disposto a assumir a paternidade da Marcelly. Ela me xingou e me expulsou. Foram quase onze meses até que eu a convenci de que cuidaria da nenê.
Não sei o que deu nela, mas, certa noite, ela me ligou e aceitou a proposta. Moramoss juntos há quase três anos. Não nego que trepei com ela algumas vezes. Não sou muito fã desse lance de BDSM e nunca me submeti a esses fetiches loucos que ela praticava com Marcello; no entanto, nunca proibi ela de conhecer outras pessoas que curtiam esse tipo de dominação.
Tinha dias que ela tinha crises de ciúmes e falava sobre casamento e relacionamento sério, na maioria das vezes, nós brigávamos. Eu odiava quando ela gritava e jogava as coisas em mim.
Certa vez, minha avó nos visitou, fiquei atordoado quando soube que ela estava com câncer e já estava fazendo radioterapia. Na ocasião, ela usava um lenço para esconder a calvície causada pelo tratamento.
No começo, minha avó não gostou muito de Josephiné, porém, depois de algumas horas passeando pelas ruas de Paris, elas ficaram próximas, até demais para o meu gosto.
A coisa esquentou no jantar em que Josephiné disse para a minha avó que pretendíamos nos casar. Eu não sei de onde ela tirou isso, pois eu nunca a pedi em casamento. Elas discutiram acaloradamente, eu apenas me abstive do estresse. Naquela mesma noite, minha avó sentou ao meu lado na sala de estar assim que a Josephiné saiu.
— Você precisa voltar ao Brasil! — cochichou e olhou desconfiada para a porta da sala de refeições. — Tenho que ter uma conversa séria com você, mais longe dessa casa!
— Se é sobre a Marcelly, nem adianta vó! A Josephiné falou que ela vai ao Brasil conversar com o Henry.
— É sobre você e os negócios da nossa família… e essa história de casar com essa maluca!
— Não vou casar com ela, vó!
— Fala baixo! — murmurou ela.
Dois meses se passaram, eu ainda não sabia o que a minha avó queria conversar comigo, comprei as passagens de ida para o Rio de Janeiro, mas não tive coragem de avisar a Josephiné.
Parei perto do Château de la Bachasse e busquei o fôlego. Tomei um gole de água da minha garrafa, olhei a hora e verifiquei a data no relógio: hoje, Nicole e eu, faríamos cinco anos de casados. Ainda pensava nela sempre que fechava os meus olhos.
Fiz o mesmo trajeto e voltei para casa. Corri às pressas pelos três degraus que levavam para a varanda em frente à entrada principal. Olhei para a foto de Marcelly sobre a cômoda ao lado da poltrona, minha princesinha tinha cachos dourados e belos olhos de água-marinha. Ela foi à festa do pijama na casa da amiguinha e prometeu que me contaria tudo quando voltasse para casa. Minha filha é muito esperta!
Lancei os olhos para a luz na tela do meu blackberry, faltavam quinze minutos para às cinco da manhã. Me acomodei no estofado e verifiquei os aplicativos de mensagens. Procurei o antigo perfil de Nicole nas redes sociais, ela havia mudado a foto. A qualidade da imagem não era muito boa, mas admirei o sorriso dela e o carinho do menino de olhos fechados enquanto segurava o rosto dela e a beijava, só deu para ver parte do lado direito da criança, deveria ser o filho dela.
— Sinto sua falta! — digitei a mensagem privada, mas não enviei.
Salvei a imagem na memória do meu celular. Revirei o perfil dela, não havia atualizações recentes, notei que ela apagou a foto do nosso casamento. Talvez o marido dela fosse tão ciumento quanto eu.
— Perfeita! — Ampliei a foto e contemplei os olhos amendoados.
— Belle chienne!
— Que porra é essa? — Me assustei com a voz de Josephiné. A mulher parecia um fantasma parada atrás de mim. — Não repita mais isso, entendeu!?
— Você fodia gostoso com ela?
— Eu fazia amor com ela — retruquei. — Já com você...
— Faz mais de três semanas que não trepamos, chéri!
— Na última vez você chicoteou meu rosto enquanto eu estava distraído, não gosto disso!
— Por que você não faz o que eu quero?
Ela usava uma camisola branca de tecido transparente que revelava os mamilos rosados e o monte de Vênus.
— Se você quer trepar, então eu quero comer você de quatro com as suas mãos longe do meu corpo.
— Tu fais chier!
— Eu sou chato? Você fica brigando porque quer casar comigo.
— Amanhã encontrarei um cabron que curte dominação.
— Va te faire foutre, Josephiné!
Subi pelas escadas apressado, fui até o quarto no segundo andar e entrei no closet. Peguei as primeiras peças de roupas que vi pela frente, andei até a estante e peguei um livro de anatomia.
— Onde você vai, mon amour? — Ela parou na minha frente.
— Casse-toi! — Ajeitei os óculos.
Josephiné puxou o livro da minha mão, as fotos que eu tinha da Nicky e a confirmação da passagem do vôo para o Rio de Janeiro se espalharam pelo chão.
— Por que você fez isso? — Aumentei a voz.
— Ta gueule, enculé! — Ela abaixou e pegou uma das fotos. — É ela que você quer? — Rasgou a fotografia ao meio e me esbofeteou tão forte que os meus óculos caíram no chão.
— Você é louca! — Me aprumei diante dela.
Eu estava com muita raiva e então alarguei os passos até a saída, se eu ficasse mais um minuto naquele quarto, não sei do que eu seria capaz. Peguei as chaves do meu carro e fui direto para a garagem.
Naquela mesma manhã, tomei um banho no vestiário do hospital, já não suportava aquela situação, então decidi que colocaria um fim no relacionamento bizarro que eu vivia com Josephiné. Desliguei o chuveiro e me enxuguei, envolvi a toalha nos músculos pouco abaixo da minha cintura e fui até o armário. Abri a mochila e guardei as roupas suadas que usei durante a corrida.
— Bonjour, Alexander! — Isabella chegou perto.
— Bonjour! — respondi em tom calmo e gelado.
— Você chegou mais cedo hoje!
— Sim! — Coloquei a blusa.
Me virei e vi aquele olhar sedento, ela me engolia com os olhos e não disfarçava. Segui até um local mais reservado para colocar a calça e Isabella me acompanhou.
— Excusez-moi! — Arrumei as hastes prateadas dos meus óculos.
Entrei em uma das cabines e fechei a porta, vesti a cueca e a calça, coloquei as meias e calcei os sapatos. Ao sair, vi que ela não estava mais lá.
Uma miríade de emoções me perturbavam, estava muito cansado, faltavam alguns dias para concluir a minha residência no Saint-Mary. Abri a caixa de mensagens e logo verifiquei o e-mail que recebi do meu pai. Meu peito se contraiu assim que eu li a notícia, minha avó estava internada na Unidade de Terapia Intensiva do hospital São Miguel. Estava decidido, eu retornaria ao Brasil no fim de semana.
Nos últimos cinco anos de residência, adquiri uma vasta experiência em neurocirurgia. Eu trilhava o meu próprio caminho, me esforçava no trabalho e nos estudos. Encarei aquele dia como todos os outros. Durante o intervalo do almoço, fui ao hotel mais próximo e reservei por alguns dias. No fim do plantão, eu precisava de paz para avaliar o caso do meu paciente com tumor na base do crânio. Aquela seria a última cirurgia que eu chefiaria no hospital. Guardei as anotações na gaveta e me acomodei no sofá curvo da sala de descanso. Suspirei pesado quando olhei a foto da Nicky pela quinta vez naquele mesmo dia.
— É a Nicky? — Isabella sentou ao meu lado.
— Sim! — Guardei o blackberry.
— Aquele menino era o filho dela?
— Não sei, deve ser! — Demonstrei indiferença.
— Você não parece bem? Podemos ir até um pub e conversar um pouco sobre ela, se você quiser.
Isabella parecia a companheira perfeita para beber um pouco, e eu pecisava de uma distração para esquecer da vida.
— Vamos!
O Castle Pub ficava perto da Pont de La Feuille sob o Rio Saône. O estabelecimento tinha uma fachada em tom verde folha e um letreiro que indicava o lugar. Estive lá com o Marcello algumas vezes, neste mesmo local, ele conheceu a louca da Josephiné.
Nos sentamos no sofá aconchegante com um encosto vermelho em capitonê, próximo de uma porta dupla de madeira branca. A parede vermelha atrás de nós exibia alguns quadros com mensagens e reflexões bem interessantes.
Fui até o balcão e pedi uma garrafa do bourbon, Isabella adorava aquele uísque americano. Fazia algum tempo que eu não bebia e eu precisava relaxar a mente.
Isabella levou o copo à boca e degustou, embora ela apreciasse, eu ainda preferia um destilado escocês, contudo, eu virei o primeiro copo. O líquido desceu queimando pela minha garganta.
— Hoje eu faria cinco anos de casados com a Nicky… — contei depois que sorvi o gole do terceiro copo. — Eu a amo, mas tem dias que sinto muita raiva pelo que ela fez comigo.
Senti o calor da mão esguia de Isabella acariciando os pêlos do meu braço esquerdo apoiado na mesa.
— Marcello à viu se agarrando com outro homem! — comentei.
— Você tem que parar de viver no passado!
Os dedos dela acariciavam o meu rosto. Nos últimos três anos com Josephiné, ela nunca demonstrou afeto, ela só pensava em foder ou brigar. Tomei o restante da bebida.
— Tenho vontade de ir para o Rio de Janeiro só para falar com a Nicole, eu preciso desabafar tudo que está preso na minha garganta.
— Não perca o seu tempo, Alexander! Ela não merece um homem tão bom como você.
Isabella encheu o meu copo e esvaziou a garrafa, arrumei os óculos e fitei a janela, anoiteceu e eu nem mesmo percebi. Eram quase sete horas da noite quando levantei e tropecei na mesa redonda de madeira.
— Onde você vai? — Ela me segurou.
— Pegar outra bebida!
— Não, você está bêbado, vou te levar para o hotel!
Depois que paguei a conta com cartão de débito, entreguei as chaves do meu carro para ela, no estado em que eu estava, não tinha condições de dirigir. Entreguei a Isabella o cartão do hotel Campanile no Centro de Lyon.
— Espere aqui! — Ela saiu do carro.
A visão estava um pouco embaçada, limpei a lente dos óculos com a minha blusa, coloquei no rosto e forcei a vista. Isabella saiu da farmácia com um embrulho nas mãos. Ela entrou no veículo e me acompanhou até o meu quarto, recordei do que aconteceu da última vez que estive com Claire e da forma como ela se frustrou.
— Isabella, obrigada! — Parei na porta.
— Espera, eu vou te ajudar!
— Sei o que você quer — solucei.
— Eu quero você, Alexander!
Isabella pegou a chave da minha mão, destrancou a porta e girou a maçaneta dourada.
— Entra, porra! — Coloquei a mão nas costas dela e a empurrei. — Vou te foder!
Tirei a minha blusa e a carteira do bolso da calça jeans, ela me beijava com desespero, meu corpo reagiu ao jeito que ela me tocava. Meu pau estava ereto. Agarrei aqueles cabelos sedosos enquanto ela me chupava, puxei a cabeça dela e entrei mais um pouco naqueles lábios finos que espremiam a ponta do meu pênis.
— Era isso o que você queria? — Movi o meu quadril contra aquela boca gostosa. — Então chupa!
Gemi e joguei a cabeça para trás. Cerrei os olhos e lá estava ela nos meus pensamentos. Meu precioso carma. Minha doce Nicole, como eu amava aquela mulher!
— Minha boca está dormente! — A voz anasalada de Isabella me tirou do transe. Não sei em que momento ela tirou a roupa, mas ela já estava nua. — Comprei camisinha! — disse ela.
Isabella tirou o pacote de dentro da sacola pequena de papel e me entregou. Eram cinco anos encapando o meu pau com aquela porra de plástico, odeio isso, mas todo cuidado é pouco!
— Coloca a mão na parede! — ordenei enquanto desenrolava a camisinha pelo meu pau.
— Por quê?
— Faz o que mandei, porra!
Por um instante, me questionei sobre o que eu estava fazendo, minha cabeça de baixo, às vezes, afetava a minha razão.
— Afasta essa perna e se inclina um pouco!
Dobrei as costas dela, segurei firme em sua cintura, entrei de uma vez e ela gemeu. Segurei a cabeça dela contra a parede enquanto eu investia incansavelmente, entrando e saindo com mais força. Emaranhei os cabelos em minha mão e puxei enquanto mergulhava nas partes úmidas, a bunda de Isabella balançava contra a minha pelve. Me afastei um pouco, saí e lancei a cabeça para trás quando afundei dentro dela de novo.
Adorava arremeter na Nicky daquele jeito, ela era um pouco mais baixa e a ponta do meu membro parecia tocar no útero dela. Se eu ainda estivesse com a Nicole, faria amor em todas as posições possíveis e a beijaria a noite inteira só para comemorar o nosso aniversário de casamento. Eu a puxava e investia contra o seu quadril enquanto urrava de prazer.
— Que delícia, Nicky! — gemi entre dentes.
Meu pênis não suportava o frenesi, fiz um movimento em espiral, saí e escorreguei até o fundo. Minha garganta emitiu gemidos roucos quando cheguei ao orgasmo. Saí de dentro dela e abri os meus olhos. Verifiquei a camisinha e arranquei aquela merda.
— Você precisava chamar o nome dela? — O rosto de Isabella estava avermelhado. — Responda!
Cambaleei até o banheiro e joguei aquele plástico cheio de líquido viscoso no lixo.
— Eu te avisei, porra! — Alterei a voz.
— Você tem que viver o presente, a Nicole não presta para você!
— Cala boca, Isabella! — Tateei as paredes até o quarto e me sentei na cama.
— Você imprensou meu rosto contra aquela parede para me comer enquanto pensava na Nicole?
Minha cabeça doía, eu queria fugir das lamúrias de Josephiné e aquela voz irritante não parava de se lamentar no meu ouvido. Isabella me provocou durante cinco anos e quando fiz o que ela queria, reclamou.
— Chamei o nome dela? — Ri e me joguei na cama.
— Chamou!
— É porque ela gostava de fazer amor em pé.
Se eu contasse sobre todas as posições em que fizemos durante o primeiro mês de casados, daria um livro erótico delicioso. Nas primeiras semanas, Nicole era inexperiente, mas, depois de alguns dias, ela subia e montava sobre mim com vigor.
— Vocês fizeram sexo anal?
— Claro, porra! — Ergui a minha cabeça e olhei para a mulher que franzia o cenho. — Ela é minha! Descobri o que era sexo com ela.
Fui o mais gentil e muito cuidadoso quando penetrei Nicole por trás. Ela reclamou um pouco da dor, mas eu a deitei de lado e a beijei, excitando-a de todas as formas possíveis até alcançar o orgasmo.
— Você tinha que estragar tudo! — resmungou.
Isabella colocou o vestido sobre os ombros. Ajeitei a minha cabeça no travesseiro e pensei na possibilidade de reencontrar a Nicole. Seria ótimo se relembrássemos os velhos tempos, sorri com o pensamento estúpido.
— Por acaso eu tenho cara de palhaça? Vou embora!
— Tchau, Isabella!
— Você me usou, Alexander!
— Não! Você queria e eu fodi você!
— Au revoir, Alexander!
Ela desapareceu da minha vista e eu suspirei aliviado, precisava de paz. Andei com dificuldade até a porta para trancá-la. Aquela semana foi agitada, eu só queria relaxar na cama e descansar.
Na manhã seguinte, fiz de tudo para não encontrar com Isabella durante o plantão, eu torcia para que ela não contasse aos nossos colegas de trabalho sobre o nosso encontro na noite anterior. Tomei um analgésico para aliviar a dor de cabeça causada pela ressaca e sentei-me na sala de descanso durante o intervalo. Ali avaliei a biópsia estereotáxica de um dos meus pacientes antes de conversar com um de seus familiares. As mensagens de Josephiné não paravam de chegar no meu telefone, olhei para a tela do meu blackberry que vibrava, encostei a minha cabeça no estofado marrom da poltrona reclinável e atendi: — O que você quer Josephiné? — Quero que você venha para casa hoje, precisamos conversar! — Você quer que eu volt
Em uma das salas de cirurgia, realizei todo o procedimento depois que o paciente recebeu a anestesia geral. Monsieur François, pai de Alícia, tinha 57 anos. Poucas semanas antes do meu encontro com Alícia, eu recebi imagens mais detalhadas da tomografia, os cordomas se expandiram na base do crânio do meu paciente e invadiam os nervos e tecidos. Naquela manhã, eu me reuni com uma equipe cirúrgica multidisciplinar que tinha uma vasta experiência com aquele tipo de câncer. Assim que o paciente recebeu a anestesia, nós fizemos os procedimentos necessários para ter acesso à localização da parte do osso da base do crânio e do cérebro. Eu ressequei os cordomas e fiz o possível para remover os tumores sem causar dano ao tecido. Depois de cinco horas naquela sala, com médicos altamente qualificados, eu ergui a cabeça e a enfermeira enxugou o suor que brotava na
Naquela tarde, eu mordi um pedaço do croissant, ergui os olhos e vislumbrei as pessoas que passavam pela rua. Alguns correram à procura de abrigo para escapar da chuva enquanto os outros transeuntes caminhavam embaixo de seus guarda-chuvas e, ao mesmo tempo, desviavam das pequenas poças de água. "Por que a Nicole atendeu o telefone da minha avó? " Minha mente estava inquieta. Arrumei os óculos, fitei o meu blackberry que vibrava em cima da mesa e bebi um gole do cappuccino. Não discutiria por telefone com Josephiné. Alguns minutos depois, eu liguei para a minha avó novamente. A voz dela parecia mais cansada, se eu estivesse lá, não permitiria que ela se entregasse a doença dessa forma. Minha avó Sophie era tudo na minha vida, ela sempre me levava para passear, lia histórias antes de eu dormir e sempre fazia as min
Depois da viagem cansativa, eu finalmente cheguei a cidade do Rio de Janeiro. Dirigia pela Avenida Atlântica e, ao mesmo tempo, apreciava a bela paisagem. Pessoas corriam e se exercitavam pela orla e as praias estavam lotadas. Finalmente, eu estava na cidade maravilhosa onde nasci e cresci. O veículo que aluguei no aeroporto se aproximou do enorme portão da casa de meus pais, na Zona Sul. O guarda da cabine estranhou a cor do automóvel, mas me reconheceu assim que abaixei o vidro. ― Oh, doutor Bittencourt! ― Ele saiu da cabine e me cumprimentou. ― É tão bom rever o senhor! ― Também estou feliz por revê-lo, Carlos! ― Sorri pela educação. ― Como estão as meninas? ― A minha filha mais velha está cursando direito e a mais nova passou na prova para sarge
Nicole colocou o pequeno garoto no chão e pediu para que o filho não fizesse bagunça. Detive meus olhos no menino e reparei no jeito daquela criança. Ele parecia bem inteligente, carregava uma revista em quadrinhos nas mãos. Ajeitei a minha postura assim que Nicole me encarou. ― Oi, Alexander! Estou surpresa em te ver por aqui! Franzi o cenho e estiquei o braço, Nicole recuou como um coelho assustado, mas depois se aproximou e apertou a minha mão. ― Estou tão surpreso quanto você! Contive a vontade de dizer tudo o que estava preso na minha garganta e segurei a mão macia e delicada com cuidado para não machucá-la. Aquele olhar constrangido na feição pétrea me deixou confuso, a mão dela suava. Mesmo que ela disfarçasse, parecia nervosa.
Depois que recebi a notícia da morte da minha avó, procurei por Nicole em todos os cantos do hospital e não a encontrei. Peguei o número do telefone dela com o meu pai. Liguei inúmeras vezes durante o dia, mas ela não atendeu. "Que merda!" Pela madrugada, tomei o meu segundo banho, tinha esquecido o quanto o verão do Rio de Janeiro poderia ser quente. Deitei na cama, sem roupa, ajeitei o travesseiro e afundei a cabeça. Pensei na face avermelhada e no jeito como ela se encolheu quando tomei satisfações e fiz cobranças sobre o nosso passado. A mão dela tremia e suava quando segurei, devia ter verificado o pulso. "Será que ela ainda me ama? " Eram quase 2 da manhã quando olhei o número da Nicky na tela brilhante do meu blackberry.
Durante o velório, permaneci ao lado de Nicole, que estava isolada num canto da sala. Meu filho adormeceu no meu colo, não queria me soltar e confesso que eu também não queria largá-lo. Recebi as condolências dos amigos e familiares que compareceram na despedida. Minha avó era uma pessoa querida por todos. Logo depois que o meu pai e doutor Albuquerque fizeram um breve discurso, um amigo, católico, minha avó encerrou as homenagens. Jenny e uma bela jovem com traços hispânicos se aproximaram da Nicky. Abraçaram-na e logo depois, ambas me cumprimentaram com olhos marejados. — Meus sentimentos, meu amigo — Jenny me deu os pêsames. — Obrigada! — Minha voz soou baixa e rouca. Ela olhou para a moça que ainda falava com a
Ainda não esqueci do tapa que Joanna deu na pele macia da minha mulher há mais de cinco anos. Será que Joanna empurrou Nicky da escada? Não gosto do jeito que Nicky defendia a tia, aquela mulher a maltratava e sempre negou o carinho que Nicole precisava." Meu sangue fervia com os meus pensamentos, eu ingeri outro gole do líquido rubi e olhei na direção de Nicole. ― Eu vou ajudar o Alex a escovar os dentes. ― Nicky ajeitou o cabelo e levantou. ― Com licença! Vem filho! — Fugiu como um coelho assustado, ela detestava confrontos. Jenny voltou com outra garrafa de sauvignon blanc. Esbarrou na cadeira duas vezes antes de sentar e Lana a auxiliou. Pegou a garrafa, encheu minha taça e em seguida, ofereceu para a Lana, mas ela rejeitou. ― O que a tia dela fez enquanto eu estive for