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3-NÃO RECONHEÇI VOCÊ

***Felipe Sossmier***

— Ela fez o quê? — grito ao telefone com meu assistente.

Enviei Liam para buscar Liara no aeroporto e resolver alguns assuntos de um dos nossos restaurantes. Agora ele liga avisando que minha filha está sendo levada ao hospital por mais um ato irresponsável da mãe dela.

Saio da minha sala ainda com Liam na linha, aviso a secretária que não volto mais hoje e dirijo que nem um louco para onde minha filha está.

No estacionamento do hospital eu bato a porta do carro, enquanto penso no tamanho da besteira que minha namorada fez.

— Ah, Britney, desta vez eu mato você.

Da entrada da emergência avisto Liam conversando com uma mulher que não conheço. Ele me vê e vem ao meu encontro.

— Onde ela está? Cadê a minha filha?

Transtornado, tento entrar pelo corredor onde vejo alguns pacientes sendo encaminhados, Liam bloqueia minha passagem. A mulher se põe ao lado dele, seus olhos brilham, como se estivessem lacrimejando, mas não dou atenção, não sei quem ela é, ou porque está aqui, apenas a ignoro e continuo tentando passar pelos dois.

— Calma, cara. — Liam pede.

— Calma o caralho, quero ver a minha filha.

Alguns seguranças se aproximam, em prontidão.

— Os médicos devem vir falar com você a qualquer momento, eles estão fazendo alguns procedimentos, Chloe está sendo atendida e vai ficar bem..

— E onde está a Britney?

— Em casa, talvez. — ele responde sem muita convicção.

Dou um soco na parede ao lado dele.

— Inferno!

A amiga de Liam arregala os olhos, me encara apavorada e se encolhe atrás do meu assistente, não ligo, não vou me acalmar enquanto não ver minha filha.

Num lampejo de lucidez, lembro da babá que chegou hoje do Brasil.

— E Liara? Você disse que ela veio de táxi com a Chloe, onde ela está? — pergunto, procurando ao redor.

Liam fita-me com confusão.

— Eu estou bem aqui. — a moça sai de trás dele receosa, respondendo em português.

Me espanto ao vê-la tão diferente do que eu me lembrava

— Liara? Eu não te reconheci, garota.

— É, acho que cresci um pouco desde que nos vimos pela última vez. — Ela sorri tímida.

Nossa conversa é interrompida quando um médico desvia nossa atenção.

— Familiares de Chloe Sossmeier?

— Sim, sou o pai dela, Felipe Sossmeier.

— Senhor Felipe, sou o doutor John Reuters, pediatra da sua filha no momento. O quadro dela é estável, ficará em observação, no mínimo, pelas próximas 24 horas.

— Mas ela está consciente? O que ela teve? Não me esconda nada, doutor.

— Chloe sofreu uma intoxicação. Os exames apontaram que o organismo dela absorveu uma quantidade considerável de alguma substância calmante. Algo muito acima do que o seu tamanho tem capacidade para suportar. Fizemos uma lavagem gástrica e agora ela está recebendo soro.

— Mas o senhor garante que ela vai ficar bem?

— As próximas horas serão decisivas.

Sou tomado por um desespero sem precedentes, mas o médico consegue minha atenção outra vez.

— Sua esposa foi muito eficiente. — ele afirma e eu olho para Liara, que escuta a tudo tensa ao lado de Liam.

— Eu não...

— Ela não é a minha esposa. — falamos ao mesmo tempo, e o médico sorri sem graça.

— Me desculpe. De qualquer forma, se demorasse um pouco mais para trazê-la, poderia causar danos permanentes de ordem neurológica, cardíaca ou até mesmo levá-la a óbito.

Meu coração quase para e a boca fica seca.

— M*****a seja Britney.

Não sei se abraço Liara ou se saio correndo daqui e mato Britney com minhas próprias mãos. A sorte dela é que ela não está aqui, pois estou enxergando tudo vermelho na minha frente nesse momento.

Liam põe a mão no meu ombro em sinal de apoio. Respiro fundo algumas vezes buscando o equilíbrio e a calma que a situação exige.

— Eu posso ver minha pequena agora?

— Manteremos ela em uma unidade de tratamento intensivo para monitorarmos constantemente nas próximas horas, mas vou liberar sua entrada por alguns minutos.

Sigo o médico pelo corredor frio, o cheiro característico de hospitais me causa náuseas. Penso na sorte que foi Liara ter chegado a tempo, pois mais um pouco minha pequena não teria nenhuma chance.

Meu telefone toca e vejo a foto de Britney iluminando a tela, recuso a chamada e ponho o aparelho em modo silencioso.

Ver minha princesinha conectada a todos esses fios e aparelhos me causa um grande mal-estar, mas aguento firme. A amo demais, nada se compara ao tamanho do meu amor por Chloe, ela é o meu coração batendo fora do peito.

Quando o tempo com ela acaba, o médico recomenda que vá para casa descansar. Volto para a recepção, onde encontro Liara e Liam ansiosos por notícias.

— Então, como ela está? — Liara é a primeira a perguntar.

Enxergo em seus olhos uma preocupação genuína e isso me deixa um pouco aliviado. Saber que terei alguém de confiança, que realmente se importa com minha filha, me permitirá sair para trabalhar com mais tranquilidade quando ela voltar para casa.

Faço sinal para eles me seguirem e caminhamos juntos para fora do hospital.

 

— Ela vai ficar em observação, não podemos ficar com ela hoje. Vamos para casa e amanhã cedo eu volto.

Ao pisarmos no estacionamento, somos surpreendidos pela chegada abrupta de Britney.

— Onde está a minha filha? — grita, se dirigindo a mim logo que sai do carro — E por que não atende esse maldito telefone?

Prevendo o que estou prestes a fazer, Liam se coloca entre nós.

— Calma, Britney. Voltem para o carro, vocês conversam em casa, em particular.

— Quero ver minha filha, vocês não tinham o direito de trazer ela para o hospital e não me avisar. — Britney fala aos berros e não demora nada para que flashes comecem a surgir de todos os lados.

Por ser uma modelo famosa, minha namorada sempre tem um ou outro paparazzi a seguindo, o que me incomoda às vezes. Sou um cara que, apesar de ser um empresário bastante conhecido, prefiro manter a vida pessoal fora dos holofotes, principalmente no que diz respeito à minha filha.

Britney aproveita a exposição para posar de mãe zelosa diante das câmeras.

— Me solta Liam, quero ver a minha filha, sou mãe, tenho direitos.

Essa encenação dela diante das câmeras só aumenta minha irritação

— Vou colocar você atrás das grades, sua irresponsável.

Caminho cego de raiva na direção dela e só paro quando uma mão pequena e quente segura firma a minha. Olho para o lado e vejo Liara com um olhar suplicante

— Não faça isso, Felipe. Você vai se arrepender depois. Por favor, pela Chloe. — ela insiste.

A menção à minha filha me desarma e olhar terno de Liara me hipnotiza de

tal forma que me faz recuperar um pouco de racionalidade.

— Ok. Você tem razão, minha filha não merece isso.

Viro as costas para todo o circo armado em torno da minha namorada, entro no meu carro, fecho os olhos e repouso a cabeça no encosto do banco do motorista. Minha vontade é gritar ou socar alguma coisa para descarregar essa raiva que está me consumindo.

Liara abre a porta no lado do passageiro da frente e senta-se ao meu lado.

— Vocês dois estão muito nervosos agora. Liam conseguiu acalmar Britney e vai levá-la para casa.

Ouço a voz suave e sinto a mão delicada tocar meu ombro num gesto de conforto. Viro-me para olhar para ela, já me sentindo menos tenso que antes.

— Me desculpa por isso, Liara. Você chegou, eu nem consegui te dar atenção e já teve que passar por uma situação lamentável como essa.

— Não se preocupe comigo, o mais importante é que Chloe vai ficar bem. Esfria a cabeça e conversa com sua esposa com calma, não acredito que ela tenha feito por mal.

Observo a mulher ao meu lado, a última vez que a vi, Liara ainda era uma menina franzina, cheia de espinhas na cara e usava óculos. Agora é uma adulta, tão bonita quanto sensata.

— Mais uma vez você tem razão, vamos para casa.

Corto as ruas da cidade devagar, aproveito esse tempo para acalmar os nervos antes da conversa que terei com Britney.

Cerca de quinze minutos depois estaciono na garagem do prédio e logo em seguida estamos na cobertura.

Encontro minha namorada sozinha, encolhida em um canto do sofá. Seu rosto inchado denuncia que esteve chorando bastante.

— Liara, você pode nos dar licença, por favor. Britney e eu precisamos conversar.

— Claro, com licença. — a moça se retira para o quarto.

Sento na outra extremidade do sofá e encaro o teto por alguns minutos sem saber por onde começar.  Não quero me precipitar, nem dizer nada que me arrependa depois, essa será uma conversa bastante decisiva para nossas vidas.

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