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4-ESSE HOMEM É MEU

****LIARA ALMEIDA****

Retiro-me para dar privacidade ao casal. Aproveito e tomo um banho relaxante.

Aterrissei em solo americano a menos de vinte e quatro horas, mas a sensação é de estou aqui há semanas.

Saio do banho e escuto gritos vindos da sala, logo em seguida barulho de vidro sendo estilhaçado. A discussão entre o casal está muito inflamada e preocupa-me a possibilidade de Felipe perder a cabeça e fazer besteira.

Como a minha mãe sempre fala: "Em briga de marido e mulher a gente não mete a colher".

Contudo, a curiosidade é mais forte do que eu, por isso abro a porta lentamente para não fazer barulho, caminho na ponta dos pés pelo corredor, e fico grudada na parede que nem lagartixa para que nenhum dos dois me veja.

— Para com isso, Britney, vai se machucar desse jeito. — Felipe pede e desvia de uma luminária que passa voado ao lado da cabeça dele e se espatifa contra a parede.

Meu amigo segura a mulher nos pulsos numa tentativa de frear sua histeria.

— Você é um desgraçado, Felipe. — ela se debate — Não me respeita, não me trata como sua esposa, nunca colocou uma aliança no meu dedo, não se importa com os meus sentimentos...

— Para, Britney. Não quero machucar você. — insiste Felipe — E não se faça de vítima.

— Pensei que te dando um filho isso mudaria, mas foi pior, você só se importa com aquela criança.

Britney esbraveja e chora copiosamente, como se ela fosse a vítima e não Chloe, que é apenas um bebê indefeso e está agora internada, sozinha naquele quarto frio de hospital.

De onde estou consigo ver o homem relaxar os ombros e falar num tom de derrota.

— Isso não é verdade, tenho tido toda a paciência do mundo. É você quem não aceita procurar ajuda profissional, essa sua rejeição à Chloe não é normal. E o que aconteceu hoje... não tem explicação, não se dá conta da gravidade do que fez? Poderia ter matado nossa filha.

— Foram apenas algumas gotinhas do calmante. Eu só queria que ela parasse de chorar, não pensei que faria tão mal. — ela cai de joelhos no chão e chora tapando o rosto com as mãos.

Não tenho certeza se a tristeza de Britney me convence, nem se ela está realmente arrependida, me parece que está mais preocupada em se justificar para salvar o relacionamento.

Minha mãe me ensinou a não julgar uma pessoa sem conhecer verdadeiramente sua história, mas essa daí tá difícil de engolir.

— Olha, Bri, depois de hoje eu não vejo mais futuro pra nós. Fique até arrumar um lugar pra ir, mas o nosso relacionamento acaba aqui.

— Não!

A mulher se abraça nas pernas dele, como se Felipe fosse o ar que ela precisa para viver.

— Para com isso. — ele adverte e tenta se livrar do agarre da mocreia.

— Você é um insensível, Lipe. Não consegue ver o quanto eu te amo? Você é o melhor marido que eu poderia ter.

Vejo meu chefe franzir o cenho. Ele responde num tom frio como um iceberg.

— Não sou seu marido e levante-se do chão. Se não tem amor pela própria filha, como posso acreditar no seu amor por mim?

Ela dilata o olhar.

— Eu amo a minha filha. Eu só... Só não sei lidar com ela... Mas eu posso... eu posso aprender, eu vou aprender, juro. Daqui pra frente vou me comportar, vou ser uma mãe melhor e uma esposa perfeita, prometo. Só não me deixa, por favor? De uma chance para mim, pra nós, pra nossa família... pela Chloe.

A demônica é ardilosa, usa o nome da filha que é o ponto fraco de Felipe.

Não ouço a resposta dele, mas pelo olhar perdido do meu chefe, suponho que está tentado a dar mais uma chance para a jararaca.

"Sinceramente, acho que Chloe não merece ter uma mãe como essa, no entanto, é a mãe que ela tem. Contudo, não é motivo para que Felipe fiquei preso a ela, mas não cabe a mim decidir."

Sendo assim, certa de que os dois estão mais calmos e não pretendem matar um ao outro, corro de volto pro quarto, fechando a porta devagar.

Ao deitar na cama macia, fecho os olhos e deixo-me embalar pela sensação gostosa de ser abraçada pelas cobertas quentinhas. No entanto, logo esse aconchego é substituído por uma mão pesada que me sacode, arrancando-me do sono profundo.

— Acorde, garota, preciso que faça um chá, estou com muita dor de cabeça.

A voz irritante de Britney atordoa meus pensamentos.

Sonolenta, sento-me na cama, esfrego os olhos e me deparo com a megera de cara inchada e olhos vermelhos em pé na minha frente.

— São quatro horas da manhã. — resmungo irritada.

— Não perguntei as horas. — retruca a azeda — E pouco me importa, está aqui para me servir. Ou prefere voltar pro buraco de onde saiu?

Imediatamente lembro da minha mãe e das ameaças que recebi, do perigo que ela corre caso eu não pague logo o dinheiro que peguei emprestado para pagar a cirurgia dela. Só por isso abaixo a cabeça e vou para a cozinha.

Esquento a água e preparo o único chá que encontro nos armários. Ponho tudo em uma bandeja e levo para a arrogante na sala.

— Deixe aí em cima. — ordena.

Largo a bandeja sobre a mesa de centro e me viro para voltar ao quarto, desejando aproveitar as poucas horas de sono que me restam.

— Para que o açúcar? — ela pergunta, fazendo-me voltar a olhar em sua direção.

— Ué, de onde eu vim ele serve para adoçar comidas e bebidas, aqui não serve pra isso não?

A resposta sarcástica pega Britney de surpresa, mas quando percebe a ironia, não tem tempo de reagir, pois Felipe surge na sala com cara de poucos amigos.

Ele está sem camisa, veste apenas uma calça de moletom que deixa à mostra o início do "V" do pecado.

— O que está acontecendo aqui? — ele questiona de modo rude.

Felipe, apesar de lindo, tem um jeito sério e um olhar glacial.

Paro por alguns segundo para observá-lo e isso me causa comichões.

Fico hipnotizada na figura do amor de infância que pensei ter superado e só volto à realidade quando a megera indomada se apressa em responder.

— Nada não, querido. A babá estava fazendo um chá para ela, acordei com dor de cabeça e ela me ofereceu uma xícara.

A cínica teve a desfaçatez de sorrir para mim.

Ele pende o pescoço para o lado e o seu olhar penetrante sobre mim, é como um ponto de interrogação, me pedindo a confirmação de que a mulher falou a verdade.

Limpo a garganta para me recompor após observar por tempo demais o marido alheio.

— É isso mesmo. — digo sem conseguir encará-lo nos olhos — Estava sem sono, vim tomar chá e a senhora Britney apareceu, não me custou nada fazer chá pra ela também.

Tenho vontade de socar a minha cara por ser conivente com a mentira da mocreia e, por outro lado, não quero ser pivô de uma nova briga entre o casal.

Quando a cínica continua a encenação de boa samaritana, contenho a vontade de revirar os olhos.

— Obrigada, babá, foi muita gentileza sua.

— Pare de chamá-la de babá, ela tem nome, é Liara. — Felipe a corrige.

A mulher retribui ao comentário do marido com um sorriso contido, mais falso que as bolsas da Louis Vitton da lojinha do bairro onde eu morava.

— Me desculpe, Liara. — seu tom é quase de deboche.

Não tenho certeza se Felipe percebeu, mas respondo com um sorriso tão cínico quanto o dela.

— Não tem problema algum, não me importo, eu sou mesmo a babá. Se não precisam mais de mim, vou voltar pro quarto. Com licença.

Felipe me devolve um sorriso e olhar cansado, mas sincero.

— À vontade, Liara. Durma e descanse. Não precisa se preocupar em ir ao hospital logo cedo, eu vou até lá ver como está a minha princesinha, você aproveita para descansar e eu aviso se for necessário que vá mais tarde.

— Sim, senhor. Boa noite!

Volto a deitar, porém, o sono não vem.

Levanto-me por volta das seis e meia, faço a higiene matinal e vou para a cozinha preparar o café.

Como ainda não sei o que os donos da casa gostam, pico frutas, faço ovos mexidos, torradas e suco de laranja. Sirvo a mesa na sala de jantar e tomo o meu café na cozinha.

Quando termino, vou para a pia e começo a lavar louça que sujei. Logo ouço a voz enjoada de Britney.

— Bom dia, babá.

Respondo sem olhar para ela.

— Bom dia.

— Onde está meu marido?

A pergunta me surpreende, imaginei que Felipe estivesse no quarto com ela. No entanto, a pergunta me irrita, final, quem deve ser dele é ela, não eu.

Presumindo que a dondoca não entende português, dou a ela uma resposta atravessada.

— No meu bolso que ele não está.

— O que você falou?

Eu estava certa, ele não entende minha língua, posso xingar à vontade. Porém, volto a falar em inglês, me segurando para não rir.

— Não sei, senhora.

A doida dá alguns passos para dentro da cozinha e para ao meu lado, me fuzilado com o olhar.

Seco as mãos no pano de pratos e a encaro de volta, respondendo com falsa servidão.

— Precisa de algo, senhora? O café está servido na sala de jantar, como pediu. E sobre o seu marido, eu não o vi agora de manhã, pensei que estivesse dormindo.

Ela baixa o nariz empinado e suspira profundamente.

— Ele deve ter ido para o hospital, não conseguiu dormir, preocupado com a bebê.

Estudo suas feições tentando encontrar um resquício de preocupação com a filha, mas não encontro.

Diante do meu olhar analítico, Britney assume de volta o ar de superioridade e fala em tom ameaçador.

— Escute bem o que eu vou dizer, garota. Não se meta entre meu marido e eu. Você não é pário para mim. — adverte — Você pode ser protegida da Mirian, Lipe pode ter sido próximo em algum momento da sua triste vida, mas aqui, no meu território, você não passa de uma empregada, foi contratada para limpar, esfregar chão e cuidar da criança.

"De onde ela tirou toda essa insegurança em relação a mim? Que ameaça eu posso causar a ela?" - penso enquanto ela ponta o dedo em riste na minha cara e continua em tom de ameaça.

— Essa cobertura é o MEU lar, Chloe é MINHA filha e Felipe é MEU homem. Não esqueça jamais disso, não se esqueça de onde é o seu lugar.

"Que louca! Felipe jamais vai me enxergar como mulher."

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