****FELIPE SOSSMEIER****

Faz dois dias que a minha princesinha está internada.

A pequena custou para acordar, o que deixou os médicos em alerta e eu com os nervos a flor da pele. Eles disseram que foi um milagre ela não ter convulsões e que a demora em atendimento poderia tê-la deixado em estado vegetativo.

O meu peito dói só de pensar nessa possibilidade. Sou grato a Liara por reagir rapidamente, porém, me sinto culpado por deixar minha menina sozinha com a mãe destrambelhada que ela tem.

Britney demonstrou arrependimento e até foi ao hospital ver a filha, mas não sei se acredito na sinceridade de seus sentimentos.

Agora estou no escritório com Liam, passei alguns contratos para meu assistente analisar, pois não consigo me concentrar em nada. Ainda assim, tive que vir encerrar alguns assuntos que não podiam esperar, aproveitando enquanto Chloe está na UTI e não podemos ficar com ela em tempo integral.

— Como estão as coisas com a Britney? — Liam se interessa em saber.

Desvio o olhar da tela do computador, tiro os óculos de leitura e ponho sobre a mesa, recostando-me mais relaxado contra na cadeira.

— Estranhas. — confesso — Ela chorou, pediu perdão, disse que não tinha intenção de machucar a menina e pediu uma segunda chance, prometeu que vai ser uma mãe melhor.

— E você acreditou?

— É complicado. Britney não tem o menor perfil para ser mãe, ela não consegue se afeiçoar a filha, o que é estranho para mim, já que tive uma mãe amorosa. Mesmo quando decidi morar com meu pai aqui nos Estados Unidos e mamãe ficou no Brasil, dona Miriam nunca permitiu que perdêssemos a conexão mãe e filho.

— Posso ser sincero? Não sei como você concordou com essa gravidez, vocês nem moravam juntos.

— Jamais pediria para interromper a gestação e não me arrependo, Chloe é o melhor de mim. — sorrio ao lembrar das bochechas fofas e sorriso banguela da pequenina — E também, na época Bri expressou desejo de ter o bebê, apesar de afirmar que não foi intencional, apenas um descuido no período da injeção.

— Eu lembro que você comentou sobre isso.

— Pois é, só que na última briga, ela deixou escapar que quis me dar um filho pensando que isso me faria pedi-la em casamento. Acho que engravidou de propósito.

— Uau! Que pressão, meu amigo. — ele fala surpreso — Mas você se imagina casado com ela depois dos últimos acontecimentos?

Não sou de expor meus sentimentos, mas nesse momento sinto que preciso desabafar e Liam, além meu assistente, é meu melhor amigo.

— Nunca quis casar, muito menos com Britney. Divergimos em muitas coisas, temos valores muito diferentes. Precisa ver como ela trata Liara ou qualquer uma das babás que já contratei. Sempre com nariz empinado. Ela é mimada, tudo sempre tem que ser sobre ela, sobre satisfazer as suas vontades e depois do que aconteceu com Chloe... sem chance. Dizem que cada um oferece aquilo que tem e ela é vazia. Ainda assim, não gostaria de criar minha filha sem a presença da mãe, por pior que ela seja.

Liam me observa por um segundo e solta uma risada.

— Cara, acho que você realmente ama Britney. Só um homem muito apaixonado aturaria uma mulher como ela, me desculpe a sinceridade.

— Não... isso, nem de longe é amor. — suspiro refletindo sobre as palavras dele.

Pensativo, caminho até o bar no canto da sala e sirvo duas doses de Bourbon, oferecendo uma delas ao meu assistente.

— Sabe o que eu acho? — pergunta retoricamente — Ter uma namorada como Britney se tornou cômodo, confortável e necessário. Ela é uma mulher bonita, elegante, que te abriu muitas portas no show business.

— Não posso discordar, eu me acomodei com ela. — confesso com dificuldade.

— Mas você merece muito mais do que isso. — ele vira o último gole da bebida e me dá uns tapinhas nas costas — Todos nós merecemos amar e ser amados. Mesmo eu, um solteiro convicto, quase um predador, que busca orgasmos em diferentes corpos duramente a semana, acredito que um dia vou sossegar com alguém.

Encaro meu assistente com incredulidade, nunca imagine ouvir dele algo nesse nível.

— Isso é sério?

— Uhum...

Busco qualquer vestígio de piada ou deboche, mas não encontro. Meu amigo realmente pensa em encontrar seu par perfeito por aí e essa é nova para mim.

Uma batida na porta da sala desvia nossa atenção.

— Com licença? Foi daqui que chamaram a irmã mais querida do universo?

Diana, minha única irmã, passa a cabeça pela porta, me surpreendendo com a sua chegada.

— O que você faz aqui? — questiono enquanto ela avança na minha direção com os braços abertos.

Irônica, ela responde enquanto deposita um beijo estalado no meu rosto.

— Bom te ver também, irmãozinho.

Para o loiro, ela limita-se a dar apenas um aceno de cabeça.

— Como vai Liam?

— Bem, e você, Diana?

— Melhor agora que estou na companhia do meu maninho preferido.

— Suponho que seja seu único irmão. — retruco e a puxo para sentar no sofá.

— Eu não ponho a mão no fogo pelo nosso pai, então não garanto nada.

— Deixa ele escutar isso pimentinha. — a chamo pelo apelido de infância, bagunço seus cabelos como fazia quando era pequena e ganho um tapa.

— Para com isso, ridículo. — ela faz bico.

Vejo Liam segurar o riso e ganhar um olhar mortal.

— Agora sério, o que te traz aqui? — pergunto.

— Como assim? Acertamos que eu viria quando concluísse a especialização. — ela se refere ao combinado que tínhamos para depois dela concluir o MBA em Harvard.

— Sim, mas você disse que tiraria uns meses para viajar e descansar antes de começar a trabalhar. — comento.

— Terei muito tempo para viajar. — ela dá de ombros — Nesse momento, minha sobrinha está no hospital, meu irmão está sobrecarregado, precisa de mim, então é aqui que devo estar.

Abraço minha irmã com carinho.

Não costumo ser tão afetuoso, exceto com Chloe, no entanto, dessa vez sinto que devo retribuir a generosidade dela de alguma forma.

— Obrigado por vir, pimentinha, você é especial. — bagunço o cabelo dela novamente e ganho outro tapa, acompanhado de um sorriso genuíno.

— Que maduro da sua parte, cute(fofinho). — Ela lembra o meu apelido de criança, quando eu era bem gordinho.

Entre nossas implicâncias de irmãos, Diana fita-me com ternura e repete a frase que nosso pai sempre fala quando quer expressar seu amor pelos filhos.

— Estarei com vocês, sempre e para sempre.

Deixo um beijo na testa dela, desfaço nosso abraço e vejo minha irmã com brilho nos olhos. Diana banca a durona, mas, no fundo, é uma manteiga derretida.

— Bom, eu estava de saída. Vou passar em casa, tomar banho e depois vou para o hospital ver minha princesinha.

— Posso apresentar a empresa para Diana. — Liam se oferece e a pimentinha torce o nariz para ele.

— Pode ser, mas não hoje. Acompanharei Lipe ao hospital, quero ver nosso pequeno raio de sol e depois descansar. — argumenta — Amanhã venho cedo para arregaçar as mangas e por a mão na massa. Tudo bem para vocês assim?

— Como quiser. — o meu assistente responde — O que precisar de mim, é só pedir.

— Obrigada. — ela agradece com um meneio de cabeça.

No despedimos de Liam e minha irmã me acompanha até o estacionamento.

— Quer carona? — ofereço.

— Não, obrigada. Aluguei um carro assim que cheguei, sigo você até seu apartamento.

— Ok.

Deixo a empresa e corto as ruas da cidade pensando na conversa que tive com Liam sobre Britney.

Não sou santo, nem exemplo de fidelidade. No início da relação, mesmo após assumir o namoro, busquei prazer com outras mulheres, principalmente quando Bri viajava a trabalho e ficava longa temporada fora.

Se eu acho isso certo? Com certeza não, mas desconfio que minha namorada também deu suas escapadas e nunca me importei.

Sempre que a procurei para o sexo, ela esteve disposta e isso bastava. No entanto, apesar de não colocar um solitário em seu dedo, como Britney reclama, desde que descobrimos a gravidez e ela se mudou para o meu apartamento, não me envolvi com mais ninguém.

"Você merece muito mais do que isso".

As palavras do meu amigo seguem ecoando na minha memória.

— Talvez Liam tenha razão.... a relação com Britney se tornou cômoda demais. — murmuro para mim mesmo — Mas até que ponto essa comodidade compensa o custo emocional que minha filha e eu teremos?