Hoje não era o dia de sorte de Gabriel, já era a terceira vez que o chamavam dizendo que algum bêbado tinha esbarrado em sua Harley Davidson preta. Aquilo o irritava tanto que ele mal enxergava quem estava em sua frente. Ele empurrou várias garotas que lotavam a sala de sua casa cara até chegar no jardim da frente.
— Ainda quer continuar vivo? — Gabriel disse, puxando o pescoço de um garoto que alucinava olhando para o céu — O que eu disse sobre não chegar perto da minha moto? Você não sabe as regras?Todos em volta olhavam apreciando a briga que estaria prestes a acontecer, eles gritavam cada vez mais alto pedindo sangue. O pobre garoto magro, que agora estava sobre as mãos firmes e fortes do valentão de cabelos escuros engoliu em seco quando percebeu que iria sair dali machucado. Ele estava sobre efeito de alguma droga, não muito diferente de todos dali. A maioria dos jovens naquele lugar estavam chapados e loucos.— Por favor, eu não sei das regras. Eu acabei de me mudar e essa é a minha primeira festa, eu não vi sua moto. — o garoto suplicava pela sua vida enquanto Gabriel apertava cada vez mais seu pescoço. O bad boy ria toda vez que escutava as súplicas do garoto assustado.— Gabriel, deixa ele. Tem duas gostosas na sua cama, por que não volta pra lá? — Lewis, o melhor amigo de Gabriel Herculano, falava calmamente enquanto encostava sua mão no ombro do amigo fora de si. — Vamos lá! Não vale a pena. — Lewis insistiu.— Qual é, Gabriel! Nunca te vi deixar alguém fazer isso com a sua moto e sair ileso. Acaba com ele! — a voz de um dos caras de sua turma insana se sobressaiu sobre a multidão.O garoto espremido às mãos firmes quase não conseguia respirar, mas mesmo assim com sua pouca força conseguia suplicar por sua vida. Os olhos de Gabriel estavam a pontos de pegar fogo, suas veias saltaram de seus braços e pescoço de uma forma sobrenatural. A raiva exalava nele, ele esmagaria-o com uma só mão. Os seus lábios formaram uma linha fina e suas sobrancelhas se curvaram, enquanto ele o encarava com ódio.— Lewis, saia daqui, eu não vou deixá-lo escapar. — a voz rasgada e rouca de Gabriel se dirigia para o amigo que estava do seu lado. Lewis não hesitou e tratou logo de sair dali.— Acaba com ele, Herculano! Mata logo essa lombriga! — vozes vinham de todos os lados do imenso círculo que tinha se formado ao redor dos dois no jardim.Um soco preciso acertou o queixo do garoto que mal conseguia se mover após cair atordoado no chão. Os punhos de Gabriel se fechavam fortemente e o sorriso malicioso respingando ódio saía de seu rosto perfeitamente esculpido. Vê-lo caído na grama, implorando para que parasse, e o sangue escorrendo de sua boca, o fez observá-lo de mais perto. Foi preciso dois longos passos para que seus pés estivessem perto demais do garoto caído, um chute forte foi feito na cabeça que agora jorrava sangue em sua volta.— Agora você conhece as regras, não é mesmo?O seu rosto não conseguia conter o prazer de ver o que ele acabara de fazer, porque tudo aquilo era obra dele e Gabriel tinha gostado. Um outro ponta pé na cabeça já machucada, seguido de mais um chute nas costelas frágeis em sua frente podia ser visto de todos os ângulos dali. Ele não parou por aí. Gabriel continuou distribuindo socos, chutes, e logo suas mãos fortes apertaram com o ódio que ele já vinha sentindo nesses últimos anos, esmagavam cada veia e cada local possível que o garoto conseguia respirar.— Gabriel! Gabriel! — Lewis gritava ao lado de seu amigo, que agora estava irreconhecível. Ele não podia tocá-lo, senão seria o próximo a ser esmagado pelas mãos sombrias do homem que ele conhecia desde criança. — Ele vai morrer, cara. Gabriel, pare!Não estava adiantando, o garoto magro no chão quase não se contorcia mais e sua pele já estava em um tom um tanto roxo. Ele precisava fazer algo, suas mãos frias puxaram com toda a força que possuía no seu corpo musculoso e alto. O loiro chamava os outros dois amigos ao seu lado, que olhavam assustados, mas que rapidamente caminharam até aquela bagunça e ajudaram-no a puxar Gabriel para longe do menino. Ele ainda tinha um semblante assustador em seu rosto e suas mãos sujas de sangue mantidas fechadas.— Chamaram a polícia, cara, você tem que sair logo daqui. Pega o meu carro e some logo. — Lewis o entregou as chaves do carro enquanto o empurrava para longe dele. Ele sabia que o amigo estava fora de si, chapado e mal conseguia lembrar seu nome. Mas ele não tinha outra opção senão limpar toda essa bagunça.As mãos apertavam fortemente o couro do volante em sua frente, ele acelerava com bastante vontade o Mustang preto de Lewis. Gabriel não sabia pra onde estava indo, ele só conseguia escutar a voz de seu pai."Você é fraco, pequeno e feio. Você não é meu filho, por isso merece apanhar. Vou te bater até não lembrar mais seu nome."Ele resmungava segurando as lágrimas que ele prometera que não soltaria nunca mais, lembrar de sua infância não era algo muito animador. Sua cabeça girava e ele só acelerava. O barulho do motor era cada vez mais alto e emocionante, e ele não fazia ideia de onde estava. As ruas apagadas eram iluminadas apenas pelos faróis do carro potente. Por um instante Gabriel avistou um pequeno carro em sua direção e tentou frear, mas foi tudo em vão. Flashes de luzes, gritos e choros invadiam sua cabeça. Ele levantou sua mão até a cabeça e sentiu um corte profundo na testa, sua perna estava dolorida demais, enquanto ele tentava sair do carro. O automóvel em sua frente estava totalmente destruído, mas assim que ele se aproximou conseguiu ouvir um gemido fraco da mulher no banco do carro destruído. Ele chegou o mais perto possível e quase não conseguindo ver nada diante dele, viu o olhar apavorado da mulher agonizando.— Por... por fa-favor... meu filho... salva meu filho.Ele se permitiu olhar para trás, mas seu estômago revirou de uma forma enlouquecida, fazendo-o vomitar quando viu o pequeno garotinho. Gabriel sentou-se no chão e não conseguia respirar. Sua cabeça doía como o inferno e suas mãos puxavam com uma força extrema seus cabelos. Ele não sabia o que fazer. Logo viu que o seu celular estava no seu bolso e o puxou rapidamente, fazendo uma ligação para Robert Walker, delegado da cidade e seu tio, o único parente vivo da família."Não saia daí, vou chegar antes da viaturas"Gabriel desligou e permaneceu ali imóvel até que seu tio chegasse. Duas mãos o puxaram e rapidamente ele recebeu um soco no nariz.— Que porra você fez? Tem uma criança que pode estar morta ali! — a voz aterrorizante de seu tio invadiu seus ouvidos o fazendo acordar, não era um pesadelo. Tudo estava acontecendo. — Entre no meu carro e me espere. De quem é esse carro?O garoto estava em choque, não se mexia e nem sequer falava.— Droga, Gabriel! De quem é esse carro? — as mãos de Robert sacudiam o garoto desesperadamente.— Lewis. — sua voz foi seca e baixa, ele se virou e entrou no automóvel enquanto via seu tio fazer ligações em frente a lata amassada que um dia tinha sido um carro de uma família feliz que ele acabara de destruir em segundos.— Eu não sei a merda que você se meteu, mas eu vou consertar isso. Você vai para Lakewood, uma cidade distante daqui, no interior. Eu tenho um amigo lá, Daniel Carter, o Pastor local. Ele vai te abrigar até eu resolver tudo por aqui. Você vai ajudá-lo em tudo, você vai trabalhar. — Robert dizia entrando no carro e dirigindo para longe dali.— Minha faculdade? Meus jogos? — a voz de Gabriel era de uma tristeza profunda e tão baixa que mal conseguia ouvi-la.— Não terá nada disso agora, volte diferente e quem sabe posso te devolver isso. — enquanto ele dirigia rumo ao hospital mais próximo, conseguiram ver duas ambulâncias indo em direção ao acidente.O carro parou e eles desceram apressados até a portaria. A cabeça do garoto não se levantava e ele não conseguia pensar em mais nada a não ser na voz fraca da mulher suplicando pela vida de seu filho. A recepcionista o levou até a área de emergências, enquanto Robert esperava impaciente na recepção. Algum tempo depois, Gabriel voltou com seu pé envolto em uma armadura.— Foi só uma luxação. — ele disse ao seu tio.— Isso foi muito pouco pelo que fez, não deveria nem estar vivo. — o homem que tinha seu sangue nem se preocupou em ajudá-lo, eles entraram no carro rumo a sua cobertura beira mar.— Você dorme aqui hoje, não posso te levar agora. Amanhã você pega sua moto e some daqui. Me ouviu bem? — Robert deu um tapa na nuca de seu sobrinho que entrava em sua casa. Ele balançou a cabeça concordando e entrou no quarto. Seria uma longa noite e um longo dia.XXX
O seu corpo todo doía como se ele tivesse sido amassado por um trator em chamas, sua cabeça com vários pontos e sua perna imobilizada também doíam. Um bilhete com algum tipo de endereço estava em cima do criado-mudo ao seu lado. Ele o pegou, tentando ler suas costas."Sua moto está na garagem, quero você fora daqui antes que eu volte para o almoço. SE VIRE!"Gabriel respirou fundo e se levantou com um pouco de dificuldade. Ele pegou seu telefone e olhou cada contato da sua agenda lotada, boa parte eram de mulheres que ele pegava em uma só noite e nunca mais retornava. Amigos? Eram poucos. Ele não saberia como explicar para seu velho amigo Lewis o que havia acontecido. Sem pensar duas vezes, ele retirou o que imobilizava sua perna e colocou o pé no chão frio. Um choque de dor percorreu seu corpo, seguido de um grito alto. Ele precisava sair dali. Sua mochila estava pendurada em sua moto, ele colocou a bota que sustentava sua perna dentro dela e se sentou com dificuldade.— Não acredito que tocaram em você, eles te maltrataram? — ele dizia ao mesmo tempo que acariciava a motocicleta. Assim que deu partida, seu pé pulou em repulsa. A dor o atingiu, mas ele continuou, pegou a estrada rumo a pequena cidade onde viveria nos próximos meses.A cidade antiga e pequena exalava perfume de rosas por toda a parte. Provavelmente deveria ser pela maioria da população idosa do local.Gabriel andava pelas ruas procurando o endereço que não seria muito difícil de encontrar, as ruas eram extremamente apertadas e curtas. A cada rua que ele passava, conseguia ver um casal de idosos caminhando sorridentes pelas praças que eram comuns por ali.Algumas barracas de venda sobre a calçada, mais idosos jogando xadrez em uma outra praça pouco movimentada. O bad boy em cima da moto, venerada por ele, ainda não acreditava que viveria um inferno ali. Ele acabara de perder sua vida, sua faculdade, seus jogos de futebol, suas festas e o que ele mais temia perder: suas mulheres.— Vamos ter que aprender a gostar de velhas. —Gabriel resmungou para sua moto. Ele era incapaz de amar alguém que não fosse sua motocicleta ou ele mesmo.Fri
Uma fina linha de suor escorria sobre seu abdômen musculoso, era difícil ficar parado sem algum tipo de proteção. Ele caminhou até o velho armário em seu quartinho e abriu uma gaveta que rangia de tão velha. Uma pilha de camisetas brancas exatamente iguais, estavam ali dobradas ao lado de uma pilha de calças jeans extremamente largas.Gabriel balançou a cabeça em reprovação com as calças tão largas, ele nunca as usariam. Pegou uma camiseta branca e a vestiu enquanto continuou com seu jeans apertado e surrado, tirou suas botas e colocou a bota que ganhara no hospital, sua perna ainda doía. Ele olhava a longa lista de tarefas a sua frente e debochava, pensando que o reverendo estava imaginando que ele iria fazer todas as obrigações. Depois de um longo suspiro, se jogou na pequena cama ao seu lado. Ela era horrível, nada comparado a sua imensa cama box. 
Não demorou muito para queAngel descobrisse que algum animal na fazenda tinha mordido a pata da pobre égua. A garota correu para pegar alguns curativos e remédios.Gabriel apenas a olhava atentamente, cada detalhe que suas mãos faziam, cada expressão que o rosto perfeito da garota fazia, era como se ele estivesse admirando uma rara peça de arte. Ele nunca tinha visto algo tão parecido como aquilo, ela era única.— Você pode me levar em casa? — a voz deAngel tirouGabriel do transe.— Não quer me fazer companhia? — um sorriso surgiu no canto do rosto do garoto. A menina não disse nada, as suas bochechas arderam na hora. — Eu estou brincando, mas se você quiser ficar...— Não, obrigada. Meu pai está me esperando. —Angel se virou caminhando até a moto muito bem cuidada.— Que pena, lindinha
"Cara, eu te odeio muito agora!" — eu disse enquanto me afastava da perdição ao meu lado."Você some com o meu carro e ainda fala que me odeia? Por favor,Gabriel!"— Lewis tinha uma voz séria, mas com um pouco de sarcasmo."Eu sei que você me ama, seu gostosão" — era assim que nos relacionávamos desde quando eu tinha 12 anos. Ele era como um irmão pra mim."Seu idiota! Me deixou com vergonha agora. Onde você está? Cadê o meu carro?""Está tudo bem comigo, obrigado por perguntar. E sobre o seu carro, longa história e eu não estou muito a fim de contar. Pode escolher qualquer um da minha garagem pra você" — eu olhei para trás e pude verAngel me olhando assustada. Ela examinava cada parte do meu corpo, aquilo estava me matando."Merda,Gabriel! Seu tio disse que foi assaltado e agora voc&e
ANGEL—Angel!Angel! — aquilo já não parecia mais meu sonho, parecia real — Lindinha, acorde.Meus olhos se abriram preguiçosamente até encontrar o olhar acinzentado deGabriel. Aqueles olhos tinham me perseguido durante toda a noite, eu nunca tinha tido um sonho como esse. Ele estava com o cabelo mais bagunçado do que o normal, seu corpo se espreguiçava em minha frente enquanto me sacudia tentando me despertar.— O seu velho está no telefone. — a voz de manhã do homem a minha frente era mais sexy do que ontem. Ele parecia ter saído de um CD de rock extremamente quente. Eu não percebi que estava sorrindo. Sua grande mão me entregou um telefone — Eu disse pra ele que estávamos hospedados em um hotel, quartos diferentes, claro. — ele me deu uma piscada. MEU. DEUS. Ele piscou pra mim e algo em meu corpo que eu n&at
— Eu vim te trazer o almoço, papai foi para a fazenda. — ela era tão delicada enquanto falava, que eu queria agarrá-la com as minhas enormes mãos e morder cada parte do corpo dela.— Sentiu minha falta? — arqueei minhas sobrancelhas dando um sorriso torto, que eu estava ciente que a deixava louca. Ela não disse nada, apenas esticou seus bracinhos pálidos que seguravam uma vasilha grande até mim. Abri a vasilha e me assustei com a quantidade de comida — Wow, lindinha, quanta comida! Você me trouxe esse monte só por causa do meu tamanho, foi? — sim, eu como muito, mas a quantidade ali dentro era exorbitante.— Me desculpe, eu só não sabia como você gostava. — ela apertava suas mãos como se estivesse constrangida, e ela estava. Deixei a vasilha sobre a mesa e me aproximei da menina.— Eu gosto assim,Angel. Tudo que você
— Baby, você está com vergonha de alguma coisa? — eu me aproximei dela enquanto chegava na mesa.— Eu só nunca vim a um lugar como esse. — ela disse me olhando — Tem muitos homens aqui.O lugar não era tão grande, mas a maioria das pessoas estavam debaixo do pequeno palco montado onde a banda de um dos meus amigos estava tocando. Outras pessoas se concentravam nas mesas bebendo suas cervejas. Me sentei na cadeira e ela se sentou na minha frente.— Eu conheço o vocalista. — apontei para o loiro com cabelos até os ombros que cantava loucamente para as garotas em sua frente — Dustin Foster.Ela sorriu por alguns segundos enquanto observava a banda. Eles estavam no final de sua apresentação. Dustin já estava sem sua camisa, o que fazia as mulheres ficarem loucas.— Ele é seu amigo? —Angel gritou pra mim.— Meio
— Ele precisou encontrar um amigo, mas já está voltando. Me solta? — ele não estava me machucando, mas eu não queria ficar perto dele.— Você não faz o tipo dele. — isso eu já sabia, ele não precisava jogar na minha cara —Gabriel é só um monte de merda. Você merece alguém melhor do que ele.Eu realmente não entendia onde ele queria chegar. Eu observava cada músculo do pescoço dele enquanto ele falava. Por que eu estava fascinada naquilo?— Me solta. — ele riu.— Você quer que eu te solte? — será que ele é surdo?— Se eu estou te pedindo. — eu fiquei nervosa, geralmente as pessoas não me deixavam nervosa.Sua mão me soltou devagar e eu suspirei aliviada. Acho queGabriel não ia gostar nada se me visse com ele aqui.— Obrigada,