ANGEL
— Angel! Angel! — aquilo já não parecia mais meu sonho, parecia real — Lindinha, acorde.Meus olhos se abriram preguiçosamente até encontrar o olhar acinzentado de Gabriel. Aqueles olhos tinham me perseguido durante toda a noite, eu nunca tinha tido um sonho como esse. Ele estava com o cabelo mais bagunçado do que o normal, seu corpo se espreguiçava em minha frente enquanto me sacudia tentando me despertar.— O seu velho está no telefone. — a voz de manhã do homem a minha frente era mais sexy do que ontem. Ele parecia ter saído de um CD de rock extremamente quente. Eu não percebi que estava sorrindo. Sua grande mão me entregou um telefone — Eu disse pra ele que estávamos hospedados em um hotel, quartos diferentes, claro. — ele me deu uma piscada. MEU. DEUS. Ele piscou pra mim e algo em meu corpo que eu não conhecia tremeu no mesmo instante. O que estava acontecendo? Peguei o telefone de sua mão sem dizer uma palavra. — Ele obviamente não acredita em mim, fale pra ele.— Eu não vou mentir pro meu pai. — eu disse me sentando na cama. Eu devia estar uma bagunça. Passei a mão em meu cabelo e pude sentir que estava horrível. Eu não queria que ele me visse assim. Desde quando comecei a me preocupar com que os caras pensam de mim? Gabriel ficou imóvel me olhando. Jesus! Eu estava tão terrível assim?— Você não vai mentir, estamos em um hotel.— Mas não em quartos diferentes. — eu disse, então ele caminhou para fora do quarto e entrou na porta da frente.— Agora estamos. — percebi seu sorriso torto que me deixava louca.Tirei o telefone do mudo e coloquei-o sobre minha orelha."Papai?" — eu olhava Gabriel do outro lado me encarando de uma forma que nunca ninguém havia me olhado. Eu queria correr dali, não quero que ele me ache mais feia do que o normal."Angel! Onde você está, minha filha? Não estou gostando de você com esse rapaz. Venha já pra casa. A chuva já passou desde às três da manhã, já são seis" — aquela era a voz que eu conhecia quando eu fazia algo errado."Estamos em um hotel na estrada, quartos diferentes, é claro" — tentei piscar para Gabriel, mas eu não era muito boa com isso. Acho que meus dois olhos fecharam juntos. Eu sou um desastre."Venha agora, não fique mais um minuto com ele" — a ligação foi cancelada e eu percebi quando Gabriel caminhou se sentando do meu lado na cama.Seu cheiro amadeirado estava sobre os meus cabelos, eu não fazia ideia por que eu tinha me deitado em seu peito. Eu fiquei tão comovida com a sua história, eu não podia imaginar no quanto aquele menininho tinha sofrido nas mãos daquele monstro. Eu queria cuidar dele.— Eu nunca tinha mentido pra ele, na verdade nunca menti pra ninguém. — minha voz era baixa, mas eu nunca tirei meus olhos daquele olhar quente e penetrante diante de mim.— Pra tudo tem uma primeira vez, não é mesmo? Parabéns, lindinha. — seu sorriso era algo que fazia meu estômago querer saltar pela boca, aquilo combinado com o olhar e aquela voz me deixava louca. Suspirei e abaixei minha cabeça — Ei, nem foi uma mentira assim. Não precisa ficar mal por isso. — ele tocou meu rosto me obrigando a olhá-lo. Eu não estava triste por mentir, eu estava triste por querê-lo. Eu nunca quis algo tanto como queria Gabriel Herculano, agora. Mas Gabriel não me queria, eu sabia que eu não fazia o tipo de mulheres que ele provavelmente saía. Eu não era uma mulher, eu era apenas uma menina. Eu nunca sequer tinha beijado alguém.— Tudo bem, precisamos ir. Meu pai está furioso e você precisa trabalhar.Me levantei da cama indo em direção ao meu short jeans e minha camiseta. Arrumei meu cabelo em um coque e olhei para Gabriel que ainda permanecia com seus olhos em mim.— Você tem vergonha, né? Eu já vi muito do que você tem, eu já sei como é. — por que aquelas palavras me fizeram corar? Ele queria me ver? Gabriel não se moveu, ele permaneceu ali me olhando. Eu não trocaria de roupa em sua frente, ele não ficaria feliz com o que iria ver em mim. Eu não sou bonita, muito menos possuo curvas que ele tanto admira.Andei até o quarto da frente e fechei a porta. Cheirei sua camisa tão fundo, que eu estaria com seu cheiro por dias. Vesti rapidamente minha roupa e voltei até onde Gabriel ainda estava. Dobrei a camisa com cuidado e entreguei a ele.— Obrigada. — sorri.— Ela fica melhor em você. Fique com ela. — ele me entregou novamente e sorriu. Aquele sorriso, ai aquele sorriso.XXXEu passei toda a viagem agarrada em Gabriel. Aproveitei que não me sentia segura e que queria tocá-lo de novo, então envolvi meus braços no seu abdômen forte. Jesus, como ele era grande e musculoso. Eu gostava daquilo. Meus olhos brilharam em admiração quando ele tirou sua camisa na noite passada, ela era minha agora. Assim que chegamos em casa, estava tudo fechado, mas eu sabia que papai estaria no escritório. A moto desligou e nós descemos.— Você é boa em cima dela. — eu corei na hora. Como eu odiava que minhas bochechas fizessem isso todas as vezes que ele sorria, olhava, falava ou apenas chegava perto de mim.Caminhei até a porta e eu pensei que ele não me seguiria, mas ele seguiu. Quando minha mão tocou a maçaneta, senti um puxão no meu braço. Ele me segurou de uma forma que me fez tremer. Meu corpo estava sobre a porta e o dele estava prensado ao meu. Eu podia sentir sua respiração ofegante. O que ele estava fazendo?— Eu não vou conseguir ir sem antes provar uma coisa. — o que ele estava falando?Meu coração estava tão acelerado que eu podia senti-lo na minha cabeça. MEU. DEUS. Ele vai me beijar, ele vai me bei... Minhas costas caíram pra trás e se eu não sentisse o corpo do meu pai, eu provavelmente teria caído no chão. Quando vi seu olhar intimidante e raivoso que eu não via há anos, me estremeci de medo. Ele tinha nos visto ali na porta antes de abri-la?— Angel, vá para o quarto. — eu olhei na direção de Gabriel, que não parecia assustado. Ele estava totalmente relaxado. — Agora, Angel! — subi correndo as escadas, eu não queria deixá-lo sozinho com meu pai.Eu fiquei muitos minutos tentando ouvir o que o meu pai falava com Gabriel, mas eu não conseguia ouvir nada. Eles conversaram por um longo tempo na porta. Meu pai subiu as escadas e veio até mim.— Eu te disse pra ficar longe dele. Ele não é boa pessoa. Não vale o chão que pisa. — eu odiei o jeito que ele estava falando sobre Gabriel, ele não o conhecia.— Ele tem um bom coração. — eu disse me sentando na cama.— Bom coração? Ele nem sequer tem um coração. Seu tio me conta horrores do garoto, ele é um moleque. — eu percebia que meu pai estava com raiva, seu olhar era feroz — Eu não quero você perto dele, me ouviu bem? Ele vai me ajudar na igreja e eu não quero você por lá. O único dia que você será obrigada a vê-lo, será nos domingos. Tirando isso, não quero que você respire o mesmo ar que ele. Estamos entendidos, mocinha? — eu odiava como ele me tratava como uma criança. Eu já tenho dezenove anos mas ele me trata como se eu tivesse cinco.Por que ele estava me proibindo de vê-lo? Eu não vou conseguir ficar tão longe, eu o queria mais perto. Não entendia por que meu pai o tratava assim tão frio. Eu sabia que Gabriel era uma boa pessoa. Meu pai saiu de casa e eu pude observar pela janela que ele estava caminhando para a igreja. A moto de Gabriel estava lá. Meu coração acelerou. Ele estava logo à frente e eu não podia vê-lo. Isso não ia ficar assim. Deitei na cama e a imagem dos olhos selvagens do homem que eu estava completamente obcecada veio a minha mente. Ele ia me beijar, Santo Cristo! Eu ia ser beijada.GABRIELJá fazia duas semanas que eu não via Angel. Depois de quase ter provado daqueles lábios rechonchudos eu fiquei cada vez mais louco por ela. Todas as minhas noites eram as mesmas, com aquela voz falando meu nome repetidas vezes enquanto suas pernas estavam em volta de mim e eu estava dentro dela. O sabor dela parecia ser tão doce como ela, droga! Eu estava dentro de uma igreja e mesmo assim, tinha pensamentos "pecaminosos" com a doce filha do Pastor. Eu só queria tê-la em meus braços mais uma vez. Uma foda casual com Angel de Oliveira estava longe de acontecer, eu nunca a teria por uma só noite e eu nunca me amarro em uma mulher mais do que uma noite. Era só sexo e nada mais. Eu estava tão obcecado por ela, que mesmo ali, enquanto limpava os pisos sagrados da sala do pastor na igreja, eu conseguia ouvir sua doce e suave voz. Caramba, isso me faz lembrar daquele maldito rosto perfeito. Aquelas pernas longas que caíam perfeitamente no seu corpo delicado e delicioso. Curvas maravilhosamente deliciosas. Santo Cristo, eu tinha que esquecer essa merda.— Gabriel, você está me ouvindo? — senti seus dedos tocarem minhas costas, então me virei num impulso. Ela estava aqui há quanto tempo? Seus cabelos estavam soltos e livres pelo seu corpo, por que ela era tão malditamente linda?— Uh... Sim, lindinha. — ela pareceu corar com a minha voz, ela adorava a minha voz sexy.— Eu vim te trazer o almoço, papai foi para a fazenda. — ela era tão delicada enquanto falava, que eu queria agarrá-la com as minhas enormes mãos e morder cada parte do corpo dela.— Sentiu minha falta? — arqueei minhas sobrancelhas dando um sorriso torto, que eu estava ciente que a deixava louca. Ela não disse nada, apenas esticou seus bracinhos pálidos que seguravam uma vasilha grande até mim. Abri a vasilha e me assustei com a quantidade de comida — Wow, lindinha, quanta comida! Você me trouxe esse monte só por causa do meu tamanho, foi? — sim, eu como muito, mas a quantidade ali dentro era exorbitante.— Me desculpe, eu só não sabia como você gostava. — ela apertava suas mãos como se estivesse constrangida, e ela estava. Deixei a vasilha sobre a mesa e me aproximei da menina.— Eu gosto assim,Angel. Tudo que você
— Baby, você está com vergonha de alguma coisa? — eu me aproximei dela enquanto chegava na mesa.— Eu só nunca vim a um lugar como esse. — ela disse me olhando — Tem muitos homens aqui.O lugar não era tão grande, mas a maioria das pessoas estavam debaixo do pequeno palco montado onde a banda de um dos meus amigos estava tocando. Outras pessoas se concentravam nas mesas bebendo suas cervejas. Me sentei na cadeira e ela se sentou na minha frente.— Eu conheço o vocalista. — apontei para o loiro com cabelos até os ombros que cantava loucamente para as garotas em sua frente — Dustin Foster.Ela sorriu por alguns segundos enquanto observava a banda. Eles estavam no final de sua apresentação. Dustin já estava sem sua camisa, o que fazia as mulheres ficarem loucas.— Ele é seu amigo? —Angel gritou pra mim.— Meio
— Ele precisou encontrar um amigo, mas já está voltando. Me solta? — ele não estava me machucando, mas eu não queria ficar perto dele.— Você não faz o tipo dele. — isso eu já sabia, ele não precisava jogar na minha cara —Gabriel é só um monte de merda. Você merece alguém melhor do que ele.Eu realmente não entendia onde ele queria chegar. Eu observava cada músculo do pescoço dele enquanto ele falava. Por que eu estava fascinada naquilo?— Me solta. — ele riu.— Você quer que eu te solte? — será que ele é surdo?— Se eu estou te pedindo. — eu fiquei nervosa, geralmente as pessoas não me deixavam nervosa.Sua mão me soltou devagar e eu suspirei aliviada. Acho queGabriel não ia gostar nada se me visse com ele aqui.— Obrigada,
GABRIELEu não conseguia me levantar. Minha respiração era fraca e eu só conseguia pensar nela. Meu peito doía tanto que eu não sabia se iria aguentar. Eles haviam a levado de mim e me jogado para fora do bar. Eu merecia ter sido apagado por todos aqueles caras. Eu chutei ela. Droga! Eu não tinha visto que ela estava na minha frente. Minha cabeça girava enquanto eu estava deitado no chão perto da porta de saída. Ela ainda estava lá e eu precisava dela.—Angel! Por favor!Angel! — eu usava toda a minha força para tentar gritar por ela.A porta se abriu e eu tentei me levantar, mas não consegui.Angel estava ali. No colo de Dustin. Filho da mãe! Será que ela estava desmaiada? Ela é minha. Eu preciso dela.—Angel! Por favor, fale alguma coisa.Angel! — ela levantou a cabeça e quando
— Você é um babaca,Gabriel. Ela não quer te ver. Entre logo no carro, eu quero tirar essas porcarias de sapatos. Meus pés estão me matando.Eu não acreditava que ela não queria me ver. Nunca me perdoaria por hoje. Eu precisava vê-la.— Se você ousar tocar em mim, eu juro que me mando do carro. – eu disse enquanto me levantava. Tudo doía.— Você costumava ser mais carinhoso comigo. Pra falar a verdade, você adorava os meus carinhos. – ela se moveu até mim tentando me ajudar.— Eu sei andar sozinho até o banco. – eu caminhei com dificuldade até a porta, tentando não parecer dolorido.Tris se sentou do meu lado e não disse nada.— Eu não estou na minha casa. Estou numa fazenda. – ela me olhou confusa e eu continuei. Assim que a dei o endereço, ela o colocou no GPS.&
Acenei para Judi e caminhei atéAngel. Ela estava sentada no píer enquanto jogava as rações no lago. Ela não disse nada. Me sentei ao seu lado e peguei um pouco da ração no balde.— Belo dia para se alimentar patos. — eu disse olhando para frente.Angel continuou calada. Virei meu olhar pra ela e percebi uma lágrima escorrendo sobre seu rosto — O que foi, meu anjo? Está doendo algo?— Não é nada. — eu sabia que não. Eu sabia que ela estava chateada.— Quer falar comigo? — eu coloquei minha mão sobre a sua.Angel apenas negou com a cabeça — Quando estiver pronta, estarei aqui. — ela assentiu e continuou jogando a ração no lago.ANGELSabe quando tudo em volta não faz mais sentido? Quando tudo parece sumir? Ver Judi, fez isso. Eu a amava desde
— E como ela... — eu a interrompi antes que ele dissesse algo.— Fale logo o que veio fazer aqui. — eu disse me segurando para não voar em cima dele.— Calma, cara. Vim devolver seu celular,Angel. Você esqueceu no meu carro aquela noite. — ele piscou pra ela e o ódio subiu em minha cabeça.— Oh! Eu pensei que tinha perdido no bar. — ela disse feliz pegando o aparelho na sua mão.— Que bom que guardei pra você, meu anjo. — "meu anjo", idiota. Ela é meu anjo.— Que bom. Agora pode ir embora. — eu disse segurando a cintura deAngel junto a mim.Ele olhou minha mão no seu corpo e balançou a cabeça.—Gabriel,Gabriel. Não vá ferrar a vida da menina. Ela é uma perfeição. Sabe que não vai achar outra assim. — eu não gostava dele falando
ANGELPassar a noite inteira acordada por causa deGabriel já estava ficando frequente e a noite passada não foi diferente. Eu tinha ido embora sem falar nada com ele. A dor que estava no meu peito quando percebi que ele nunca seria meu, foi forte demais pra ficar ali ao lado dele.Gabriel estava tão possessivo quando Dustin chegou, que eu fiquei um pouco assustada. Por que ele estava fazendo isso? Ele não me queria. Eu não era um de seus objetos.A voz que eu conhecia estava inundando minha mente e chegava cada vez mais perto. Por que diabos eu estava escutando a voz de Dustin me chamando?— Meu anjo? — eu o vi entrar no meu quarto e fiquei assustada. — Desculpa entrar assim, eu chamei por muito tempo e a porta estava aberta. — eu respirei aliviada em saber que meu pai não estava aqui. Ele havia ido para algum tipo de seminário e ficaria fora por alguns dias.&mda