ANGEL
Minha filha estava sentada em sua pequena cama, de costas para a porta de seu quarto amarelo. Aurora ama amarelo e azul, são suas cores preferidas. Ela fez César pintar todo o quarto de amarelo e escolheu uma cama azul de aniversário. Que criança escolheria uma cama ao invés de um brinquedo? Na verdade, ela não precisa muito de brinquedos, tem uma fazenda enorme só pra ela e cada graveto que Rori encontra no chão transforma aquilo em uma enorme diversão.— Está com sono, joaninha? — perguntei, me aproximando dela.— Não muito, só um pouco cansada. Que dia, né, mamãe? — ela fez uma carinha engraçada de como se tivesse corrido uma maratona embaixo de um sol escaldante. Dei risada dela e ela acabou rindo também.— Sabe aquele meu amigo que está lá fora?Rori se levantou da cama e— Me responda! — eu gritei.— Eu não estou enganado, foi ele mesmo. Me lembro também de um dia na varanda da casa do seu pai, quando ele estava te vigiando naquele dia que fui te buscar para sair. Você não se lembra? Diga à ela, idiota! Responde que era você! —Gabriel começou a caminhar para o lado deCésar e eu fiquei no meio do caminho dos dois.— Foi você,César? — perguntei em baixo tom, tentando me acalmar. Eu só queria a verdade.— Me perdoa, eu queria te contar, mas eu...— Vai embora. — consegui falar antes que eu caísse em prantos. Meu choro era doído. Fui traída pelo meu próprio pai e pelo meu melhor amigo.— Não,Angel. Por favor! Me deixe explicar! Por favor! Eu te amo! Apenas me deixe explicar. — ele agarrou os meus braços e eu puxei tentando me
— É... Você...Gabriel... por favor... eu preciso que vá… que vá embora. — eu não estava conseguindo falar algo que fizesse sentido ou que tivesse continuação.Gabriel me olhou com aquele grande par de olhos acinzentados e caminhou ferozmente em minha direção. Eu permaneci no meu lugar sem saber o que fazer ou o que falar. Ele se aproximou de mim e olhou todo o meu corpo. Sua respiração estava pesada e ele mal conseguia abrir a boca.— Por favor... — eu disse o encarando.— Não pare o que estava fazendo. Por todo o amor que você tenha a vida, continue a fazer o que você estava fazendo.Eu sentia fogo nos olhos dele. Seu peito subia e descia quase no mesmo instante que o meu. Estávamos perto demais e eu não sabia o que estava sentindo.— Por favor,Angel. Continue. Eu preciso disso. —Gabr
— Eu pego pra você, mas só se você me deixar comer também. — eu dei um sorriso pra ela, mas ela não me retribuiu.— Não sei. Eu ainda não quero falar com você. Eu sei que mamãe quer muito que eu converse com você, mas eu acho que ainda não quero. — aquilo me deixou triste.— Você não precisa falar comigo, é só me deixar comer do seu lado.Rori estendeu sua mãozinha pra mim e disse:— Combinado!Eu juro que me controlei para não esmagar as suas bochechas.Segurei a sua mão e ela logo se soltou dela. A garotinha foi correndo se sentar onde estava antes e eu fui para o armário que ela apontou me mostrando onde estava a caixa de cereal.— Deixa que eu pego o leite! Tem que pegar as vasilhinhas pra gente comer, a mamãe deixa aí na pia. — ela apontou para que eu pudes
— Me espere aqui, vou conversar comCésar primeiro.Gabriel me olhou por mais alguns segundos e me soltou, me deixando livre para ir.Caminhei sem olhar para trás até a varanda de madeira ondeCésar segurava Aurora no colo.— Não acha que está grande demais para ficar no colo? — perguntei.— Só às vezes.— Bom dia,Angel. —César me olhou desconfiado e depois pôs seu olhar sobreGabriel do outro lado da fazenda.— Papai, eu estava conversando com o moço e ele é um pouquinho legal, sabia? — Rori disse empolgada.— Princesa, você pode me esperar no seu quarto? Preciso conversar com a mamãe, sozinho.— Ah, não! Eu quero ficar com você.— Por favor, Princesa Aurora, vá preparando a sua mesa de chá e eu já vou brincar com voc&
— Agradecer por ter cuidado das minhas meninas esses anos. Por ter ajudadoAngel. Mesmo tendo feito merda comigo e com ela.Ele me olhou surpreso. Qual é? Eu sou tão ruim assim?— Não precisa agradecer, eu fiz o que eu senti que devia fazer. Eu amoAngel e agora amo ainda mais Aurora. Ela é minha filha também e eu não vou abrir mão disso.Dei uma risada baixa e cruzei meus braços me forçando a encará-lo.— Eu entendo a sua amizade comAngel e com a minha filha, sei que vai ser difícil pra vocês dois essa mudança agora. Eu não quero que minha filha pare de te ver.— Oh. — foi tudo o que ele disse.Caramba, eu realmente sou um novoGabriel.— Eu não amoAngel apenas como você imagina, ela sabe disso. E eu não vou parar de lutar pelo amor dela.Agora eu ri.— P
Assim que cheguei do lado de fora, vi Jose indo embora em seu carro com Judi. Já era quase noite e eu tinha passado o dia fora resolvendo as coisas. Queria contar aAngel que iria investir um dinheiro na cidade ao lado com um novo negócio. Eu sei que ela tem seu emprego como veterinária, já que terminou a faculdade depois que Aurora nasceu e começou a trabalhar na única clínica de Lakewood, mas eu também preciso de um trabalho. Fiquei um bom tempo sozinho do lado de fora, até queAngel apareceu com seus olhos carregados de lágrimas.— Eu não sabia. Eu não sabia. — ela começou a falar, enquanto me agarrou em um abraço.— O que foi? — perguntei preocupado.— Eu li a sua carta. — ela começou a tentar limpar as lágrimas, mas assim que limpava, outras desciam. — Eu não sabia que me amava e que estava pres
Hoje não era o dia de sorte deGabriel, já era a terceira vez que o chamavam dizendo que algum bêbado tinha esbarrado em sua Harley Davidson preta. Aquilo o irritava tanto que ele mal enxergava quem estava em sua frente. Ele empurrou várias garotas que lotavam a sala de sua casa cara até chegar no jardim da frente.— Ainda quer continuar vivo? —Gabriel disse, puxando o pescoço de um garoto que alucinava olhando para o céu — O que eu disse sobre não chegar perto da minha moto? Você não sabe as regras?Todos em volta olhavam apreciando a briga que estaria prestes a acontecer, eles gritavam cada vez mais alto pedindo sangue. O pobre garoto magro, que agora estava sobre as mãos firmes e fortes do valentão de cabelos escuros engoliu em seco quando percebeu que iria sair dali machucado. Ele estava sobre efeito de alguma droga, não muito diferente de todos dali. A
A cidade antiga e pequena exalava perfume de rosas por toda a parte. Provavelmente deveria ser pela maioria da população idosa do local.Gabriel andava pelas ruas procurando o endereço que não seria muito difícil de encontrar, as ruas eram extremamente apertadas e curtas. A cada rua que ele passava, conseguia ver um casal de idosos caminhando sorridentes pelas praças que eram comuns por ali.Algumas barracas de venda sobre a calçada, mais idosos jogando xadrez em uma outra praça pouco movimentada. O bad boy em cima da moto, venerada por ele, ainda não acreditava que viveria um inferno ali. Ele acabara de perder sua vida, sua faculdade, seus jogos de futebol, suas festas e o que ele mais temia perder: suas mulheres.— Vamos ter que aprender a gostar de velhas. —Gabriel resmungou para sua moto. Ele era incapaz de amar alguém que não fosse sua motocicleta ou ele mesmo.Fri