CaíqueEu não sei o que me fez aceitar. Na verdade, sei, sim. Eu ainda não sabia direito como lidar com Mayara, mas o pedido dela foi simples demais para eu recusar, ainda mais se tratando de algo para o nosso filho.— Oi. Você pode ir buscar o Gustavo na escola hoje? — ela pergunta assim que atendo ao telefone, com a voz tranquila, mas que carregava algo de urgente que eu não soube identificar bem.— Claro, eu vou. — Não precisei pensar muito para responder.— Obrigada! — Pude ouvir sua respiração aliviada. — É que estou atrasada com umas coisas aqui, queria terminar antes de ir embora.— Sem problemas. Se precisar de algo, só pedir.— Obrigada, Caíque.Eu estava na rua, tinha acabado de ver algumas casas que estavam sendo alugadas quando Mayara ligou. Aproveito e vou direto até a escola e quando chego, me sinto deslocado momentaneamente. Como ele não sabe que eu viria, decido esperar em frente ao portão fechado. Estar na presença de outros pais, não seria estranho. Se eles não estiv
Caíque— Boa noite, gente. Fiquem à vontade! — Gabriela cumprimenta ao abrir a porta da casa. Ela e Mayara se abraçam, Gustavo é pego no colo.— Boa noite! — cumprimento por último, acompanhando-os para o interior da casa.— Cadê o Daniel? — Mayara pergunta pelo amigo.— Ele se atrasou hoje no trabalho, mas já está chegando.As duas seguem para a cozinha e mesmo que eu ofereça ajuda, elas me dispensam. Vou para a sala com o Gu e passamos um tempo decidindo qual jogo pegar para nos distrair. As coisas têm sido difíceis desde que a paternidade de Gustavo foi confirmada. A aproximação entre nós tem sido lenta, cautelosa. Em alguns momentos parece que está avançando, mas depois voltamos à estaca zero e ainda não sei como lidar com isso.Sentamos no chão e assim que espalhamos as peças de um dos muitos jogos escolhidos pelo Gu, a porta da casa se abre e a voz masculina é ouvida. Gustavo levanta e corre ao encontro do homem. Não querendo ficar sozinho ali, esperando o seu possível retorno,
CaíqueChego à porta da casa dos meus pais. Aqui nunca foi um lugar onde eu me sentia seguro, mas, naquele momento, estava ainda pior. Eu prometi que não voltava mais, mas como seguir em frente sem resolver essa questão da minha vida.Minha mãe nunca foi alguém acolhedora, que se esforçasse em entender as emoções alheias. Ela sempre foi direta e exigia que todos seguissem suas vontades. Era fácil saber o que ela estava pensando só de olhar para o rosto dela. Ela não se preocupava em esconder nada, doa a quem doer.Eu sabia que ela não gostava da Mayara. Tentei mudar isso, mas agora que sei a verdade, fico sem palavras de quão longe ela foi para fazer as suas vontades.Perturbado, entro na casa e a procuro. Ela está na cozinha, mexendo em algo no fogão. O cheiro de comida invadiu minhas narinas, mas o que senti foi um gosto amargo, como se algo dentro de mim tivesse azedado. Ela parecia calma demais, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo, como se estivesse esperando pelo
MayaraMayara: Está tudo bem aí?Envio a mensagem para o Caíque, mas não tenho resposta.Fazia tempo que havia chegado em casa e colocado o Gu para dormir. Tentei me distrair com qualquer coisa e não pensar no que poderia ter acontecido para o Caíque sair daquele jeito, mas nada foi bom o bastante.Eu estava apreensiva. Com receio de como e onde ele estaria, e a preocupação aumenta ainda mais já que envio mensagem e tento ligar, mas não tenho um retorno.O dia havia sido calmo e a noite estava mais tranquila do que o esperado, mas tudo mudou quando o Caíque foi atender uma ligação e apareceu perturbado daquele jeito, todo fechado. Eu sabia que havia algo que ele estava carregando, algo muito mais pesado do que poderia imaginar.Estava começando a me desesperar de tanto pensar nele quando, sem mais nem menos, ouço leves batidas na porta. Meu coração deu um salto. Era ele. Só poderia ser o Caíque, deixei portão aberto caso ele voltasse ainda hoje. Desencosto da pia e vou até a porta, se
MayaraEu não sabia o que dizer. Esperei tanto por esse momento, queria tanto que ele se desse conta da burrada que fez. No começo, era em vingança, nos últimos meses não pensava mais nisso, mas agora que está acontecendo, eu me sinto frágil e extremamente sentimental.Por uma mentira, tudo o que tínhamos e podíamos construir, foi perdido. Por causa de uma ação falsa, ele se apegou a uma traição que nunca existiu e eu me apeguei ao ressentimento de ser acusada. Eu queria poder tirar toda a dor do nosso caminho, como se fosse algo simples, mas não era. Ele estava sofrendo, mas eu também estava marcada por tudo o que aconteceu, mas eu precisava ser honesta com ele, assim como ele estava sendo comigo.— Mayara, por favor, me perdoa. — Solta um soluço, o choro aumentando assim como o seu desespero. — Me perdoa por falhar tanto com vocês, me perdoa por ter sido manipulado todo esse tempo. Por favor, me perdoa — implora.Aproximo e coloco as mãos em seu peito, sentindo o ritmo acelerado de s
CaíqueAcordo na casa extremamente silenciosa. Eu queria ter o Gustavo me acordando ou com seu chamado, ou com seus passos andando pela casa. Estar sozinho, me faz apreciar e sentir falta desses detalhes. Mas depois da última conversa que tive com a Mayara, não me senti bem em continuar na sua casa, estando em seu espaço.Naquela noite, quando nos soltamos do abraço, tudo mudou. Não falamos mais no assunto, continuamos conversando sobre o Gustavo, mas sobre nós, não. É estranho estarmos assim, mas compreensível. Na verdade, se for ser sincero, foi até melhor do que eu esperava. Ela poderia nem querer falar comigo, mas ela não fez isso.Preciso ver o lado bom das coisas, certo? E tudo o que falei para ela, é verdade. Já errei muito e fiz as coisas na emoção, agora não farei isso. Vou esperar, mostrar que mudei, que sou diferente e que me importo. Vou esperar pelo tempo que for necessário.Levanto e olho pela janela, o dia está nublado, e as nuvens se arrastam lentamente pelo céu. Não é
MayaraA noite caiu suavemente sobre a cidade, e a luz da sala estava fraca, apenas o brilho da TV iluminava o ambiente. Eu estava sentada no sofá, com uma almofada abraçada no colo, tentando me concentrar no filme cheio de ação escolhido pelo Gu, que estava passando. Mas, por mais que a tela estivesse cheia de movimento e sons explosivos, minha mente estava distante, pensando em tantas coisas ao mesmo tempo. Nosso dia tinha sido legal, o jantar havia sido simples, mas agradável, e Caíque parecia mais à vontade do que eu o vi nas últimas semanas. Eu também estava mais tranquila, o que era um bom sinal.Gustavo estava ao meu lado, entre mim e o Caíque. Deitado de forma descontraída no sofá, todo esparramado como sempre fica quando quer se sentir confortável. Ele estava quieto na maioria das vezes, mas está atento. De vez em quando soltava algum comentário sobre o filme e Caíque sempre respondendo, tentando aliviar a tensão no ar.Eu sabia que o Caíque estava se esforçando para não entr
CaíqueEstou tentando me concentrar no trabalho, mas minha mente está em outro lugar. A conversa que tive com a Larissa ainda ecoa na minha cabeça. Minha irmã quer conhecer o Gustavo. Claro que quer. E eu sabia que esse momento chegaria. Só não esperava que fosse tão rápido.Pego o celular e releio a mensagem dela.Larissa: Quero conhecer o meu sobrinho. Já perdi muito tempo sem saber da existência dele.Meu peito aperta. Não é só ela que perdeu tempo. Eu também. E agora que estou finalmente aprendendo a ser pai, surge mais uma questão para lidar.Caíque: Eu entendo, mas é cedo.Larissa: Cedo? Que nada.Caíque: Ele acabou de me conhecer.Larissa: Eu sei disso. Mas também quero conhecer ele :(Caíque: Eu sei. Preciso falar com a Mayara, te retorno depois.Eu sabia que, uma hora ou outra, ela ia querer participar. Só que não imaginei que ela ia me cobrar uma apresentação entre eles tão cedo. Ainda estou tentando entender o meu lugar na vida do Gustavo, será que é o momento de incluir ma