CAPÍTULO TRÊS

- Bem amigos, lá vai. Essa história minha mãe nos contava quando éramos crianças e eu sempre me arrepiava ao ouvi-la; Não sei de quem ela ouviu, mas em várias ocasiões ela nos contava essa história: - Começou Peter, não sei quem, decidiu que devíamos contar histórias e lendas.

- Havia um pai que ficara viúvo com uma filha pequena, porém logo ele voltou a se casar - Peter começou a narração. - A garota era linda, educada e meiga. Tinha uns cinco anos, e a madrasta logo de início já não se afeiçoou à pequena. Implicava com ela, achava motivos para que ela fosse corrigida pelo pai e por mais que a menina fosse doce, ela passava cada dia mais a odiá-la.

"A garota tinha os cabelos lindos, dourados que luziam à luz do sol. Seus cabelos iam até abaixo de sua cintura, liso e brilhante.

" Um certo dia - Continuava Peter - O pai da menina precisou viajar a trabalho, e ficaria por quase uma semana fora. A filha implorou para que ele não fosse, pois temia ficar só com a madrasta que só a maltratava, e fazia isso na ausência do pai. Indo ficar dias fora, a menina ficou preocupada com o que sua madrasta poderia lhe fazer. O pai a acalmou, disse para não se preocupar que logo ele estaria de volta.

" Nem bem seu pai viajou na madrugada seguinte,  a madrasta começou a tortura á criança,  provocando-a, dizendo que ela teria que fazer todo o serviço da casa, levando-a a exaustão até o fim do dia. E dizia ainda constantemente que seus cabelos eram horríveis e oleosos, coisa que a garotinha nem entendia. Porém, sua ira aumentou ainda mais quando ao fim do primeiro dia a sós com a garota, e tendo a submetido a diversos tipos de crueldades, a pequena lhe chamou de mãe, dizendo que já havia terminado as tarefas.”

" Ela, a madrasta, sendo muito maior e mais forte, em sua ira, pegou a garota pelo pescoço e disse para que ela jamais a chamasse novamente de mãe! Porém, ainda que a garota chacoalhasse a cabeça em concordância, a mulher não afrouxou o aperto no pescoço a asfixiando. Uma lágrima rolou do rosto infantil e um pedido mudo de misericórdia, não demoveu a intenção da mulher. Ela ficou roxa e logo deixou de respirar.”

"Agora passado seu desespero, a malvada não sabia o que faria com o corpo sem vida da criança, ela não sabia como explicaria para o pai quando esse retornasse, e resolveu que o melhor a se fazer, seria enterrá-la no fundo do quintal, pois se ela fosse vista por qualquer pessoa, saberiam que ela havia sido estrangulada e não um simples acidente.”

" Com isso em mente, ela cavou um buraco profundo bem ao fundo do quintal, para que não chamasse a atenção dos bichos que poderiam ser alertados para um corpo enterrado. Ela, após enterrar profundamente a garota, plantou algumas flores para disfarçar o mexido no quintal que já era gramado.”

"Ela chamou a Polícia, dizendo que sua filha havia desaparecido. Que a procurava há horas e não a encontrara. Em seguida ligou para o pai, que veio desnorteado para casa. A Polícia, os vizinhos, amigos e parentes, todos passaram a procurar a inocente criança sem sucesso, inclusive a própria madrasta que se mostrava desesperada. Foram dias de buscas infrutíferas, até que a Polícia por fim abandonou o caso por não terem mais onde procurar, haviam procurado em cidades próximas, com helicópteros por dias e nada resultara.

" Passaram se meses, o pai já desesperançado, vivia se corroendo de remorsos por não ter ouvido os apelos da filha para que não fosse viajar. Sua esposa o acalmava dizendo que ele não tivera culpa, mas ele chorava dia após dia e nunca se cansava de procurar pela filha.”

" Um domingo ensolarado, ele resolveu cortar um pouco o gramado do quintal e podar algumas flores, coisa que ele sempre fazia com a filha. Ele notou que o gramado estava alto, porém viçoso, lindo como ele nunca antes tinha visto. Ele estava igualado e não assimétrico como sempre costumava ficar. Ele foi à garagem, pegou sua tesoura de poda e uma enxada para transplantar algumas mudas de plantas. Quando ele deu a primeira enxadada no chão, ouviu um gemido que o arrepiou. Ele parou, se sentou na grama e tentou ouvir novamente mas só havia silêncio.”

" Ele pensou que isso se devia ao sol já alto, e ele estar imaginando coisas, sendo assim continuou o que havia começado e novamente ele ouviu um gemido triste mais alto dessa vez. Agora ele tinha certeza que não era coisa de sua cabeça, e quando estava na quarta vez em que fincava a enxada no solo, o gemido se transformou e ele ouviu alto e claro:”

- Papai, não corte meu cabelo...

"A voz era de sua filha, e ele entrou em desespero e continuou a cavar o chão, mas a voz agora um lamento doloroso e mais alto insistia:”

- Papai, por favor, não corte mais o meu lindo cabelo.

"O pai agora cavava como um insano, com as próprias mãos, as lágrimas se misturavam à terra,  ele cavocava agora gemendo junto com sua filha. Ao chegar mais fundo, ele encontrou os lindos cabelos de sua filhinha, bem como o restante de seu corpinho já em estado de decomposição acelerado.”

" Sua esposa, ao chegar, ouviu apenas os lamentos do pai, ela estava surda para a criança a qual ela ceifara a vida. Apenas o pai ouvia o chamado da filha. Ela tentou fugir, porém a Polícia não tardou a encontrá-la, porém a doce filha inocente, jamais voltaria para seu pai…”

Ao terminar seu conto, ou história, Keyla chorava indignada fazendo mais questionamentos ao amigo, que só tinha ouvido isso de sua mãe.

Podíamos ter ficado apenas com essa história e mudar de assunto. Afinal, assuntos era o que não nos faltava. Mas essa história despertou em cada um, uma lembrança, um conto ou lenda e disputavam entre si quem ia contar uma boa, agora.

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